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Valores socio-culturais e a desistencia escolar da rapariga na maganja da costa, Notas de estudo de Bioquímica

Desistencia escolar da rapariga no distrito da Maganja da Costa-Zambezia

Tipologia: Notas de estudo

2017

Compartilhado em 03/06/2017

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zaina-paulino-9 🇧🇷

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CAPITULO I: Introdução
No âmbito do trabalho de fim de curso de Licenciatura em Ensino de História, na Universidade
Católica de Moçambique, delegação de Quelimane, e na qualidade de professora do Ensino
Básico, constatou-se porém, que de entre vários problemas de educação, a Desistência Escolar
da Rapariga” merece uma atenção particular, primeiro porque constituí uma preocupação
constante do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, dos pais e ou encarregados de
educação e da própria sociedade civil. Segundo, porque trata-se de um fenómeno que causa
prejuízos no campo educativo, uma vez que as crianças não concluem a escolaridade mínima,
vão engrossar a lista de analfabetismo e vão diminuir a lista dos que concluem a escolaridade
mínima. No campo social podemos verificar que as crianças que abandonam as escolas, muitas
delas não são acolhidas em outras instituições, o que faz com que elas enveredam por outros
caminhos que de nada as dignificam, quais sejam a droga, prostituição e alcoolismo. Do ponto de
vista económico, estas crianças vão engrossar a taxa de desemprego e, ou então, são candidatos a
mão-de-obra não qualificada, auferindo baixos rendimentos, dificultando desta forma o seu bem-
estar familiar.
A educação é um direito humano básico. O seu papel fundamental na redução da pobreza é
universalmente reconhecido. Ela contribui directamente para o desenvolvimento humano através
da melhoria das capacidades e oportunidades dos pobres (materialmente), promovendo uma
maior equidade social, regional e de género, dai que o conhecimento é sem dúvida um meio
indispensável para a melhoria das condições de vida. Por isso, a educação é essencial para o
rápido crescimento e desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.
Na Zambézia, em particular no distrito da Maganja da Costa, os níveis de escolaridade ainda
continuam baixos, sobretudo entre mulheres e populações rurais. Não é uma fatalidade, embora
as condições socioeconómicas influenciarem esse facto, mas o pensamento cultural daquelas
populações os destina.
Importa referir que esta pesquisa partiu de um problema consciencializado e vivido desde a
infância, sempre ouvi alguns pais dizendo às suas filhas “agora és crescida, arranja a tua vida, a
escola não te garante o futuro, a escola não se come”. E, muitas famílias, dizem que as meninas
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Baixe Valores socio-culturais e a desistencia escolar da rapariga na maganja da costa e outras Notas de estudo em PDF para Bioquímica, somente na Docsity!

CAPITULO I: Introdução

No âmbito do trabalho de fim de curso de Licenciatura em Ensino de História, na Universidade Católica de Moçambique, delegação de Quelimane, e na qualidade de professora do Ensino Básico, constatou-se porém, que de entre vários problemas de educação, a “ Desistência Escolar da Rapariga” merece uma atenção particular, primeiro porque constituí uma preocupação constante do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, dos pais e ou encarregados de educação e da própria sociedade civil. Segundo, porque trata-se de um fenómeno que causa prejuízos no campo educativo, uma vez que as crianças não concluem a escolaridade mínima, vão engrossar a lista de analfabetismo e vão diminuir a lista dos que concluem a escolaridade mínima. No campo social podemos verificar que as crianças que abandonam as escolas, muitas delas não são acolhidas em outras instituições, o que faz com que elas enveredam por outros caminhos que de nada as dignificam, quais sejam a droga, prostituição e alcoolismo. Do ponto de vista económico, estas crianças vão engrossar a taxa de desemprego e, ou então, são candidatos a mão-de-obra não qualificada, auferindo baixos rendimentos, dificultando desta forma o seu bem- estar familiar.

A educação é um direito humano básico. O seu papel fundamental na redução da pobreza é universalmente reconhecido. Ela contribui directamente para o desenvolvimento humano através da melhoria das capacidades e oportunidades dos pobres (materialmente), promovendo uma maior equidade social, regional e de género, dai que o conhecimento é sem dúvida um meio indispensável para a melhoria das condições de vida. Por isso, a educação é essencial para o rápido crescimento e desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.

