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Teorias da Aprendizagem: Influências da Psicologia Experimental, Resumos de Psicologia

referindo a uma única teoria, mas sim a um leque delas, como as de Pavlov, Watson, Guthrie,. Thorndike, Hull ou Skinner. Outro grupo que fez oposição aos ...

Tipologia: Resumos

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Alessandra Bizerra
Suzana Ursi
Licenciatura em ciências · USP/ Univesp
6.1 Início de conversa
6.2 O desenvolvimento da psicologia e as concepções de aprendizagem
6.3 Algumas teorias da aprendizagem
6.3.1 Início das abordagens behavioristas e suas principais características
6.3.2 Behaviorismo norte-americano
6.3.3 Conexionismo
6.3.4 Behaviorismo radical de Skinner
6.4 Considerações finais
Referências
Introdução aos Estudos da Educação I
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TEORIAS DA APRENDIZAGEM:
INFLUÊNCIAS DA PSICOLOGIA EXPERIMENTAL
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Alessandra Bizerra Suzana Ursi

Licenciatura em ciências · USP/ Univesp

6.1 Início de conversa 6.2 O desenvolvimento da psicologia e as concepções de aprendizagem 6.3 Algumas teorias da aprendizagem 6.3.1 Início das abordagens behavioristas e suas principais características 6.3.2 Behaviorismo norte-americano 6.3.3 Conexionismo 6.3.4 Behaviorismo radical de Skinner 6.4 Considerações finais Referências Introdução aos Estudos da Educação I

TEORIAS DA APRENDIZAGEM: INFLUÊNCIAS DA PSICOLOGIA EXPERIMENTAL

Introdução aos Estudos da Educação I 6.1 Início de conversa Perguntas como “o que aprendemos?”,“o que sabemos?” foram e são feitas pelos seres humanos ao longo de toda nossa história. Muitos filósofos embrenharam-se na tarefa de respondê-las e geraram ideias e concepções que nortearam e norteiam nossas ações. Ainda hoje, buscamos respostas a elas, e novas áreas têm sido incorporadas ao time dos campos do conhecimento humano, que tradicionalmente realizam essa tarefa. Uma delas é a Psicologia, a ciência que estuda a mente e o comportamento humanos e busca saber como a experiência afeta o pensamento e a ação, como se dá a transformação dos sujeitos e como o social influencia o individual. É dessa área de conhecimento que provêm muitas teorias usadas na elaboração de políticas públicas e de diretrizes educacionais em diversos países, por se constituírem como concepções de forte impacto e resultados para o processo educativo. Por esse motivo, abordaremos as teorias de aprendizagem provenientes principalmente da Psicologia, enfatizando algumas de suas principais abordagens, como as perspectivas comportamentalista, cognitivista e sociocultural. Por falta de tempo e espaço frente ao caráter introdutório desta disciplina, nesta aula, faremos uma breve incursão pelos temas da aprendizagem sob a ótica da Psicologia Experimental. Na próxima aula, ampliaremos nossa visão sobre a aprendizagem por meio do estudo de outras perspectivas da Psicologia, bem como por meio de rápidas pinceladas sobre áreas como a Biologia do Desenvolvimento e a Antropologia. Boa leitura! Figura 6.1: A Psicologia estuda a mente e o comportamento humanos e busca saber como a experiência afeta o pensamento e a ação, como se dá a transformação dos sujeitos e como o social influencia o individual.

