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terapia comportamental dialética e terapia de aceitação e, Provas de Psicopatologia

Ainda há controvérsias quanto à real existência de um movimento de terceira onda ou geração nas terapias cognitivo-comportamentais.

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Barros32
Barros32 🇧🇷

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TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA E TERAPIA DE ACEITAÇÃO E
COMPROMISSO: UMA INTRODUÇÃO PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE
MENTAL
Luiz Eduardo Barcellos Rodrigues
Porto Alegre, 2017
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TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA E TERAPIA DE ACEITAÇÃO E

COMPROMISSO: UMA INTRODUÇÃO PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE

MENTAL

Luiz Eduardo Barcellos Rodrigues Porto Alegre, 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA

PERSONALIDADE

CURSO DE PSICOLOGIA

TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA E TERAPIA DE ACEITAÇÃO E

COMPROMISSO: UMA INTRODUÇÃO PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE

MENTAL

Trabalho apresentado como requisito parcial para Conclusão de Curso de Graduação em Psicologia, sob orientação do Prof. Dr. Gustavo Gauer

Luiz Eduardo Barcellos Rodrigues Porto Alegre, 2017

SUMÁRIO

  • RESUMO ..................................................................................................................................
  • INTRODUÇÃO .........................................................................................................................
  • CAPÍTULO 1 ............................................................................................................................
  • CAPÍTULO 2 ..........................................................................................................................
  • CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................
  • REFERÊNCIAS ......................................................................................................................

RESUMO

As terapias cognitivo-comportamentais são intervenções baseadas em pesquisas empíricas, compreendendo uma mistura de princípios cognitivos e comportamentais. Consideradas uma das principais práticas baseadas em evidências, passaram por muitas modificações desde os anos 1950. A partir do final dos anos 1980 e início dos anos 1990, terapias que priorizavam aspectos comportamentais e estabeleciam pouco foco em intervenções cognitivas começaram a surgir. A Terapia Comportamental Dialética, baseando-se em sua Teoria Biossocial, e a Terapia de Aceitação e Compromisso, com fundamentação na Teoria dos Quadros Relacionais, trouxeram inovações à tradição cognitivo-comportamental. Ênfase no contexto e função de comportamentos e pensamentos conferiram a tais práticas a categoria de terapias contextuais. Ainda pouco difundidas no Brasil e com poucos estudos randomizados controlados, as terapias contextuais trazem importantes atualizações na tradição cognitivo-comportamental. Seus benefícios, entretanto, devem ser vistos com cautela.

Palavras-chave: Terapia cognitivo-comportamental, psicoterapia, DBT, ACT.

sofrem e causam sofrimento, nas maneiras mais dramáticas possíveis. É o Transtorno de Personalidade mais freqüente na prática clínica e com a maior taxa de suicídio e tentativas de suicídio. São pacientes imprevisíveis, aproximando-se e se afastando do tratamento com extrema rapidez (Linehan, 1993). A Terapia de Aceitação e Compromisso desenvolvida por Hayes tem sua base na Teoria dos Quadros Relacionais, que é derivada de uma visão filosófica conhecida por contextualismo funcional (Gifford & Hayes, 1993). É uma tentativa de oferecer uma maneira de integrar cognição e linguagem a um modelo comportamental. Conforme a Teoria, o núcleo da linguagem humana é a habilidade aprendida e controlada pelo contexto de, arbitrariamente, relacionar eventos mutuamente e em combinação e alterar as funções de eventos específicos baseado na relação deles com outros (Hayes et al., 2006). Deriva-se, então, que as relações verbalmente mediadas podem alterar e limitar processos comportamentais (Hofmann & Asmundson, 2008). Cabe esclarecer que a Terapia de Aceitação e Compromisso possui uma compreensão própria quanto ao sofrimento humano. Nesse sentido, o modelo apresentado por Hayes (2007) postula que há seis processos de adoecimento psicológico. Cada um é o contrário dos seis processos terapêuticos propostos pela terapia, que são: aceitação, desfusão, contato com o momento presente, eu que observa, valores e ações comprometidas com valores. Há técnicas e exercícios elaborados para trabalhar cada um dos processos, ainda que não se trate de uma terapia baseada em protocolos, mas sim em princípios. Ainda há controvérsias quanto à real existência de um movimento de terceira onda ou geração nas terapias cognitivo-comportamentais. Por um lado, Hayes e colaboradores (2006) consideram que o momento é de fortes mudanças nas TCCs, em função do surgimento de intervenções baseadas em mindfulness e aceitação. Por outro lado, essa interpretação tem sido recebida com críticas por pesquisadores (Corrigan, 2001; Öst, 2008, Hofmann & Asmundson, 2008). A partir do final dos anos 1990, uma composição de novas terapias comportamentais emergiram com ênfase em questões tradicionalmente pouco enfatizadas ou, até mesmo, fora do escopo dos terapeutas cognitivo-comportamentais. Tal ênfase inclui mindfulness , aceitação, a relação terapêutica, valores, espiritualidade, meditação, foco no momento presente, entre outros tópicos. Essas terapias surgiram tanto das alas mais comportamentais quanto das mais cognitivas. Elas diferem do que é mais usual na tradição comportamental

