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Este documento discute a diferenciação do conceitismo em rio de janeiro e são paulo, argumentando que não se deve a essências irracionais ou racionais atribuídas respectivamente a cariocas e paulistas, mas sim a um encadeamento singular de fatos definido pelas disputas e ações de críticos, artistas e artistas/críticos. O documento aborda a importância artística e social do desenvolvimento da arquitetura moderna e pública no brasil, particularmente nas cidades de rio de janeiro e são paulo, e a influência da bienal de são paulo na internacionalização das artes. Além disso, o texto detalha as polêmicas e resistências relacionadas à realização do projeto concretista e a importância de figuras como waldemar cordeiro na imposição e consagração da arte concreta.
Tipologia: Notas de estudo
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RReevviissttaa ddoo PPrrooggrraammaa ddee PPóóss--ggrraadduuaaççããoo eemm AArrttee ddaa UUnnBB VIS Revista do Programa de Pós-graduação em Arte da UnB V.13 nº1/janeiro-junho de 2014 [2015] Brasília No Brasil, o modernismo nas artes plásticas integra dois programas estéticos. O primeiro deles conhecido como o modernismo da década de 1920 tem seu mito de origem na Semana de Arte Brasileira, que ocorreu, em 1922, em São Paulo no Teatro Municipal, sob a organização de artistas e literários, como Di Cavalcanti, Mario e Oswald de Andrade, apoiados pela elite econômica e intelectual paulista. O movimento voltou-se duplamente para a mudança da linguagem literária e artística, e para a valorização do “brasileiro”, definido como a parte histórica e cultural, específica e singular do Brasil no conjunto do concerto das nações. Os pintores modernos almejavam construir uma identidade para o país, e foram bem sucedidos em sua empreitada. Criaram uma visualidade contrastante com a pintura tradicional neoclássica que imperava no cenário artístico àquela época 1 , impregnando sua pintura de motivos brasileiros de natureza mítica e étnica como Abaporu (1928) e Caipirinha (1923) de Tarsila Amaral; cenas cotidianas e prosaicas como Morro (1933), Futebol (1935) e Café (1934 e 1938) de Cândido Portinari, Oficinas (1940) de José Pancetti, Tropical (1916) de Anita Malfatti e Nada mais ((1930) de Cícero Dias, além de mulheres brancas e mulatas como Menina de Guaratinguetá (1929), Mulheres (1941 e Quase noite (1940) de Di Cavalcanti. Os modernistas deixaram um acervo apreciável cujo valor se mede pelo interesse crescente de colecionadores, curadores, marchands , historiadores da arte, cientistas sociais, filósofos e críticos que trabalham para sua divulgação, exibição e fortuna crítica. Quando surgiu na Europa em finais do século XIX, o modernismo buscava investigar o processo artístico, as cores, a perspectiva, o plano. Merleau-Ponty delineia exemplarmente as experiências de Cézanne com a cor e a perspectiva em seu conhecido texto “A dúvida de Cézanne” (2004, p. 126-139)^2 Os artistas brasileiros do primeiro tempo conheciam os ideais modernistas da pesquisa formal do processo artístico, visando ampliar as possibilidades da superfície plana, a forma do suporte, as propriedades do pigmento. Começaram a produzir suas telas dentro de um viés ora cubista ora expressionista. Porém, juntamente com a pesquisa, tinham a missão de construir uma arte nacional, da qual se consideravam portadores. Tal missão de enorme relevância para a intelectualidade da época parece ter gritado mais alto, impondo
RReevviissttaa ddoo PPrrooggrraammaa ddee PPóóss--ggrraadduuaaççããoo eemm AArrttee ddaa UUnnBB VIS Revista do Programa de Pós-graduação em Arte da UnB V.13 nº1/janeiro-junho de 2014 [2015] Brasília perfil do país, sobretudo das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo^4. Lembre-se aqui da construção do Parque Ibirapuera, projetado por Oscar Niemeyer, em São Paulo, onde hoje funcionam o Museu de Arte Moderna, a Oca, a Bienal de São Paulo; e ainda a construção do Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro, dotado de projeto paisagístico de Burle Marx, que abriga em uma de suas pontas, próxima ao centro da cidade, o Museu de Arte Moderna, projetado por Affonso Eduardo Reidy. Mario Pedrosa tem razão quando chama a atenção para a importância artística e social do desenvolvimento da arquitetura moderna e pública, no período que se estende entre a Semana de Arte Moderna de 1922 e a primeira Bienal de São Paulo em 1951 (Pedrosa. 