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Texto de língua portuguesa, Esquemas de Pedagogia

Texto de língua portuguesa , contextos

Tipologia: Esquemas

2024

Compartilhado em 29/10/2024

usuário desconhecido
usuário desconhecido 🇧🇷

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FUNDAMENTOS

DA LÍNGUA

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Componentes de um texto argumentativo Como sabemos, existem diversos gêneros textuais, que são manifestações culturais que cumprem determinados propósitos de comunicação social e que se apresentam de formas distintas. São exemplos de gêneros textuais os dife- rentes tipos de textos que exercem alguma função, como prosas, poemas, listas de compras, listas telefônicas, artigos científicos, redações argumentativas, notícias jornalísticas etc. Podemos entender que qualquer formato específico de texto que se manifeste de determinados modos e que cumpram propósitos pontuais podem ser considerados gêneros textuais. Além de cumprir funções comunicativas sociais, os gêneros textuais “de- limitam” certos padrões de produção; ou seja, espera-se que uma lista de compras, por exemplo, seja escrita de uma determinada maneira, que uma poesia, de outra e assim por diante. Logo, cada gênero textual pré-determina quais componentes são fundamentais para que um texto se enquadre em cada classificação. Embora essas regras não sejam fixas e imutáveis, podem ser entendidas como convenções que devem ser seguidas ao produzir textos de diferentes gêneros. Portanto, cada gênero “define” quais são os itens neces- sários para seus textos. Pense em um artigo jornalístico, por exemplo. Quais são os componentes que você julga necessários para que uma notícia se enquadre corretamente nesse gênero? Observe a Figura 1.

Figura 1. Exemplo de texto jornalístico. Fonte: Jornal Valor Econômico (2016, documento on-line). Na Figura 1, podemos perceber elementos canônicos de um texto jorna- lístico, como manchete (título principal), título auxiliar (subtítulo), lide (que diz respeito ao primeiro parágrafo e às informações utilizadas para iniciar a leitura e despertar o interesse do leitor), corpo da notícia e outros elementos gráficos para complementar as informações. Logo, o gênero textual jornalístico necessita de alguns componentes essenciais que podem ser encontrados na maior parte dos textos que se enquadram nessa categoria. Agora, pense a respeito de um artigo científico. Quais são seus principais componentes? Será que são construídos da mesma maneira que um artigo jornalístico ou uma poesia? Quem conhece esse gênero textual sabe que alguns componentes e algumas padronizações estruturais são necessárias para que um texto seja aceito como artigo e, então, publicado. Essas partes normalmente são: título, resumo, introdução, materiais/métodos, resultados, discussão, conclusões etc.

Exemplo 1 Tema: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira. (Tema da redação do ENEM de 2015). Introdução: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira é um problema muito presente. Isso deve ser enfrentado, uma vez que, diariamente, mulheres são vítimas dessa questão. Nesse sentido, dois aspectos fazem-se relevantes: o legado histórico-cultural e o desrespeito às leis. Fonte: Furtado (2015, documento on-line). Exemplo 2 Tema: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira. (Tema da redação do ENEM de 2015). Introdução: Um exemplo da persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira é a quantidade de casos relatados por diversas delegacias a respeito de abuso doméstico. Um estudo estatístico demonstrou que três a cada cinco mulheres já sofreram algum tipo de violência em seus relacionamentos, seja física, psicológica ou sexual, posicionando o Brasil como um dos países com mais indícios de agressão contra a mulher. Fonte: Furtado (2015, documento on-line). No exemplo 1, vemos uma introdução perfeitamente estruturada, extraída de uma redação com nota máxima no ENEM de 2015. Ao analisarmos esse segmento, notamos os seguintes componentes:

1. Apresentação do tema: “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira é um problema muito presente”. 2. Tom da redação e vestígios da posição da autora: “Isso deve ser en- frentado, uma vez que, diariamente, mulheres são vítimas desta questão”. 3. Informações para contextualizar o assunto a ser desenvolvido: “Nesse sentido, dois aspectos fazem-se relevantes: o legado histórico- -cultural e o desrespeito às leis”.

Os componentes, da forma como foram destacados acima, não são obri- gatórios para todos os textos desse gênero, mas tornam a introdução mais completa e eficiente. Já o exemplo 2, escrito exclusivamente para os propósitos desta seção, não consegue cumprir as funções principais de uma introdução. Embora possa parecer introduzir o tema, pode-se observar que as informações presentes no parágrafo poderiam ser utilizadas (de outra maneira) como um texto de desenvolvimento, e não de introdução. O autor não situou o leitor a respeito do assunto da forma como seria necessária e não levantou informações que fossem suficientes para introduzir o assunto. Em suma, a introdução tem um papel crucial em uma redação, não só por apresentar o assunto, mas também pelo poder que tem de convencer um leitor a prosseguir com a leitura ou convencê-lo de desistir dela.