Introdução aos Estudos da Educação I Passamos a encontrar, então, a partir do final do século XIX, tentativas sistemáticas de entender os processos mentais por meios científicos. Surgem assim várias escolas da psicologia que busca- vam se aprofundar em questões específicas. Uma das primeiras escolas foi a Introspectiva , que tomou para si a tarefa de compreender a consciência humana por meio de processos mentais, estimulando as pessoas a examinarem seus próprios sentimentos e motivações, e tomando-os como base para generalizações. Um importante representante dessa escola é William James, filósofo, fisiólogo e psicólogo estadunidense ( Figura 6.3 ), que se valeu de suas próprias experiências para entender conceitos como atenção, memória ou fluxo de cons- ciência (esta última expressão, cunhada por ele mesmo). Muitas foram as críticas aos estudos introspectivos dos processos conscientes humanos, ressaltando a esterilidade dos resultados, bem como a subjetividade das pesquisas. Dois grupos sobressaíram-se em oposição: os behavioristas e os gestaltistas. Embora os behavioristas concordassem com os introspectivos na proposta de que a psicologia deveria identificar os elementos mais simples da atividade humana para, então, especificar as regras pelas quais esses elementos se articulam para produzir fenômenos complexos, discordavam em relação a quais seriam esses aspectos. Para os behavioristas, o estudo científico da psicologia deveria limitar-se à análise dos comportamentos observáveis, bem como dos estímulos que os controlam. Nessa visão, os estímulos (condições que levam ao comportamento) e as respostas a eles (comportamentos decorrentes) seriam os únicos aspectos do compor- tamento que poderiam ser observados. Temas difíceis como mente e pensamento deveriam ser rejeitados. Vale ressaltar que os behavioristas iniciais não ignoravam ou desconsideravam os processos mentais mais complexos (chamados de superiores), como a lembrança voluntária ou raciocínio dedutivo, mas defendiam que não poderiam ser analisados cientifi- camente. Como descreve John Watson: Figura 6.3: William James (1842 – 1910), representante da Escola Introspectiva. Figura 6.4: Para os behavioristas, o estudo científico da psicologia deveria limitar-se à análise dos comportamentos observáveis, bem como dos estímulos que os controlam.

6 Teorias da Aprendizagem: Influências da Psicologia Experimental [...] todas as escolas de psicologia, exceto a do behaviorismo, afirmam que a “consciência” constitui assunto da psicologia. O behaviorismo, ao contrário, sustenta que o assunto da psicologia humana é o comportamento ou as atividades do ser humano. O behaviorismo assevera que a “consciência” não é um conceito definível, nem utilizável; trata-se simplesmente de outra palavra para o termo “alma”, usado em tempos mais antigos. Desse modo, a antiga psicologia é dominada por um tipo sutil de filosofia religiosa” (1913 apud branSford, brown; C oCking, 2007). É importante contextualizar, como ressalta Lefrançois (2008), que a orientação behaviorista deu origem a diferentes teorias de aprendizagem relacionadas principalmente a eventos objetivos, como estímulos, respostas e recompensas. E várias são as teorias que consideram esses elementos como centrais. Dessa forma, quando falamos em behaviorismo não estamos nos referindo a uma única teoria, mas sim a um leque delas, como as de Pavlov, Watson, Guthrie, Thorndike, Hull ou Skinner. Outro grupo que fez oposição aos estudiosos da Introspecção foi o da Psicologia da Gestalt. Os gestaltistas reagiram contra Wundt (e também contra os behavioristas) por discordarem de sua tendência em analisar a atividade humana em seus aspectos “moleculares”. Rejeitavam a proposta de que a partir dos processos psicológicos mais simples seria possível explicar os processos mais complexos. Defendiam, ao contrário, uma abordagem globalizante no estudo da consciência, bem representada na afirmação de Wertheimer ( Figura 6.5 ) de que “o todo é maior que a soma das partes”. Por meio dessa perspectiva, toda experiência mental organiza-se na forma de estruturas que, quando incompletas, possuem uma tendência para se completarem. Assim, a melodia de uma música não é somente uma soma de notas individuais e pausas, ela é o todo, a gestalt (“ gestalt ” significa “todo”). Da Figura 6.5: Max Wertheimer (1880 – 1943), psicólogo checo, um dos fundadores da Teoria da Gestalt. Voltaremos ao behaviorismo mais adiante.

6 Teorias da Aprendizagem: Influências da Psicologia Experimental

Mas como isso aconteceria?

