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universidade federal do paraná, Notas de aula de Fisiologia

(OSMOCONFORMADOR)?. Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em. Fisiologia, do Curso de Pós-Graduação em.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Florentino88
Florentino88 🇧🇷

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
LEONARDO DE PAULA RIOS
A EXPRESSÃO MUSCULAR DE HSP70 REFLETE ESTRESSE SALINO
NOS CRUSTÁCEOS BRAQUIÚROS Callinectes danae E Callinectes
ornatus (OSMORREGULADORES) E Hepatus pudibundus
(OSMOCONFORMADOR)?
CURITIBA
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

LEONARDO DE PAULA RIOS

A EXPRESSÃO MUSCULAR DE HSP 70 REFLETE ESTRESSE SALINO

NOS CRUSTÁCEOS BRAQUIÚROS Callinectes danae E Callinectes

ornatus (OSMORREGULADORES) E Hepatus pudibundus

(OSMOCONFORMADOR)?

CURITIBA

LEONARDO DE PAULA RIOS

A EXPRESSÃO MUSCULAR DE HSP 70 REFLETE ESTRESSE SALINO

NOS CRUSTÁCEOS BRAQUIÚROS Callinectes danae E Callinectes ornatus

(OSMORREGULADORES) E Hepatus pudibundus

(OSMOCONFORMADOR)?

Dissertação apresentada como requisito

parcial à obtenção do grau de Mestre em

Fisiologia, do Curso de Pós-Graduação em

Fisiologia, Setor de Ciências Biológicas da

Universidade Federal do Paraná. Orientadora: Profª. Drª Carolina Arruda de O. Freire

CURITIBA

AGRADECIMENTOS

A minha orientadora, Profª. Dra. Carolina Arruda De Oliveira Freire, por ter me

dado uma oportunidade, pela orientação, amizade, convívio, sabedoria e paciência

nestes mais de 3 anos de LFCO.

A Profª Dra. Viviane Prodocimo pelos conselhos, convivência e colaboração.

Aos meus colegas e amigos de laboratório: Deivyson Bozza, Eloísa Pinheiro,

Felipe Brandalise de Araújo, Flávia Sampaio, Giovanna C. Castellano, Guilherme de

Almeida Torres, Gustavo Yamasaki, Isis Danniele Cury da Cruz, Juliane Ceron,

Natascha Wosnick; à Silvia Milan e Anieli Maraschi que também fizeram parte da

equipe: obrigado a todos pelo companheirismo, amizade, paciência e por estarem

sempre dispostos a ajudar, colaborar e principalmente ensinar.

Aos meus familiares pelo apoio, suporte e ajuda.

Aos meus pais por cederem sua casa, comida e auxílio durante as coletas, pelo

incentivo e por sempre estarem lá por mim.

A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Fisiologia por terem contribuído com a minha formação e o meu aprendizado.

Ao CNPq pela bolsa concedida durante esses dois anos de mestrado.

Quando nada pareceu dar certo, fui ver o cortador de pedras martelar a sua rocha,

talvez cem vezes sem que uma rachadura aparecesse. Mas na centésima primeira

martelada a pedra se abriu em duas. E eu sabia que não foi aquele golpe que fez

aquilo, mas todos os outros que vieram antes dele.

