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Trabalho executivo contemporâneo : uma análise sob a ótica do filme “Amor sem escalas” / Ceyça Lia Palerosi Borges. – Lavras : UFLA, 2012. 86 p. : il.
Tipologia: Notas de estudo
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TRABALHO EXECUTIVO CONTEMPORÂNEO: uma análise sob a ótica do filme “A mor sem escalas ”
Dissertação apresentada à Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do Programa de Pós- Graduação em Administração, área de concentração em Organizações, Gestão e Sociedade, para a obtenção do título de Mestre.
Orientador Dr. Mozar José de Brito
Coorientadora Dra. Monica Carvalho Alves Cappelli
Coorientador Dr. Marco Antonio Villarta Neder
TRABALHO EXECUTIVO CONTEMPORÂNEO: uma análise sob a ótica do filme “A mor sem escalas ”
Dissertação apresentada à Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do Programa de Pós- Graduação em Administração, área de concentração em Organizações, Gestão e Sociedade, para a obtenção do título de Mestre.
APROVADA em 26 de junho de 2012.
Dr. Mozar José de Brito UFLA
Dra. Monica Carvalho Alves Cappelle UFLA
Dr. Marco Antonio Villarta Neder UFLA
Dr. Daniel Pardini FUMEC
Dr. Mozar José de Brito Orientador
Dra. Monica Carvalho Alves Cappelli Coorientadora
Dr. Marco Antonio Villarta Neder Coorientador
Ao meu pai, Osvaldo ( in memoriam ) que, mesmo em outro plano, sempre está ao meu lado. A minha mãe, Maria Emilia, pelo seu amor incondicional, amizade e confiança. Ao meu irmão, Fabian ( in memoriam ) por simplesmente ser meu irmão...
Ao meu eterno amor, Lisandro Bonome, por fazer parte da minha vida. A minha filha, Nicolle, por tornar minha vida infinitamente melhor. DEDICO
Com este trabalho, teve-se por objetivo investigar as características do trabalho contemporâneo, particularizando as experiências vivenciadas pela personagem central do filme “Amor sem escalas” (2009), e verificar a existência de comportamentos normopáticos decorrentes das novas exigências organizacionais. Para tanto, buscou-se um aporte teórico que trata das transformações no perfil do trabalhador contemporâneo relacionadas às intensas demandas organizacionais. Na sociedade contemporânea, o trabalho tem ocupado um lugar ainda maior na vida das pessoas que, ao atenderem às exigências organizacionais, se transformam e assumem características voltadas às necessidades do mercado de trabalho, deixando em segundo plano aspectos da vida, como a família, o lazer e os relacionamentos afetivos. Os executivos têm experimentado um aumento significativo no número de horas trabalhadas, se estendendo não só para o período noturno, como também para as horas de folga. Com essas exigências, esses profissionais são contaminados por uma lógica perversa de funcionamento organizacional, que pode levar ao desenvolvimento de comportamentos de normopatia, conceito estudado por Dejours (1999). O profissional assume, muitas vezes, práticas cruéis que lhe são exigidas, não percebendo sua própria desumanização e perda de identidade. Embora não seja uma novidade nas ciências sociais, a utilização de filmes como instrumento de análise ainda é um campo pouco explorado, especialmente na área da Administração. Esse material de pesquisa, além de fonte de reflexão e aprendizado sobre a realidade, se mostra relevante, pois, ao se utilizar um filme como base empírica, permite- se que os registros sejam revistos e rediscutidos incontáveis vezes. Por meio de um estudo observacional utilizando como método de análise a estratégia de fundamentação nas proposições teóricas, a personagem principal do filme, interpretada por George Clooney, retrata o trabalhador executivo contemporâneo, uma nova espécie de nômade, que trabalha viajando e despreza a necessidade da família, os amigos, o lazer e os relacionamentos. Pelas análises, observou-se que, para atender às demandas organizacionais, o executivo tem que se dedicar quase que exclusivamente a uma rotina de trabalho que inclui viagens, compromissos e sobrecarga de tarefas. Para tanto, esses profissionais precisam desenvolver habilidades e características que suportem tamanho comprometimento, tais como o dinamismo, a solidão, o desapego, a mobilidade, a independência, a flexibilidade e a ética flexível. Diante de tantas exigências, a maneira que o executivo utiliza para resistir às pressões psíquicas do trabalho e à ausência da família, do convívio social, de relacionamentos e do lazer, é a adoção de comportamentos de conformismo e
de extrema normalidade diante de situações consideradas anormais. Esses comportamentos podem ser concebidos como normopáticos.
Palavras-chave: Trabalho Executivo. Normopatia. Filme.
Figura 1 Repercussões do trabalho executivo e suas interações .....................
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Categorias de análise extraídas do filme........................................... Quadro 2 Categorias de análise relacionadas as cenas do filme .......................