não apenas no foco, mas também na aplicação. Com tantas mudanças, elas são difíceis de serem caracterizadas utilizando-se das tradicionais distinções entre terapias comportamentais, cognitivo-comportamentais e outras (Hayes et al., 2004b). Assim sendo, estudos que analisem e divulguem as novas terapias contextuais são essenciais para avançar a pesquisa com tais psicoterapias no Brasil e a produção de novas práticas baseadas em evidência do país. O objetivo deste estudo é realizar uma breve exposição da Terapia Comportamental Dialética e Terapia de Aceitação e Compromisso - ambas terapias consideradas de terceira onda ou contextuais -, dos seus pressupostos teóricos e das inovações que trazem às terapias cognitivo-comportamentais, levando em consideração seu contexto histórico, aplicação no mundo e divulgação no Brasil.

CAPÍTULO 1

A Terapia Cognitivo-Comportamental e seu contexto histórico

Terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ser melhor denominada como terapias cognitivas e comportamentais, considerando que muitos tratamentos podem ser tidos como TCC. Tais terapias dão ênfase a uma integração entre teorias, como o cognitivismo e o comportamentalismo. São terapias relativamente breves, orientadas para objetivos e focadas na resolução de problemas e se baseiam na premissa de que a mudança cognitiva é possível e pode levar à mudança comportamental (Dobson, 2002). Um dos grandes objetivos da TCC é ajudar os clientes a lidar com emoções irracionais ou perturbadoras, cultivando em seu lugar emoções racionais e saudáveis (Robertson, 2010). Na medida do possível, enfatiza-se que as crenças devem ser testadas na prática. Mahoney e Ainkoff (1978) propõem uma classificação para as diferentes terapias cognitivo-comportamentais, dividindo-as em três tipos: terapias de reestruturação cognitiva, de habilidades de coping e de resolução de problemas. A diferença se daria no grau em que cada uma trabalha para ocorrerem mudanças cognitivas ou comportamentais. A TCC é a escola predominante de psicoterapia baseada em evidências. Em 2000, já apresentava mais de trezentos testes clínicos corroborando sua eficácia. Pode-se dizer que é o

cognitivo é revelar regras, valores e pressuposições que o paciente tenha desenvolvido ao longo de sua vida e avaliar se algum desses predispõe o paciente a algum transtorno mental. Aaron Beck e Albert Ellis descreveram o núcleo da TCC na década de 1960. Mas as abordagens cognitivas para a psicoterapia não evoluíram para uma escola de pensamento até a década de 1970, quando a Terapia Racional Emotiva Comportamental de Ellis e, posteriormente, a terapia cognitiva de Beck começaram a se desenvolver em popularidade (Robertson, 2010). Durante todos esses anos, a TCC passou por muitas mudanças, mas sempre manteve seu comprometimento com a ciência, teoria e boas práticas (Hayes, Follette & Linehan, 2004a). Após os esforços iniciais para tratar a depressão, o modelo avançou em direção ao tratamento de diversos transtornos encontrados na clínica, como Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtorno de Pânico, transtornos alimentares, abuso de drogas e distúrbios do pensamento associados às psicoses. A terapia também foi aplicada - com modificações - em todas as idades e em diferentes contextos (Beck, Davis & Freeman, 2015). O legado de Beck atrai interesse de clientes e profissionais no mundo inteiro e gerou centros de treinamento e tratamento ao redor do globo. Assim, “o interesse em abordagens cognitivas por parte de terapeutas aumentou em 600% entre 1973 e 1989” (Norcross, Prochaska, & Gallagher, 1989, citado por Prochaska & Norcross, 2003). Sobre a TCC, Prochaska e Norcross (2003) expressam: Probably the safest prediction about cognitive therapy’s direction is that it is moving up. Cognitive-behavioral therapies in general, and Beckian cognitive therapy in particular, are the fastest growing and most heavily researched orientations on the contemporary scene. The reasons for its current popularity are manifest: cognitive therapy is manualized, relatively brief, extensively evaluated, medication compatible, and problem focused. Let us put it this way: if we were forced to purchase stock in any of the psychotherapy systems, Beck’s cognitive therapy would be the blue-chip growth selection for the next five years. (p. 369)

