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A Origem do Conceito de Gênero: Categorização de Masculino e Feminino, Notas de estudo de Cultura

Este documento discute a origem do conceito de gênero, sua relação com a ideia de determinismo cultural e a categorização de masculino e feminino. O texto explora como o conceito de gênero surgiu nos estados unidos, no meio médico, e como influenciou a percepção da sexualidade humana. Além disso, analisa como as primeiras autoras feministas utilizaram o conceito de gênero para desafiar a biologia e construir seus propósitos políticos.

O que você vai aprender

  • Como o conceito de gênero influenciou a percepção da sexualidade humana?
  • Como a ideia de determinismo cultural influenciou a categorização de masculino e feminino?
  • Qual foi a importância do conceito de gênero na construção de propósitos políticos feministas?
  • Quando e por quem o conceito de gênero foi criado?
  • Como as primeiras autoras feministas utilizaram o conceito de gênero?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos),Florianópolis, 2013. ISSN2179-510X
A CATEGORIZAÇÃO DO MASCULINO E DO FEMININO E A IDEIA DE
DETERMINISMO CULTURAL: UMA CRÍTICA EPISTEMOLÓGICA AOS
USOS NORMATIVOS DO GÊNERO
Rafaela Cyrino/a
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Resumo: A partir de uma breve reconstituição histórica da origem do conceito de gênero, propõe-se
discutir como este conceito pode ser utilizado tanto para desnaturalizar as relações entre os sexos,
quanto para reforçar a manutenção de uma ordem sexual simbólica. Para conduzir a discussão
acerca dos usos normativos do gênero, abordaram-se duas ideias centrais: a ideia de determinismo
cultural e a categorização do masculino e feminino. No caso do determinismo cultural, este aparece
como um substituto do determinismo biológico veiculando a ideia que não é mais a biologia que
determina nosso comportamento sexual, mas a sociedade ou a cultura. De maneira complementar, a
categorização do masculino e do feminino conduz à utilizaçãodestes vocábulos de maneira
indiferenciada como se estes fizessem referência a atributos biológicos, psicológicos e sociais
substanciais, universais e auto-evidentes. Se o gênero atravessou fronteiras disciplinares e tornou-se
um conceito chave na luta pela igualdade entre os sexos, porque não discutir certos usos normativos
presentes em estudos utilizando o gênero enquanto categoria analítica?
Palavras-chave: categorização, masculino, feminino, determinismo cultural, gênero.
O conceito de gênero, utilizado de forma crescente à partir dos anos 70 para desnaturalizar e
desconstruir as relações assimétricas e desiguais entre homens e mulheres, não é uma criação do
movimento feminista(FASSIN, 2008; DORLIN, 2005).De fato, o conceito de gênero, surgiu nos
Estados Unidos, nos anos 1950, no meio médico.Autores atestam que o criador ou o primeiro autor
a utilizar este conceito foi John Money, psicólogo que não tinha nenhuma vinculação com a crítica
feminista e que fazia parte de equipes médicas responsáveis pelo diagnóstico e tratamento de
indivíduos ditos hermafroditas.
John Money utiliza pela primeira vez o vocábulo gender/gender rôle(gênero/papel de gênero) em
um artigo datado de 1955, para designar um atributo psicológico dos individuos diferente do sexo
biológico. O autor define da seguinte forma o novo conceito:
By the term gender role, we mean all
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Professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil.
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Baixe A Origem do Conceito de Gênero: Categorização de Masculino e Feminino e outras Notas de estudo em PDF para Cultura, somente na Docsity!

