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Em seu interior, na primeira sala, que funciona como área de atendimento ao público, uma decoração mista faz sobressair ícones típicos da tradição da tatuagem,.
Tipologia: Resumos
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São Paulo 2012
(Versão original)
Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Psicologia. Departamento de Psicologia Social e do Trabalho Orientador: Prof. Nelson da Silva Junior
Gláucia Faria da Silva
Um Estudo sobre as Funções da Tatuagem e da Identificação à Luz da Psicanálise Freudiana Tese de doutoramento apresentada à banca examinadora da Universidade de São Paulo, como exigência parcial do título de Doutor em Psicologia, sob a orientação do Prof. Nelson da Silva Junior.
Banca Examinadora
Prof. Nelson da Silva Junior
Instituição: IPUSP – PST ..................................Assinatura: _____________________________
Profa. Miriam Debieux Rosa
Instituição: IPUSP – PSC ................................... Assinatura: _____________________________
Prof. Christian Ingo Lenz Dunker
Instituição: IPUSP – PSC ................................... Assinatura: _____________________________
Profa. Renata Udler Cromberg
Instituição: Instituto Sedes Sapientiae ....................Assinatura: _____________________________
Prof. Paulo de Carvalho Ribeiro
Instituição: Depto Psicologia, FFCH – UFMG ........Assinatura: _____________________________
Ao Luizi, com todo meu amor.
A meu orientador, Nelson da Silva Junior, pela parceria no conhecimento;.
Aos orientadores da Université Rennes II, Alain Abelhauser e Jean-Luc Gaspard, por sustentarem o desafio;
Aos professores, Christian Dunker, Miriam Debieux, Renata Cromberg e Paulo Carvalho que me honraram com sua interlocução;
Aos professores Paul-Laurent Assoun, Jacques André e Caroline Doucet que me supriram de material e discussões;
Ao nosso grupo de trabalho: Sérgio Marinho, Tatiana Assadi, Viviana Venosa, Pedro Ambra, Luiz Eduardo Vasconcelos, Patricia Porchat, Marcela Gea, Maria Nakasu, Rafael Gelas, pelo companheirismo;
À Sandra Ungaretti, Graziela Perosa, Érica Brasil e Hervé Morvan da Universidade de Nottinghan, Ana Cristina Marzolla da PUC-SP, Eliane Pamart, Elisabeth Plessis, sempre presentes;
À Colette Soler, pela experiência singular;
À minha família, pelo suporte e a aposta;
Ao Luizi e à Clara, pela confiança.
SILVA, G.F. A Study on Identification and Tattooing Functions in the light of Freudian Psychoanalysis. 2012. 142f. Thesis (Doctorate) – Institute of Psychology, University of São Paulo, São Paulo, 2012.
Millennial element, tattooing is reborn embedded in the logic of consumption and exhibition, dragged by a subjective appeal in face of the weakening of totalizing manifestations. Phenomenon present in every social stratus and with wide insertion in any age group, tattooing has its motivation commonly related to aesthetic pleasure, body beauty and interest for art, and tends to be enjoyed as an end in itself. However, these references are not enough to explain the experience of tattooing as the advent of real essence , capable of saying more about an individual than what he himself would dare reveal, as well as the enigmatic nightmares, extinguishing attempts and compulsive character that its practice involves. Therefore, our focus was to breakup manifestations into data capable of reflecting body and tattooing unconscious functions and dynamics in the psychic dynamics. We interviewed young adults who at least had three tattoos. Each semi-directed interview was reconstructed seeking the conflictive core, configured around the loss of the object or its excessively exciting presence. We started from a large bibliographic survey on the subject, we dug deep into the concept of identification in Freud's and his reviewers' works and chose three cases for analysis. The cases' approach the tattooing function and identification concept through examples of pathological grief, predominant presence of Unheimliche in hysteric identification and the superego role in Oedipus identifications. Under the conceptual perspective adopted – identification – the array's dynamics highlighted the object's importance in psychic structuring and the overwhelming consequences of its absence or loss. Finally, within its specificities, each case revealed the death instinct urge in de-objectivization experience and the recurring resourcing to the body and body marks as an attempt of subjective and social and psychic inscription. The conclusion shows that the body has been called upon as an important social tie instrument and fundamental part in individual psychic structuring. Regarding identification, we point out its significant role in articulating the I/another poles, while it presides the fluid localization of the object in psyche and answer for the superego's infiltration in egoic dynamics.