Na Zambézia, em particular no distrito da Maganja da Costa, os níveis de escolaridade ainda continuam baixos, sobretudo entre mulheres e populações rurais. Não é uma fatalidade, embora as condições socioeconómicas influenciarem esse facto, mas o pensamento cultural daquelas populações os destina.

Importa referir que esta pesquisa partiu de um problema consciencializado e vivido desde a infância, sempre ouvi alguns pais dizendo às suas filhas “agora és crescida, arranja a tua vida, a escola não te garante o futuro, a escola não se come”. E, muitas famílias, dizem que as meninas

que vão à escola estão a fugir do trabalho das machambas. Outras famílias riem-se das raparigas de 18 anos a frequentar a escola porque acham que elas já deviam ter criado uma família.

O distrito da Maganja da Costa, a ambiguidade da educação ainda faz-se sentir. Apesar das expectativas sobre a educação claramente indicarem que podiam materializar-se em oportunidades de emprego ou avanço da família. Em termos culturais, o envio das raparigas para a escola significa que os pais tomam uma decisão de “investir” os escassos recursos para algo que é considerado como resultado incerto.

Dada a gravidade da situação, senti a necessidade de desenvolver uma pesquisa com vista a dar um contributo para a superação do problema com que as escolas daquele ponto da província da Zambézia se defrontam no dia-a-dia.

A presente monografia pretende-se fazer um estudo em pormenores sobre os Valores socioculturais e suas implicações na desistência escolar da rapariga e os problemas que poderá trazer no seio da comunidade Nharinga.

Este trabalho está composto por quatro capítulos: o primeiro capítulo: introdução que dará uma abordagem sumária de todo o trabalho destacando tema, a delimitação do tema, justificativa, formulação do problema, objectivos da pesquisa, formulação das hipóteses, metodologia da pesquisa, tipo de pesquisa, métodos e técnicas de colecta de dados, população alvo e amostra da pesquisa.

No segundo capítulo, apresento referencial teórico, como forma de sustentar o trabalho em estudo, buscando as ideias dos diferentes autores.

No terceiro capítulo, apresento a análise e interpretação dos dados recolhidos no campo, do qual discuto e comprovo as hipóteses desta pesquisa. E no quarto capítulo, faz-se a apresentação da conclusão, sugestões e a respectiva bibliografia.

Dezembro de um ano a Abril do ano seguinte, variando significativamente na quantidade e distribuição, quer durante o ano, quer de ano para ano, e a temperatura média está na ordem dos 25.7⁰C

1.2.3. Situação geográfica da Escola Primária e Completa de Inroga

A Escola Primária e Completa de Inroga localiza-se no distrito da Maganja da Costa, província da Zambézia. A escola está dentro da localidade Bala a 7 km da vila em direcção a praia de Cabuir. Ela localiza-se ao sul da vila, no extremo oeste.

1.2.4. Breve historial da Escola Primária e Completa de Inroga

A Escola Primária de Inroga foi construída pelos missionários capuchinhos Jesuítas em reconhecimento de hospedagem que foram-lhes concedidos pelo régulo Inroga em 1979. Inicialmente a escola tinha dois (2) blocos e leccionava 1ª e 2ª classe.

Actualmente a escola é constituída por cinco (5) blocos sendo quatro (4) de material de construção convencional e restante dos blocos com material precário. Os blocos estão constituídos por 14 salas de aula, sendo duas salas funcionam como sector pedagógico e uma sala como gabinete do director da escola e a outra funciona como secretaria.

Ela carece de biblioteca e do material didáctico específico para várias disciplinas. E, caracteriza- se pela apresentação de edifícios pequenos.

1.3. Justificativa O principal motivo de escrever um trabalho deste género reside no facto de se ter constatado que a desistência escolar da rapariga é um fenómeno que se verifica em muitas escolas do País, em particular na Escola Primária e Completa de Inroga. Este fenómeno está assumindo proporções e aspectos de muita gravidade no domínio da educação e, envolve a vida social, o aumento das diferenças sexuais, até económicas.

A cada dia que passa aumenta a desistência escolar da rapariga, verifica-se muitas vezes em várias instituições de ensino, raparigas que não têm chegado ao fim do ano lectivo, indo ajudar os seus pais nos trabalhos de casa. Embora, a desistência se verifique em alguns rapazes, o objecto desta pesquisa é da rapariga em particular.

