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Tópico gramatical abordada por estudiosos do português brasileiro, Resumos de Morfologia e Sintaxe

Os sinais de pontuação na visão de Celso Cunha e Lindley Cintra

Tipologia: Resumos

2020

Compartilhado em 27/03/2024

matheus-ribeiro-5wv
matheus-ribeiro-5wv 🇧🇷

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Capítulo 21
Pontuação
3
SINAIS PAUSAIS E SINAIS MELÓDICOS
A língua escrita não dispõe dos inumeráveis recursos rítmicos e melódicos
da língua falada. Para suprir esta carência, ou melhor, para reconstituir aproxi
madamente o movimento vivo da elocução oral, serve-se da pontuação.
Os sinais de pontuação podem ser classificados em dois grupos:
O primeiro grupo compreende os sinais que, fundamentalmente, se destinam
a marcar as pausas:
a) a vírgula (,)
b) o ponto (.)
c) O PONTO E vírgula (;)
O segundo grupo abarca os sinais cuja função essencial é marcar a melodia,
a entoação:
a) os dois pontos (:)
b) O PONTO DE INTERROGAÇÃO (?)
c) O PONTO DE EXCLAMAÇÃO (!)
d) as RETICÊNCIAS (...)
e) as aspas ( )
f) OS PARÊNTESES ( ( ) )
g) OS COLCHETES ( f ] )
h) O TRAVESSÃO (
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Observações:
l.a) Esta distinção, didaticamente cômoda, não é, porém, rigorosa. Em geral, os
sinais de pontuação indicam, ao mesmo tempo, a pausa e a melodia.
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Capítulo 21

Pontuação 3

SINAIS PAUSAIS E SINAIS MELÓDICOS

A língua escrita não dispõe dos inumeráveis recursos rítmicos e melódicos da língua falada. Para suprir esta carência, ou melhor, para reconstituir aproxi madamente o movimento vivo da elocução oral, serve-se da pontuação. Os sinais de pontuação podem ser classificados em dois grupos: O primeiro grupo compreende os sinais que, fundamentalmente, se destinam a marcar as pausas: a) a vírgula (,) b) o ponto (.) c) O PONTOEvírgula (;)

O segundo grupo abarca os sinais cuja função essencial é marcar a melodia, a entoação: a) os dois pontos (:) b) O PONTODEINTERROGAÇÃO (?) c) OPONTODEEXCLAMAÇÃO (!) d) as RETICÊNCIAS (...) e) as aspas (“ ”) f) OS PARÊNTESES ( ( ) ) g) OS COLCHETES ( f ] ) h) OTRAVESSÃO(--- )

O bservações: l.a) Esta distinção, didaticamente cômoda, não é, porém, rigorosa. Em geral, os sinais de pontuação indicam, ao mesmo tempo, a pausa e a melodia.

6 5 8 NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

2.a) Outros sinais podem ter valor expressivo: o hiff.n, o paragrafo, o emprego de letras maiusculas e o uso de diversos tipos e cores dos caracteres de imprensa (ITÁLICO, VERSAI-, VERSALETE, NEGRITO, etC.).

SIN A IS QUE M A RCA M SO B R ETU D O A PAUSA

A v ír g u la

A vírgula marca uma pausa de pequena duração. Emprega-se não só para separar elementos de uma oração, mas também orações de um só período.

1. No interior da oração serve:

l.°) Para separar elementos que exercem a mesma função sintática (sujeito composto, complementos, adjuntos), quando não vêm unidos pelas conjunções

e , ou e nem. Exemplos:

A sua fronte, a sua boca, o seu riso, as suas lágrimas, enchem-lhe a voz de formas e de cores... (Teixeira de Pascoaes, OC, VII, 83.)

Os homens em geral são escravos; vivem presos às suas profissões, aos seus interesses, aos seus preconceitos.

(G. Amado, TL, 12.)

Achava os homens declamadores, grosseiros, cansativos, pesados, frívolos, chulos, triviais. (Machado de Assis, OC, 1,660-661.)

O bservação: Quando as conjunções e, ou e nem vêm repetidas numa enumeração, costuma-se separar por virgula os elementos coordenados, como nestes exemplos:

Abrem-se lírios, e jasmins, e rosas. (A. de Oliveira, P, II, 344.)