JACOB A. RIIS

ABSTRACT

The long time evolution of crustaceans (~ 500 million years) along with evolutionary factors, such as mutation, natural selection and gene flow among populations, allowed a huge variation of forms and the filling of ecological niches by these animals. Around 90% of the known species of crustaceans are found in the sea or salt water, such as estuaries. Whatever their habitat, osmoregulation is of vital importance for the survival of crustaceans, as it ensures the homeostasis of extracellular fluid, even in the face of variations in salinity of water. These changes in salinity responsible for the osmotic imbalance of the extracellular fluid may impact on the normal functioning of the cells, which in turn activate cellular responses, among them the possible synthesis of heat shock proteins, like Hsp70. The objective of this study was to evaluate the expression of Hsp70, follow the hemolymph osmolality and to compare the muscle hydration capacity in three species of decapods: Callinectes danae , Callinectes ornatus and Hepatus pudibundus in the presence of saline challenges. The fact that species of the genus Callinectes are osmoregulatory and H. pudibundus presenting the osmoconformation strategy can be reflected in the differentiated expression of the synthesis of Hsp70 in response to a stressor agent. For this, the animals were exposed to hyposaline (20‰) and hypersaline (45‰) shock at intervals of 6 hours, 24 hours and 72 hours for each species. After exposure, hemolymph samples were taken for posterior osmolality analysis, as well as muscle tissue samples for determination of hydration content and analysis of Hsp70 expression. Ammonia concentrations and pH in water were also analyzed at the beginning and at the end of each experiment, to determine if the concentration of ammonia at a certain pH value could be toxic to the point of destabilizing the osmoregulation process. The hypothesis that H. pudibundus would have lower constitutive expression of Hsp70 has not been proven, but the hypothesis that C. danae and C. ornatus would present higher expression of Hsp70 than H. pudibundus exposed to salt shocks proved to be true, at least With respect to C. danae and conditioned to a exposure to the stressor of at least 72 hours. C. danae and C. ornatus (weak osmoregulators) and H. pudibundus (osmoconformer) presented in this study a great ability to maintain hemolymph osmolality in the presence of salinity reduction, at least for a few hours. All three species presented behavior of osmoconformatores in exposure to increase of salinity, as expected. In relation to tissue hydration capacity, C. danae and C. ornatus were able to maintain their tissue hydration in the presence of both saline shocks, while H. pudibundus showed a significant decrease in the amount of water in the muscle tissue after 24 hours of exposure in hypersaline shock. The concentration of ammonia in the water together with the pH values can not be accepted as factors that may have impaired the response of the species to salt stress. The answer to the question that the expression of Hsp70 could reflect saline stress in C. danae, C. ornatus and H. pudibundus can only be fully answered by analyzing the expression of Hsp70 in other tissues such as gills and hepatopancreas, in addition to the use of different intervals of exposure to saline stress.

Key words: osmoregulation, crustacean, Hsp70, hypo-regulation, hyper-regulation

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Espécimes de C. danae (A), C. ornatus (B) e H. pudibundus

(C)................................................................................................................................

FIGURA 2 - Osmolalidade na hemolinfa (média + erro padrão) de C. danae , C.

ornatus e H. pudibundus diante de desafios salinos. Os caranguejos foram expostos

por 6, 24 e 72 horas a salinidade 20 ‰ ( H. pudibundus sobreviveu por apenas 6

horas) e por 6, 24 e 72 horas à salinidade 45 ‰. Para o controle foi utilizada a

salinidade de 35‰ e o tempo de 24 horas (#): Diferença comparada a situação

controle. Letras minúsculas representam diferenças entre os tempos em cada

salinidade. Letras maiúsculas representam a diferença entre as espécies em cada

tempo. n=6. A linha vermelha representa a osmolalidade da

água...........................................................................................................................

FIGURA 3 - Teor hídrico muscular (média + erro padrão) de C. danae , C. ornatus e

H. pudibundus diante de desafios salinos. Os caranguejos foram expostos por 6, 24

e 72 horas a salinidade 20 ‰ ( H. pudibundus sobreviveu por apenas 6 horas) e por

6, 24 e 72 horas à salinidade 45 ‰. Para o controle foi utilizada a salinidade de 35‰

e o tempo de 24 horas (#): Diferença comparada a situação controle. Letras

maiúsculas representam a diferença entre as espécies em cada tempo.

5>n<6.........................................................................................................................

FIGURA 4 - Expressão de Hsp70 muscular (média + erro padrão) de C. danae , C.

ornatus e H. pudibundus diante de desafios salinos. Os caranguejos foram expostos

por 6, 24 e 72 horas a salinidade 20 ‰ ( H. pudibundus sobreviveu por apenas 6

horas) e por 6, 24 e 72 horas à salinidade 45 ‰. Para o controle foi utilizada a

salinidade de 35‰ e o tempo de 24 horas (#): Diferença comparado a situação

controle. Letras minúsculas representam diferenças entre os tempos em cada

salinidade. Letras maiúsculas representam a diferença entre as espécies cada

tempo.