1975). De fato, o florescimento da arte moderna esteve associado aos projetos arquitetônicos e urbanísticos que previam a construção de espaços expositivos. O reconhecimento e a consagração do movimento concretista ocorreram em larga escala devido à criação de espaços de exposição das obras, que não existiam nas décadas anteriores, utilizando-se hotéis, saguões de hospitais, livrarias e bibliotecas. Em finais da década de 1940, foram criados os Museus de Arte Moderna em São Paulo e no Rio de Janeiro; na capital paulista criou-se também o Museu de Arte de São Paulo/MASP. Os Museus de Arte Moderna foram de grande relevância para o reconhecimento da arte moderna e concreta, em particular, acolhendo os artistas e expondo suas obras, o que nem sempre ocorreu em outros países e museus, como é o caso do MOMA, em Nova York, (Sant´Anna, 2011, p. 145-192), mais interessado, inicialmente, em educar um público para a arte moderna. Contudo, o acontecimento mais relevante voltado para a integração da arte brasileira à arte internacional foi sem dúvida a criação da Bienal de São Paulo. A Bienal dinamizou o processo de internacionalização das artes e colocou a cidade de São Paulo no centro dos grandes eventos artísticos (Alambert, Canhête, 2004), promovendo no país o encontro de artistas e do público com a produção artística internacional. Ao lado dos projetos urbanísticos que favoreciam a visibilidade da produção artística e, das medidas visando a superação do provincianismo estampadas na construção de edifícios com projetos arrojados, foi também em meados do século XX, que a crítica de arte ganhou novo estatuto e começou a ser veiculada na imprensa de grande circulação. A criação da Associação Brasileira de Críticos de Arte, ligada à Associação Internacional de Críticos de Arte, fundada pelo UNESCO (United Nations Educational, Scientific
RReevviissttaa ddoo PPrrooggrraammaa ddee PPóóss--ggrraadduuaaççããoo eemm AArrttee ddaa UUnnBB VIS Revista do Programa de Pós-graduação em Arte da UnB V.13 nº1/janeiro-junho de 2014 [2015] Brasília and Cultural Organization), ao término da Segunda Guerra Mundial, trouxe outra feição para o trânsito internacional de artistas, colecionadores, curadores, críticos, banqueiros, empresários brasileiros, que passaram a manter contato com instituições estrangeiras, de diferentes países, deslocando-se do centro hegemônico das artes que havia sido a cidade de Paris antes da II Guerra Mundial. A historiografia sobre o concretismo no Brasil costuma atribuir seu surgimento aos movimentos vanguardistas em circulação na Europa da primeira metade do século XX liderados por Mondrian, Malevitch, Gropius, Van Doesburg Max Bill, entre outros, quando não toma como ponto de partida uma relação de causa e efeito entre rápido crescimento capitalista, industrial e econômico ocorrido no país, e o surgimento da arte concreta.^5 Neste trabalho, entretanto, privilegio a análise de um conjunto de ações e relações sociais de atores integrantes do movimento, seus discursos contundentes e combativos bem como acontecimentos, que nas metrópoles do Rio de Janeiro e de São Paulo foram cruciais para a imposição do novo padrão estético. O concretismo no Rio de Janeiro e em São Paulo Não foram poucas as pelejas, as polêmicas, as resistências e os obstáculos relacionados com a realização do projeto concretista. Otília Arantes (1996, p. 20) sugere que a precocidade do movimento assustou o meio artístico, prejudicando sua recepção e reconhecimento. Na realidade, a concepção universalista do construtivismo ameaçava o programa modernista de criação dos retratos do Brasil, que desde a Semana de Arte Moderna mobilizava intelectuais, artistas e políticos. Em prefácio intitulado “Mario Pedrosa, um capítulo brasileiro da teoria da abstração”, a historiadora e crítica de arte confirma a concorrência entre o figurativismo de viés expressionista e cubista e o abstracionismo: não se concebia entre nós atividade cultural que não estivesse a serviço da figuração do país ainda muito incerto de si mesmo – pintar era ajudar a descobri-lo e edificar em parcelas uma nação diminuída pelo complexo colonial.(...)enquanto o primitivismo cubista e a deformação expressionista de nítida índole social pareciam ajustar-se a esse programa de transposição plástica do país, imaginava-se que com a abstração seríamos obrigados a