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Com essas exigências, esses gestores passaram por reestruturações em seu modo de viver e pensar, o que provocou profundas transformações em sua identidade. Esses profissionais foram contaminados por uma lógica perversa de funcionamento organizacional, que pode tê-los levado ao desenvolvimento de comportamentos de normopatia, conceito estudado por Dejours (1999). Assim, o profissional passa a incorporar o discurso organizacional, agindo de modo completamente alinhado aos objetivos do trabalho, assumindo, muitas vezes, práticas cruéis que lhe são exigidas, transformando-se em profissionais que, ao reproduzirem e incorporarem as demandas da organização, não percebem sua própria desumanização e perda de identidade. Isso se deve ao fato de que, na sociedade contemporânea, o trabalho tem ocupado um lugar ainda maior na vida das pessoas que, ao atenderem às demandas exigidas pelas organizações, se transformam e assumem características voltadas para as necessidades do mercado de trabalho, deixando em segundo plano aspectos da vida, como a família, o lazer e os relacionamentos afetivos (ARENDT, 2004; FREITAS, 2000; TOMEI; FORTUNATO, 2008). A importância do trabalho é tão expressiva na vida do ser humano contemporâneo que, segundo Thiry-Cherques (2004), sua ausência rompe um laço vital da própria existência do trabalhor, por ser um dos seus elementos constitutivos. O trabalho preenche e proporciona ao indivíduo a segurança de fazer parte das formações sociais, sentindo-se um verdadeiro cidadão. Devido à sua importância, os reflexos do trabalho contemporâneo na vida do profissional executivo devem ser intensamente discutidos, a fim de se compreender as causas dos desequilíbrios ocorridos na vida desses profissionais, provocados pelas mudanças aceleradas que vêm ocorrendo na sociedade moderna. Esses desequilíbrios podem gerar ausência de vida pessoal, a qual tende ser anulada e compensada pela vida profissional, o que torna o trabalho o
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único motor propulsor de realizações, alegrias e objetivos existenciais (PABS; SIQUEIRA, 2008; QUENTAL; WETZEL, 2002). Porém, em longo prazo, os executivos conseguem repensar e questionar essas escolhas, podendo ocasionar ausência de sentido de sua vida. O conhecimento a respeito dos fatores que causam esses desequilíbrios pode auxiliar os executivos a equacionar melhor a dinâmica de sua vida, de forma a equilibrar o lado profissional com o pessoal. Neste cenário, surgem as questões que norteiam a presente pesquisa: Como as exigências organizacionais têm interferido na vida dos executivos? O profissional contemporâneo apresenta comportamento normopático? Os reflexos das novas características do trabalho executivo podem estar relacionados a comportamentos normopáticos?
1.2 Objetivos da pesquisa
1.2.1 Objetivo geral
Investigar as características do trabalho executivo contemporâneo e a manifestação da normopatia, particularizando as experiências vivenciadas pela personagem central do filme “Amor sem escalas” e verificar a existência ou não de comportamentos normopáticos decorrentes das novas exigências organizacionais.
1.2.2 Objetivos específicos
a) analisar as especificidades do trabalho executivo contemporâneo a partir das experiências retratadas no filme “Amor sem escalas”;
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No esforço de se compreender as experiências vivenciadas pelo trabalhador contemporâneo, a produção cinematográfica tem representado um importante objeto de estudo, o que permite fazer reflexões sobre a realidade, a partir de histórias que os filmes contam (TURNER, 1997). Além disso, o filme possibilita analisar um período de tempo maior da vida da personagem e não somente um período pontual, como ocorre em pesquisas de campo. Ressalta-se que o tempo disponibilizado para a investigação de campo em apenas uma pesquisa é uma das maiores limitações deste tipo de trabalho. Embora pouco explorada, a utilização de filmes como instrumento de análise já pode ser encontrada em pesquisas de diferentes áreas de estudo, inclusive nas ciências sociais. Trata-se de um material relevante como fonte de reflexão e aprendizado sobre a realidade. Entre as pesquisas na área da Administração que utilizaram produções cinematográficas como instrumento de análise, destacam-se a realizada por Leite, Mishimura e Leite (2010), em que se utilizou o filme “Patch Adams, o Amor é Contagioso” (1998), para investigar o amor no campo da Administração; a realizada por Lima e Matos (2006) em que estudaram as relações de poder nas organizações, tendo como instrumento de análise o filme “O óleo de Lorenzo” (1992); a de Machado et al. (2010), com o filme “A Invenção da Mentira” (2009), em que foram observados os aspectos do empreendedorismo inovador e a de Machado e Bezerra (2010), que utilizaram o longa metragem “Avatar” (2009), para investigar as estratégias de inovação. Outro aspecto relevante da análise fílmica é a possibilidade dos registros serem observados, revistos e rediscutidos inúmeras vezes, permitindo sua reavaliação e a inclusão de aspectos não observados num primeiro momento (BERGMANN, 1990 citado por FLICK, 2004). Ressalta-se que esta é uma das principais vantagens da análise fílmica em relação à observação tradicional em que a situação observada tem o seu final irreversível.
