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Neste trabalho, temos por objetivo analisar o romance Tu não te moves de Ti, de Hilda Hilst, observando a construção e desconstrução do enredo, das.
Tipologia: Notas de estudo
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DissertaçãoPrograma de Pós-Graduação em Letras da de Mestrado apresentada ao Universidade Federal da Paraíba como pré-requisito para a obtenção do título de mestra Área de concentração: Literatura e Cultura. LinhaCultural de Pesquisa: Memória e Produção Orientadora:(UFPB) Profa. Dra. Liane Schneider
João Pessoa 2010
Primeiramente agradeço a Deus por todos os benefícios que me tem feito, pela sua misericórdia e amor sempre evidentes em minha vida. Agradeço aos meus pais pelo empenho e dedicação contínuos em todo meu processo de formação intelectual e pessoal. Agradeço ao meu noivo Leonardo pelas longas horas de compreensão ao ouvir meus descontentamentos e aflições. Aos meus queridos amigos, que me incentivaram e torceram por esta realização, especialmente Abinair e João Eduardo. E, com uma gratidão sem palavras, à Débora, que me abrigou em sua casa nas horas mais difíceis. Um agradecimento ainda maior a minha orientadora, Profª. Drª. Liane Schneider, que me ensinou, guiou e motivou com toda sua graça, inteligência e competência. Ao CNPq, que viabilizou este trabalho através de financiamento de bolsa de estudos. À banca, que se dispôs a ler meu texto. Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a concretização deste trabalho meus sinceros agradecimentos.
Neste trabalho, temos por objetivo analisar o romance Tu não te moves de Ti , de Hilda Hilst, observando a construção e desconstrução do enredo, das personagens, bem como da linguagem utilizada pela autora, buscando investigar que índices textuais apelam para a participação crítica e efetiva do leitor. Além disso, desejamos elucidar os processos usados por Hilst na construção de sua narrativa, através da análise e interpretação de cada uma das três estórias que compõem o texto, evidenciando como se efetivam os efeitos sensoriais e imagéticos percebidos em Tu não te moves de Ti. Como base teórica, apoiamos nossa pesquisa, verificando de que forma o texto necessita de ativa participação e construção por parte de seu leitor, em DERRIDA (2004), BAUMAN (1998), BARTHES (1977) e ISER (1996), entre outros. Para a investigação dos aspectos destacados, realizamos uma análise aprofundada da obra em estudo, compreendendo o contexto da autora, seu texto, o seu interlocutor e o processo de criação de sentidos que esta nos apresenta. Por fim, pretendemos verificar as especificidades da constituição de Tu não te moves de ti , investigando, portanto, quais normas estruturais e lingüísticas foram, com relação à doxa , rompidas e recriadas, estabelecendo a singularidade do nosso objeto de pesquisa.
Palavras-Chave : Desconstrução; sentido; leitor; Hilda Hilst.
Ao longo do presente trabalho de pesquisa analisamos o romance Tu não te moves de Ti , de Hilda Hilst, publicado em 1980, e que, a nosso ver, marca a autora como criadora de uma prosa poética única. Se Hilst já vinha anteriormente surpreendendo público e crítica, certamente este romance fez com que sua produção fosse, de fato, vista em sua singularidade. A escolha de tal texto como corpus para o presente trabalho deve-se, além do fato de acreditarmos ser ele propício para as discussões sobre a pós-modernidade que nos interessam, de termos aqui uma oportunidade de verificar, ao longo de nossa análise crítica, as ferramentas tantas vezes identificadas com os estudos pós-estruturalistas, em ação. Sem dúvida, este objeto de análise é bastante complexo e pouco estudado no âmbito da academia. Assim, nossa pesquisa visa contribuir com o desenvolvimento dos estudos literários sobre a prosa hilstiana, que ainda merece maior espaço entre os estudos literários desenvolvidos no território nacional e internacional.
Neste sentido, partimos do princípio de que Tu não te moves de ti fere a convencionalidade aplicável a tantas outras narrativas mais facilmente enquadráveis em gêneros específicos. Trataremos o texto como romance, sabendo que há ali momentos onde a prosa passa a ser poesia, por exemplo. Também reconhecemos que os procedimentos metodológicos de leitura e análise do texto se dão no próprio processo de interação e reflexão em torno da obra. Afinal, ela não se enquadraria numa única abordagem tradicional ou de fundo estruturalista, centrada em categorias fechadas.
