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Este artigo reflete sobre a arte tradicional dos balões, com ênfase no estado do rio de janeiro. A pesquisa explora as redes e símbolos que falam de um território, as sociabilidades geradas por um ritual e o trabalho que busca contribuir com reflexões sobre a cultura popular. A origem histórica do balão de papel, sua introdução na itália e na europa, e como a prática se expandiu e se transformou em uma manifestação cultural no brasil. Além disso, o texto discute as mudanças sociais que impactaram a prática e a relação das pessoas com seus territórios, bem como as novas formas de praticar a arte dos balões.
O que você vai aprender
Tipologia: Slides
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Sofia Barreto Souza^1
Resumo: O lançamento de balões ao céu é uma prática cultural antiga que se mantém de forma reconfigurada até os dias de hoje. O artigo aqui apresentado tem como proposta a reflexão da arte dos Balões, principalmente no Estado do Rio de Janeiro. Pesquisar o universo do balão é adentrar nas relações sociais que se desenvolvem através de um fazer, é compreender redes e símbolos que falam de um território, o balão gera sociabilidades através de um ritual e o trabalho aqui escrito busca fazer essa discussão através das representações e significados dessa arte contribuindo com as reflexões sobre cultura popular. Palavras-chave: cultura popular, território, arte.
Do Baile da Gaiola² que reúne todos os finais de semana jovens em sua maioria negros e periféricos pra ouvir e dançar funk você pode sentir a arte pulsando em cada símbolo que compõe a festa, seja nas danças dos corpos suados e articulados em compasso com a música, nos djs agitando a festa fazendo brincadeiras com o público e divulgando seu trabalho, nas caixas de som enormes e muito bem estruturadas que garantem o som que faz o coração tremer e na própria montagem, produção e organização do baile. Em minha última ida ao Baile da Gaiola no mês de dezembro de 2018 algo me surpreendeu. Não só a terra estava em festa, do baile você podia olhar para o céu e ver balões subindo e colorindo aquela imensidão. Assim que cheguei vi um balão cheio de lanterninhas subindo, era grande, tinha mais ou menos uns 5 metros e como o baile rola até de manhã já perto de amanhecer eu sai debaixo da lona e, por algum motivo, olhei para o céu, para minha surpresa avistei mais de 3 balões. O balão tem muitas relações com o funk e naquela noite isso se comprovou novamente para mim.
¹Assistente Social, estudante de mestrado do Programa Cultura e Territorialidades PPCULT/ UFF. E-mail:softbarreto@gmail.com ²Baile funk que acontece todo sábado no Complexo da Penha, Rio de Janeiro, em média 20 mil pessoas frequentam o baile por semana e tem como expoente o Dj Rennan da Penha.
O lançamento de balões ao céu é uma expressão cultural antiga que se mantém de forma reconfigurada até os dias de hoje. Quando fala-se em Balões nos remetemos logo as Festas Juninas, no caso específico do Brasil as raízes do Balão vem de uma tradição popular e religiosa destes festejos, juntamente com outros símbolos como a fogueira, fogos, quadrilhas e culinária especifica. É inevitável estar numa conversa com meus interlocutores e eles não mencionarem a relação do Balão com as datas dos Santos no mês de Junho e Julho, essas festividades foram o solo fértil para o início desta tradição. Ao longo desses anos novas dinâmicas sociais surgiram e o Balão expandiu seus significados começando a mobilizar pessoas e grupos em torno de uma manifestação cultural, estes que se engajam na arte dos balões se reconhecem enquanto baloeiros. Os baloeiros são pessoas que se movimentam com um mesmo objetivo: ver o balão no céu.