RReevviissttaa ddoo PPrrooggrraammaa ddee PPóóss--ggrraadduuaaççããoo eemm AArrttee ddaa UUnnBB VIS Revista do Programa de Pós-graduação em Arte da UnB V.13 nº1/janeiro-junho de 2014 [2015] Brasília Silveira (Villas Bôas, 2008, 2011). Sua montagem deve-se a Almir Mavignier. Ele orientava os pacientes a pintar e desenhar. Logo angariou a simpatia e o interesse de Abraham Palatnik, Ivan Serpa e do crítico Mario Pedrosa, com os quais conviveu durante seis anos, de 1946 a 1951, acompanhando e discutindo com artistas e críticos, a qualidade das obras dos artistas/internos. As primeiras exposições da produção dos pacientes esquizofrênicos, realizadas em 1947 e 1949, no Ministério da Educação e Saúde e no Museu de Arte Moderna de São Paulo renderam uma polêmica de dois anos na imprensa carioca e paulista. Os críticos debatiam os limites entre a normalidade e a anormalidade, arte e razão, academicismo e experimentação. Questionavam a autoria das obras dos internos, argumentando que entre os doentes não havia nenhuma atribuição de sentido nem a intenção de compor uma obra de arte. Aos internos do Engenho de Dentro faltavam discernimento, razão e vontade. Em São Paulo, ocorreram também iniciativas relacionando arte e loucura. O tema interessou artistas como Tarsila do Amaral, Lasar Segall, Flávio de Carvalho e Alice Brill. A Colônia Psiquiátrica do Juqueri, localizada na região metropolitana, tinha sido objeto de atenção do médico Osório César, estudioso da estética primitivista e autor de A Expressão Artística dos Alienados, de 1929 e A Arte nos Loucos e Vanguardistas de 1934. Nos anos de 1950, com a abertura de um ateliê, Maria Leontina Franco da Costa acompanhou o trabalho plástico de diversos pacientes (Carvalho, Reily, 2010) Contudo, a discussão sobre arte e loucura nem de longe teve o significado que alcançou no Rio, no que concerne o surgimento do concretismo. No entanto, no debate carioca, sem que aparecesse o termo concretismo ou construtivismo, a crítica de Mario Pedrosa levava à desconstrução das regras da arte moderna figurativa. Pedrosa defendeu o caráter artístico dos desenhos e da pintura dos internos, afirmando que a quebra dos cânones renascentistas com o advento da pintura moderna, havia gerado uma incompreensão quanto à concepção de arte. Advertia que a criação artística estava relacionada à imaginação, a intuição, a sensibilidade, desvinculando-se cada vez mais dos cânones convencionais. As experimentações eram fundamentais para que um indivíduo aprendesse com suas emoções e concebessem formas que transmitissem modos de sentir e imaginar. Tais formas tinham força intelectual porque organizavam a intuição, mas não podiam ser consideradas como expressão de um projeto intelectual consciente. A diferença da concepção de Mario Pedrosa relativamente àquelas de outros críticos era o projeto de ruptura com o figurativismo que ele acalentava, e os instrumentais teóricos que usava, calcados em suas
RReevviissttaa ddoo PPrrooggrraammaa ddee PPóóss--ggrraadduuaaççããoo eemm AArrttee ddaa UUnnBB VIS Revista do Programa de Pós-graduação em Arte da UnB V.13 nº1/janeiro-junho de 2014 [2015] Brasília reflexões sobre a Psicologia da Forma^8 , o que certamente lhe garantia uma posição diferenciada _ não apenas nas querelas sobre as exposições do ateliê do Engenho de Dentro _ mas no combate pelo reconhecimento de seu projeto construtivista de renovação da linguagem artística (^9). Quando em 1951, o acervo do Ateliê de Pintura transferiu-se para o Museu de Imagens do Inconsciente, criado e dirigido por Nise da Silveira, para fins de estudo e pesquisa, os jovens que haviam se reunido em torno de Mario Pedrosa encontraram um novo espaço de sociabilidade no Ateliê Livre de Pintura de Ivan Serpa, criado no mesmo ano e instalado na sede provisória do MAM , no Edifício do Ministério da Educação e Saúde. O novo ateliê tornou-se um dos principais elos da cadeia de acontecimentos que contribuiram para a imposição e consagração da arte concreta no Rio de Janeiro. A atividade intensa de Ivan