Por sua vez, Jauss (apud ZILBERMAN, 1989, p. 54) admite que, se a obra contraria um “sistema de respostas” ou um código determinado, pode atuar como um estímulo para que se intensifique o processo de comunicação: a obra se livra de uma engrenagem opressora e, na medida em que é recebida, apreciada e “compreendida” pelo seu destinatário, esta convida-o a participar desse universo de “liberdade” – uma liberdade um tanto trabalhosa, diga-se de passagem.
Portanto, a ruptura do texto com algumas convenções narrativas nos impulsiona a uma pesquisa aprofundada, partindo das estratégias da desconstrução utilizadas pela autora no que se refere à apresentação do enredo, das personagens e da linguagem. Somos envolvidos em uma busca - inesgotável - de sentidos; afinal, como diria Derrida, não há nada fora do texto - o sentido deste nunca será fixo, e só por meio de nossa entrada no jogo desconstrutivo, na escritura, é que poderemos nos aproximar de uma compreensão da matéria com a qual entramos em contato, que é por si só inesgotável.
Desta forma, após discorrer sobre as ferramentas trazidas à luz pelo pós-estruturalismo, partimos para o segundo capítulo, onde, de fato, o local central é ocupado pelo texto literário de Hilda Hilst. Este romance, composto de três partes/capítulos intitulados: Tadeu (da razão) , Matamoros (da fantasia) e Axelrod (da proporção) , respectivamente, nos obriga, enquanto leitores e críticos, a buscar as relações entre um e outro capítulo, entre um e outro personagem, a fim de buscar compreender o que pretendia a autora. Se a intenção desta provavelmente não foi a de causar um efeito comum em todos os leitores, certamente foi a de provocar um olhar preocupado e atuante no que
se refere à apreensão do dito e à construção de significados possíveis sobre isto. Portanto, neste segundo capítulo daremos grande espaço a citações do romance, buscando partir de Hilst não impor, prévia ou artificialmente, qualquer leitura teórica sobre o texto da autora.
Por fim, no terceiro capítulo, buscamos, a partir da discussão sobre o papel do leitor em Tu não te moves de ti , averiguar quais os ganhos e os efeitos que leituras desta natureza podem provocar e quais os caminhos possíveis em termos de considerações finais sobre o trabalho desenvolvido. Assim, partimos imediatamente para o território por onde caminharemos ao longo de nosso estudo, esperando que, sim, haja algum movimento claramente identificável ocorrendo, seja o nosso próprio, enquanto leitores-críticos inquietos, seja do próprio texto, passando por interpretações que iluminam novas possibilidades.
as incongruências, as lacunas e as dissonâncias entre os termos que aparentemente compunham o significado da obra.
Ao longo deste trabalho de pesquisa discutiremos e analisaremos um texto literário produzido por Hilda Hilst, bem como o momento cultural, filosófico, literário que se estabeleceu a partir da segunda metade do século XX, apresentando brevemente alguns dos debates que vigoram na academia e, principalmente na área da teoria literária, desde então. Assim, obviamente teremos de apresentar alguns conceitos inaugurais tão em voga neste período. Nesse sentido, discutir a natureza dos próprios conceitos, como esses surgem e se estruturam, nos parece providencial. Neste sentido, trazemos para o debate o texto O que é filosofia (1992), de Deleuze e Guattari. Segundo os autores, todo conceito é composto por componentes e também se define por eles. Desta forma, nenhum conceito estaria isolado, e sim, seria representado através de e estaria representando, na verdade, uma multiplicidade. Portanto, segundo os dois autores acima mencionados, não há conceito simples; ao contrário, todo conceito tem um contorno irregular, inevitavelmente fragmentado. Considerando-se, portanto, que todo conceito tem uma história conceitual e contextual, há, em qualquer deles, partes ou componentes provindos de outros conceitos, o que nos leva a compreender que cada componente pode ser considerado outro novo conceito ou, no mínimo, a semente de um novo conceito. Logo, existe uma rede conceitual que sustenta todo conceito.