Arte e tradição: símbolos da Cultura Popular A cultura popular é uma categoria em constante disputa, existem excelentes estudos e diversas correntes teóricas que aprofundam este universo, não cabe aqui neste artigo uma larga análise sobre o tema, porém para se pensar a arte em questão é importante compreender um pouco do que é cultura popular, analisar as suas representações e o caráter político que essa categoria é acionada quando se trata da arte dos Balões. Não nos aprofundaremos nas discussões do conceito de cultura ou de popular mas utilizarei algumas obras que contribuirão na análise da prática baloeira como uma arte carregada de signos e sentidos, mantendo o esforço de evitar a sua romantização. Magnani (1982) em Cultura Popular: Controvérsias e perspectivas busca elucidar algumas tendências teóricas sobre o tema, fala dos folcloristas no Brasil e do trabalho que tinham em descobrir uma manifestação cultural e registrar seu processo com a intenção de resguardar e preservar aquela prática. Conta que alguns especialistas das Ciências Sociais via esse trabalho sem muita relevância por ser descritivo e não propor reflexões etnográficas de mudanças ou transformações. Por volta dos anos 60 a antropologia e a sociologia começaram a incorporar os estudos da cultura popular em suas reflexões, um dos fatores influenciador foi o crescimento dos centros urbanos e a imigração de uma população rural para as grandes cidades
As tendências que disputam essa categoria são muitas, principalmente por ser
Peter Burke traz o universo tanto das discussões teóricas quanto das práticas de uma cultura popular na Europa na idade moderna. Sua definição de cultura é:
“um sistema de significados, atitudes e valores partilhados e as formas simbólicas (apresentações, objetos artesanais) em que eles são expressos ou encarnados”.1 A cultura nessa acepção faz parte de todo um modo de vida, mas não é idêntica a ele. Quanto à cultura popular, talvez seja melhor de início defini-la negativamente como uma cultura não oficial, a cultura da não elite, das “classes subalternas”, como chamou-as Gramsci. (BURKE, pág.8)
Essa definição ajuda a nortear o trabalho na medida em que estamos trabalhando este conceito. Bakthin (2010) em A cultura Popular na Idade Média e do Renascimento nos faz refletir a importância da obra de Rabelais para compreender a cultura popular, o espaço da praça pública, do riso e do grotesco. O grotesco seria o lado “obscuro” do humano, que lida com o corpo e com os prazeres que ele tem pra nos oferecer mas que se tornam tabu na sociedade. Para Bakthin as festas populares brincam o tempo todo com esses lugares de poder, com essas relações de dominação que estão colocadas por uma ordem. Bakthin utiliza muito a vivência do carnaval para falar da experiência da festa popular.
Com todas as suas imagens, cenas, obscenidades, imprecações afirmativas, o carnaval representa o drama da imortalidade e da indestrutibilidade do povo. Nesse universo, a sensação da imortalidade do povo associa-se à de relatividade do poder existente e da verdade dominante. As formas da festa popular têm os olhos voltados para o futuro e apresentam a sua vitória sobre o passado, a “idade de ouro”: a vitória da profusão universal dos bens materiais, da liberdade, da igualdade, da fraternidade. A imortalidade do povo garante o triunfo do futuro. O nascimento de algo novo, maior e melhor é tão indispensável quanto a morte do velho. Um se transforma no outro, o melhor torna ridículo o pior e aniquila-o. No
todo do mundo e do povo, não há lugar para o medo, que só pode penetrar na parte isolando-a do todo, num elo agonizante, tomado em separado do Todo nascente que formam o povo e o mundo, um todo triunfalmente alegre e desconhecedor do medo. (BAKHTIN, p. 223, grifo do autor). O que Bakthin (2010) através da obra de Rabelais nos mostra é que, para além do estado ou religião as pessoas se recriam em espaços comuns de diversão e arte, seja nas brincadeiras sarcásticas com os reis e zombando da própria ordem ou até mesmo nas
obscenidades de brincar com o corpo, o sexo, o que está na parte baixa assim usado por Bakthin. A lógica das festas populares é do presente, de viver o agora só que é justamente esse presente que constrói futuro porque se o povo tá vivo haverá essa construção e a festa é a expressão mais viva desse todo que é o mundo e povo. Esse novo tempo de renascimento não vem pelas vias oficiais e sim pelo que vem da população que não tem medo do presente. Quem tem medo são os poderosos que precisam inventar regras e leis que ditam como a população vai viver. Assim são diversas práticas culturais existentes na sociedade, elas olham para o futuro apenas na sua existência. Tanto Certeau quanto Bakthin olham a cultura popular como uma forma de questionar a ordem, de buscar a liberdade mesmo que no cotidiano. O falar, o escrever e o fazer popular invertem papéis sociais numa perspectiva questionadora. As festas populares usam das brincadeiras sua tática de criar novos futuros. As festas juninas no Rio de Janeiro costumavam ocorrer em espaços abertos como ruas e praças, mobilizando um grande número de pessoas na sua organização, o que fazia a festa ter um caráter comunitário. Em contextos mais urbanos houve uma diminuição destas festas, especialmente as juninas tiveram muitas das suas práticas como brincadeiras de pau de sebo, casamento caipira e até o próprio balão restritas. Para Sandra Carneiro (1986) uma das pioneiras no estudo sobre Balão essas práticas diminuíram conforme o aumento da urbanização e a alteração da arquitetura de grandes cidades, uma das consequências dessas mudanças é modificar a relação que as pessoas estabelecem com esses territórios, algumas práticas se tornam incompatíveis com a vida moderna, conforme o crescimento de prédios e de casas mais aglomeradas, fazer fogueiras, soltar foguetes e balões fica mais difícil do que antigamente e aumenta-se a possibilidade de ocorrer algum acidente devido ao aglomerado urbano. Clara Mafra traz outros elementos que justificam a diminuição dessas festas trazendo a experiência de um bairro do subúrbio do Rio de Janeiro.