Serpa 10 , no início da década de 1950, culminou com a criação do Grupo Frente, e suas exposições na Galeria IBEU, em 1954, no MAM/RJ e, posteriormente, em 1956 em Rezende e Volta Redonda. Apadrinhado pelos críticos de maior destaque na imprensa carioca àquela época, o grupo foi ganhando reconhecimento. A historiografia^11 , fundada nas pelejas críticas dos integrantes do concretismo, sublinha na constituição do Grupo Frente a ausência de uma determinação clara em direção ao concretismo, ressaltando que nele havia tendências diversas, característica que em muito o distinguia do Grupo Ruptura, seguidor dos preceitos da arte concreta sob a orientação de Waldemar Cordeiro, radicados em São Paulo. Os argumentos dos historiadores, enfatizando as posturas tolerantes e pouco radicais tanto de Serpa quanto de Pedrosa eram pouco convincentes, mas passaram com força para a fortuna crítica do Ateliê de Ivan Serpa e do Grupo Frente, repetindo-se em verbetes de enciclopédias, textos e catálogos de exposições, retrospectivas, quando não em pesquisas acadêmicas. Contudo, artistas que estudaram com Ivan Serpa e aprenderam com Mario de Pedrosa, através de uma convivência muito próxima com ambos^12 , foram forjando uma identidade com base nos valores estéticos que lhes eram incutidos, nas exposições coletivas, no favorecimento dos críticos e incentivo à experimentação.
RReevviissttaa ddoo PPrrooggrraammaa ddee PPóóss--ggrraadduuaaççããoo eemm AArrttee ddaa UUnnBB VIS Revista do Programa de Pós-graduação em Arte da UnB V.13 nº1/janeiro-junho de 2014 [2015] Brasília propiciado, segundo Aracy Amaral, escolhas mais “industriais” e menos artesanais na criação de seus objetos artísticos. Uma evidência teria sido a recepção das concepções da delegação suíça e de Max Bill presentes a I Bienal de São de São Paulo, pelo grupo paulista. A princípio influenciados por Mondrian e pelos neoplaticistas, privilegiavam a invenção das formas e os trabalhos seriais e modulados, porém, logo se converteram ao uso de materiais e técnicas industriais: foi de tal índole o impacto da delegação suíça da I Bienal que quase instantaneamente todos deixam a tela pintada a óleo e, seguindo as observações dos suiços ....passam a pintar sobre “Eucatex”, recorrendo logo ao esmalte para a mais rigorosa pintura das superfícies, aos poucos abandonando o pincel pela pistola, evitando portanto, não apenas o material de remanescência artesanal como a sua manipulação por um processo mais diretamente relacionado com a indústria” (p. 312) Embora relevante, a proposta de Amaral ( 1977) não explica na sua totalidade as preferências e as escolhas do Grupo Ruptura. Acrescente-se à origem social e a formação do Grupo Ruptura o teor do projeto renovador de Waldemar Cordeiro, com metas e regras bem definidas, enquanto no Rio, o surgimento de obras abstratas/concretas não decorre da proposição de regras, mas de debate sobre arte e loucura. Em São Paulo, a liderança do movimento estava nas mãos do artista plástico Waldemar Cordeiro, nascido em Roma e portador de dupla nacionalidade, que chega ao Brasil aos 20 anos de idade, em 1946, para trabalhar como jornalista fazendo reportagens e ilustrações no Jornal Folha da Manhã. Iniciara sua formação em Roma na Accademia di Belle Arti di Roma, onde apreendeu gravura e pintura. Logo depois de sua chegada, Cordeiro conheceu Geraldo de Barros, Luiz Sacilotto e Lothar Charoux, com quem compartilha seus projetos de mudança no campo da arte. Em 1949, iniciam-se as primeiras atividades dos artistas liderados por Cordeiro, com a realização de pesquisas com linhas horizontais e verticais, além da criação do Art Club de São Paulo, dedicado ao experimentalismo. Cordeiro opta pela nacionalidade brasileira, depois de breve viagem à Itália, e, logo depois, tem exibida sua obra na I Bienal de São Paulo. Em 1952, promove a exposição e lança o Manifesto Ruptura. O Manifesto não foi bem recebido pelo crítico Sergio Milliet, acadêmico da Universidade de São Paulo e ligado à criação do Museu de Arte Moderna e da Bienal. Milliet desqualifica o manifesto pela falta de explicação clara dos princípios norteadores do programa de renovação das artes plásticas dando origem a uma discordância com Cordeiro que define a recepção da crítica paulista aos concretos.