Vai o fero Itajuba perseguir-vos Por água ou terra, ou campos, ou florestas; Tremei!... (Gonçalves Dias, PCPE, 523.)

Nem eu, nem tu, nem ela, nem qualquer outra pessoa desta história poderia responder mais. (Machado de Assis, OC, I, 805.)

6 6 0 NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

À noite, às vezes, fazia barulho. (A. F.Schmidt, AP, 62.)

Fora, a ave agitou-se medonhamente.

(Ó. Ribas, EMT, 8 6 .)

O bservação: Quando os adjuntos adverbiais são de pequeno corpo (um advérbio, por exem plo), costuma-se dispensar a vírgula. A vírgula é, porém, de regra quando se pretende realçá-los. Comparem-se estes passos:

Depois levaram Ricardo para a casa da mãe Avelina. (J. Lins do Rego, U , 320.)

Depois, o engraçado são as passagens de nível, os aparelhos de sinalização, os vagões-cisternas... (A. Abelaira, D, 30.)

Depois, tudo caiu em silêncio. (Castro Soromenho, TM, 261.)

3.°) Emprega-se ainda a vírgula no interior da oração: a) para separar, na datação de um escrito, o nome do lugar:

Paris, 22 de abril de 1983.

b) para indicar a supressão de uma palavra (geralmente o verbo) ou de um grupo de palavras:

No céu azul, dois fiapos de nuvens. (A. F. Schmidt, AP, 176.)

A tarde, de ouro pálido, e o mar, tranquilo como o céu.

(G. Amado, TL, 33.)

Chuva, névoa, desconforto, A imagem da minha vida! (A. Botto, AO, 236.)

2. Entre orações, emprega-se a vírgula:

l.°) Para separar as orações coordenadas assindéticas:

P O N T U A Ç A O

Acendeu um cigarro, cruzou as pernas, estalou as unhas, demorou o olhar em Mana Maria. (A. de Alcântara Machado, NP, 136.)

Pois eu caçava, visgava, alçapava.

(Luandino Vieira, JV , 74.)

Veio a hora do almoço, o céu cobriu-se de negro, a chuva desabou, contínua e pesada. (A. Abelaira, D, 178.)

2.°) Para separar as orações coordenadas sindéticas, salvo as introduzidas

pela conjunção e:

— Não me disseste, mas eu vi. (A. Abelaira, QPN, 19.)

Ou elas tocavam, ou jogávamos os três, ou então lia-se alguma cousa. (Machado de Assis, OC, II, 497.)

Não comas, que o tempo é chegado. (J. Saramago, MC, 356.)

Observações: l.a) Separam-se geralmente por vírgula as orações coordenadas unidas pela conjunção e, quando têm sujeito diferente:

O sol já ia fraco, e a tarde era amena. (Graça Aranha, OC, 148.)

A mulher morreu, e cada um dos filhos procurou o seu destino (F. Namora, Tf, 23.)

Costuma-se também separar por vírgula as orações introduzidas por essa con junção quando ela vem reiterada:

Comigo, o mundo canta, e cisma, e chora, e reza, E sonha o que eu sonhar. (Teixeira de Pascoaes, OC, III, 27.)

E eles riem, e eles cantam, e eles dançam. (Ó. Ribas, EMT, 75.)

P O N T U A Ç Ã O 6 6 3

4.°) Para isolar as orações subordinadas adjetivas explicativas:

O Loas, que tinha relações sobrenaturais, diagnosticara um espírito. (F. Namora, T/, 24.)

Eu, que tinha ido ensinar, agora me via diante de trinta examina doras.

(Genolino Amado, RP , 24.)

D. Apolônia, que se habituara ao desdém das senhoras do Quinaxixe, não amolecia no entanto como patroa. (A. Santos, P, 6 6 .)