Por volta dos 8/12 anos, as raparigas assumem mais e mais responsabilidades domésticas em comparação aos rapazes da mesma idade. O montante de trabalho que a rapariga executa dentro e fora da família, constitui uma grande limitação para o seu desenvolvimento. Na Zambézia, nas zonas rurais, a rapariga enfrenta exigências de tarefas e responsabilidades familiares em excesso, em relação ao seu tempo disponível.

Para as famílias pobres, a mera necessidade de sobrevivência torna-se um obstáculo para a educação da rapariga, porque tem de desistir de ir à escola no sentido de prestar o seu contributo nas actividades domésticas incluindo a responsabilidade de preparar as refeições, cartar água e, também, tem de participar na produção familiar.

Além da rapariga assumir a responsabilidade da família precocemente, ela quando atinge os seus dez anos é submetida a ritos de iniciação que contribui fundamentalmente na desistência da rapariga à escola. Nesta região quando uma rapariga é submetida aos ritos iniciação é considerada como já estando pronta para assumir o casamento.

Este factor leva com que naquele estabelecimento de ensino primário haja maior desistência da rapariga, uma vez que maior parte dos alunos que frequentam naquela escola tem a idade que permite entrar nos ritos de iniciação.

Na zona rural de Maganja da Costa, é normal que uma rapariga se case logo depois da puberdade, ou até mais jovem, enquanto os rapazes só se casam muito depois da sua juventude ou na adolescência final.

1.4 Objectivos da pesquisa

A definição dos objectivos determina o que o pesquisador quer atingir com a realização do trabalho. O objectivo num projecto de pesquisa é sinónimo de meta, fim.

Neste sentido, tendo em conta a amplitude real da problemática da desistência escolar da rapariga, a presente pesquisa visa despertar maior atenção as autoridades moçambicanas sobre desistência da rapariga em massa e para que possa contribuir na superação desta problemática.

1.4.1 Objectivo geral

No ano de 2014, a Escola Primária e Completa do Inroga, matriculou nas mesmas classes 1105 alunos, dos quais 446 eram raparigas, destas desistiram 64 alunas. E, finalmente, em 2015, dos 1120 alunos matriculados da 1ª e 7ª classe, 478 eram raparigas e desistiram 54 raparigas.

Gráfico 1: Número de raparigas que desistira a escola por ano

Fonte: autora

Desta forma, a inquietação que me motivou na realização do presente trabalho, relaciona-se basicamente com a seguinte questão:

Qual é a causa que influência na desistência escolar da rapariga no distrito da Maganja da Costa?

1.6 Hipóteses

Num trabalho científico é inquestionável a presença de hipóteses, porque se trata de uma suposição ou possível resposta previamente antecipada. Trata-se de uma afirmação pré- formulada pelo autor do que ele pensa a respeito do problema colocado em consonância com os objectivos definidos.

1.6.1. Hipótese primária

 Pensamento sociocultural que muitos pais têm em relação a rapariga e do seu papel na sua vida futura influência na desistência escolar da rapariga.

1.6.2. Hipóteses secundárias

(^84 87 ) 54

2012 2013 2014 2015

Número de alunas que desistiram a escola entre 2012 á 2015

 Certos ensinamentos incorporados nos ritos de iniciação feminina, na educação da rapariga têm influenciado negativamente na desistência escolar da rapariga ao nível do distrito da Maganja da Costa.  As mestras da prática de ritos de iniciação feminina na educação da rapariga no distrito da Maganja da Costa evidenciam acções que dominam a rapariga de um elemento passivo e menos importante na escola o que contribui a sua desistência.

A redução dos dados estatísticos do efectivo feminino escolar nos últimos três (3) anos (2012-

  1. na EPC de Inroga, resulta a influência negativa de certos ensinamentos transmitidos nos ritos de iniciação feminina, bem como a falta de condições financeiras para sustentar os estudos.

1.7 Metodologia de investigação

A metodologia é a explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e exacta de toda acção desenvolvida no método do trabalho de pesquisa. Ela é a explicação do tipo de pesquisa, do instrumento que se vai usar e tratamento dos dados, enfim, de tudo aquilo que se vai utilizar na pesquisa.