Real sem ser atual, ideal sem ser abstrato (...). O conceito define-se por sua consistência, endoconsistência e exo- consistência, mas não tem referência : ele é auto-referencial,
põe-se a si mesmo e põe seu objeto, ao mesmo tempo que é criado. (DELEUZE & GUATTARI, 1992, p. 34)
Ou seja, cada conceito estabelece elos e constrói pontes com outros conceitos provenientes de outras áreas e que também se ligam a outros, numa relação infinda e ilimitada, fugindo, neste sentido, de qualquer modelo de definição acabada, final e autônoma. Busca-se definir e conceituar algo e, já nesta busca, nos afastamos do caminho pretendido, seguindo por inúmeros atalhos ou rotas diversas. Segundo Deleuze e Guattari, quaisquer possíveis definições são movediças, não se sustentam isoladas ao longo do tempo e da história; enfim, as mudanças as levam a enfrentar incompatibilidades e a necessidade de estabelecer constantemente novas agregações e renovações. “Criticar é somente constatar que um conceito se esvaece, perde seus componentes ou adquire outros novos que o transformam quando é mergulhado em um novo meio” (DELEUZE & GUATTARI, 1992, p.41-42).
Desta forma, ao longo de nossas discussões acerca da pós- modernidade e de conceitos como o da ‘desconstrução’, tão freqüentes neste momento histórico, buscaremos verificar, no campo da literatura e da crítica literária, como tem se manifestado essa tendência a trazer à tona a natureza movediça das teorias contemporânea sobre autor e leitor. Portanto, adentramos o texto de nosso corpus com cautela, cientes da impossibilidade de definições acabadas e totalmente seguras de nossas leituras, já que a própria autora cujo romance analisaremos, Hilda Hilst, nos leva a recriar o texto que produziu a cada leitura que fazemos do mesmo. No entanto, tentaremos elucidar tais relações entre os significantes e os significados que, enquanto
1.2 A ‘desconstrução’ como ferramenta
A desconstrução é, a princípio, uma crítica ao estruturalismo; daí tal conceito surgir e ser freqüentemente atrelado ao pós-estruturalismo e suas correntes críticas. Sobre esse tema, Derrida afirma o que segue,
Não há significado que escape, mais cedo ou mais tarde, ao jogo das remessas significantes, que constitui a linguagem. O advento da escritura é o advento do jogo; o jogo entrega-se hoje a si mesmo, apagando o limite a partir do qual se acreditou poder regular a circulação dos signos, arrastando consigo todos os significados tranqüilizantes, reduzindo todas as praças-fortes, todos os abrigos do fora-do-jogo que vigiavam o campo da linguagem. Isto equivale, com todo rigor, a destruir o conceito de “signo” e toda a sua lógica. (2004, p. 8).
Ou seja, a linguagem não representa uma só realidade; sendo metafórica, ela está num constante jogo de representações que não se limita à lógica do sentido. Sua “lógica”, se é que ainda podemos usar tal conceito para o pensamento derridiano, é interna e não faz sentido fora do jogo. Logo, há uma necessidade de se repensar as relações entre significante e significado já que não há mais “significados tranqüilizantes” e estáveis. Segundo Derrida (2004, p.13),
a “racionalidade” que comanda a escritura assim ampliada e radicalizada, não é mais nascida de um logos e inaugura a destruição, [..] a desconstrução de todas as significações que brotam da significação de logos.
O logocentrismo, que serviu como modelo de racionalização ao longo da maior parte da história ocidental, postula verdades irrefutáveis, ou seja, conceitos fundamentais através dos quais supostamente poderíamos explicar a
realidade, a existência, o texto, enfim. Isto é totalmente combatido por Derrida, que afirma não haver nada fora do texto, indicando que o sentido deste nunca será fixo, e sim, sendo por meio de nossa entrada no jogo desconstrutivo, na escritura, é que poderemos nos aproximar de uma compreensão da matéria com a qual entramos em contato, que é por si só inesgotável.