pertinho da gente que se chamava maloca, a maloca se aprimorou com o pessoal do Porto da Pedra, isso tudo por aqui, depois da maloca vem o arraia do pau fincado o Osmar era maior barato. Eram as festas junto com os balões, tudo junto. Coisa de brincadeira né, os nomes.” Ele descreve as festas na década de 70/80 e já cita os clubes como um espaço utilizado para a sua realização. A relação que esses baloeiros tinham com o território era através dessas festas e dos balões que nelas eram lançados, o Kleber tem em sua memória afetiva todos os nomes dos arraiás porque eles também faziam parte da festa, da brincadeira como bem disse ele. Burke fala da importância dos cenários para entender as manifestações.
“Para entender qualquer item cultural precisamos situá-lo no contexto, o que inclui seu contexto físico ou cenário social, público ou privado, dentro ou fora de casa, pois esse espaço físico ajuda a estruturar os eventos que nele ocorrem.” (BURKE, Pág. 78) Essas festas deram início a tradição dos balões aqui no Brasil que ficou conhecido por aquele balão losango, conhecido tecnicamente como japonês. Não tem como falar de balão sem falar desses festejos e refletir a importância da sociabilidade destas práticas culturais para a vida desses baloeiros e do território em que estão.
Baloeiros: técnicas e arte Hoje em dia a prática de soltura de balões se espalhou por vários estados brasileiros, sendo os mais fortes, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Em trabalho de campo temos oportunidade de ouvir diversas narrativas sobre a prática baloeira e suas histórias, em entrevista com baloeiros de São Gonçalo muitos dizem que a região foi uma das pioneiras na criação de turmas de balão e de balões mais elaborados, parece que as primeiras equipes surgiram entre a década de 50/60, contam que o município do Rio de Janeiro começou a se levantar e criar turmas no final dos anos 60, São Paulo e Curitiba começaram se engajar na arte mais a frente, em 80. Com o grande crescimento das turmas de balão, da criação de festivais e do aumento do tamanho de balões e de seus eventos de lançamentos começou-se uma perseguição à prática devido ao possível aumento de acidentes. Em decorrência da expansão da produção artística as campanhas da mídia e do governo contra a soltura de balões se intensificaram nos anos 90 e em 1998 a prática se
torna crime ambiental.
Pode-se considerar através de pesquisas e vivências de campo que esta é exclusivamente uma prática de territórios periféricos. Sandra Carneiro em sua dissertação, um dos pouquíssimos trabalhos sobre o tema, já nos apresenta esse universo vivido pela turma de Baloeiros no subúrbio do RJ nos anos 80. Os baloeiros nos trazem uma série de reflexões sobre relações sociais e arte justo por ser uma expressão cultural que organiza grupos dentro de territórios específicos. As turmas ou equipes de baloeiros se estruturam de formas muito particulares, existe toda uma composição interna dos participantes em seus grupos, o processo do fazer artístico exige uma organização coletiva que divide as tarefas entre as pessoas envolvidas. O fazer do balão é dividido em etapas, começando pela sua concepção que é o momento para se decidir o tema até a hora de seu
resgate. Essas divisões nos trazem elementos para pensar a organização de um sistema cheio de símbolos. Compreender esses baloeiros enquanto artistas é discutir a noção de arte dentro da cultura popular. Burke fala dos profissionais da arte e como eram dividas as tarefas de um artesão por exemplo.