3>n<6.........................................................................................................................

SUMÁRIO

  • 1.INTRODUÇÃO
    • 1.1. CARACTERISTICAS E HABITAT DOS CRUSTÁCEOS
    • 1.2. OSMORREGULAÇÃO EM CRUSTÁCEOS
    • 1.3. ESPÉCIES ESTUDADAS
      • 1.3.1. Callinectes danae E Callinectes ornatus
      • 1.3.2. Hepatus pudibundus
    • 1.5. PROTEINAS DE CHOQUE TÉRMICO
    • 1.6. HIPÓTESE
    1. OBJETIVOS
    • 2.1. OBJETIVO GERAL
    • 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
    1. MATERIAL E MÉTODOS
    • 3.1. COLETA E ACLIMATAÇÃO
    • 3.2. DELINEAMENTO EXPERIMENTAL
    • 3.3. DOSAGEM DE OSMOLALIDADE
    • 3.4. TEOR HÍDRICO
    • 3.5. DOSAGENS DE AMÔNIA E pH
    • 3.6. EXPRESSÃO DE HSP70
    • 3.7. TRATAMENTO ESTATISTICO
    1. RESULTADOS
    • 4.1. OSMOLALIDADE
    • 4.2. TEOR HÍDRICO
    • 4.3. CONCENTRAÇÃO DE AMÔNIA NA ÁGUA
    • 4.4. VALORES DE pH NA ÁGUA
    • 4.5. EXPRESSÃO DE Hsp70
    1. DISCUSSÃO
    1. CONCLUSÃO
    1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
    • 1.4. AMONIA E pH NA ÁGUA ..................................................................................

1.INTRODUÇÃO

1.1. CARACTERISTICAS E HABITAT DOS CRUSTÁCEOS

Os primeiros registros fósseis de crustáceos datam de 500 milhões de anos

atrás, desde o Cambriano inferior até o presente momento. Esse longo tempo de

evolução, aliado à diversidade genética, plasticidade fenotípica, pressão seletiva,

radiação adaptativa, mutação e seleção natural, entre outros fatores, permitiu uma

grande variedade de formas e ocupação de diversos nichos ecológicos por parte

destes animais, sendo que em torno de 90% das espécies conhecidas são

encontradas no mar ou em águas salinas, como estuários (Schram 2001; Dixon et al

2003; Evans et al 2009). Qualquer que seja o seu habitat, a osmorregulação tem papel

fundamental na capacidade de adaptação dos crustáceos aos diversos ambientes,

pois ela permite a homeostase do líquido extracelular, mesmo diante de variações na

salinidade da água (Pequex 1995; Odum 2001; Willmer et al 2009; Romano e Zeng

2012).

1.2. OSMORREGULAÇÃO EM CRUSTÁCEOS

Em relação a salinidade, grande parte dos invertebrados marinhos

(crustáceos, moluscos, poliquetas, e outros) podem ser classificados como

estenohalinos, que por viverem em um ambiente estável, não toleram grandes

variações de salinidades do seu meio, ou como eurihalinos, que exibem alto grau de

tolerância a uma ampla variação da salinidade na água, sendo encontrados em locais

como estuários e baías, onde há grande oscilação de salinidade em decorrência do

ciclo de marés (Willmer et al 2005; Evans et al 2009; Sherwood et al 2012).

Em matéria de regulação de fluidos, os crustáceos podem apresentar duas

estratégias distintas: osmoconformação ou osmorregulação (Pequex 1995). Tanto a

osmoconformação quanto a osmorregulação têm suas vantagens e desvantagens. Se

um animal possui a capacidade de regulação osmótica e iônica do liquido extracelular

(LEC), ele consegue manter a pressão osmótica do LEC estável apesar das

mudanças de salinidade do ambiente externo, através da manutenção de um

gradiente osmótico, evitando deste modo que a maioria das suas células sejam

expostas a oscilações osmóticas que levam a variação de volume (Moyes 2009;

Sherwood et al. 2012). Para tanto, é necessário que ocorra gasto energético neste

transporte de íons e estarem em contato direto com a água, elas podem sofrer danos,

e deste modo prejudicar o funcionamento das brânquias (Evans et al 2009).