Observação: Como sabemos, as orações subordinadas adjetivas classificam-se em res tritivas e explicativas. As restritivas, necessárias ao sentido da frase, ligam-se a um substantivo (ou pronome) antecedente sem pausa, razão por que dele não se separam, na escrita, por vírgula. Já as explicativas, denotadoras de uma qualidade acessória do antecedente — e, portanto, dispensáveis ao sentido essencial da frase — , separam-se dele por uma pausa, indicada na escrita por virgula. Comparem-se, por exemplo, estes dois passos:

Não se lembraria do beijo que me jogara de longe, dos cravos que me atirara... (Ribeiro Couto, C, 85.)

Os dois espanhóis e meu tio, que o ouviam, olharam para mim. (J. de Sena, SF, 175.)

No primeiro, há duas orações adjetivas restritivas: que me jogara de longe e que me atirara; no segundo, uma oração adjetiva explicativa: que o ouviam. Daí a diver sidade de pontuação.

5.°) Para separar as orações subordinadas adverbiais, principalmente quando antepostas à principal:

Quando se levantou, os seus olhos tinham uma fria determinação. (F. Namora, NM, 243.)

Se eu o tivesse amado, talvez o odiasse agora. (C. dos Anjos, M, 146.)

6 6 4 NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

De tudo se lembrara nesse momento, porque de tudo queria esquecer depois... (A. de Assis Júnior, SM, 140.)

6 .°) Para separar as orações reduzidas de infinitivo, de gerúndio e de parti- cípio, quando equivalentes a orações adverbiais:

A não ser isto, é uma paz regalada. (Castro Soromenho, C, 225.)

Sendo tantos os mortos, enterram-nos onde calha. (J. Saramago, MC, 221.)

Fatigado, ia dormir.

(Lima Barreto, TFPQ , 279.)

C o n clu sã o

Finalizando as nossas observações, devemos acentuar o seguinte: a) toda oração ou todo termo de oração de valor meramente explicativo pro nunciam-se entre pausas; por isso são isolados por vírgulas, na escrita; b) os termos essenciais e integrantes da oração ligam-se uns com os outros sem pausa; não podem, assim, ser separados por vírgula. Esta a razão por que não é admissível o uso da vírgula entre uma oração subordinada substantiva e a sua principal; c) há uns poucos casos em que o emprego da vírgula não corresponde a uma pausa real na fala; é o que se observa, por exemplo, em respostas rápidas do

tipo: Sim, senhor. Não, senhor.

O p o n to

  1. O ponto assinala a pausa máxima da voz depois de um grupo fônico de final descendente. Emprega-se, pois, fundamentalmente, para indicar o término de uma oraçào declarativa, seja ela absoluta, seja a derradeira de um período com posto:

Entardecer no Angico. Estou parada, sozinha, na frente da casa da estância, olhando para o poente. O sol parece uma grande laranja temporã, cujo sumo escorre pelas faces da tarde. O ar cheira a guaco queimado. Um silêncio de paina crepuscular envolve todas as coisas.

6 6 6 NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

Lá embaixo era um mar que crescia. Começara a chuviscar um pouco. E o carro subia mais para o alto, com destino à casa de Amâncio, que era a melhor da redondeza. O povo olhava feito besta para o carro com o dr. Juca deitado. O usineiro gemia com as dores que não duravam a chegar. Maria Augusta passava as mãos pela sua cabeça quase toda branca. (J. Lins do Rego, 17, 337.)

  1. Ao ponto que encerra um enunciado escrito dá-se o nome de ponto-final.

O bservações:

  1. ") Além de servir para marcar uma pausa longa, o ponto tem outra utilidade. É o sinal que se emprega depois de qualquer palavra escrita abreviadamente. Assim:

V, S.a(Vossa Senhoria), dr. (doutor), C. F. C. (Conselho Federal de Cultura), I. N. I. C.

(Instituto Naríonal de Investigação Científica).

Note-se que, se a palavra assim reduzida estiver no fim do período, este encerra-se com o ponto abreviativo, pois não se coloca outro ponto depois dele.

  1. a) Quanto ao uso de ponto depois do vocativo que encabeça cartas, requeri mentos, ofícios, etc., vejam-se as nossas Observações aos dois pontos.

O p o n to e v ír g u la

  1. Como o nome indica, este sinal serve de intermediário entre o ponto e a vírgula, podendo aproximar-se ora mais daquele, ora mais desta, segundo os valores pausais e melódicos que representa no texto. No primeiro caso, equivale a uma espécie de ponto reduzido; no segundo, assemelha-se a uma vírgula alongada.