É inevitável o problema da definição. O que é um artista "popular"? A definição mais útil parece ser a do artista que trabalha principalmente para um público de artesãos e camponeses (...) Cada artesão e cada camponês estava envolvido na transmissão da cultura popular, da mesma forma que sua mãe, mulher e filhas. Eles a transmitiam cada vez que contavam uma estória tradicional a uma outra pessoa, ao passo que a criação dos filhos necessariamente incluía a transmissão dos valores de sua cultura ou subcultura." ( BURKE, pág. 68) O balão se organiza exatamente dessa forma, a transmissão de saber de pai pra filho que mantém essa arte viva e pulsante na vida dessas pessoas. A quantidade de participantes que compõe uma turma de balão varia, a turma do Barrão o qual fiz entrevista com seus integrantes chegou a ter 106 pessoas no início da década de 90, o grupo era formado por homens e mulheres da região do Bairro Vermelho que amavam a arte, nas falas do meu interlocutor, “cada um chegava junto como podia, a graça era unir a galera pra ver o balão subir”. Com a lei que criminaliza os baloeiros, as turmas passaram a ser muito mais fechadas e na maioria das vezes clandestinas.
Como apontado acima, essas turmas se organizam internamente para feitura do
materiais; no sentido em que o valor das obras de arte é condicionado ao fato de que é difícil conseguir tal valor dos próprios materiais que essas mesmas são compostas” (GELL, Pág.54). Em Mundo das Artes, Becker (1982) fala do caráter coletivo da arte, cita exemplos de como não pode ser feita somente por uma pessoa, porque a arte necessita desde a pessoa que varre o palco até o público espectador. A arte dos balões é totalmente coletiva, tanto no seu fazer até a hora de seu resgate. No mundo dos balões existem diversos termos técnicos que pessoas externas à este grupo desconhecem, podemos entende-los como códigos internos de uma organização social.
Meu pai foi chamado pra fazer um balão através de um encantamento que Seu Roxinho teve pela arte dele e a parte disso criou uma relação de confiança que expandiu para afeto, meu pai ficou durante anos desenhando os balões da turma de Seu Roxinho e foi sua primeira entrada nesse universo. Os baloeiros utilizam uma bancada para confeccionar os balões. A ida pra bancada é o momento em que o balão vai ser realizado depois de decidir o seu tema, fazer seu desenho e as medidas, chega a vez da bancada. As bancadas costumam ser conhecidas por seus tamanhos, em campo conheci uma de 7 metros e o baloeiro disse que já conseguiu fazer um balão de 25 metros nela. Um dos segredos da bancada é esse, seu tamanho é importante para a confecção dependendo do que o baloeiro pretende fazer. As bancadas costumam ser nas próprias casas, mas já foram muito mais coletivas, antigamente existiam sedes das turmas ou até em clubes poderia se encontrar uma bancada mas devido a criminalização da arte elas se tornaram um lugar cheio de segredo e de certa forma sagrado. As práticas do mundo do balão podem ser apreendidas como um processo de ritualização. Victor Turner (1974) define o ato ritual como uma manifestação marcada por simbologias e representações associados a cosmogonia ou aspectos do cotidiano da sociedade, no qual sem a representação simbólica não seria possível o surgimento de uma atmosfera onde se desenvolve o ritual. Segundo Sandra de Sá Carneiro (1986) o balão, por criar um momento coletivo, pode ser entendido como um ritual de integração social. Esse mundo reúne vários segmentos distribuídos como produtores, participantes e espectadores, sendo essas diferenças suprimidas de modo que os vários agentes participam de um grande ritual.