Osmoconformadores eurihalinos podem tolerar mudanças significativas de

salinidade do ambiente externo (como estuários, por exemplo) e podem sobreviver a

diluição ou concentração do LEC através da regulação dos osmólitos orgânicos e

inorgânicos. Entre eles estão a β-alanina, taurina e prolina, que correspondem a mais

da metade da osmolalidade dos osmoconformadores nas suas células. Desta

maneira, é possível manter a concentração do líquido intracelular (LIC) em equilíbrio

com o LEC (Moyes 2009; Sherwood et al 2012). Desta forma, osmoconformadores

eurihalinos possuem grande capacidade de regulação de volume, em grande parte

devido ao aumento da capacidade de síntese de aminoácidos livres quando expostos

a alta salinidade. Em baixas salinidades, ocorre o contrário: os aminoácidos livres são

catabolizados e liberados na hemolinfa, onde sofrem desaminação e são excretados

como amônia através das brânquias. Este mecanismo é conhecido como regulação

isosmótica intracelular (RII) (Willmer et al. 2005; Evans et al 2009; Moyes,2009).

Ocorrem dois tipos de regulação de volume: Redução Regulatória de Volume

(RVD), e Aumento Regulatório de Volume (RVI). A RVD é utilizada quando a célula

ganha água e precisa perder volume; já o RVI ocorre quando existe a perda de água

e a necessidade de reposição do volume perdido (Lang et al. 1998, Strange 2004).

RVI e RVD podem acontecer, principalmente devido a ativação de ATPases

relacionadas ao transporte de íons, já que durante a RVD acontece a saída de

metabólitos somados à água para restabelecimento da homeostase. No caso da RVI,

acontece o contrário: a entrada de solutos na célula permite a entrada de água, de

modo a recuperar o volume anterior (Hoffmann e Dunham 1995; Wehner et al. 2003;

Strange 2004, Hoffmann et al. 2009).

1.3. ESPÉCIES ESTUDADAS

1.3.1. Callinectes danae E Callinectes ornatus

Callinectes danae e Callinectes ornatus (FIGURAS 1 A e 1B) são crustáceos

decápodes, encontrados com facilidade em estuários, baías e em todo litoral ao longo

da costa sul do Brasil. É possível capturá-los com certa facilidade, seja utilizando

petrechos de pesca, como o puçá ou armadilhas do tipo covo iscadas com vísceras

de frango.Também é possível adquiri-los por intermédio de pescadores que

frequentemente os encontram em suas redes de pesca, como fauna acompanhante

(bycatch) da pesca do camarão (Baptista et al. 2003). Tanto C. danae quanto C.

ornatus são chamados de osmorreguladores fracos, pois conseguem a captação de

sal de águas salinas, mas não de água doce. Os crustáceos do gênero Callinectes

são capazes de alternar o padrão osmorregulador para osmoconformador ou vice-

versa, quando alternam entre o mar e estuário, especialmente em época de

reprodução, pois a desova sempre ocorre em ambiente mais salino (Mantelatto e

Fransozo 2000; Mantelatto 2000). C. danae e C. ornatus são osmoconformadores em

altas salinidades e em salinidades próximas à da água do mar, e hiperosmorregulam

em água do mar diluída (Masui et al. 2002; Garçon et al. 2009 ; Freire et al. 2011).

1.3.2. Hepatus pudibundus

Hepatus pudibundus (osmoconformador) (FIGURA 1C) é uma espécie de

crustáceo decápode marinho encontrado no Brasil, do Amapá ao Rio Grande do Sul,

que habita ambientes de fundos arenosos, lamosos e de conchas, de águas rasas ou

que podem chegar a 160 metros de profundidade (Melo 1996; Fracasso e Branco

2005). A sua coleta é feita por rede de arrasto, na maioria das vezes, sendo apanhado

como fauna acompanhante da pesca do camarão. A taxa de sobrevivência devido aos

danos causados pelas redes de arrasto é variável entre os diferentes grupos

taxonômicos, sendo que os crustáceos do gênero Callinectes e H. pudibundus são

muito resistentes às injúrias e a exposição ao ar (Moreira et al. 2011). Como típico em

invertebrados marinhos, H. pudibundus tem comportamento osmoconformador.