Trujillo (1974) apud Richardson (1999:21), define o método como sendo “a forma de proceder ao longo de um caminho ou percurso para o alcance de um objectivo”. Concordando com a ideia do autor acima citado, a presente pesquisa adoptou ainda diferentes métodos de abordagem como: dedutivo e indutivo.

1.7.1 Tipos de pesquisa

Para a problemática da desistência da rapariga na escola, recorri a pesquisa qualitativa, para além da revisão bibliográfica. Segundo Chizzotti (2000:78), “ a abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objecto, um vínculo indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do sujeito”.

Na pesquisa qualitativa, é necessário que o sujeito que faça parte integrante da observação dos fenómenos de modo que lhe possa atribuir um significado de acordo com o observado no local da investigação.

Tabela 1: O pessoal envolvido na pesquisa e respectiva técnica e instrumento de recolha de dados.

Alvo da pesquisa Quantidade Técnica e instrumentos da recolha de dados Director da escola 1 Entrevista semi-estruturada Director adjunto Pedagógico 1 Entrevista semi-estruturada Chefe da secretaria 1 Entrevista semi-estruturada Chefe do núcleo da promoção da rapariga

1 Entrevista semi-estruturada

Professores 8 Questionário Alunas que estudam 20 Questionário Alunas que não estudam 4 Entrevista semi-estruturada Pais e encarregados de educação 4 Entrevista semi-estruturada Total 42 Fonte: Autora

Capítulo II: Fundamentação Teórica

O presente capítulo aborda questões da visão do ponto de vista dos autores que tratam assuntos ligados ao tema em alusão.

A desistência escolar da rapariga constitui uma das preocupações constantes dos sucessivos governos, tendo em conta o seu nível de crescimento e os prejuízos advenientes nos domínios educativo, social, económico e familiar. Neste contexto, esforços, acordos e parcerias vêm sendo feitos entre os vários responsáveis e representantes da Educação com vista a pôr fim a essa praga, que tanto tem contribuído para o insucesso escolar e pelos baixos rendimentos escolares.

2.1. Conceito de desistência escolar

Para uma melhor compreensão do fenómeno desistência escolar, torna-se necessário conhecer o seu conceito. Contudo, não é fácil encontrar uma definição que seja consensual.

Para Benavente e tal., (1994:78), a desistência escolar corresponde ao “abandono das actividades escolares sem que o aluno tenha completado o percurso obrigatório e/ou atingindo a idade legal para o fazer”. Na perspectiva de Tavares (1990:109), “a desistência escolar consiste em alunos que matricularam nos estabelecimentos de ensino e que não frequentaram a escola durante o ano lectivo em curso.

Segundo Mongella (2001:248) entende que “ as cerimónias de iniciação, assumem ainda hoje uma grande importância na maioria das culturas, contribuem para a desistência precoce das raparigas”. (...) As raparigas são obrigadas pela cultura a submeter-se aos ritos tradicionais de iniciação, logo após a primeira menstruação. A programação de tais ritos coincide as vezes com o calendário escolar, dando origem ao absentismo das raparigas na escola.

Segundo Mongella (2001:248), “as famílias mantém as filhas fora da escola durante um (1) mês após a menstruação, de modo a participar nos ritos de iniciação” .(...) Isto tudo indica que alguns pais estão dispostos a cobrir os custos destes ritos do que a escolaridade formal. As iniciações dão origem a diversos dilemas para as raparigas, afectando a sua frequência e o desempenho académico”.

Neste contexto, enviar as raparigas para a escola envolve ou significa ter rendimento financeiro o que as famílias, particularmente nas zonas rurais, não têm. Os crescentes custos elevados de ensino são identificados como a razão principal para os pais retirarem as suas filhas.

Segundo Mongella (2001:202), “os custos de ensino são considerados fora do alcance e da capacidade de muitas famílias das zonas rurais” .(...) Os estudos mostram que os custos associados com o ensino são mais elevados para as raparigas do que para os rapazes.