Desenvolvimento

O desenvolvimento é considerado a parte mais importante de uma redação. É por meio dele que as ideias são apresentadas, os argumentos são levantados e o conteúdo do texto é desenvolvido. Novamente, diferentes tipos de gêneros textuais requerem diferentes estruturas para o desenvolvimento. Em uma redação argumentativa, o desenvolvimento geralmente é apresen- tado em dois ou três parágrafos, de forma que cada um aborde um objetivo diferente e que a relação entre eles seja estabelecida de forma coesiva e coerente. É importante que o desenvolvimento esteja estruturado de modo a construir uma linha de raciocínio lógica e linear e que permita ao leitor entender os objetivos do autor do e aceitar (ou rejeitar) suas argumentações. Embora pareça que o objetivo do desenvolvimento é convencer o leitor a aceitar a posição do autor, isso não é uma obrigação. Uma redação argumen- tativa tem por objetivo construir argumentos lógicos e coerentes para que o leitor consiga entender, por meio do texto, o ponto de vista do autor, de forma que seu pensamento se torne claro e ele possa compreender os motivos pelos quais o autor se posiciona de um modo ou de outro. Aceitar ou rejeitar a opinião dele é de responsabilidade do leitor; o importante é que ele tenha informações suficientes no desenvolvimento para construir um raciocínio lógico que lhe ajude a concordar ou discordar da linha de pensamento apresentada.

por lei. No entanto, o que se observa em diversas partes do País, é a gri- tante diferença entre os salários de homens e mulheres, principalmente se estas forem negras. Esse fato causa extrema decepção e constrangimento a elas, que se sentem inseguras e sem ter a quem recorrer. Desse modo, medidas fazem-se necessárias para corrigir a problemática (FURTADO, 2015, documento on-line). O primeiro parágrafo de desenvolvimento apresentou exemplos a respeito do assunto e informações contextualizadas sobre o tópico. Já no segundo parágrafo de desenvolvimento, podemos ver uma argumen- tação a respeito das consequências e impactos históricos e sociais que são derivados da violência contra as mulheres. No terceiro parágrafo, temos informações que se relacionam com o assunto e que servem como uma corroboração do que fora falado anteriormente. Há, também, a apresentação de informações novas e fortemente relacionadas ao tópico principal (diferença entre salários, diferença racial etc.). Ao fim do pará- grafo, é feita uma conclusão sobre o assunto: esse problema deve ser resolvido. Não confunda, contudo, uma conclusão sobre o assunto com a conclusão do texto; são duas coisas diferentes. No terceiro parágrafo de desenvolvi- mento dessa redação, a oração “Desse modo, medidas fazem-se necessárias para corrigir a problemática” é uma ideia conclusiva diante dos exemplos de problemas apresentados durante o desenvolvimento do texto. A função da conclusão da redação como um todo é outra, como veremos no próximo tópico.

Conclusão

A principal função da conclusão de uma redação argumentativa é “fechar” o texto. Existem diversas estratégias a respeito do conteúdo do parágrafo de conclusão, de forma que diferentes abordagens podem ser adotadas. No que diz respeito à estrutura, a conclusão desse gênero textual é apresen- tada em um parágrafo. Em textos de outros gêneros, ela se estrutura de outra maneira. Em artigos acadêmicos, por exemplo, essa parte do texto é geralmente chamada de “considerações finais” e se estende por mais de um parágrafo. A conclusão em uma redação argumentativa deve concluir uma linha de pensamento, retomando (brevemente) a argumentação construída pelos parágrafos de desenvolvimento e apresentando uma informação que proponha uma solução para o tópico ou que complete o raciocínio.