Nestes animais, a concentração osmótica do meio extracelular varia de acordo com a

concentração ou diluição da água do mar (salinidade), exigindo que o animal possua

a capacidade de regulação de volume celular diante de variação de salinidade, para

que as células possam desempenhar as suas funções (Pequex, 1995 , Freire et al

2008 ).

Devido ao fato de as brânquias estarem quase que o tempo todo em contato

com a água, elas podem ser danificadas pela alta concentração de amônia no

ambiente. Entre os danos causados, os mais importantes são: necrose, rompimento

das células pilares, infiltração de hemócitos e colapso das lamelas (Rebelo et al. 2000;

Romano e Zeng 2007 ). Em um ambiente com alta concentração de amônia, a sua

toxicidade irá depender do estágio de desenvolvimento do animal, visto que nas fases

pós larva e juvenil, a tolerância à amônia geralmente é maior (Zhao et al. 1997), além

da sua acumulação na hemolinfa, que por sua vez é influenciada pela permeabilidade

da membrana a amônia, por mecanismos de redução de difusão passiva, capacidade

de excreção contra um gradiente de concentração e processos internos de

desintoxicação (Romano e Zeng 2013). Normalmente, quando o NH 3 alcança a

hemolinfa, ele é protonado em NH4+, que então substitui potássio na atividade da

Na+/K+-ATPase basolateral das brânquias. Finalmente, o NH4+^ é excretado para o

ambiente via trocador Na+/NH4+^ apical ou via exocitose (Romano e Zeng 2007 ; Leone

et al 2017 ).

1.5. PROTEINAS DE CHOQUE TÉRMICO

Falhas no processo de osmorregulação, como a incapacidade de regulação

isosmótica intracelular (RII), podem desencadear alteração significativa no ambiente

intracelular e possibilitar a desnaturação de proteínas envolvidas no metabolismo de

aminoácidos (Evans et al 2009 ). Se isto ocorrer, a célula pode iniciar um aumento na

síntese de chaperonas (Hsps), uma família de proteínas que hidrolisam o ATP e

auxiliam no enovelamento de proteínas recém sintetizadas, além de encaminhá-las

para destruição caso não ocorra o reparo (Terasawa 2005). Em estudos com o siri

Portunus trituberculatus , a exposição à diluição de salinidade aumentou a sua

capacidade osmorregulatória por intermédio da captação ativa de Na+^ e Cl-, ao mesmo

tempo em que houve aumento na síntese de Hsps para reparar o dano celular. Essas

atividades demandam alto custo energético, o que impacta nas taxas de crescimeto

deste crustáceo (Lu et al 2013). As Hsps também são conhecidas como proteínas de

estresse, uma família de proteínas altamente conservadas de peso molecular que

varia de 16 a 100 kDa, produzidas em todos os seres multicelulares quando

submetidos a agentes estressores como anoxia, isquemia, toxinas, acidose, choque

osmótico além de estresse térmico (Roberts et al 2010).

Uma das proteínas mais conhecidas e estudadas desta família é a Hsp70,

que auxilia na dobra e montagem de proteínas recém sintetizadas, redobramento de

proteínas deformadas e de agregados proteicos, além do controle da atividade de

proteínas regulatórias (Mayer e Bukau 2005). A presença da Hsp70 também pode ser

utilizada como biomarcador, indicando estresse de origem antropogênica em espécies

aquáticas (Webb e Gagnon 2009 ).

Embora a maioria das espécies conhecidas apresentem genes relacionados

a síntese de chaperonas, a expressão gênica destas proteínas, principalmente Hsp70,

é espécie-dependente e ambiente-dependente, assim como está relacionada com a

exposição a agentes estressores (Yenary et al. 1999). É possível que as espécies que

apresentam maiores níveis de síntese de chaperonas estejam sujeitas a grande

variação de condições ambientais, como as espécies que vivem ou passam parte do

seu ciclo de vida em estuários, o que pode torná-las resistente aos estresse (Feder e

Hofmann 1999).