Para Wertheimer (1959, apud lefrançoiS, 2008), uma sugestão seria não apresentar proble- mas que possibilitem a solução por meio da memorização de uma série de etapas (isso poderia levar a uma disposição de responder sempre da mesma forma, mesmo que o aluno se depare com outras possibilidades de resolução). Outra sugestão é que os problemas sejam apresentados em situações significativas da vida real, a fim de que os estudantes percebam sua conexão com o dia a dia. Além disso, os estudantes precisariam ser motivados a entender o problema, mais do que copiar comandos de resolução. Os aprendizes deveriam, portanto, ser estimulados a solu- cionar o problema por eles mesmos, ou seja, ter seus próprios insights , ao invés de o professor simplesmente transmitir as perguntas e as respostas. Se você estiver atento(a), verá que essas ideias são comuns a uma tendência muito difundida nas escolas atuais. Na sua opinião, qual abordagem educativa assemelha-se bastante às aplicações da Gestalt em sala de aula? A psicologia da Gestalt alemã é considerada uma das raízes do cognitivismo e dá suporte a uma abor- dagem bastante conhecida dentro do cognitivismo, que é o construtivismo. Os métodos dessa abordagem estimulam a aprendizagem por descoberta, atividades cooperativas e participação ativa do aluno no processo de ensino/aprendizagem. Esses métodos são compatí- veis com teorias como a de Bruner e Piaget. Figura 6.7 Os gestaltistas permitiram outras visões educativas: professores não deveriam apresentar aos estudantes problemas em que possam testar várias possibilidades até encontrarem aquela que se encaixa, mas sim apresentar situações de aprendizagem em que possam ocorrer insights. Em resumo, observamos que a rejeição aos introspectivos gerou dois grupos fortes (os behavioristas iniciais e os gestaltistas) que deram origem a muitas das diferentes linhas de pesquisa sobre aprendizagem que conhecemos hoje. Nesta aula e na seguinte, analisaremos algumas delas. Optamos por detalhar as teorias beha- vioristas e cognitivistas mais conhecidas para, em seguida, apresentar algumas teorias da aprendizagem bem atuais.

Introdução aos Estudos da Educação I Mas antes de prosseguirmos, temos uma questão importante a retomar: o que é aprendizagem? Você ainda se lembra da resposta que deu no início desta aula, a esta pergunta? Como seus colegas entendem a aprendizagem? Perceberemos, a seguir, que há diferentes possibilidades de compreendermos o conceito de aprendizagem. Sua tarefa, ao final dessas duas aulas sobre aprendizagem, será se posicionar em relação a essas abordagens. 6.3 Algumas teorias da aprendizagem Faremos agora um rápido passeio pelas diferentes perspectivas e teorias sobre a aprendizagem. Escolhemos duas abordagens importantes dos estudos da aprendizagem que influenciaram fortemente a Educação (a behaviorista e a cognitivista) e optamos por trazer ainda teorias contemporâneas, que têm tido grande aceitação entre os pesquisadores do Ensino.Começaremos com quatro teorias behavioristas (Condicionamento clássico, Behaviorismo norte-americano, Conexionismo e Behaviorismo radical), para então conhecermos, na próxima aula, as ideias de três cognitivistas: Bruner, Piaget e Vigotski. Figura 6.8: O que é aprendizagem? Como seus colegas entendem a aprendizagem. Figura 6.9: Escolhemos duas abordagens importantes dos estudos da aprendi- zagem que influenciaram fortemente a Educação: a behaviorista e a cognitivista.