A ênfase subsequente voltou-se para a necessidade de todos os terapeutas - quando possível - utilizarem práticas baseadas em evidências, em vez de procedimentos que não foram testados de maneira rigorosa. Da mesma forma, o treinamento de todos os profissionais da saúde mental deveria ser fundamentado em tratamentos que estão estabelecidos conforme

a literatura da área. Nunca negando, é claro, o fato de que clínicos estão em constante contato com diferentes problemas de vários pacientes - requerendo, assim, adaptações flexíveis dos princípios terapêuticos estabelecidos (Barlow, 2014). A partir dos anos 1990, terapias contextuais começaram a surgir. Entretanto, apenas alterações pontuais não são suficientes para mudarem um paradigma. A terceira geração da terapia cognitivo-comportamental foi definida por Hayes e colaboradores (2004b) da seguinte maneira: Grounded in an empirical, principle-focused approach, the third wave of behavioral and cognitive therapy is particularly sensitive to the context and functions of psychological phenomena, not just their form, and thus tends to emphasize contextual and experiential change strategies in addition to more direct and didactive ones. These treatments tend to seek the construction of broad, flexible, and effective repertoires over an eliminative approach to narrowly defined problems, and to emphasize the relevance of the issues they examine for clinicians as well as clients. The third wave reformulates and synthesizes previous generations of behavioral and cognitive therapy and carries them forward into questions, issues, and domains previously addressed primarily by other traditions, in hope of improving both understanding and outcomes. (p. 658; itálico no original).

Assim definidas, as novas terapias levam adiante a tradição comportamental, mas abandonam um compromisso único ao condicionamento de primeira ordem, adotam mais pressupostos contextuais, mais estratégias experienciais e de mudança indireta, além de estratégias diretas e ampliam consideravelmente o foco da mudança (Hayes et al., 2004a).

CAPÍTULO 2

O que é a Terapia Comportamental Dialética (TCD)?

Em 1980, Marsha Linehan, psicóloga norte-americana, estava trabalhando com sua equipe para encontrar maneiras mais eficazes de tratar o comportamento suicida. Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é marcado por comportamentos impulsivos,

identificar os desencadeantes de comportamentos disfuncionais e as contingências que estão mantendo esses comportamentos (Van Dijk, 2013). A aliança terapêutica é muito enfatizada. O terapeuta faz todos os esforços para desenvolver uma aliança profunda e genuína com seu cliente, que pode ser usada de diversas maneiras para ajudar os clientes a fazer as mudanças necessárias. Os clientes são ensinados a aceitarem as circunstâncias do momento e então aprendem ferramentas para ajudá-los a mudar comportamentos que são prejudiciais de alguma forma. Ter um relacionamento saudável é especialmente importante para os clientes que têm problemas para regular suas emoções (Van Dijk, 2013). A TCD define validação como empatia somada à comunicação de que a perspectiva do cliente é válida em algum aspecto. Pela empatia, o terapeuta compreende o mundo através da perspectiva do cliente. Com a validação, o terapeuta ativamente informa que tal perspectiva faz sentido. Linehan (1997) descreveu seis estágios de validação, resumidamente sendo:

  1. Escutar com total atenção, estar atento;
  2. Espelhar com precisão o que o cliente estiver comunicando;
  3. Articular emoções, pensamentos ou padrões comportamentais;
  4. Descrever como o comportamento do cliente faz sentido, tendo em vista seu passado ou sua biologia;
  5. Procurar ativamente pelas maneiras que o comportamento do cliente faz sentido nas circunstâncias atuais e comunicar;
  6. Ser radicalmente genuíno.