  2. Esta imprecisão do ponto evírgula faz que o seu emprego dependa substan cialmente do contexto. Entretanto, podemos estabelecer que, em princípio, ele é usado: l.°) Para separar num período as orações da mesma natureza que tenham uma certa extensão:

Numa tarde de Outono murmuraste; Toda a mágoa do Outono ele me trouxe... (F. Espanca, S, 49.)

Não sabe mostrar-se magoada; é toda perdão e carinho. (Machado de Assis, OC, 1,1051.)

P O N T U A Ç Ã O 6 6 7

  1. °) Para separar partes de um período, das quais uma pelo menos esteja subdividida por vírgula:

Chamo-me Inácio; ele, Benedito. (Machado de Assis, OC, II, 680.)

Era cedo ainda; mas, depois que saí da farmácia, fiquei ansioso por ver a Mercedes, e com receio de encontrar alguém que me compli casse a vida. (J. de Sena, SF, 2 0 1 .)

  1. °) Para separar os diversos itens de enunciados enumerativos (em leis,

decretos, portarias, regulamentos, etc.). Sirva de exemplo o Título I (Dos Fins

da Educação) da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional:

ArL l.° A educação nacional, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por fim: a) a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do ci dadão, do Estado, da família e dos demais grupos que compõem a comunidade; b) o respeito à dignidade e às liberdades fundamentais do homem; c) o fortalecimento da unidade nacional e da solidariedade interna cional; d) o desenvolvimento integral da personalidade humana e a sua par ticipação na obra do bem comum; e) o preparo do indivíduo e da sociedade para o domínio dos recursos científicos e tecnológicos que lhes permitam utilizar as possibilidades e vencer as dificuldades do meio; f) a preservação e expansão do patrimônio cultural; g) a condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe ou de raça.

O bservações: l.a) O ponto e vírgula divide longos períodos em partes menores à semelhança da cesura, ou deflexão interna de um verso longo. Às vezes, os elementos separados são simétricos, e disso resulta um ritmado encadeamento do período, muito ao gosto do estilo oratório. Leia-se este passo de Rui Barbosa em louvor de Machado de Assis:

P O N T U A Ç Ã O 669

S IN A IS QUE M A RCA M SO B R ETU D O A M ELO D IA

O s d o is-p o n to s

Os dois pontos servem para marcar, na escrita, uma sensível suspensão da voz na melodia de uma frase não concluída. Empregam-se, pois, para anunciar:

  1. °) uma citação (geralmente depois de verbo ou expressão que signifique

dizer, responder, perguntar e sinônimos):

Como ele nada dissesse, o pai perguntou: — Queres ou não queres ir? (É. Veríssimo, A, III, 675.)

Nené pareceu por fim compreender, porque desviou o olhar e atalhou secamente: — Está bem. Vou-te arranjar o aumento.

(A. Santos, P, 156.)

Clemente voltou para dizer: — Não enxerguei ninguém, camarada. Era bicho. (F. Namora, NM, 112.)

  1. °) uma enumeração explicativa:

Não fosse ele, outros seriam: pajens, gente de guerra, vadios de esta lagens, andejos das estradas.

(Coelho Netto, OS, 1 ,1420.)

Tínhamos dezenas de amigos: S. João, S. José, Santo Antônio, o beato João de Brito... mas nenhum deles era estabelecido e nenhum deles tinha conta no banco.

(Sttau Monteiro, APJ, 13.)

À sua volta, tudo lhe parece chorar: as árvores, o capim, os insetos.

(Ó. Ribas, EMT , 104.)

  1. °) um esclarecimento, uma síntese ou uma consequência do que foi enun ciado:

— A razão é clara: achava a sua conversação menos insossa que a dos outros homens. (Machado de Assis, OC, II, 495.)

670 NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

E a felicidade traduz-se por isto: criarem-se hábitos.

(A Abelaira, NC, 154.)

Não era desgosto: era cansaço e vergonha.

(Cochat Osório, CV, 178.)

Eu em sua igreja não mando: só assisto e apoio.