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A CATEGORIZAÇÃO DO MASCULINO E DO FEMININO E A IDEIA DE

DETERMINISMO CULTURAL: UMA CRÍTICA EPISTEMOLÓGICA AOS

USOS NORMATIVOS DO GÊNERO

Rafaela Cyrino/a^1

Resumo : A partir de uma breve reconstituição histórica da origem do conceito de gênero, propõe-se discutir como este conceito pode ser utilizado tanto para desnaturalizar as relações entre os sexos, quanto para reforçar a manutenção de uma ordem sexual simbólica. Para conduzir a discussão acerca dos usos normativos do gênero, abordaram-se duas ideias centrais: a ideia de determinismo cultural e a categorização do masculino e feminino. No caso do determinismo cultural, este aparece como um substituto do determinismo biológico veiculando a ideia que não é mais a biologia que determina nosso comportamento sexual, mas a sociedade ou a cultura. De maneira complementar, a categorização do masculino e do feminino conduz à utilizaçãodestes vocábulos de maneira indiferenciada como se estes fizessem referência a atributos biológicos, psicológicos e sociais substanciais, universais e auto-evidentes. Se o gênero atravessou fronteiras disciplinares e tornou-se um conceito chave na luta pela igualdade entre os sexos, porque não discutir certos usos normativos presentes em estudos utilizando o gênero enquanto categoria analítica? Palavras-chave : categorização, masculino, feminino, determinismo cultural, gênero.

O conceito de gênero, utilizado de forma crescente à partir dos anos 70 para desnaturalizar e desconstruir as relações assimétricas e desiguais entre homens e mulheres, não é uma criação do movimento feminista(FASSIN, 2008; DORLIN, 2005).De fato, o conceito de gênero, surgiu nos Estados Unidos, nos anos 1950, no meio médico.Autores atestam que o criador ou o primeiro autor a utilizar este conceito foi John Money, psicólogo que não tinha nenhuma vinculação com a crítica feminista e que fazia parte de equipes médicas responsáveis pelo diagnóstico e tratamento de indivíduos ditos hermafroditas.

John Money utiliza pela primeira vez o vocábulo gender/gender rôle (gênero/papel de gênero) em um artigo datado de 1955, para designar um atributo psicológico dos individuos diferente do sexo biológico. O autor define da seguinte forma o novo conceito: “By the term gender role, we mean all

(^1) Professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil.

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those things that a person says or does to disclose himself or herself as having the status of boy or man, girl or woman, respectively (MONEY, 1995, a).^2 ”

A partir desta conceituação supõe-se que todos os seres humanos possuem, além do seu sexo (biológico), um gênero (psicológico), masculino, feminino ou neutro. O gênero, definido como um atributo individual de natureza psicológica, permitiu a John Money classificarseus pacientes como pertencendo: ao gênero feminino (se apresenta e se comporta como mulher), ao gênero masculino (se apresenta e se comporta como homem) ou ao gênero neutro (se apresenta e se comporta tanto como homem quanto como mulher ou não se apresenta e não se comporta nem como homem nem como mulher). Esta classificação dos pacientes segundo um gênero, de natureza psicológica, serviu de base para elaboração de protocolos e categorizações diagnósticas as quais passaram a orientar a prática médica no que se refere aos indivíduos hermafroditas e transsexuais.

Por intermédio da dupla categorização do “masculino/feminino”,o sexo, pensado antes como uma entidade estritamente biológica, determinando nosso comportamento sexual, através de uma clivagem conceitual, é percebido como uma adição (biologia + psicologia): nós nascemos homens ou mulheres (biologicamente falando) e nós nos tornamos homens ou mulheres (psicologicamente falando). Dois momentos de sexuaçao do individuo , antes vistos de maneira conjunta, foram, através da teoria do gênero de John Money e Robert Stoller, cortados em dois. Mudança no conceito de sexo, mudança na representação do processo de tornar-se homem ou mulher.

Pode-se afirmar que o conceito de gênero criado por John Money contribuiu fortemente para enfraquecer a importância do sexo biológico na determinação do comportamento sexual dos individuos, ao mesmo tempo em que reforçou a importância dos fatores ditos psicológicos. Nessa mudança de perspectiva, enquanto o sexo biológico foi sendo teorizado como mais e mais maleável e plástico, possível de ser modificado atraves de procedimentos cirúrgicos e da administraçao de hormônios, o gênero, foi sendo teorizado como progressivamente imutável e irreversível.