RReevviissttaa ddoo PPrrooggrraammaa ddee PPóóss--ggrraadduuaaççããoo eemm AArrttee ddaa UUnnBB VIS Revista do Programa de Pós-graduação em Arte da UnB V.13 nº1/janeiro-junho de 2014 [2015] Brasília Cordeiro luta intensamente pela defesa da a arte concreta, polemizando com os críticos Sergio Milliet e Ferreira Gullar. Integra-se aos novos circuitos da arte concreta, reunindo-se aos poetas paulistas, Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos e aos concretistas argentinos, a exemplo de Tomás Maldonado. A capacidade de liderança e persuasão de Waldemar Cordeiro, seus escritos, suas obras, suas ações e iniciativas foram indispensáveis para o aparecimento da arte concreta na cidade de São Paulo. Na história do concretismo paulista deve-se relembrar não apenas a origem social e profissionalização de seus artistas, mas a atuação singular de Cordeiro. É possível dizer, pois, que em São Paulo, a articulação concretismo esteve às mãos de um artista plástico e crítico de arte, cujo projeto foi sendo gestado nas interseções com o Museu de Arte Moderna e a Bienal de São Paulo, sob a figura marcante de Max Bill. Concretos e neo-concretos Evocam-se comumente as pelejas de Ferreira Gullar e Waldemar Cordeiro para distinguir os artistas concretos cariocas de paulistas, classificando-os nas categorias concretos e neo-concretos, como se a naturalidade,^14 pudesse definir características do afazer artístico. A naturalidade ou local de moradia dificilmente imprimiriam as qualidades de maior ou menor rigor às formas geométricas ou de maior ou menor afeição à objetividade ou subjetividade. Contudo, as reflexões de Mario Pedrosa, em texto de 1957, “Paulistas e Cariocas” (1977, p. 136-137) relativas à maior ou menor afinidade de coletividades sociais com a teoria, qualificou os paulistas de teóricos e os cariocas como mais empíricos. Tais reflexões contribuíram em muito para firmar na história da arte uma disputa entre cariocas e paulistas sobre as diferenças de suas obras. A polêmica cariocas versus paulistas não acrescentou subsídios à análise das diferenças do desenvolvimento da produção plástica dos artistas concretos, ao contrário, obstaculizou um exame mais acurado das duas orientações do concretismo brasileiro. Se as cidades, onde os grupos surgiram, propiciaram cenários diferentes para suas práticas artísticas, o desenrolar dos acontecimentos evidencia que os concretistas em uma ou outra metrópole usaram estratégias
RReevviissttaa ddoo PPrrooggrraammaa ddee PPóóss--ggrraadduuaaççããoo eemm AArrttee ddaa UUnnBB VIS Revista do Programa de Pós-graduação em Arte da UnB V.13 nº1/janeiro-junho de 2014 [2015] Brasília textos críticos sobre o concretismo e o neo - concretismo foram realizadas nos anos 1959 até início dos anos de 1960^17 , quando os grupos e suas lideranças começam a se dispersar. Quanto ao desenvolvimento dos concretos do Rio de Janeiro e de São Paulo, ressalte- se, primeiro, a natureza da discussão crítica sobre o concretismo nas duas cidades. No Rio de Janeiro, a discussão sobre arte e loucura abre o flanco para a discussão sobre as mudanças que ocorriam na arte em oposição aos preceitos da arte renascentista. Ao contrário, em São Paulo é lançado o Manifesto Ruptura, definindo diretrizes do movimento contrárias aos preceitos do renascimento. No período que se estende de 1947 até 1961, os artistas cariocas desfrutaram do apoio irrestrito de crítica, sobretudo de Mário Pedrosa e Ferreira Gullar. Mario Pedrosa tinha ascendência sobre os outros e cedo se investiu de autoridade capaz de realizar seu projeto de renovação do campo artístico. Em São Paulo, nem a liderança nem a crítica de arte desempenharam o mesmo papel. A liderança do movimento paulista com o jovem artista Valdemar Cordeiro, era apoiada pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo e pela