A ideia é sempre tentar validar o cliente no estágio mais elevado possível. Em cada estágio, o terapeuta não deve se ater apenas aos sinais verbais. Com muita frequência, os sinais não-verbais são mais relevantes. Um erro comum é a validação permanecer apenas no campo verbal. É tentador considerar que validação é uma forma de facilitar a mudança de comportamento no cliente. Entretanto, ela é um fim em si mesmo. Validação pode produzir avanços terapêuticos quando é utilizada de maneira ativa e precisa. A ativação emocional - efeito comum da invalidação - é reduzida através de validação. Da mesma forma, validar permite ao cliente sentir emoções mais adaptativas à situação. A habilidade de validação do

terapeuta gira em torno de quais aspectos da experiência serão validados, assim como o formato dessa validação (Koerner, 2012). Em praticamente toda situação clínica será bem-vista a validação quanto à importância dos problemas enfrentados pelo cliente, que sua dor psicológica é justificada e que seus objetivos de vida fazem sentido - mesmo que os métodos não sejam os mais funcionais. Entretanto, é fundamental validar o entendimento que o cliente faz da sua vida no momento atual, assim como suas visões quanto a possíveis mudanças e como devem ser realizadas. Quando não há validação apropriada, a colaboração do cliente se torna limitada e, portanto, os avanços terapêuticos se tornam mais lentos (Koerner, 2012). Durante a terapia, haverá situações em que os comportamentos do cliente serão simultaneamente válidos e inválidos. Por exemplo, sentir raiva de si mesmo pode ser justificado (válido), mas contraproducente (inválido) ao mesmo tempo. Em outras situações, será difícil entender o que validar. Um exemplo é automutilação, quando em resposta a um episódio de extremo sofrimento psicológico, o comportamento faz sentido porque produz alívio frente a emoções insuportáveis. Nesse caso, a dor insuportável e a tentativa de aliviá-la devem ser validadas. A estratégia de alívio - autolesão - não deve ser validada (Koerner, 2012). O terapeuta deve ativamente procurar pelo que é válido na experiência do cliente e sempre assumir que algo é válido. Entendendo o cliente, pode-se conhecer o que é válido e inválido especificamente para ele. Na validação, precisão é fundamental. Um cliente pode expressar um desejo na terapia que atropele a agenda da sessão. Nesse caso, valida-se o objetivo do cliente, mas sem validar o comportamento de controlar a sessão. Segundo Koerner (2012), quando o terapeuta é genuíno e empático e consegue descrever com precisão o que é válido e inválido, ele “não precisa andar pisando em ovos”. Sobre a “dialética”, vale ressaltar que, ao criar seu modelo de tratamento, Linehan foi fortemente influenciada pela teoria da dialética. Van Dijk (2013) explica que pensar dialeticamente significa olhar para ambas as perspectivas em uma situação e, em seguida, trabalhar para sintetizar essas perspectivas possivelmente opostas. Em outras palavras, clientes e terapeutas precisam aprender a tolerar a ideia de que duas coisas aparentemente opostas podem coexistir. Por exemplo, a afirmação de que os clientes estão fazendo seu melhor e, ao mesmo tempo, precisam se esforçar mais. Devemos praticar a aceitação ao mesmo tempo que continuamos a trabalhar em direção à mudança. Na TCD, esta é a dialética

emocional reagem imediatamente e têm alta sensibilidade às situações. A segunda seria que elas sentem e expressam intensamente a emoção e essa intensidade também desregula os processos cognitivos. Por último, elas demoram a retornar para a linha basal. Tais características são predisposições biológicas. Koerner e Dimeff (2007) apontaram que diferenças no sistema nervoso central possuem um papel importante na estabilidade emocional de uma pessoa. Essas diferenças podem estar relacionadas a uma variedade de fatores, desde genética até traumas intrauterinos ou na infância. Regulação emocional refere-se aos processos que usamos para diminuir, manter ou aumentar uma emoção ou partes dela (Werner & Gross, 2010). É importante notar que regulação emocional não significa suprimir ou esconder emoções. Nesses casos, a emoção ainda existe e está desregulada (Van Dijk, 2013). Conforme a Teoria Biossocial de Linehan (1993), a desregulação emocional, compreendida como vulnerabilidade emocional atrelada à incapacidade de regular emoções, decorre de uma predisposição biológica e da interação indivíduo-ambiente. Há uma abundância de pesquisas que mostram que algumas pessoas nascem mais emocionalmente sensíveis do que outras (Van Dijk, 2013). No entanto, não são todas as pessoas que nascem emocionalmente sensíveis que desenvolvem problemas de saúde mental. A predisposição biológica é apenas uma parte da equação. A outra parte é o ambiente em que a pessoa cresce. Segundo Linehan (1993), os problemas tendem a surgir quando uma pessoa biologicamente vulnerável cresce em um ambiente invalidante e haveria três principais tipos de ambientes familiares invalidantes: famílias caótica, perfeita e típica. Miller, Rathus e Linehan (2007) definem um ambiente invalidante como aquele em que há uma tendência a negar ou responder de forma imprevisível e inapropriada às experiências privadas da criança, como emoções, sensações físicas e pensamentos. Em outras palavras, quando uma criança expressa uma emoção (experiência privada), as pessoas ao seu redor a julgam por essa experiência. Um exemplo seria dizer que ela não deveria se sentir assim ou que está exagerando; que sua emoção é “feia” ou minimizar seu sofrimento; puni-la por falar sobre sua emoção ou ignorá-la. A expectativa é que a criança deveria poder controlar a expressão de suas emoções (o que, em virtude da predisposição biológica, não é realista) e não deveria expressar sentimentos "negativos". Quando ela não consegue alcançar essas expectativas, o ambiente a pune por comunicar essas experiências “negativas”. Da mesma forma, seu ambiente apenas responde às suas necessidades emocionais quando elas se