Observe a conclusão da redação com a nota máxima no ENEM: Diante dos argumentos supracitados, é dever do Estado proteger as mulheres da violência, tanto física quanto moral, criando campanhas de combate à violência, além de impor leis mais rígidas e punições mais severas para aqueles que não as cumprem. Some-se a isso investimentos em educação, valorizando e capacitando os professores, no intuito de formar cidadãos comprometidos em garantir o bem-estar da sociedade como um todo (FURTADO, 2015, documento on-line). Podemos observar que o parágrafo de conclusão da candidata retoma o assunto, conecta o parágrafo com as informações apresentadas no desenvol- vimento e apresenta qual seria, na opinião dela, uma solução para o problema. Por fim, é preciso lembrar que diferentes gêneros textuais requerem diferen- tes componentes. A redação argumentativa, como vimos, exige que um texto tenha uma introdução, uma conclusão e um desenvolvimento – componentes que também se manifestam em outros gêneros textuais, porém de outras formas. Elementos fundamentais de um texto narrativo Além do tema, que é o assunto sobre o qual um texto decorre, alguns gêneros textuais, como contos, fábulas, peças de teatro ou demais narrativas têm componentes e estruturas fundamentais para o desenvolvimento do texto. No que diz respeito à estrutura, quatro elementos são fundamentais:

1. Apresentação: parte do texto onde algumas circunstâncias da história são apresentadas, como personagens, espaço, tempo, características etc. 2. Complicação: sucessão textual onde a ação começa a se desenvolver e que leva ao clímax. 3. Clímax: ponto crítico da ação. 4. Desfecho: soluções dos conflitos realizadas pelos personagens. Já os componentes principais, que são conhecidos como elementos da narrativa, se dividem em espaço, tempo, personagens e narrador.

Tempo

O tempo, em narrativas, pode ser entendido por meio de diferentes perspec- tivas: poder ser a data em que a história se desenvolveu, o tempo que durou o percurso dos fatos ou a evolução psicológica dos personagens. É dividido em duas categorias: tempo cronológico e tempo psicológico.

Tempo cronológico

É o tipo de tempo histórico, real; ou seja, o tempo no sentido de “data” e no sentido do desencadear cronológico dos fatos. O tempo cronológico é, geralmente, o mesmo para todos os personagens; salvo algumas histórias que apresentam personagens distintos em tempos distintos. Na construção textual, é marcado por advérbios (ou locuções ad- verbiais) temporais. Observe o exemplo abaixo: “Era um dia frio e luminoso de abril, e os relógios davam treze horas. Winston Smith, queixo enfiado no peito no esforço de esquivar-se do vento cruel [...]” (ORWELL, 2014)

Tempo psicológico

É o tempo que decorre a partir de uma perspectiva interior, relacionada ao psico- lógico dos personagens, não necessariamente seguindo uma linha cronológica. Esse tipo de tempo revela muitos detalhes a respeito da posição e dos sentimentos do personagem e é considerado individual, aocontrário do tempo cronológico, que é coletivo. Podemos entendê-lo como um fluxo psicológico, marcado por lembranças, imaginação, sonhos, devaneios etc. Observe o exemplo a seguir: “Os minutos voavam, ao contrário do que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase sem dar por elas, um acaso” (ASSIS, 1986).

Personagens

Personagens, como é evidente, diz respeito a “quem” ou a “que” a história se elabora. Devemos manter em mente que personagem não é, necessariamente, uma figura humana. Pense sobre os seguintes filmes: Titanic , Toy Story , 101 Dál-

matas e Cinderela. No primeiro título ( Titanic ), temos uma história sobre personagens humanos. No segundo, os personagens são objetos (brinquedos). No terceiro, animais e no quarto, humanos e animais. Existem diferentes tipos de personagens em uma narrativa: os principais e os secundários, sendo que se subdividem em protagonista (personagem principal) e antagonista (que se opõe ao protagonista). É um erro muito comum assumir que o personagem protagonista é uma representação do bem e o antagonista, do mal. A verdade é que o protagonista é o personagem principal, seja ele herói ou vilão, bom ou mau; e o antagonista é o que se opõe ao protagonista, independentemente de suas características. Uma história em quadrinhos do Batman, por exemplo, tem o Batman como protagonista e o Coringa como antagonista; sendo que o primeiro é um herói e o segundo, um vilão. Já em quadrinhos cujo título fossem “Coringa”, este assumiria o papel de protagonista e o Batman de antagonista, embora o protagonista seja o vilão. Outro ponto importante a respeito dos personagens é sua personificação e apresentação. Um personagem pode ser diretamente descrito na narrativa, quando o narrador conta detalhes físicos e/ou psicológicos dele; ou descrito sob a perspectiva de outro personagem que, quando ocorre, pode não retratar a realidade sobre o personagem, mas sim uma representação e impressão.