Bienal mas não contava, por exemplo, com o incentivo de Sergio Milliet. Finalmente lembre-se do Jornal Correio da Manhã, que apoiava sem restrições o projeto do Museu de Arte Moderna e seus artistas concretos, bem como, posteriormente, o Jornal do Brasil com o Suplemento Dominical. Segundo, os artistas cariocas formavam um grupo disperso e heterogêneo no que respeita a sua origem social e procedência; foram se reunindo e adquirindo identidade por meio de uma linguagem artística comum, sem que tivessem a priori um projeto. Aparentemente, em São Paulo se deu o inverso. O grupo era mais homogêneo quanto a sua procedência estrangeira, origem social e formação profissional. A coesão entre os artistas fundou-se no projeto comum que compartilhavam sob a liderança de Waldemar Cordeiro. A legitimidade e autoridade de Cordeiro é conquistada em grande parte pela identificação com as concepções construtivistas de Max Bill, difundidas na primeira exposição do artista suíço, em 1950, e, no ano seguinte com a premiação da obra Unidade Tripartida na I Bienal de São Paulo. Se Cordeiro não tinha o estímulo da crítica, certamente, angariou notabilidade, não apenas pelas suas incansáveis iniciativas como também pela recepção notável de Max Bill no grupo concreto de São Paulo. Bill advertia que era indispensável o apoio visual ao pensamento humano, particularmente ao pensamento matemático.
RReevviissttaa ddoo PPrrooggrraammaa ddee PPóóss--ggrraadduuaaççããoo eemm AArrttee ddaa UUnnBB VIS Revista do Programa de Pós-graduação em Arte da UnB V.13 nº1/janeiro-junho de 2014 [2015] Brasília São diversos os pontos de vista através dos quais se podem apreciar as diferenças dos concretos e, buscar compreender porque o desenvolvimento de sua produção plástica desdobrou-se em diferentes orientações. Cisões, cortes, rupturas dentro de um mesmo movimento são fatos comuns e enriquecedores mostrando a variedade e multiplicidade que tem a capacidade criativa. A conquista do projeto concretista no Brasil foi realizar-se, em meio as várias pelejas, e alcançar romper com uma das mais fortes tradições intelectuais e artísticas do país voltada para a construção da identidade nacional. O concretismo acrescentou ao acervo brasileiro novas experiências plásticas que, certamente, se metamoforsearam e continuam a ecoar em outras obras plasmando-se em poéticas originais que se deixam surpreender pelas contingências, pelo excesso, pelo despojamento, por novas concepções de ficção e realidade, mas ainda, certamente, para conferir visibilidade a uma realidade que se tornou invisível. Referências ALAMBERT, F.; CANHÊTE, Poliana. Bienais de São Paulo. Da era do Museu à era dos curadores. São Paulo: Boitempo, 2004. ARRUDA, Maria Arminda do N. Metrópole e cultura: São Paulo no meio século XX. Bauru, EDUSC, 2001. BANDEIRA, João (org.). Arte Concreta paulista: documentos. São Paulo, Cosac & Naify, 2002. MERLEAU-PONTY, Maurice. O olho e o espírito. São Paulo: Cosac Naify, 2004. NAVES, Rodrigo. A forma difícil: ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Cia das Letras, 2011. PEDROSA, M. Mundo, homem, arte em crise. São Paulo: Perspectiva, 1975. PEDROSA, M. Forma e percepção estética: textos escolhidos II. São Paulo: Edusp, 1996. SANT'ANNA, Sabrina Parracho. Construindo a memória do futuro: uma análise da fundação do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2011. SCHWARCZ, L.M. O Sol do Brasil: Nicholas-Antoine Taunay e as desventuras dos artistas franceses na corte de d. João. Ed Companhia das Letras. 2008. VILLAS BOAS, G. A estética da conversão. O ateliê do Engenho de Dentro e a arte concreta carioca (1946-1951). Tempo Social, São Paulo, v. 20, n. 2, 2008. ______________. Mudança Provocada. Passado e futuro no pensamento sociológico brasileiro. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2006.