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Fluxo de Estudantes Brasileiros na Medicina no Paraguai: Espaços Sociais e Linguísticos, Notas de aula de Medicina

Uma pesquisa sobre o fluxo de estudantes brasileiros na medicina no paraguai, abordando as configurações sociais, as interações linguísticas e as vivências importantes desses estudantes. O texto também discute as tensões geradas pela presença desses estudantes no paraguai, enfatizando a importância dos espaços de sociabilidade na upe e a falta de interesse dos estudantes brasileiros em aprender a língua guarani.

O que você vai aprender

  • Por que os estudantes brasileiros se desinteressam pela aprendizagem da língua Guarani no Paraguai?
  • Como os estudantes brasileiros se adaptam às novas configurações linguísticas no Paraguai?
  • Quais são as vivências importantes dos estudantes brasileiros na Medicina no Paraguai?
  • Quais são as tensões geradas pela presença de estudantes brasileiros na Medicina no Paraguai?
  • Quais são as configurações sociais dos estudantes brasileiros na Medicina no Paraguai?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

usuário desconhecido
usuário desconhecido 🇧🇷

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
MARIA APARECIDA WEBBER
ESTUDANTES BRASILEIROS DE MEDICINA EM PRESIDENTE FRANCO (PY):
MOTIVAÇÕES E TENSÕES DE UM FLUXO UNIVERSITÁRIO
TRANSFRONTEIRIÇO
CURITIBA
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Baixe Fluxo de Estudantes Brasileiros na Medicina no Paraguai: Espaços Sociais e Linguísticos e outras Notas de aula em PDF para Medicina, somente na Docsity!

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

MARIA APARECIDA WEBBER

ESTUDANTES BRASILEIROS DE MEDICINA EM PRESIDENTE FRANCO (PY):

MOTIVAÇÕES E TENSÕES DE UM FLUXO UNIVERSITÁRIO

TRANSFRONTEIRIÇO

CURITIBA

MARIA APARECIDA WEBBER

ESTUDANTES BRASILEIROS DE MEDICINA EM PRESIDENTE FRANCO (PY):

MOTIVAÇÕES E TENSÕES DE UM FLUXO UNIVERSITÁRIO

TRANSFRONTEIRIÇO

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Antropologia, no Curso de Pós-Graduação em Antropologia, Setor de Ciências Humanas, da Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Lorenzo Macagno. Coorientadora: Profª. Drª. Angela Maria de Souza

CURITIBA

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi pensado e escrito com a contribuição de muito mais pessoas do que seria possível aqui enumerar. Algumas, entretanto, foram fundamentais. Agradeço a minha família de sangue e de coração, que me incentivou e compreendeu as ausências. A minha companheira Michelle, pelo apoio incondicional e pelas palavras de carinho sempre prontas - a maior incentivadora e parceira que a vida poderia me presentear. Agradeço à Camila, Lucas, Marcelo e Bianca, pela alegria que trazem aos meus dias. Também aos meus curitibanos Nilton, Cris, Pedro e Jus, e especialmente à Karin, pelo apoio e carinho sempre. Agradeço à Clari, Arthur e Ana, pela acolhida calorosa e por me receberem de braços abertos em sua casa durante o período de campo. Também aos amigos de Franco e CDE, pela amizade e pelo pouso nos diferentes períodos do campo. Muchas gracias também aos amigues que de perto ou de longe estiveram sempre presentes e torcendo pelas minhas conquistas, em especial à Linda, que tornou este período de Mestrado muito mais feliz com sua amizade e disponibilidade incondicional em me auxiliar no amadurecimento da pesquisa e do texto. Agradeço às professoras e professores que me encorajaram na jornada em busca de conhecimento e de saberes. Aos professores do PPGA que contribuíram na minha formação como antropóloga e pesquisadora, particularmente ao meu orientador Lorenzo por ter acreditado neste trabalho; bem como às contribuições do Profº Marcio de Oliveira na etapa de Qualificação; e também ao Paulo por sua competência e presteza. À Profª Angela, por aceitar acompanhar esse grande passo da pós-graduação e ser também minha coorientadora. Ao Profº Lindomar Albuquerque pelas valiosas reflexões na banca de defesa e encorajamento no tema da pesquisa. Em especial a minha querida Professora Regina Coeli, primeira incentivadora na Antropologia, que me inspira e me apoia, da graduação para a vida. Aos amigos e colegas da UNILA que tornaram possível essa caminhada, em especial ao Denner, Otávio e Jéssica. À Belen pela paciência e ajuda no texto. Vamos juntxs por uma Latinoamérica una e diversa. Agradeço a todas, todos e todes que de alguma maneira se interessaram pela pesquisa, acreditaram nela e abriram as portas de suas casas e das vans, em especial aos interlocutores do campo que compartilharam suas vivências e aspirações, tornando possível este trabalho.