Na mesma linha do pensamento e de acordo com Osório (1997) citado por (CASAS, 1998:119). “ a situação de extrema pobreza das famílias, acrescida da falta de perspectiva para os filhos, levam grande número de famílias a utilizar as meninas como recurso, casando-as prematuramente”

Nas áreas rurais, para a rapariga, o casamento e a maternidade perfilam como o único futuro aceitável. As raparigas têm maior probabilidade do que os rapazes de desistirem devido ao casamento prematuro. De acordo com Ivala e Bonnet (1999:38), a ideia que existe é que:

“a rapariga foi concebida para cuidar do lar, e como tal ela deve, logo que atinja a idade adequada, depois de submetida aos ritos de iniciação, casar-se para ajudar a sua família de proveniência, a suprir carências de ordem económica, através de proventos do marido. Não se inculca na rapariga, desde cedo, as vantagens que podem resultar da sua escolarização para a obtenção do emprego, a fim de ajudar melhor a família”.

Na sociedade nharinga, principalmente nas áreas rurais do distrito da Maganja da Costa, o sonho de muitas famílias é ver suas filhas casadas crescidas ou pequenas, em vez serem engravidadas. Segundo Casas (1998:119), “Se encontrarem um rapaz trabalhador, muitos pais preferem casar a sua filha quase criança, porque pensam que é melhor isso do que esperar que engravide e seja mais uma carga nas suas costas, sem apoio do marido”.

Os ensinamentos dos ritos de iniciação promovem a sexualidade precoce. Segundo Casas (1998:118), “ a sociedade aceita como “normal” que as raparigas tenham “um destino” mais ou menos fixo, o que inculca nelas um sentido de baixa auto-estima, de valor próprio relacionado apenas com a sexualidade, com a sua capacidade reprodutora e a capacidade de trabalhar para a família” .(...) Não há muitas razões, especialmente para uma rapariga nas zonas rurais, que a levem a acreditar que o futuro lhe oferece outras alternativas. Desde os seus primeiros anos dentro da família, ela identifica-se com o papel desempenhado pela sua mãe.

2.2. A Educação Formal da Rapariga na Zona Rural

Um obstáculo significativo que o governo de Moçambique enfrenta são as disparidades que persistem entre as zonas urbanas e as zonas rurais onde mais de metade da população moçambicana reside. De facto, os desafios em termos de educação permanecem sem dúvida mais elevados nas zonas, a nível global.

Segundo Nérice (1989:41) considera a educação como maior arma de que uma sociedade pode dispor. Uma arma de maior alcance e eficiência. Esta ideia também foi abordada na Declaração de Beijing (1995) na qual se afirma que a educação é um direito humano inalienável e uma ferramenta essencial para atingir os objectivos da igualdade, (MONGELLA, 2001:43).

As taxas elevadas de desistência escolar nas escolas das zonas rurais significam que a maioria das raparigas abandona o sistema de educação sem adquirir competências básicas de alfabetização.

Os dados desagregados por género sobre os resultados escolares indicam ainda que as raparigas nas zonas rurais têm menor possibilidade de permanecerem na escola do que os rapazes, bem como do que as raparigas nas zonas urbanas. Aquelas enfrentam obstáculos específicos à permanência no sistema de educação, relacionados com a carga de trabalho doméstico que desempenham e o seu papel como cuidadoras. Algumas pesquisas mostram que as raparigas trabalham em actividades domésticas do que os rapazes. Mongella (2001:196) afirma que,

“espera-se que as raparigas limpem a casa, lavem a loiça , preparem refeições e lavem a roupa enquanto que os rapazes geralmente têm uma carga de trabalho mais ligeiro. É norma que as raparigas jovens ajudem as suas mães no mercado, na busca de água, recolha de lenha e no zelo pelos membros da família mais novos, pois estas são actividades que se esperam das raparigas”.

A identidade feminina constrói-se na base da noção de “ser para os outros”, assim, entende-se que uma rapariga “é para” ajudar a sua mãe em casa, “é para” servir o seu marido. Casas (1998:118) salienta que, “ a sociedade aceita como “normal” que as raparigas tenham “um destino” mais ou menos fixo, o que inculca nelas um sentido de baixa auto-estima, de valor próprio relacionado apenas com a sexualidade, com a sua capacidade reprodutora e a capacidade de trabalhar para a família” .(...) Não há muitas razões, especialmente para uma rapariga nas zonas rurais, que a levem a acreditar que o futuro lhe oferece outras alternativas.

sociedade através de múltiplas manifestações e, em particular, prepará-lo para assumir outras responsabilidades sociais.