Com o enfraquecimento do biológico, as teorias elaboradas deslocam o centro de interesse para os determinantes sociais advindos do processo de socialização da crianças, pois entende-se que o comportamento de gênero dos individuos é determinado fundamentalmente pela socializaçao e pela aprendizagem em familia, sobretudo na primeira infância.John Moneyet al (1955, b)

(^2) “Através do termo, papel de gênero, quero significar todas as coisas que uma pessoa diz ou faz para mostrar aos outros que ele ou ela possui o status de garoto ou homem, garota ou mulher, respectivamente.”

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conceito pode adquirir no interior mesmo da crítica feminista. John Scott e Judith Butlersalientam, em uma mesa redonda intitulada “Porquoi finir avec le genre (2007)”^5 , que o gênero, em si mesmo, não contesta a lógica binária, porque ele pode ser utilizado tanto para colocar em questão ideias sobre identidades sexuais quanto para reforçar uma abordagem normativa e binária. Me inspirando nas pistas reflexivas propostas por John Scott (2007), utilizarei, à partir deste momento, a expressão “usos normativos do gênero” para fazer referência às abordagens que, de alguma forma, contribuem para naturalizar a maneira como a diferença sexual é concebida, em vez de problematizá-la.

Para investigar estas possiblidades normativas nos “usos do gênero”, discutirei, do ponto de vista teórico, quais são os problemas, do ponto de vista de uma crítica feminista, do processo de categorização do masculino e do feminino e da veiculação da ideia do determinsimo social, para, em seguida analisar, na crítica feminista nascente dos anos 70 e em algumas abordagens organizacionais, como certas ideias conservadoras podem se apresentar e como podem ser perpetuadas sob o signo do discurso políticamente correto da “igualdade de gênero”.

O processo de categorização do masculino e do feminino e a ideia dedeterminismo social: uma crítica epistemológica

Para investigar a ampliação do processo de categorização do masculino e do feminino de um ponto de vista epistemológico, é importante considerar que a classificação de indivíduos em um gênero psicológico masculino, feminino ou neutro, tal como foi preconizada por autores como John Money e Robert Stoller, não pode ser ancrada em nenhum substrato substancial ou irredutível presente na realidade. Não existem características irredutíveis ou “quase irredutíveis” que permitam uma categorização dos individuos em um gênero determinado, tal como ocorre, em geral^6 , no caso do pertencimento sexual (presença de pênis- sexo masculino; presença de vagina- sexo feminino).

Se para ser classificado em um gênero feminino eu tenho que me sentir e me comportar como mulher, como definir, de maneira objetiva, o que significa se sentir e se comportar como homem ou como mulher? Trata-se, evidentemente, de algo extremamente fluido e subjetivo, que não encontra apoio em nenhuma realidade objetiva, visto que se referem à realidades com uma âncragem notadamente social (normas sociais, valores culturais, etc). Entretanto, mesmo se inexiste um

(^5) “Porque acabar com o gênero?” (^6) As alterações sofridas no próprio conceito de sexo não nos permite mais afirmar que a presença de um órgão sexual determinado (pênis ou vagina) define, de maneira incontestável, o pertencimento sexual dos indivíduos a uma dada categoria sexual. Daí a justificativa para o fato de termos acrescentado a expressão “em geral” a esta frase.

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substrato material que dê apoio à categorização dos individuos segundo um gênero determinado, é importante salientar que, para que o processo de categorizaçãofosse colocado em marcha, seria necessário a criação de recursos simbólicos que criassem a aparência de estabilidade e coerência.

Ora, o que serviu de substrato para dar a aparência de coerência e estabilidade à recém categoría criada, o gênero psicológico, foi justamente o processo de categorização social, pois a refêrencia que permite aos individuos serem classificados em um ou outro gênero é de natureza social. Com isto cria-se um processo de normalização perversa, contrário aos propósitos de uma crítica feminista, porque opera naturalizando, legitimando e perpetuando crenças, valores e comportamentos atribuidos aos sexos.