Para sobrevivir en la frontera Debes vivir sin fronteras Ser un cruce de caminos. Gloria Anzaldúa In “Vivir en la frontera”

ABSTRACT

The current ethnographic study concerns the flux of Brazilians who come from different states of Brazil and arrive to the Triple Border region (AR – BR – PY) in order to study Medicine in private Paraguayan universities. Several educational institutions offer the Medicine course in cities nearby the border, providing wide access and low prices compared to the private Brazilian universities, being on the raise in the last years. The field work which happened on the first semester of 2017 and took place at Universidad Privada del Este (UPE) of Presidente Franco (PY) presented quite heterogeneous profiles of this mobility, with very diverse social conditions. The whole process is permeated of agencies and institutions which draw the path to the obtainment of the grade of medical doctor, as in Brazil as in Paraguay. Besides that, though, these students, along with their families and the members of the local community, raise bonds and share experiences, revealing new tones of the otherness game. The border is also (des)constructed as long as the flow of these students alters their perception of national limits, so marked in this sort of space. From ethnographic notes and news reports that address this phenomenon we proposed to share the routine of this quite singular cross- border university flux, their motivations and the tension generated through these students’ pursuit of the medical degree.

Key-words: Border. Medicine. Students. Cross-Border Flow.

RESUMEN

El presente estudio etnográfico trata sobre el flujo de brasileñas y brasileños oriundos de diferentes estados de Brasil que llegan a la región de la Triple Frontera (AR-BR-PY) para estudiar medicina en universidades privadas paraguayas. Diversas instituciones de enseñanza ofertan esta carrera universitaria en las ciudades próximas a la frontera, proporcionando un amplio acceso y precios muy reducidos en relación a las universidades particulares brasileñas, considerando que su demanda ha incrementado en los últimos años. Las observaciones de campo realizadas durante el primer semestre de 2017 junto a la Universidad Privada del Este (UPE) de la ciudad de Presidente Franco (PY) mostraron perfiles bastante heterogéneos en esa movilidad, con condiciones sociales bastante diversas. El proceso como un todo está permeado por órganos e instituciones que diseñan el camino para la obtención del título de médico, tanto en Brasil como en Paraguay. Además, esos estudiantes, junto con familiares y miembros de la comunidad local, crean lazos y comparten experiencias, revelando nuevas particularidades en el juego de alteridades. La frontera también es (des)construida a medida que el tránsito de esos estudiantes altera sus percepciones de limites nacionales, tan marcados en espacios de esa naturaleza. A partir de notas etnográficas y análisis de reportajes que abordan este fenómeno, nos proponemos a compartir cotidianos de ese flujo universitario transfronterizo tan singular, así como sus motivaciones y las tensiones generadas en la búsqueda de estos estudiantes por su formación académica.

Palabras clave: Frontera. Medicina. Estudiantes. Flujo Transfronterizo.