Em estudos anteriores do laboratório sobre a expressão de Hsp70, C.

danae e C. ornatus , foram submetidos a choque hipo e hiperosmótico (5‰ e 40 ‰,

respectivamente) durante o período de 3 horas, não sendo possível detectar

mudanças no nível de expressão de Hsp70 em relação ao grupo controle (35‰). As

alterações de salinidade responsáveis por desequilíbrio osmótico do líquido

extracelular podem ter impactado no funcionamento normal das células. Estas

células, por sua vez, ativaram respostas rápidas, associadas simultaneamente a

outros mecanismos compensatórios envolvendo regulação de volume celular, o que

pode ter assegurado o reestabelecimento da homeostase do meio interno (Marshall

2003; Freire et al. 2008). Desta maneira, não houve a necessidade da ativação de

mecanismos mais elaborados e que são mais custosos metabolicamente, como a

síntese de Hsp70, devido ao tempo de exposição ao choque osmótico ter sido breve

(Souza-Bastos, dados não publicados).

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Avaliar a intensidade e a variação da expressão de Hsp 70 diante de desafios

salinos em três espécies de decápodes braquiúros: C. danae e C. ornatus

(osmorreguladores) e H. pudibundus (osmoconformador).

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Acompanhar a osmolalidade da hemolinfa de C. danae, C. ornatus e H. pudibundus diante de aumento e redução de salinidade.

 Comparar a capacidade de hidratação muscular de ambas às espécies quando expostas a oscilações de salinidade do meio.

 Qualificar e quantificar a expressão de Hsp70 como mecanismo molecular ativador de proteção frente ao choque osmótico.

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. COLETA E ACLIMATAÇÃO

Crustáceos decápodas de três espécies, os siris C. danae, C. ornatus e o

caranguejo marinho H. pudibundus provenientes do descarte da fauna acompanhante

da pesca com rede de arrasto de camarão, foram coletados junto às bancas de

pescadores do Balneário de Shangrilá, localizada no litoral do Paraná (25° 37' 29''S,

48 ° 25' 3 ''W). De imediato, os animais foram acomodados em caixas plásticas

contendo água do local de coleta e mantidas sob aeração constante. Após este

procedimento, foram transportados para o laboratório de Fisiologia Comparativa da

Osmorregulação do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Paraná,

onde permaneceram em aquário estoque contendo água do mar a 33‰ ± 2 e 24 °C±

1 durante 05 dias. Durante o período de aclimatação, os animais permaneceram em

um aquário com aeração constante, filtro externo, pH ~8,3, oxigênio dissolvido na

água em torno de 8,0 mg/L e fotoperíodo natural. Os animais foram alimentados a

cada dois dias com pequenas porções de filé de peixe, sendo que este procedimento

foi interrompido 24 horas antes do início dos experimentos.

3.2. DELINEAMENTO EXPERIMENTAL

O protocolo experimental foi executado com 1 espécime por aquário de 2 litros,

exposto ou a choque hiposalino (20‰) ou hipersalino (45‰) em intervalos com

duração de 6, ou 24, ou 72 horas. Para o controle foi utilizada a salinidade de 35‰ e

o tempo de 24 horas. Os tempos e as salinidades foram baseados em experimentos

anteriores realizados neste laboratório, em que C. danae e C. ornatus foram expostos

a condição experimental de 03 horas em salinidades 5‰ e 40‰, sem que tenha

havido diferença na concentração de Hsp70 em relação ao controle. Todo o processo

foi repetido 6 vezes para cada grupo experimental ou controle, totalizando 114 animais

(42 espécimes de C. Danae e C. Ornatus e 30 espécimes de H.pudibundus). A diluição

da salinidade foi conseguida pela adição de água de torneira filtrada com a utilização

de filtros de celulose e carvão ativado, e a solução de água do mar hipersalina foi

alcançada pela adição de sal marinho obtido comercialmente em lojas de aquários.

Após os experimentos, os animais foram crioanestesiados por aproximadamente 5

minutos, cobertos por gelo picado em caixa de isopor, e foram retirados amostras de

tecido muscular para determinação da concentração de Hsp 70 e de teor hídrico.