Key-words : body marks, tattooing, identification (psychoanalysis); mourning; death instinct; meta psychology.
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Este Capítulo vida introduzir o tema “marcas corporais” em um contexto sócio-histórico, desde o âmbito geral da contemporaneidade ao específico do ressurgimento das marcas a partir de 1960. Passaremos por uma reflexão de Agamben, transformada em metáfora: a nudez compreendida como efeito da ausência de segredos e da exposição excessiva dos corpos e finalizaremos com a breve contextualização desta pesquisa.
a) As marcas da contemporaneidade
O oficial da Marinha americana Henry Marie Brackenridge ficou intrigado ao notar nas ruas do Rio de Janeiro o número de pessoas que portavam fitas, laços, medalhas e condecorações, na tentativa de se distinguir umas das outras. Isso incluía nobres, comerciantes, funcionários públicos e também os escravos, que exibiam fitas e outros adereços coloridos: “Neste país, ninguém guarda nenhuma insígnia de distinção para ser mostrada em dias de paradas ou cerimônia. Nada me surpreendeu mais do que ver o número de pessoas que usavam condecorações em dias comuns nas ruas. Seu uso é tão frequente que já deixou de simbolizar qualquer traço de dignidade ou importância para seus portadores.” (GOMES, 2007, p.200)
A epígrafe descreve a estratégia de comprar apoio através de títulos de nobreza, utilizada pela coroa portuguesa no Brasil colônia. Nenhum critério, ética ou moral regiam sua distribuição, nada além de signos esvaziados sustentou a elite tupiniquim no período pós-moderno da pré- modernidade de nosso país.
A descrição referente ao Brasil de 1808-1812 se torna instigante quando comparada a questões contemporâneas como as marcas corporais. As tatuagens, por exemplo, carro chefe dos novos ritos, nos interpelam por seu impacto transcultural, geracional e econômico, mas interrogam sobretudo quando notamos que ainda se sustentam no discurso de rebeldia.
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sua forma final, a saber, a imagem como puro valor de troca (SILVA JUNIOR, 2003a, p. 30-31).
Dois elementos devem ser destacados da assertiva. Intimamente relacionados, o primeiro se refere à obsolescência do valor de uso. Esta dissociação que opera em relação à mercadoria equivale à uma dissolução signo-referente: resta apenas a imagem, capaz de multiplicar seu deslocamento para além das cadeias lógicas, exilada da experiência tempo/espaço. E assim chega-se a um segundo elemento: efeito de tal modificação, o signo pode ser manejado como fragmento, pedaço do corpo cultural desalojado do todo. O transporte sígnico, exilado de sua carga de sentido, o transforma em algo a um só tempo reconhecível e assustador - nas palavras de FREUD (1919) ou AGAMBEN (2009, p.160): inquietante.