Considera-se aqui que este mesmo processo de essencialização e naturalização pode ser reativado toda vez que se recorre a tais categorias para fazer referência seja ao mundo psíquico, seja social, seja cultural, pois, ao fazê-lo, cria-se uma ilusão de que as características que permitem a inclusão de individuos em determinada categoria são uma realidade auto-evidente, possuem um substrato concreto, são homogêneas e estáveis, o que só contribuia para a sua perpetuação e legitimação.

Outra questão importante investigada neste artigo refere-se à compreensão das maneiras pelas quais, no quadro de uma crítica feminista, pode-se veicular, em certos usos normativos do conceito, uma ideia de determinismo sociocultural, privilegiando-se, de maneira excessiva, o condicionamento social. Neste caso será que não estaríamos veiculando um discurso que apresenta o “tornar-se mulher” ou “tornar-se homem” como um destino (social) do qual ninguém pode escapar?Até que ponto este pressuposto não nos conduz a prestarmos pouca atenção às clivagens, às dissonâncias, às incoerências, às subversões e ao próprio processo de mudança?

Ao se definir gênero como uma construção social, relacionada com valores, normas sociais e crenças que são associadas a homens e mulheres, mister se faz acrescentar que esta construção social temum caráter situado, heterogêneo e dinâmico, salvo se a considerarmos um atributo essencial universal. Do ponto de vista analítico isto significa, a meu ver, a recusa tanto da categorização do masculino e feminino para fazer referência a realidades psíquicas, sociais e culturais estáveis, coerentes e com ares de essência, quanto de um suposto sistema social de gênero determinando de maneira automática o que somos enquanto homens e mulheres, já que isto pode conduzir a uma espécie de naturalização em que os aspectos fluidos e a incoerência de certos atributos sejam negligenciados em favor de uma suposta realidade homogênea auto-evidente.

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Ora, uma cultura puissante conduz a uma concepção do indivíduo submisso, vitima do sistema. Poderiamos pensar, então, em uma reificacão do gênero social na critica feminista nascente? Se esta reificação ocorreu de alguma forma, é possível que ela ainda sirva de suporte téorico em certos usos do gênero? É possivel que a cultura seja apresentada em certas análises como o vetor explicativo único do nosso “tornar-se homem ou mulher”. Como achar um espaço para pensar o duplo processo de constituiçao do individuo, entre “ser sujeito” e “ser submisso”?

Outro problema que merece ser investigado refere-se a certo isomorfismo conceitual que consiste em utilizar os vocábulos “masculino” e “feminino” de maneira intercambiável para se referir, ora a aspectos biológicos, ora a aspectos psíquicos, ora a aspectos sociais. Na crítica feminista dos anos 70 observa-se claramente este fenômeno de isomorfismo conceitual. As autoras utilizam os termos “masculino”, “feminino”, “masculinidade”, “feminilidade”, de maneira indiferenciada, sem nenhuma precisão, o que traz muita dificuldade para a compreensão de certos trechos.

Considera-se que por intermédio deste isomorfismo conceitual informado pela categorizaçao sexual pode-se lançar mão destes vocábulos como se fossem realidades auto-evidentes e auto-explicativas. Ora, cumpre aqui ressaltar que o fato de que a categorização atribuída ao sexo permanece dissimulada pode levar a atalhos simbólicos perigosos do ponto de vista de uma teoria crítica. Finalmente, pode-se afirmar que este processo de categorizaçao do “masculino” e do “feminino”, além de evitar a noção de inconstância cultural, pode nos levar a atribuir valor a estas categorias. Assim, tendo como objetivo a ideia de romper com o principio de superioridade que orienta a relação entre os sexos, pode-se inverter os termos do debate com o objetivo de mostrar que aquilo que chamamos “feminino” deve ser valorizado socialmente. Farei uma breve incursão à respeito desta estratégia analítica ao abordaros usos normativos do gênero nas teorias organizacionais.