(S. de Mello Breyner Andresen, CE, 11.)

Observação: Depois do vocativo que encabeça cartas, requerimentos, ofícios, etc., costuma-se colocar d o is - p o n t o s , v i r g u l a o u p o n t o , havendo escritores que, no caso, dispensam qualquer pontuação. Assim:

Prezado senhor: Prezado senhor. Prezado senhor, Prezado senhor

Sendo o vocativo inicial emitido com entoação suspensiva, deve ser acompa nhado, preferentemente, de d o is p o n t o s o u de v í r g u l a , sinais denotadores daquele tipo de inflexão.

O p o n to d e in te rro g a ç ã o

  1. É o sinal que se usa no fim de qualquer interrogação direta, ainda que a pergunta não exija resposta:

— Então a coisa sai mesmo? — Se sai? Já saiu! Não viu os jornais?

(É. Veríssimo, A, 1,253.)

— Vão para África, então? O Paulo decidiu-se? (Luandino Vieira, NM, 52.)

Estará surdo? Estará a tentar irritar-me?

(Sttau Monteiro, APJ, 101.)

  1. Nos casos em que a pergunta envolve dúvida, costuma-se fazer seguir de reticências o ponto de interrogação:

— Então?... que foi isso?... a comadre?...

(Artur Azevedo, CFM, 86.)

672 NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

expressão de espanto, de surpresa, de alegria, de entusiasmo, de cólera, de dor, de súplica, ou de outra natureza.

  1. Normalmente, emprega-se o ponto de exclamação: a) depois de interjeições ou de termos equivalentes, como os vocativos inten sivos, as apóstrofes:

— Credo em cruz! gemeu Raimundo, assombrado. (G. Ramos, AOH, 147.)

Que formosura tão de corte, de palácio, de aristocracia! Que pureza e correção de linhas! Que fidalguia de olhar e falar! (C. Castelo Branco, OS, 1,87.)

— Adeus, senhor, adeus!

(Ó. Ribas, EMT, 16.)

b) depois de um imperativo:

— Não vás! Volta, meu filho! Não vás! (É. Veríssimo, A, II, 604.)

Ide, ide de mim!

(F. Pessoa, OP, 166.)

— Agarrem! — Gentes, agarrem! agarrem! (Castro Soromenho, V, 113.)

  1. Tão variado como o seu valor melódico é o valor pausai do ponto de ex clamação. Para acentuar a inflexão da voz e a duração das pausas pedidas por certas formas exclamativas — ou para sugerir a mímica emocional que as acompanha — , alguns escritores usam de artifícios semelhantes aos que apontamos no emprego do ponto de interrogação. Costumam, assim: a) juntar o ponto de exclamação ao de interrogação, para obter os efeitos que indicamos. Quando a entoação é predominantemente interrogativa, o ponto de interrogação antecede o de exclamação; quando é mais sensível o tom exclamativo, o de exclamação precede o de interrogação:

Ah! minha Nossa Senhora, para que Felícia veio falar dessas histórias agora de noite!? (Coelho Netto, OS, 1,926.)

P O N T U A Ç Ã O 673

— Consentir?! Ele é isso?

(F. Namora, NM, 222.)

A referida combinação costuma ser seguida ou antecedida de reticências, o que lhe acrescenta uma nota de incerteza:

— Estás a ver se disfarças?!...

(Alves Redol, F, 223.)

— Coitada!... quem diria... quem imaginaria que acabaria assim!?...

(A. de Assis Júnior, SM, 52.)

b) repetir o ponto de exclamação, para marcar um reforço especial na duração, na intensidade ou na altura da voz:

— Varo-os como a cães!... Canalhas!!!... Hei de lhes acabar com a manha de andarem atrás de mim!... Não sou menino de mama! Carneirada!!!...

(Branquinho da Fonseca, B, 86.)

Ah! Pérfido! Se os teus não lhes respondem mais, para sempre!!!!!!! meus beijos emurchecerão! Triste! Triste da abandonada!...

(M. de Andrade, OI, 162.)

  1. Às vezes, encadeiam-se em forma dialogada essas tentativas de notação mímica. Veja-se este exemplo de Antônio Nobre:

Enfim, feliz! —? —! Desesperado. — Vem!