Figura 30 – Post Instagram “Casal Médico” ..............................................................p. 119 Figura 31 – Perfil de estudante de medicina no Instagram..........................................p. 120 Figura 32 – Divulgação Atléticas em Português e Espanhol......................................p. 120 Figura 33 – Comentários sobre o Mega Assalto..........................................................p. 131 Figura 34 – Chamada reportagem onde pedem Censo de estudantes brasileiros...................................................................................................................p. 133 Figura 35 – Jornadas Migratórias nas Universidades Paraguaias................................p. 134 Figura 36 – Tramita tu residência em Paraguai: es tu deber y tu derecho.................p. 136 Figura 37 – Comentários da reportagem “Estudiantes brasileños acaparan urgencias en Hospital Minga”.........................................................................................................p. 138 Figura 38 – Página de comentários: “Brasileños forman fila para estudiar en Paraguay”..................................................................................................................p. 140 Figura 39 – Página de comentarios: “El 70% de estudiantes brasileños de medicina esta en forma irregular”………………………………………………………………....p. 142

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Universidades privadas de medicina na Tríplice Fronteira.........................p. 40 Tabela 2 – Sistematização dos jornais consultados......................................................p. 42 Tabela 3 – IES que ofertam curso de Medicina no Brasil............................................p. 64 Tabela 4 – Vagas ocupadas em cursos de Medicina – Brasil.......................................p. 64 Tabela 5 – Vagas ofertadas/inscrições a cada ano em cursos de Medicina – Brasil....p. 65 Tabela 6 - Universidades com curso de medicina e local das sedes – Paraguai..........p. 68 Tabela 7 – Totalizador estudantes de medicina UPE Franco 01/2017.........................p. 102 Tabela 8 – Nacionalidades dos estudantes de medicina do 1º ano UPE Franco 01/2017......................................................................................................................p. 103 Tabela 9 – Distribuição de origem dos estudantes brasileiros do 1º ano de medicina UPE Franco 01/2017 - por estado.......................................................................................p. 104 Tabela 10 – Estudantes nivelación UPE Franco 01/2018...........................................p. 106

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANEAES Agencia Nacional de Evaluación y Acreditación de la Educación Superior APUP Associação de Universidades Privadas Do Paraguai ARCUSUL Sistema de Acreditação Regional de Cursos Universitários do Mercosul CDE Ciudad Del Este (PY) CFM Conselho Federal De Medicina CONAES Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior CRM Conselho Regional de Medicina IES Instituição de Ensino Superior INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira MEC Ministério da Educação MERCOSUL Mercado Comum do Cone Sul OIM Organização Internacional Para as Migrações REVALIDA Exame Nacional De Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos Por Instituição De Educação Superior Estrangeira UH Jornal Última Hora UIS Unesco Institute for Statistics UNE Universidad Nacional Del Este UNILA Universidade Federal da Integração Latino-Americana UP Universidad del Pacífico UPAP Universidad Politécnica y Artística Del Paraguay UPE Universidad Privada del Este UNINTER Universidad Internacional Tres Fronteras UTIC Universidad Tecnologica Intercontinental UTF Universidad Tres Fronteras

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INTRODUÇÃO

As fronteiras, seus fluxos e imaginários habitam os textos produzidos pela Antropologia, mas se constroem nas vivências e experiências dos agentes que neles estão inseridos. Cruzar uma fronteira geográfica é na verdade cruzar muitas outras – as políticas, as étnicas, as linguísticas, as simbólicas, e no caso das e dos estudantes brasileiros – tratado neste trabalho, significa também ultrapassar barreiras impostas pelo sistema de educação superior seletivo da Medicina no Brasil, buscando alternativas para realizar o sonho de ser médico (a). A presente dissertação, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Paraná (PPGA/UFPR), se propõe a contribuir nos debates voltados às temáticas da fronteira, dos deslocamentos, e das motivações e tensões vinculadas às mobilidades urbanas. Para tanto, compartilha apontamentos de uma pesquisa realizada na complexa região da Tríplice Fronteira, constituída do encontro das cidades de Foz do Iguaçu (BR), Puerto Iguazú (AR) e Ciudad del Este (PY). O fluxo que permeia cada capítulo deste texto está desenhado diretamente entre o Brasil e o Paraguai, razão pela qual a Argentina não será abordada nesse recorte de pesquisa 1. Ao acompanhar os estudantes brasileiros de medicina no Paraguai que moram na Tríplice Fronteira, foi possível verificar diferentes dimensões desse fenômeno transfronteiriço a fim de produzir uma etnografia que reflete sobre fluxos, mobilidades motivadas para fins de estudo, e relações de alteridade. Perguntamo-nos, especialmente, como os estudantes brasileiros de medicina em Presidente Franco experienciam esse fluxo transfronteiriço? Ao longo do árduo processo de aprendizado e (re)(des)construção da teoria social, muitas afirmações deixam de ser certezas e muitos objetivos são reescritos pela emergência dos imponderáveis da vida real. Como citado, diversas mudanças ocorreram desde o projeto inicial de investigação e, tanto os interlocutores desta etnografia, os espaços do campo, bem como as bibliografias de referência delinearam-se de forma gradual.