Narrador

O narrador é o elemento responsável por contar a história. De acordo com sua posição e perspectiva, acessamos a história de diferentes modos. Por ser um item fundamental e detalhado, trataremos dele, exclusivamente, na próxima seção. Foco narrativo e tipos de narrador Foco narrativo é um constituinte estrutural de uma narrativa e está relacionado à perspectiva do desenrolar do enredo; ou seja, é o ponto de vista por meio do qual a história é apresentada ao leitor. Esse ponto de vista é marcado pela posição que o narrador assume na história: apenas como observador, como personagem, ou os dois. Diz-se que o foco narrativo é em primeira pessoa quando o enredo é desenvolvido de uma perspectiva pessoal, quando a história é contada em

Alguns anos depois, a autora do livro lançou a mesma história sobre uma perspectiva diferente: dessa vez, o narrador-personagem era o homem por quem Anastácia se apaixonou: Christian Grey. Por meio de sua narração, vemos detalhes e fatos que antes nos eram des- conhecidos, porque também eram desconhecidos pela narradora-personagem do primeiro livro. Veja exemplos de narradores-personagens nos livros mencionados acima e como as duas perspectivas diferentes adicionam detalhes distintos à história: Exemplo 1 Empurro a porta, tropeço nos meus próprios pés e caio estatelada no escritório. Merda: eu e meus dois pés esquerdos! Caio de quatro no vão da porta da sala do Sr. Grey, e mãos delicadas me envolvem, ajudando-me a me levantar. Que vergonha, que droga de falta de jeito! Tenho que me armar de coragem para erguer os olhos. Caramba... ele é muito jovem. — Srta. Kavanagh. — Ele me estende uma mão de dedos longos quando já estou em pé. — Sou Christian Grey. A senhorita está bem? Gostaria de se sentar? Muito jovem. E atraente, muito atraente. É alto, está vestido com um belo terno cinza, camisa branca, e gravata preta, tem o cabelo revolto acobreado, e olhos cinzentos vivos que me olham com astúcia. Custo um pouco a conseguir falar. — Hum. Na verdade... — murmuro. Se esse cara tiver mais de trinta anos, eu sou mico de circo. Aturdida, coloco minha mão na dele e nos cumprimentamos. Quando nossos dedos se tocam, sinto um arrepio excitante me percorrer. Retiro a mão apressadamente, envergonhada. Deve ser eletricidade estática. Pisco depressa, pestanejando no ritmo da minha pulsação. — A Srta. Kavanagh está indisposta, e me mandou no lugar dela. Espero que não se importe, Sr. Grey (JAMES, 2012). Exemplo 2 Um tumulto na porta traz a meus pés um turbilhão de longos cabelos castanhos, membros pálidos e botas marrons mergulhando de cabeça em meu escritório. Reprimindo meu aborrecimento natural a tal falta de jeito, eu me apresso até a garota que aterrou com suas mãos e joelhos no chão. Segurando ombros magros, ajudo-a a ficar de pé. Olhos claros

e envergonhados encontram os meus e me deixam surpreso. Eles são de uma cor extraordinária, muito azuis e sinceros, e por um momento horrível, acho que ela pode ver através de mim e o que me deixa... exposto. O pensamento é enervante, então o descarto imediatamente. Ela tem um rosto pequeno e doce que está corando agora, num pálido e inocente rosa. Pergunto-me brevemente se toda a sua pele é assim – perfeita – e se poderia parecer rosada e aquecida a partir da picada de um açoite. Droga. Paro meus pensamentos traiçoeiros, alarmados com a sua direção. O que diabos você está pensando, Grey? Esta menina é muito jovem. Ela olha boquiaberta para mim, e resisto em revirar os olhos. Yeah, yeah, baby, é apenas um rosto, e é apenas superficial. Preciso dissipar aquele olhar de admiração daqueles olhos, mas enquanto isso, vamos ter algum divertimento! — Senhorita Kavanagh. Sou Christian Grey. Você está bem? Você gostaria de se sentar? Há um enrubescer novamente. No comando mais uma vez, eu a estudo. Ela é bastante atraente – pequena, pálida, com cabelos escuros mal contidos por um laço. Uma morena. Sim, ela é atraente. Estendo minha mão enquanto ela gagueja o início de um pedido mortificado de desculpas e coloca sua mão na minha. Sua pele é fresca e suave, mas seu aperto de mão é surpreendentemente firme. — Senhorita Kavanagh está indisposta, então ela me enviou em seu lugar. Eu espero que você não se importe, Sr. Grey. Sua voz é tranquila, com uma musicalidade hesitante, e ela pisca de forma irregular, longos cílios tremulantes (JAMES, 2015). Os textos acima nos mostram a mesma situação por meio de duas pers- pectivas diferentes, porque temos dois narradores-personagens diferentes. Desse modo, podemos ver detalhes que em uma perspectiva ou outra nos eram desconhecidos. No desenrolar da história, descobrimos que Anastácia se apaixona por Christian, mas imagina que ele seja “muito” para ela e que ele jamais se apaixonaria por alguém do seu perfil. É preciso alguns capítulos para que o leitor descubra que Christian também está atraído por Anastácia. Contudo, quando lemos a mesma situação em duas perspectivas paralelas, podemos notar que Christian se atrai por Anastácia desde o primeiro momento. Logo, o narrador-personagem tem limitações a respeito dos detalhes da história e conta ao leitor somente aquilo que sua perspectiva lhe permite observar.