intensificam, ensinando-a a alternar entre esconder suas emoções e comunicá-las de maneira extrema para obter ajuda (Koerner & Dimeff, 2007). Outra característica dos ambientes invalidantes é que muitas vezes a mensagem transmitida à criança é que ela deveria saber resolver com maestria e facilidade os problemas que ela está vivenciando. Entretanto, é justamente nesse tipo de ambiente que habilidades de regulação emocional e resolução de problemas raramente são ensinadas. O resultado é um fracasso em regular suas emoções e consequente auto-invalidação (Van Dijk, 2013). Crianças podem nascer em famílias nas quais não há um encaixe entre necessidades emocionais e apoio emocional adequado. Um exemplo seria uma criança criativa em uma família cujos pais e irmãos são convencionais e interpretam sua criatividade como uma perda de tempo. Esses pais podem ter a melhor intenção possível, mas a desencorajam na busca de sua criatividade porque não pensam que é o melhor para a criança. Um infante com vulnerabilidade emocional vai crescer sentindo que seu desejo de ser criativo é errado e que, portanto, há algo errado consigo mesmo por desejar. Ela também se sentirá mal compreendida e diferente do resto da família (Van Dijk, 2013). Algumas famílias têm desafios adicionais que tornam difícil fornecer um ambiente de validação. Talvez os próprios pais tenham sido invalidados quando crianças e, portanto, não aprenderam a validar a si e aos outros. Pais com problemas de saúde mental, abuso de substâncias ou financeiramente instáveis terão muito mais dificuldade em proporcionar um ambiente emocionalmente saudável para seus filhos (Van Dijk, 2013). Também é importante notar que crianças emocionalmente sensíveis podem ser a causa de pelo menos algum problema na família. Miller e colaboradores (2007) ressaltam que ter uma criança emocionalmente vulnerável na família pode ser tão complicado que o funcionamento da família se enche de estresse e pode resultar em um ambiente invalidante. Nesse sentido, uma criança emocionalmente vulnerável em uma família onde não há essa característica pode ser mal compreendida, o que por si só gera invalidação. Com o passar do tempo, pode surgir a ideia de que há algo de errado com ela. Negligência pode ser tão prejudicial quanto os demais tipos de abuso. A criança descobre que suas necessidades, desejos e emoções serão ignorados (invalidados) - a menos que ela intensifique seus comportamentos até o ponto em que seus responsáveis não podem mais ignorá-la (Van Dijk, 2013). Em termos de ambientes invalidantes, um ambiente abusivo é o mais danoso de todos. O abuso pode manifestar-se de muitas formas, sendo as principais o abuso físico e sexual. O