(^1) Outros trabalhos poderão desenvolver a problemática e pensar as relações colaterais desse fluxo com o país vizinho, visto inclusive haver menção à existência de estudantes argentinos nas IES paraguaias (ainda que mínima).

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Durante minha trajetória não só acadêmica, mas também de vida, as relações entre nações vizinhas, especificamente entre Brasil e Paraguai, sempre tiveram um lugar de atenção especial. A fronteira como espaço geográfico, político e simbólico reitera hierarquias ao mesmo tempo que as desconstrói, atraindo olhares das mais diversas áreas do conhecimento, inclusive da Antropologia. Antes, como iguaçuense, e agora também no papel de pesquisadora, busquei transformar as experiências minhas e daqueles que partilharam suas vidas comigo em reflexões antropológicas que contribuam na compreensão de uma nova configuração social que ali se desenha, com milhares de brasileiros e paraguaios envolvidos nas idas e vindas de um cotidiano universitário transfronteiriço. Essa realidade vem sendo objeto de reflexão mais intensa há alguns anos, desde que passei a integrar o quadro de servidores da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), no cargo de Administradora. Localizada em Foz, essa instituição de ensino aporta múltiplos registros de fluxos transfronteiriço, possuindo um grande número de estudantes oriundos de outros países da América Latina, além dos brasileiros, visto seu caráter internacional de integração latino-americana, tendo as relações de alteridade um lugar e um impacto nas atividades diárias. Ao iniciar as reflexões de pesquisa, o objetivo centrava-se em pensar as interações entre brasileiros e paraguaios naquele espaço de fronteira com foco na questão das identidades nacionais. Para avaliar as possibilidades do campo, foi realizado um período de uma semana de pré-campo a fim de otimizar o mapeamento dos espaços mais pertinentes para a pesquisa. Em uma das últimas conversas que tive com alguns interlocutores de Foz do Iguaçu – PR, antes de concluir o recorte espacial das observações, Cleide e Gisele^2 , duas trabalhadoras do comércio local comentaram nesses termos a situação que presenciavam: “Os estudantes de Medicina estão invadindo Foz 3 ”. Somei então essa percepção a outros relatos que havia presenciado durante a semana:

(^2) Optou-se pela troca de nomes no texto para preservar as identidades dos interlocutores que participaram da pesquisa. A reflexão suscitada por Bevilaqua (2003) quanto ao “problema tradicional da identificação dos informantes” (p.52), nos recorda a posição da antropologia urbana em adotar o uso do anonimato dos interlocutores do campo. Nesta pesquisa, desde os primeiros contatos, alguns estudantes se mostraram incomodados em revelar seus nomes enquanto presente o caderno de anotação do campo e em razão disso esclareci que os nomes de todos com quem eu conversasse seriam alterados no trabalho final. O mesmo procedimento da troca dos nomes então foi também adotado para todos os interlocutores que participaram da pesquisa. 3 Notas do Diário de Campo Dez/2016.