Se a descrição acima pode ser atribuída à própria definição de significante, no mundo ocidental de paz e benesses , é a circularidade da lógica capitalista que impera e esvazia as trocas cotidianas, as relações, os anseios, buscas e necessidades deste novo sujeito. (BAUDELOT; ESTABLET, 2000)
Colette Soler explicita a ingerência da lógica de consumo no universo psíquico:
O capitalismo não oferece nada além que um mais de gozar a consumir. A linguagem e o inconsciente linguagem regram o gozo e regram, portanto, os afetos subjetivos que dele derivam - de certa maneira, eis o aspecto político da psicanálise. Significa que aquilo que se passa no capitalismo repercute sobre o inconsciente, isto quer dizer que a maneira com que cada um goza corporalmente e, portanto, é afetado subjetivamente, isso vem do inconsciente que é o operador do real e esta é uma contribuição de Lacan. (SOLER, 2011 – emissão radiofônica, tradução nossa)
Em âmbito coletivo, a “afetação subjetiva” se reflete, por exemplo, em uma certa construção de si como produto e em relações interpessoais cunhadas pela lógica do marketing. No universo virtual das redes sociais, blogs e twitter , observa-se que a exibição detalhada do cotidiano insiste sob os imperativos dê sua opinião , mostre quem você é por dentro – tendência exacerbada pela era da informática. Essa exposição excessiva encontrará sua reverberação gozosa também na dimensão corporal.
Nesse funcionamento, o corpo serve de suporte e nele os sujeitos divulgam, expõem, registram, avaliam, comparam, pontuam a passagem do tempo. Registros rarefeitos em outros campos da experiência ali encontram morada. Assim, se por um lado as marcas corporais indicam certa concessão ao apelo poderoso da imagem, paradoxalmente, elas descortinam o papel do corpo frente à tendência à virtualização da identidade.
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b) As marcas corporais: contextualização histórica
Localizada em um lugar nobre da cidade de Florianópolis, em uma típica casa antiga portuguesa, a loja é decorada em estilo que tem a intenção de gerar impacto e de atrair o público. Em sua fachada externa podem ser vistas grandes máscaras carnavalescas que convidam à tatuagem. Logo na entrada há distintos elementos decorativos, como um pequeno altar com um Buda e um vaso sanitário com plantas. Em seu interior, na primeira sala, que funciona como área de atendimento ao público, uma decoração mista faz sobressair ícones típicos da tradição da tatuagem, rostos agressivos, figuras lúdicas, eróticas e diabólicas; também compõem o ambiente alguns símbolos alusivos ao estilode vida rebelde dos anos 60 e 70, como a imagem de Jimmy Hendrix e um cartaz da Cannabis. Completam o ambiente imagens surrealistas, como alguns quadros feitos pelo tatuador do lugar (no estilo de Salvador Dali) e um boneco verde inflado semelhante a um extraterrestre. Na segunda sala – o estúdio de tatuagem – ganham destaque a brancura do piso e das paredes, a austeridade dos objetos e a presença de móveis clínicos. Contígua ao estúdio está a sala de esterilização, equipada com o devido instrumental para esse fim. Por último, uma pequena sala de estar mais íntima que, marcada por um estilo psicodélico nas paredes, guarda uma das excentricidades do lugar: uma tarântula presa, carinhosamente chamada Clô (PÉREZ, 2006, p. 181-182).
A descrição deste estúdio de tatuagens exemplifica a bricolagem sígnica a que estamos expostos e seu impacto sobre o cotidiano e a ordenação social de uma prática.
Estamos há anos-luz das marcas enquanto formas ancestrais de inscrição, cujo intuito era dissolver a diferença pessoal em prol da coletividade (BOREL, 1992; LE BRETON, 2002). Das experiências primitivas, o único resquício são os traços estéticos dos desenhos e alguma referência à cultura de origem. Transformados em estilo (maori, oriental, americana), eles se tornaram um diferencial! – para o novo mercado.
Séculos de usos do corpo se interpõem entre tais fenômenos, mas levantemos brevemente o histórico desta mudança no século XX. Temos os trabalhos antropológicos ou sociológicos do início do século que tentaram explicar, mas contribuíram para estigmatizar as marcas. Entre esses estudos e a explosão de intervenções a partir da década de 1970, nos deteremos apenas sobre o levantamento realizado por Le Breton (2002, p.16-22). Segundo o autor, a partir dos anos 1950, dois fenômenos culturais conferiram nova visibilidade ao corpo, um deles associado ao rock e ao fenômeno hippie e outro aos punks , na Inglaterra.