— Nunca vi um rapaz como este! Foi à porta, abriu-a e ficou a olhar para fora, procurando-o entre os tomateiros e as outras plantas que constituíam a horta. Nem sombra de Tom (TWAIN, 2009). No texto acima, temos um exemplo de narrador-observador que se limita a contar a história sob a perspectiva de alguém que a observa de fora. No decorrer do livro, percebemos que o narrador é o próprio autor. Em um livro posterior do mesmo autor, As aventuras de Huckleberry Finn , dessa vez narrado por um narrador-personagem, a história se inicia com o seguinte texto: O leitor não me conhece, a não ser que haja lido as Aventuras de Tom Sa- wyer, escritas por um tal Mark Twain. Tudo quanto esse livro diz é verdade, com um pouquinho de exagero, apenas. Ainda não conheci ninguém que não mentisse lá uma vez ou outra — exceto Tia Polly (tia de Tom, não minha), Mary e a viúva Douglas, todas três personagens daquele livro. Quem leu tais aventuras estará lembrado do modo pelo qual Tom e eu descobrimos o dinheiro escondido na caverna dos ladrões. Isso nos fez ricos dum momento para outro. Seis mil dólares para cada um, e em ouro! O juiz Thatcher tomou conta dessa pequena fortuna para pô-la a render e cada um de nós passou a usufruir um dólar por dia. Era dinheiro a rodo (TWAIN, 2013). Esse segmento nos mostra que o narrador-personagem, que também era personagem do livro anterior, se refere à perspectiva do narrador anterior (TWAIN, 2013) e conta ao leitor que a história foi contada com “um pouquinho de exagero”. Esse exemplo serve para nos mostrar que um narrador-observador sempre irá relatar uma história de acordo com a sua própria perspectiva, levando em consideração seus sentimentos e impressões a respeito dos acontecimentos e dos personagens.

Narrador-onisciente

É o tipo de narrador que sabe todos os detalhes sobre os personagens, sobre a história, sobre tudo. Ele conta a história e os detalhes por meio de um ponto de vista que tudo vê, como na posição de um deus.

Existem vários tipos de narradores-oniscientes, mas podemos classificá-los de duas maneiras principais: a) Narrador-onisciente neutro: aquele que se preocupa em contar os detalhes da história e do personagem de modo que o leitor possa com- preender o todo. Ele não tenta convencer o leitor a assumir algum tipo de opinião e não relata seus próprios pensamentos e impressões; por isso, é neutro. Observe um exemplo de narrador-onisciente neutro: O Sr. Dursley sempre sentava de costas para a janela em seu escritório no nono andar. Se não o fizesse, talvez tivesse achado mais difícil se concentrar em brocas aquela manhã. Ele não viu as corujas que voavam velozes em plena luz do dia, embora as pessoas na rua as vissem; elas apontavam e se espantavam enquanto coruja atrás de coruja passava no alto. A maioria jamais vira uma coruja mesmo à noite. O Sr. Dursley, porém, teve uma manhã perfeitamente normal sem corujas. Gritou com cinco pessoas diferentes. Deu vários telefonemas importantes e gritou mais um pouco. Estava de excelente humor até a hora do almoço, quando pensou em esticar as pernas e atravessar a rua para comprar um pãozinho doce na padaria defronte. (ROWLING, 2000) b) Narrador-onisciente seletivo: também chamado de narrador-onisciente intruso, é aquele que narra a história emitindo suas opiniões e impres- sões sobre algum componente, seja personagem, espaço ou enredo, influenciando o leitor a se posicionar de determinadas maneiras a respeito da história. Observe um exemplo de narrador-onisciente seletivo: Deixemos Rubião na sala de Botafogo, batendo com as borlas do chambre nos joelhos, e cuidando na bela Sofia. Vem comigo, leitor; vamos vê-lo, meses antes, à cabeceira do Quincas Borba. Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler as Memórias Póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago da existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia. Aqui o tens agora em Barbacena.