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da vivência e da problematização de um fenômeno tão particular como esse. O volume de brasileiros circulando fora das ruas de comércio de Ciudad de Leste (CDE) e Presidente Franco impressiona. Apesar de nem todas as instituições de Ensino Superior ali instaladas terem as habilitações e selos de qualidade do MEC-PY 5 para a carreira de Medicina, essa microrregião comporta seis Universidades oferecendo o curso, sendo uma pública (Universidad Nacional del Este – “UNE”, sede de Minga Guazú), e cinco privadas 6 (Universidad Privada del Este, sede Presidente Franco – “UPE Franco”; Universidad Privada del Este, sede Ciudad del Este – “UPE CDE”; Universidad Internacional Tres Fronteras, sede Ciudad del Este – “UNINTER”; Universidad Politécnica y Artística del Paraguay, sede Ciudad del Este – “UPAP”; e Universidad Maria Serrana – “MARIA SERRANA”^7. As universidades privadas estão assinaladas no mapa abaixo em pontos amarelos.

Figura 1 Mapa das Universidades Paraguaias de Medicina na região da Tríplice Fronteira

Fonte: Google Maps.

(^5) Ministerio de Educación y Ciencias del Paraguay. (^6) No decorrer da pesquisa outras duas universidades privadas se preparavam para disponibilizar uma unidade na região, com vagas exclusivas para o curso de medicina. Há também uma sede da Universidad Católica Nuestra Señora de Asunción, em Hernandarias, porém não oferecia o curso de Medicina à época. 7 Utilizaremos estas nominações (em sigla) ao longo do texto. Apesar de existirem sedes das IES em outras localidades do Paraguai, os estudantes se reportavam às unidades em CDE (PY).

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Juntas, as universidades privadas paraguaias estabelecidas na região da tríplice fronteira somavam quase oito mil^8 estudantes matriculados no curso de Medicina no 1º semestre de 2017, mais de 80% brasileiros, conforme estimativa realizada junto aos estudantes e instituições durante o trabalho de campo. Destes, “quase todo mundo brasileiro”, como enfatizado nas falas dos interlocutores. Segundo os relatos da comunidade estudantil, o número de entradas havia duplicado a cada ano desde 2014, quando houve um salto quantitativo do número de estudantes na região. Continuando essa progressão, a Direção Regional de Migrações teria estimado o número de 15.000 9 pessoas estudando na região de Ciudad del Este, no início do 1º semestre de 2018. Dentre elas 98% brasileiros em carreiras vinculadas à Saúde (Medicina/Enfermagem) e 70% destes em situação ilegal no país, segundo publicação do jornal paraguaio Vanguardia^10. Apesar de os brasileiros representarem quase totalidade desses estudantes, é importante ressaltar que há também paraguaios locais e de outras partes do país, argentinos, libaneses e taiwaneses. O cenário da ilegalidade de uma parcela desses estudantes também é aqui abordado, pois um reflexo desse fluxo é a realização periódica de Jornadas de Regularização Migratória, promovidas pelo Ministerio del Interior – Dirección General de Migraciones, com fins de arrecadação pública e regularização da situação dos estudantes. Essa grande demanda também traz à baila uma polêmica em relação à qualidade de ensino ofertada nessas IES, materializada nos discursos da mídia e da população paraguaia sobre as chamadas “truchiuniversidades^11 ”, ou universidades de garagem, e sua respectiva garantia de qualidade na formação desses médicos, independentemente de suas origens. Tanto Débora, que veio do interior de Pernambuco, quanto Bruno, que é natural de Foz 12 , assim como muitos outros estudantes com os quais tive a oportunidade de conviver durante o campo, deixaram claro que a medicina operara como fator chave de

(^8) Ver Cap. 1, p. 27 para dados detalhados e memória de cálculo. (^9) Até a data de revisão do texto, no 2º semestre de 2018, circulava entre a comunidade estudantil o número atualizado de 18 mil estudantes matriculados em Medicina nas IES paraguaias da tríplice fronteira. 10 Disponível em: http://www.vanguardia.com.py/2018/03/28/mas-del-70-de-los-extranjeros-estudia- ilegalmente-en-cde/. Vanguardia, 28/03/2018. 11 Conforme aparece no link: http://www.abc.com.py/edicion-impresa/editorial/universidades-truchas- 1595873.html ABC Color, 22/05/2017. Para o termo, ver p. 95. 12 Ao longo do texto, poderá ser utilizado o termo “Foz” para referência à cidade de Foz do Iguaçu (PR).