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história aparece, em sites brasileiros e franceses, tão bricolada quanto os signos do estúdio de tatuagem de Florianópolis descrito acima.
O artigo que deu origem aos recortes bizarros foi um texto de Jim Ward. Bem escrito, o texto de Ward faz sua homenagem à Malloy e apresenta um personagem ambicioso, inteligente, reservado, com um dom de criar histórias e fatos, envolvente, convicto do sentido delirante de passagens de sua vida e para quem a paixão pelo piercing teve vazão após um acidente cerebral com sequelas sobre a capacidade de se expressar^6. Jim Ward ressalta que Malloy reintroduziu a prática do piercing com foco na experimentação erótica. Assim, é provável que as marcas corporais tenham passado a compartilhar a função até então ocupada pelos alucinógenos, aproximando a prática da busca de experimentação hedonista, voltada para a descoberta de sensações e embelezamento.
Abordar Malloy sob esta lente tem por objetivo destacar alguns elementos pai da horda pós- moderna que encontram nele sua expressão. Sua história mítica, seu status social privilegiado, a experimentação sexual ( piercings penianos), o alargamento das fronteiras da sexualidade^7 e até mesmo a impossibilidade de verificação dos fatos, envolvem em bruma e sedução as origens de uma prática que será desenvolvida até o limite do possível^8. Com Malloy o acento são os piercings , mas o que se propaga de fato é a possibilidade de modificar ou, modernamente, de customizar o próprio corpo.
Os precursores sabiam que tinham em mãos um produto em potencial. Em seu retorno , as modificações corporais ressurgem intimamente associadas ao sexo, à mídia (Malloy e Ward editavam a Piercing Fans International Quarterly ), ao comércio de joias (Ward era o designer das joias) e à institucionalização de uma nova técnica. Um casamento indissolúvel.
Foi preciso um grande passo para passar dos círculos influentes e minoritários para o fenômeno grande público que conhecemos. Isto se explica em parte por razões que são as mesmas para a tatuagem: a passagem do desejo da mudança pela mudança para aquele de estabilidade sustentada por uma decoração durável e pela atração pelo autêntico , nascido nas ruas , em relação aos ditados da moda (POLHEMUS, tradução nossa).
(^6) O texto Who Was Doug Malloy?, de Ward está disponível em: < http://www.gauntletenterprises.com/BME/jimward/20040315.html 7 >. Vale lembrar que, em meados dos anos 1970, os adeptos da prática pertenciam aos grupos de gays, lésbicas, sadomasoquistas e bissexuais. 8 Ver site: www.bmezine.com e observar a dedicação às técnicas médicas para não ultrapassar o limite entre a marca da vida e a que pode levar à morte.
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Eis mais um elemento da complexidade dos aspectos envolvidos: novo produto, embebido em uma aura de primitivismo, rebeldia, hedonismo, criação estável e autêntica como uma revolução nascida nas ruas. Neste patchwork complexo vale sublinhar que, enquanto as experimentações dos anos 1960-70 apontavam para uma busca de dissolução das amarras (corporais, sexuais, sociais, relacionais), as marcas do século XXI carregam o desejo inconfesso de enraizamento e sentido de uma juventude cada vez mais ocupada na tarefa prometeica de singularizar-se.
c) As marcas e a nudez contemporânea
Quando a pessoa passa da terceira (tatuagem) já tem algo diferente. Decidir fazer a primeira é sempre difícil, mas quando a pessoa gosta do resultado, vê que ninguém ficou tão bravo assim e ainda recebe elogios, se anima para fazer outra e assim até a terceira. O ego é difícil, a pessoa tem que cuidar para não inflar. Canela, tatuador profissional (2010)
Canela é um dos fundadores do Congresso Internacional de Tatuagens que acontece todos os anos no Brasil. Sorridente e tranqüilo, acessível, muito experiente e criterioso, nos recebe em seu estúdio, um espaço pequeno e acolhedor. Fomos procurá-lo para mostrar os instrumentos da pesquisa e pedir indicações. Ele folheou atentamente o questionário e um de seus comentários nos levou a restringir a amostra à sujeitos com mais de três tatuagens - em busca deste algo diferente para além da moda.