Usos normativos de gênero: uma breve análise das teorias organizacionais

Para investigar certos usos normativos do gênero farei uma breve análisesobre a maneira como determinadas abordagens organizacionais, centradas em um discurso de busca de uma maior igualdade entre os sexos, fazem uso da categorização do masculino e do feminino e de certo determinismo social para fundar seus propósitos argumentativos. Embora não haja nenhuma pretensão de realizar uma análise exaustiva a este respeito, apresentarei alguns pontos de partida que podem contribuir para a construção de um quadro epistemológicode referência nos permitindo uma leitura crítica daquilo que é produzido no vasto dominio dos estudos de gênero.

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Para exemplificar a generalização dos vocábulos masculino e feminino, reproduzo, abaixo, certos usos das palavras masculino e feminino encontrados nas teorias organizacionais ditas de gênero: normas masculinas, mundo masculino da empresa, estratégias masculinas, profissões à dominância masculina, valores masculinos, poder feminino, atitude masculina, cultura masculina, dominação masculina, tarefas femininas, domínio feminino, competências femininas, estilo de liderança feminino? Os autores se referem exatamente a que realidade quando utilizam os vocábulos feminino ou masculino? Ao sexo biológico dos individuos? Ou eles se referem ao gênero psicológico, também conhecido como a“identidade de genero”? Ou ainda, será que se trata do gênero social?Porque utilizar o masculino e o feminino como adjetivos qualificativos auto-evidentes?

Ainda no domínio da gestão observa-se que algumas abordagens atribuem determinadas carcterísticas a homens e mulheres, contribuindo para naturalizá-las. Autores como Pierre Sarda (2007) buscam justificar a importância da presença das mulheres em postos de direção em razão do seu suposto senso de justiça, da sua capacidade de trabalhar em equipe, da sua capacidade de comunicação interpessoal, entre outros.Alguns autores (BLANCHARD;SARGENT, 1984), defendendo a ideia de complementariedade entre os sexos recorrem à ideia de androgenia para propor uma sínteseque permita pensar uma organização mais igualitária no que se refere à relação entre os sexos. Kenneth Blanchard et al (1984) explicam a proposta de uma gestão andrógina: “The term androgynous manager describes the new management mode encouraging a mix of masculinity and feminility^8 (BLANCHARD; SARGENT, 1984, p. 85)”. Dando continuidade à esta analise, torna-se interessante analisar também as controvérsias, no domínio das teorias de gestão, em torno da existência ou não de uma gerência ao feminino. Apesar da falta de consenso sobre a existência de uma gerência ao masculino/ feminino, alguns autores atestam, em seus estudos, uma maneira de gerenciar diferente para homens e mulheres (RENAUD- BOULART, 2005;BETTS, 2000). Entretanto, se no quadro de um estudo qualquer os autores observam uma diferença no estilo de gestão de homens e mulheres, utilizar generalizacões expressas na ideia de uma “gestão ao feminino” ou de uma “gestão ao masculino”, é algo que merece uma maior atenção analitica, pois pode veicular a ideia simplista de que a bicategorizacao associada ao biológico ou ao social encontra no comportamento dos individuos sexuados uma correspondência real.

(^8) “O termo andrógino descreve o novo modo de gestão proposta que encoraja uma mistura de masculinidade e feminilidade.”

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The categorization of masculine and feminine and the idea of cultural determinism: an epistemological critique of the normative uses of the gender

Abstract : From a brief historical reconstruction of the origin of the concept of gender, it is proposed to discuss how this concept can be used for both denature the relations between the sexes, as to enhance the maintenance of a sexual order symbolic, which, instead of problematize, naturalizes and takes as evidence the existence of asymmetric and binary relations between the sexes. To lead the discussion of the normatives uses of the genre, we discuss two central ideas: the idea of cultural determinism and categorization of masculin and feminin. In the case of cultural