De acordo com a ideia dos autores acima citados, pode-se entender que a educação tradicional é uma herança cultural, em que o sistema de conhecimentos e valores é transmitido aos membros da sociedade, de acordo com o seu estágio de desenvolvimento e, comporta dois (2) momentos cruciais: na família e nos ritos de iniciação. Nesta perspectiva, a educação tradicional é um processo de socialização, segundo aquilo que cada povo no seu modo de existir, considera ideal em termos de valor.

Para questão da alta desistência escolar das raparigas das zonas rurais, Palme (1992) citado por Ivala e Bonnet (1999:24) diz que não pode ser entendida como um efeito de hábitos ou formas ultrapassadas”. Para isso encontra a explicação na lógica da reprodução social na sociedade rural enquanto o mesmo fenómeno nas áreas suburbanas tem a ver com estratégias de sobrevivência das famílias pobres.

Na zona rural no distrito da Maganja da Costa, os ensinamentos tradicionais desempenham um papel importante para a população. Segundo a obra de Claude Boucher Mafr at all (1996) citado por Ivala e Bonnet (1999:27), faz uma abordagem acerca da juventude moçambicana e dos ritos de iniciação numa perspectiva da religião crista:

 “A obra refere-se a importância da educação e do seu significado para a vida das populações, principalmente para os povos do centro e do norte de Moçambique;  Revela que esta educação serve para a formação dos rapazes e das raparigas quando atingem uma determinada idade. Tem um grande valor para o povo, porque através da iniciação, a pessoa fica formada e preparada a tornar-se adulta, deixa de ser criança

2.4. Causas da Desistência da Rapariga na escola

Estudos realizados no país situam a maior taxa de desistência das raparigas nas regiões Norte e centro do país, nomeadamente Niassa, Cabo Delgado, Nampula e Zambézia. Várias são as causas que limitam a participação da rapariga na educação formal.

2.4.1. Os Ritos de Iniciação das Raparigas

Na sociedade moçambicana, os ritos de iniciação constituem uma etapa de formalização na educação iniciada na família. Enquanto, o rapaz é ensinado a conquistar a obediência da mulher, a rapariga aprende a obediência como norma.

Entenda-se norma como uma regra de conduta obrigatória por imperativo de convivência social. Que, de acordo com Maia (2002:266), as normas são instituídas pela força normativa das vivências socialmente aceites e instituídas. Nesta perspectiva, a vida em sociedade determina uma certa ordem ou ordenamento, certas regras.

Para PNUD (2001:43) refere que, nos ritos de iniciação, a jovem mulher aprende onde se situar na hierarquia da família e a distinguir as boas e más condutas em função do modelo cultural. Assim, a identidade feminina é constituída por mecanismos de socialização e fundamentos normativos que a excluem das funções de controle.

Os ensinamentos proporcionados à mulher adolescente visam iniciá-la a vida adulta, isto é, prepará-la para a sua integração no mundo dos adultos com todas as exigências do seu papel. Dos vários conteúdos, a jovem mulher aprende a cuidar do seu próprio corpo, cuidar da casa, do seu marido e das crianças.

O principal objectivo é, de acordo com Cipire (1996:43), prepará-la para ser mulher com qualidades de uma excelente “mãe” e “esposa”, contrariamente ao homem que, na mesma fase, é ensinado a tomar dianteira da família e participar activamente na vida social, política e económica da sua comunidade.

A iniciação representa uma instituição de capital importância para a instrução e educação do indivíduo. Golias (1993:15) salienta que,

“os ritos de iniciação têm lugar por volta dos 12 anos e são marcados por acções educativas mais conscientes. É nessa altura que a educação dos jovens é confiada a alguns membros designados colectividade. Ela compreende os fundamentos da vida social, nomeadamente os valores culturais, costumes e tradições”.

Para Nekmwene, José Maria A. (1996) citado por Ivala e Bonnet (1999:30), “o papel preponderante do homem na família, posição que será transmitidas aos filhos, relega para o plano secundário as filhas levando o que a educação formal não seja prioridade para estas”. Depois dos ritos um grande número de raparigas desiste, porque são prontas para serem casadas. Nas áreas rurais os pais arranjam maridos e casamentos. Porque, de acordo com os pais os ritos são importantes, uma vez que as crianças aprendem coisas diferentes da escola, por exemplo aprendem a sexualidade e recebem ensinamentos sobre como se tornarem boas esposas e mães.