modificações até o final da década de 1980. Seu nome vem de uma das suas principais ideias: aceitar o que está fora do seu controle e comprometer-se a tomar ações que deixem a vida mais plena. O objetivo é ajudar a criar uma vida plena e significativa, enquanto aceitamos o sofrimento psicológico que a vida traz. A Terapia de Aceitação e Compromisso busca ensinar habilidades para lidar com pensamentos e sentimentos dolorosos, de tal forma que eles passem a gerar muito menos impacto e influência. Muitas vezes, quando experimentamos pensamentos, sentimentos e sensações dolorosas, respondemos de maneira prejudicial a longo prazo. Por isso, um dos principais pontos da terapia é ensinar as pessoas a lidar com a dor de forma mais eficaz através do uso de habilidades de mindfulness. O conceito de mindfulness , de acordo com Harris (2009), é encontrado em diferentes textos espirituais e religiosos. A Psicologia ocidental apenas recentemente passou a interessar-se pelos benefícios das práticas de mindfulness. Sua definição varia de diferentes formas, mas todas elas têm em comum um foco atencional com flexibilidade, abertura e curiosidade. Dessa forma, entende-se que é um processo atencional e não de pensamento. Frente a momentos de sofrimento, pode-se adotar uma postura de abertura e curiosidade em vez de evitar ou lutar contra a experiência. Por último, compreende-se que flexibilidade atencional é a habilidade de, conscientemente, direcionar, ampliar ou focar a atenção em diferentes aspectos da experiência. Conforme Harris (2009), poucas pessoas entendem ACT e aplicam seus princípios de imediato. Um dos motivos é que o modelo desafia o senso comum e reformula as regras básicas da maioria das teorias psicológicas ocidentais. A maioria dos modelos de terapia são focados na redução de sintomas e na necessidade dos pacientes reduzirem essa sintomatologia antes de poderem levar uma vida melhor. Já na ACT, tem-se uma posição radicalmente diferente. Assim, a terapia entende que: ● Qualidade de vida depende principalmente de ação consciente e orientada por valores. ● Isso é possível, independentemente de quantos sintomas você tenha, desde que você responda seus sintomas com atenção plena ( mindfulness ). Embora a terapia normalmente reduza os sintomas, a redução - como um fim em si mesmo - nunca será um objetivo na ACT. Assim, quando habilidades são ensinadas ao cliente, o objetivo não é redução de seus sintomas, mas sim operar uma mudança fundamental no seu relacionamento com seus sintomas. O fato dos sintomas diminuírem é considerado um "bônus" e não o principal ponto da terapia. Mesmo assim, em quase todos os

ensaios e estudos realizados em ACT, há uma redução significativa dos sintomas - embora, às vezes, ocorra mais lentamente do que em outros modelos (Harris, 2009). Sobre isso, Hayes (2004) explica ser uma importante diferença com relação à TCC tradicional. Enquanto na última haverá o pressuposto de que os clientes precisam primeiramente lidar com emoções, distorções cognitivas e pensamentos desagradáveis antes de uma mudança comportamental ser possível, a ACT não adota essa postura. Entretanto, Hofmann e Asmundson (2008) desafiam essa afirmação. Os autores informam que um dos objetivos da TCC tradicional é a redução ou eliminação do sofrimento psicológico e que a redução dos sintomas está dentro dele. O processo terapêutico se dá através da identificação e modificação de distorções cognitivas causalmente ligadas à interpretação dos sintomas e consequente sofrimento psicológico, diferente de uma tentativa de modificação direta dos sintomas. Sobre a relação terapêutica e a autenticidade do próprio terapeuta, Harris (2009) indica que o papel do terapeuta é ser ele mesmo, usar a criatividade e sentir-se livre para adaptar, modificar e reinventar as ferramentas e técnicas (desde que permanecendo fiel ao modelo). Dessa forma, entende-se que há um enorme espaço para criar e inovar. No entanto, como a terapia é tão diferente da maioria das outras abordagens, a maioria dos terapeutas inicialmente se sentem ansiosos, vulneráveis ou confusos.

Por trás da ACT: Teoria dos Quadros Relacionais (Relational Frame Theory)

ACT é baseada em princípios comportamentais básicos e sua expansão na linguagem e cognição humanas, como explicado pela Teoria dos Quadros Relacionais (Hayes, Barnes-Holmes & Roche, 2001). A Teoria explica a origem de nossas habilidades verbais. É importante entender essa teoria em termos gerais porque toda a ACT está vinculada a ela. Também esclarece por que ACT, que é uma das TCCs, difere tanto da TCC tradicional. Segundo Törneke (2010), a Teoria dos Quadros Relacionais (RFT) explica que - ainda crianças - aprendemos a relacionar eventos entre si com base em convenções sociais. Por um "evento", entende-se qualquer experiência que uma pessoa possa ter. Ver um objeto, sentir um odor, tocar em outra pessoa, pensar em algo e sentir uma emoção são todos eventos. Como resultado, aprendemos a responder a um evento com base em sua relação atribuída a outro evento, em vez de nos basearmos nas propriedades físicas desses eventos. Um exemplo é que uma criança pequena tem a tendência a preferir uma moeda de 25 centavos à uma de