(S, 128.)

A s re tic ê n c ia s

As reticências marcam uma interrupção da frase e, consequentemente, a suspensão da sua melodia.

  1. Empregam-se em casos muito variados. Assim: a) para indicar que o narrador ou a personagem interrompe uma ideia que começou a exprimir, e passa a considerações acessórias:

Peça-lhe a sua felicidade, que eu não faço outra cousa... Uma vez que você não pode ser padre, e prefere as leis... As leis são belas, sem desfazer na teologia, que é melhor que tudo, como a vida eclesiástica é a mais santa... Por que não há de ir estudar leis fora daqui? (Machado de Assis, OC, 1,757.)

P O N T U A Ç Ã O 675

Garoa do meu São Paulo, — Costureira de malditos — Vem um rico, vem um branco, São sempre brancos e ricos... (M. de Andrade, PC, 385.)

  1. Empregam-se também as reticências para reproduzir, nos diálogos, não uma suspensão do tom da voz, mas o corte da frase de um personagem pela interferência da fala de outro:

— A senhora ia dizer que... — Nada... nada... — atalhou a mulher. (A. M. Machado, HP, 15.)

— Sempre tens vontade de pegar uma fanga? — Se não tivesse... — Ias-te embora... (Alves Redol, P, 276.)

— Isso também conta. As raízes... — Que raízes? — cortou losé Paulino, bruscamente. (Castro Soromenho, C, 121.)

Se a fala do personagem continua normalmente depois dessa interferência, costuma-se preceder o seguimento de reticências:

— O que me parece, aventurou o coronel, é que eles vieram ao cheiro dos cobres... — Decerto. ... e que a tal D. Helena (Deus lhe perdoe!) não estava tão inocente como dizia. (Machado de Assis, OC, II, 866.)

— Eu vi as ondas engolirem-no... — Chega, meu marido, chega!... — ... ele ainda voltou à tona duas vezes! — Já acabou! Não se pensa mais, João. — ... Eu não queria dizer, para não passar por doido... (A. M. Machado, HP, 247.)

  1. Usam-se ainda as reticências antes de uma palavra ou de uma expressão que se quer realçar:

676 NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!... (F. Espanca, S, 30.)

E teve um fim que nunca se soube... Pobrezinho... Andaria nos doze anos. Filho único.

(Simões Lopes Neto, CGLS , 225.)

Observações:

  1. “) Como os outros sinais melódicos, as r e t i c ê n c i a s têm certo valor pausai, que é mais acentuado quando elas se combinam com outro sinal de pontuação. Duas combinações são possíveis: a) com um sinal pausai ( v í r g u l a , ou p o n t o e v í r g u l a ). Neste caso as r e t i c ê n c i a s têm apenas valor melódico; a pausa é indicada pela v í r g u l a , o u pelo p o n t o e v ír g u l a que as segue:

Passai, ó vagas..., mas passai de manso! (Castro Alves, OC, 331.)

— É uma dos diabos, é...; mas não se acoquine, homem! (Simões Lopes Neto, CGLS, 126.)

b) com um sinal melódico ( p o n t o d e in t e r r o g a ç ã o , ou p o n t o d e e x c l a m a ç ã o , o u o s dois conjugados). Neste caso, as r e t ic ê n c ia s prolongam a duração das inflexões interrogativa e exclamativa e lhes acrescentam certos matizes particulares, que indicamos ao estudarmos aqueles sinais.

  1. a) Não se devem confundir r e t i c ê n c i a s , que têm valor estilístico apreciável, com os três pontos que se empregam, como simples sinal tipográfico, para indicar que foram suprimidas palavras no início, no meio ou no fim de uma citação. Modernamente, para evitar qualquer dúvida, tende a generalizar-se o uso de quatro pontos para marcar tais supressões, ficando os três pontos como sinal exclu sivo das RETICÊNCIAS.

A s a s p a s

  1. Empregam-se principalmente: a) no início e no fim de uma citação para distingui-la do resto do contexto:

Definiu César toda a figura da ambição quando disse aquelas palavras: “Antes o primeiro na aldeia do que o segundo em Roma.” (F. Pessoa, LD, 100.)