Segundo Casas (1998:9) “muitos dos ensinamentos relativo à sexualidade e comportamento social são transmitidos aquando da realização dos ritos de iniciação masculinos e femininos” .(...) A prática de relações sexuais, tanto para rapazes como para raparigas, tem início muito cedo (11 e 13 anos) e os casamentos, sobretudo nas zonas rurais, verificam-se igualmente cedo, entre os 13 e 15 anos para as raparigas, ocorrendo mais tarde nas zonas urbanas.

Os ritos de iniciação podem ser verdadeiro espaço de formação de personalidades, se os seus responsáveis promovem uma relação de equidade entre rapazes e raparigas e estimularem neles e nelas uma visão do futuro que fortaleça o crescimento pessoal, como condição necessária para uma contribuição na família e nas comunidades, (CASAS, 1998:119).

De acordo com o pensamento da autora, nem todos os aspectos da educação tradicional favorecem a desistência da rapariga as aulas. Também fazem parte da educação tradicional os aspectos que visam formar os jovens para a vida. Deste modo, nota-se a importância dos ritos de iniciação como forma de preparar a rapariga para a integração na sociedade.

2.4.2. Casamentos Prematuros

Nas áreas rurais, a rapariga, o casamento e a maternidade perfilam como o único futuro. As raparigas têm maior probabilidade do que os rapazes de desistirem devido ao casamento prematuro.

Segundo Maia (2002:47), no sentido mais imediato, a noção de casamento comporta duas significações. Por um lado, indica uma convenção ou decisão de viver junto e, por conseguinte, constitui um fundamento da família, embora esta possa existir sem aquele, como acontece

frequentemente nos nossos dias, por outro, manifesta o estado e o género de vida que daí decorrem.

Para as raparigas, a principal causa para o abandono escolar é o casamento. O casamento precoce é comum em Moçambique. A estrutura social e as relações de género nas áreas rurais, bem como a ausência de outras estratégias de vida viáveis para as mulheres num contexto de pobreza profunda fazem com que as raparigas e as suas famílias procurem muitas vezes um casamento prematuro como estratégia de sobrevivência. O facto de uma rapariga ser mais educada do que o seu futuro marido não ser socialmente aceitável, influencia a decisão dos pais de retirarem as raparigas da escola. De acordo com Ivala e Bonnet (1999:38) a ideia que existe é que,

“a rapariga foi concebida para cuidar do lar, e como tal ela deve, logo que atinja a idade adequada, depois de submetida dos ritos de iniciação, casar-se para ajudar a sua família de proveniência, a suprir carências de ordem económica, através de proventos do marido. Não se inculca na rapariga, desde cedo, as vantagens que podem resultar da sua escolarização para a obtenção do emprego, a fim de ajudar melhor a família”.

Na adolescência, os casamentos prematuros continuam a ser prevalecentes onde devido as dificuldades económicas e as atitudes culturais, é mais comum casar raparigas jovens em vez de investir através da sua educação. As raparigas entram para o primeiro casamento relativamente mais jovens do que os rapazes. Este aspecto encontra a sustentabilidade na Província da Zambézia, a idade mínima das primeiras relações sexuais está entre os 10-13 anos. Importa referir que na sociedade nharinga, após a primeira menstruação a rapariga é considerada adulta e apta para o casamento.

Para Palme (1992:49), “tanto na sociedade rural como nos subúrbios as raparigas preparam-se, mentalmente e através de actividades concretas, para um futuro como mulheres casadas ou pelo menos como mulheres crescidas”. Isto significa que, as actividades domésticas tornam-se uma parte cada vez mais importante da educação das raparigas à medida que crescem. Os efeitos físicos, emocionais e sociais do casamento precoce são vários, mas um dos mais frequentes é o abandono escolar, por parte das raparigas, (LEWIS, 2003:2).

Quando as alunas abandonam a escola para se casar, dá-se um efeito de choque na comunidade como um todo, com implicações das gerações futuras. As raparigas que casam cedo, têm, inevitavelmente, filhos cedo e têm muitos filhos, uma vez que os seus conhecimentos sobre os métodos anticonceptivos é limitado e o seu poder de negociação para os utilizar é fraco.