Derrida não aceita uma só definição do conceito de ‘desconstrução’. No texto “Carta a um amigo japonês”, ele afirma
A palavra “desconstrução”, como qualquer outra, não extrai seu valor senão de sua inscrição em uma cadeia de substituições possíveis, naquilo que se chama, tão tranquilamente, de um “contexto”. Para mim, por tudo o que já tentei ou tento ainda escrever, não há interesse senão em certo contexto em que ela substitui ou se deixa determinar por tantas outras palavras, por exemplo: “escritura”, “traço”, “ différance ”, “suplemento”, “hímen”, “ phármakon ”, “margem”, “encetamento”, “ parergon ”, etc. Por definição, a lista não pode ser fechada, e aqui citei apenas nomes - o que é insuficiente e somente econômico. (DERRIDA, 2005, p.27)
Portanto, a própria idéia de ‘desconstrução’ é passível de desconstrução, como um conceito que remete a outros conceitos, numa multiplicidade sem fim. Ela não pode ser encarada como um método ou um modelo acabado. Como diria Moisés-Perrone (2004, p.222),
a enorme tarefa proposta por Derrida, desde os seus primeiros livros, é a desconstrução da metafísica ocidental, remanescência do platonismo, com seus conceitos de origem , de finalidade , de verdade e de representação. Neste sentido, desestruturar uma metafísica há muito consolidada exige tempo e sofre certamente grande resistência.
incluindo-se aí qualquer noção “essencial” de identidade universal – seja essa de ‘humano’, de ‘mulher’, etc. (Cf. Spivak apud SCHNEIDER, 2008, p.29)^1. Spivak acredita que é politicamente interessante utilizar-se a desconstrução como uma estratégia temporária para que se possa observar o que é marginal, como ela defende no livro The Spivak Reader (1996, p.31) – indicando uma suspeita de que o que está no centro freqüentemente esconde uma repressão. É neste sentido que Spivak acredita que analisar como os privilégios são construídos, desconstruindo a lógica normalmente aceita automaticamente, seria uma forma, sim, de ação política – de questionar hegemonias de qualquer espécie. Assim, apoiados por práticas desconstrucionistas, seria menos interessante tentar eliminar ou questionar radicalmente os donos da verdade e mesmo as verdades absolutas, nos concentrando muito mais em como tais verdades são produzidas e mantidas.
Por fim, a desconstrução não pretende resolver aporias numa busca por sentido, mas acredita que, na revelação da tensão que envolve a linguagem e a representação, haja a abertura para o inesperado, para outras posturas e novas formas de pensar. Exatamente por isso a desconstrução nos parece ferramenta fundamental para a análise de produções literárias onde a tensão acima citada é explícita, o que ocorre no texto de Hilst.
1.3 O momento (pós) moderno e suas implicações
A passagem de uma fase da produção literária de Hilda Hilst para outra não se dá automaticamente; sabemos que o ser humano sempre carrega
(^1) Citada em tradução por Schneider, 2008, conforme bibliografia.
dentro si, voluntaria ou involuntariamente, traços do passado, confusões de um presente incerto, e novidades de um futuro instigante e novo. Além disso, a passagem de um paradigma para outro, como afirma Boaventura Santos (2005, p.15.), “é semi-cega e semi-invisível”. Não podemos determinar datas exatas para o início e o fim, nem ao menos prever a velocidade das mudanças, e tampouco saber exatamente de onde elas vêm e para onde vão.
Tudo que é sólido desmancha no ar , a própria modernidade perdeu-se de suas raízes e já não se encontra mais. Nela, as pessoas são forçadas a assumir novas identidades de acordo com o contexto a que são expostas sem qualquer aviso prévio. A velocidade das mudanças está empurrando o ser humano a um lugar desconhecido e múltiplo em que as possibilidades se renovam com uma velocidade inconcebível pelos nossos antepassados.
Vale lembrar que, segundo BERMAN (2007, p.26), Rousseau é o primeiro a usar a palavra moderniste no sentido em que os séculos XIX e XX a utilizaram. Ele dizia a seus contemporâneos que a sociedade européia estava “à beira do abismo”. Daí podemos depreender que a noção de modernidade e seu uso está diretamente ligada aos processos e mudanças sociais e culturais que envolvem a história da humanidade de uma determinada época, e não a uma simples rotulação para fins metodológicos. Em tal momento, o ser humano se vê obrigado a alterar suas bases de conhecimento, parece-nos óbvio que “o sentido que o homem moderno possui de si mesmo e da história vem a ser um instinto apto a tudo, um gosto e uma disposição por tudo” (2007, p.32).
O que hoje estamos a assistir, segundo Boaventura Santos (2005), é o culminar do processo de finalização ou abandono de um modelo: “o paradigma