A moda em sua fala indica a tendência imitativa entre os jovens, a busca por sustentação de novos contornos identitários em referências externas, característica eminentemente egóica.
O clandestino aproximou-se e levantou o copo. Lorde Hauksbank respirou fundo, depois bebeu. “Você é de Florença”, disse, “então conhece a majestade daquele mais alto soberano, o eu individual humano, e as sedes que ele procura aplacar de beleza, de valor – e de amor.” O homem que se chamava Uccello começou a responder, porém Hauksbank levantou a mão: “Eu vou falar”, continuou, “porque assuntos há para se discutir dos quais seus iminentes filósofos nada sabem. O eu pode ser real, mas sente fome como um pobre. Pode se alimentar por um momento na contemplação das maravilhas encasuladas como estas, mas continua sendo uma coisa pobre, esfaimada, sedenta. E é um rei em perigo, um soberano para sempre à mercê de muitas insurreições, de medo, por exemplo, e de ansiedade, de isolamento e confusão, de um estranho orgulho indizível e de uma vergonha silenciosa e louca.
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Na experiência de desencantamento perante a nudez – a nudez-efeito da excessiva exibição corporal – forma-se o gancho que nos leva de volta às marcas: frente à sublime e miserável exibição contínua do corpo e de si convocada pela contemporaneidade - para além de todo mistério e significação - o sujeito se vê premido à busca de alguma experiência de beleza. Quase como os dois lados da mesma moeda, o esvaziamento de sentido provocado pela exibição convoca movimentos de preenchimento que, na visão de Agamben, levam à procura da “beleza”: preenchimento do real com o auto-erotismo do pensamento desejante.
E aqui voltamos ao corpo tatuado: corpo que toma para si a função de expressão, rosto que permanece impávido e insolente na exibição de ausência de segredos – rosto/corpo - conjunto complexo, insolente na tentativa de forjar novos segredos, de recriar conteúdo para um envelope excessivamente exposto, excessivamente nu.
No mundo atual do espetáculo , as funções de ator e espectador parecem justapostas, mas o que ambos encenam contemporaneamente é o “prometeísmo dos seres humanos, prometeísmo apequenado, disposto a deixar-se acalmar temporariamente por uma satisfação momentânea” (FREUD, 1905 [1906], p. 278, tradução nossa).
d) Pesquisa e tese
Este trabalho de pesquisa se sustenta na teoria psicanalítica da identificação para mergulhar no universo das tatuagens a ponto de vislumbrar algumas de suas funções para o psiquismo e os sujeitos na contemporaneidade.
Este objetivo se desdobrou do projeto de pesquisa de cooperação internacional, financiado pelo convênio CAPES-COFECUB: “Estudo comparativo internacional das marcas corporais auto-infligidas à luz do laço social contemporâneo: Funções das tatuagens e escarificações na economia psíquica dos jovens adultos: gênese, relação aos corpos, solução subjetiva”. Este projeto amplo se propôs a estudar as modificações corporais sob duas vertentes: 1) um corte vertical da função das marcas corporais na economia psíquica e psicopatológica dos sujeitos;
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Dunker, da Universidade de São Paulo; e o grupo francês, sob coordenação dos professores Alain Abelhauser, Jean-Luc Gaspard e Caroline Doucet, da Universidade Rennes II.
Balizas teóricas e pessoais nortearam as escolhas que delinearam esta tese e estão detalhadas no Capítulo III. É preciso registrar, antes de adentrarmos o trabalho que, dos oito sujeitos entrevistados, alguns serão citados no decorrer da tese. São eles: Dante, Olívia, Gui, Nina, Bento, Fred e Canela.
Gostaríamos ainda de ressaltar que o objetivo, tal como proposto, nos levou a pesquisar funções e dinâmicas, muito mais do que a fechar conclusões.