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Diante do exposto, a análise fílmica, por meio do estudo observacional para a coleta de dados, torna-se uma abordagem metodológica de análise das características do trabalho executivo contemporâneo que possibilita a observação por um período de tempo maior da trajetória profissional da personagem, evidenciando os reflexos do trabalho em sua vida. O texto produzido nesta dissertação foi estruturado em seis tópicos, dos quais o primeiro é a presente introdução. No segundo tópico, apresenta-se o referencial teórico, subdividido nos temas relação homem-trabalho nas organizações contemporâneas, trabalho executivo contemporâneo e comportamentos normopáticos. No terceiro tópico, constam os procedimentos metodológicos utilizados. Nos tópicos quarto e quinto, apresentam-se as discussões que visam responder os objetivos da pesquisa, a saber: as características do trabalho executivo contemporâneo, as repercussões do trabalho executivo e suas inter- relações e os comportamentos normopáticos desenvolvidos pela personagem central do filme “Amor sem Escalas”, relacionado ao seu trabalho. Por fim, no sexto tópico, são apresentadas as considerações finais, juntamente com as limitações da pesquisa e sugestões para futuros estudos.
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a interferência de sua mente, em que a harmonia do ambiente era mantida pela presença de pessoas apropriadas para o tipo de trabalho exigido. Baseados no modelo taylorismo/fordismo, a indústria e o processo de trabalho solidificaram-se ao longo do século passado (ANTUNES, 2006), porém, no final dos anos 1960, as condições de trabalho propostas, juntamente com alterações da economia, deixaram de garantir produtividade e rentabilidade. Houve uma saturação do mercado de bens duráveis, uma desaceleração da economia, um aumento do custo financeiro das empresas e uma queda da produtividade (CARVALHO NETO, 1997). Essa situação levou as empresas multinacionais de todo o mundo a se reestruturarem para competirem no mercado organizacional. Somados a esses fatores, a crescente concorrência, as taxas de câmbio imprevisíveis, o aumento do mercado internacional e a inserção de movimentos de resistência dos funcionários foram acontecimentos marcantes que provocaram grandes incertezas e descrédito do modelo vigente de trabalho. Surgiu, então, uma nova forma de organização capitalista, voltada para a produção descentralizada, baseada na flexibilização dos processos de trabalho, dos produtos e serviços, atendendo aos novos padrões do consumidor. Abriu-se espaço para o crescimento de pequenas e médias empresas com perfil inovador, as quais ganharam oportunidades em regiões também propícias e voltadas para as novas tendências do mercado (ANTUNES, 2000), caracterizadas pela multiplicidade dos procedimentos, a flexibilidade estrutural, a ambiguidade na definição de tarefas, a descentralização de controles e a dualidade nas fronteiras de responsabilidade (MOTTA, 2000). Nesse novo conceito de produção enxuta, ágil e flexível, as alternativas direcionam-se para modelos de organização que se adaptam melhor às novas exigências organizacionais (LIMA, 2007). Assim, alianças estratégicas entre empresas em redes do tipo joint ventures, clusters , cooperativas de serviços ou,
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ainda, consórcios e parcerias de fornecedores e funcionários se incluem nesses modelos de organização, os quais conduzem a ganhos para empregadores e empregados por meio do achatamento de hierarquias, do trabalho em equipe, do empowerment dos trabalhadores e do aumento da capacidade de inovação das organizações (CASTELLS, 1999). Assim, essa nova realidade organizacional é considerada inevitável, principalmente devido à necessidade de penetração em novos mercados; à viabilização de tecnologias, pesquisa e desenvolvimento; à inovação e à dinamização de lançamentos; ao aumento da competitividade, inclusive por meio da integração de tecnologias e mercados; à construção de competências mundiais; ao estabelecimento de padrões globais; à ruptura de barreiras em mercados emergentes e blocos econômicos; à redução de custos e à obtenção de novas oportunidades de negócios (LIMA, 2007). Porém, para Druck (2007), esses novos modelos de organização atingem a força de trabalho de forma impiedosa, transformando os trabalhadores tradicionais em obsoletos e descartáveis, que devem ser substituídos por trabalhadores flexíveis capazes de atuar com as novas tecnologias de informação e comunicação, que sejam polivalentes na mão de obra e nas formações técnicas, adaptáveis às mudanças na legislação referentes à duração e à jornada de trabalho e que estejam disponíveis para se deslocar em necessidade do exercício das suas funções. Essas práticas “flexíveis” podem levá-los a diferentes níveis de precarização do trabalho e da qualidade de vida desses profissionais. Nesse contexto, Antunes (2006) afirma que o capitalismo contemporâneo promove a fragmentação, a segmentação dos trabalhadores, a heterogeneidade, a individualização, a fragilização dos coletivos, a informalização do trabalho, a fragilização e a crise dos sindicatos, e, ainda mais importante, a idéia de perda de direitos e a degradação das condições de saúde e de trabalho.