Funk e Balão
Em outsiders Estudos da sociologia do desvio , Becker (2008) relativiza as regras sociais e questiona uma ideia essencializada de crime, tudo que ele apresenta nos caminhos da sociologia do desvio nos dá subsídios para pensar a arte do balão e nesse caso a sua relação com o funk. No início dos anos 90 saiu no jornal do Brasil uma matéria associando um possível arrastão na praia de Ipanema aos funkeiros, na época estavam a todo vapor os Bailes de corredor e o funk mobilizava milhares de pessoas todos os finais de semana. O funk com suas influências do hip-hop americano começou a se nacionalizar no final dos anos 80, criando suas próprias músicas, lançando tendência nos bailes e arrastando uma juventude, o gênero musical se tornou extremamente influente para a cultura brasileira naquele momento como é até hoje. Segundo Adriana Facina (2009) os tais “arrastões” despertaram interesse da mídia corporativa que até então nunca tinha olhado para o fenômeno que acontecia na cidade, ao invés de aparecer nas páginas de cultura a mídia passou a notificar os bailes somente falando da “violência” ocorrida. As turmas de baloeiros existem desde a década de 50 mas somente em 80 passa existir os festivais, o mais famoso deles foi o do Zeca da amizade que acontecia na pedreira do Cachambi, RJ, segundo meus interlocutores o festival durou uns 15 anos, participavam grupos de todas as regiões e as vezes de outros estados, em média umas 3000 pessoas frequentavam o festival. Nesta mesma época os Balões começam a surgir na mídia como perigosos para a sociedade, na televisão mostrava diversas queimadas associando-as a soltura de balões, em uma das reportagens que encontrei os jornalistas falavam que o balão era utilizado como mensageiro do tráfico. Assim como neste caso, o funk, principalmente o subgênero proibidão, constantemente é perseguido com a mesma justificativa de apologia ou associação ao comércio varejista de droga. “Principalmente a partir de 1995, vai ser comum também acusação de ligação dos bailes com o comércio varejista de drogas, invariavelmente designado tráfico, denominação que obscurece os principais caminhos pelos quais passam as substâncias ilícitas até sua venda no varejo” (FACINA. Pág. 4 e
Em pesquisa na internet encontrei funks que falam sobre a prática baloeira, a maioria das músicas são de protesto assim como muitos funks proibidões. Alguns vídeos
mudanças que ocorrem na sociedade, ou, que o processo de transformação sofrido por ela seria uma caminhada para um “desaparecimento”. Seria possível preservar alguns aspectos e características, mas não é possível evitar a mudança de significado que ocorre no momento em que altera o contexto em que os eventos culturais são produzidos. O Balão é uma arte tradicional que teve suas técnicas reinventadas, expandiu seus signos e construiu outras sociabilidades. Por exemplo as alterações das dinâmicas sociais e a lei que o torna crime tem despertado em muitos baloeiros a utilização e discussão sobre a importância do balão ecológico, sem usar fogo ou risco de cair aceso. Todo esse debate é realizado entre os grupos, inclusive já escreveram propostas de reformular a lei para legalizar o balão ecológico acreditando que isso abra o debate e diminua a soltura dos balões com fogo. Os baloeiros costumam dizer que não sabem desde quando soltam balão e lembram que sempre fez parte de suas vidas, alguns dizem que já nasceram sabendo mas isso é uma forma de dizer como aquilo é algo tradicional na sua vida. A relação que os baloeiros passaram a ter com a prática após sua criminalização é de certa forma uma busca por liberdade, algo que pra eles era tão comum tornou-se crime, isso modifica as dinâmicas tanto da prática quanto da relação que os baloeiros passaram a ter devido aos conflitos da criminalização. O Balão é uma das possibilidades em que a população periférica tem para expor sua arte assim como o funk. A arte dos balões bagunça essa noção canonizada de obra de arte que é contemplada somente dentro de espaços institucionais, como disse um baloeiro em uma entrevista: “A gente quer expor nossa arte, só que ela não dá pra expor numa parede, ela tem que subir e descer”. Becker (1982) fala sobre o universo da distribuição das artes, das dificuldades encontradas pelos artistas em vender ou rentabilizar suas obras, o balão utiliza outros meios para sua distribuição, não é uma arte comercializada. Em um dos funks transcritos no artigo eles citam o Datena como um porta voz da mídia contra eles, em resposta mais uma vez através da arte os baloeiros fizeram um balão com a cara do Datena, Isso é criação de estratégias e o que o Certeau (2009) poderia chamar de bricolagem. Os baloeiros se reconhecem enquanto artistas, no final de uma das entrevistas eu perguntei “Vocês trabalham com estética, vocês se consideram artistas?” na mesma hora ele olhou pra mim e respondeu “Lógico! Você acha que somos o que? Somos artistas!”. A liberdade é muito preciosa para as culturas populares, Bakhtin em sua obra fala muito dela e talvez seja essa ponte entre o funk e o balão, ambos estão lutando para expressarem a sua arte livremente.
Bibliografia:
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