Introdução aos Estudos da Educação I Além de Wundt, outros psicofísicos foram muito importantes para o desenvolvimento da Psicologia Experimental. Um nome bastante conhecido é Ivan Pavlov ( Figura 6.12 ). É bem provável que você já tenha ouvido falar desse pesquisador russo ou de seus estudos sobre a salivação em cães. Pavlov formou-se em medicina e trabalhou quase exclusivamente com temas fisiológicos, mais diretamente com os processos digestivos. Seus estudos sobre o comportamento se originaram quando já havia passado dos 50 anos e se prolongaram por mais de 30 anos. Sua reputação internacional era considerável, sendo um dos poucos cientistas soviéticos que podia criticar abertamente o regime bolchevique (lefrançoiS, 2008). Pavlov insistia que era fisiologista e não psicólogo. Como médico e fisiologista, ganhou o Prêmio Nobel de 1904 pelo seu trabalho sobre digestão. O caráter divertido dessa história se dá pelo fato de que Pavlov ficou conhe- cido não tanto por esse trabalho, mas por um experimento que, de certa forma, resultou de uma observação acidental. Ao estudar os processos digestórios, Pavlov percebeu que os cães utilizados no experimento, que já estavam no laboratório havia algum tempo, começavam a salivar antes de serem alimentados. Para tentar explicar essa salivação antecipada, Pavlov desenvolveu uma série de experimentos que ficou conhecida como Condicionamento clássico ( Figura 6.13 ). (^) Figura 6.12: Ivan Petrovich Pavlov (1849 – 1936), fisiologista russo. Figura 6.13: Ilustração de procedimento experimental desenvolvido por Pavlov no início do século XX, para estudo da salivação em cães.

6 Teorias da Aprendizagem: Influências da Psicologia Experimental A concepção de aprendizagem que Pavlov desenvolveu é que depois de um certo número de ensaios, um cão deveria fazer algo que não fazia antes. Ele teria então aprendido a fazer algo. Nessa perspectiva, a comida pode ser considerada um estímulo incondicionado (US), ou seja, é um evento ambiental que afeta o organismo e provoca uma resposta que não envolve aprendizagem. A salivação é uma reação muscular ou glandular à presença de comida. A salivação em resposta ao alimento é chamada, portanto, de resposta incondicionada (UR) ( Figura 6.14 ). Os experimentos de Pavlov demonstraram que se um estímulo incondicionado for associado com uma certa frequência a outro estímulo (CS: estímulo condicionado), esse novo estímulo pode provocar resposta semelhante (CR) àquela inicialmente associada somente ao UR. Exemplificando Se toda vez que apresentarmos um prato de comida a um cachorro (US), apresentarmos um estí- mulo sonoro (CS), como o som de uma campainha, após algumas associações, o som da campainha produzirá uma resposta de salivação independentemente da presença de comida. A salivação em reposta à campainha passa a ser uma resposta condicionada (CR). Figura 6.14: Representação esquemática do experimento desenvolvido por Pavlov sobre Condicionamento clássico.

6 Teorias da Aprendizagem: Influências da Psicologia Experimental Segundo sugestões de Lefrançois (2008), os professores deveriam fazer o possível para maximizar os estímulos incondicionados agradáveis na sala de aula. O contrário se aplica aos negativos: é impor- tante tentar diminuir seu número e potência. Para isso, seria necessário que o professor soubesse que estímulo é associado a que, na sala de aula. É realmente instigante pensar em como as ideias de Pavlov, extraídas em grande parte de experimentos com cães e campainhas há mais de um século, continuam a embasar uma série de estudos e práticas em áreas como a Psicologia e a Educação e em locais como a indústria e as empresas. 6.3.2 Behaviorismo norte-americano Como vimos, a psicologia introspectiva sofreu ataques de diferentes grupos. Wundt, que era um introspectivo analítico e fazia críticas à introspecção clássica, também não saiu ileso. Seu foco na contemplação e na especulação, diziam seus críticos, teria deixado a psicologia estagnada, sem descobertas significativas por mais de 40 anos. Foi um jovem estadunidense, John Watson ( Figura 6.16 ), que claramente estabeleceu uma ruptura com a introspecção alemã e, afirmando que a matéria-prima da psicologia deveria ser o comportamento, iniciou o que conhecemos hoje por behaviorismo ou comportamentalismo. Em seu “manifesto behaviorista” intitulado A psicologia como o behaviorista a vê , de 1913, marcou seu território: Figura 6.15: Experiência de Pavlov. Agora é a sua vez... Após leitura sobre Pavlov e assistir ao vídeo sobre o Condicionamento clássico na BGSU , acesse o ambiente virtual e realize a atividade proposta. Figura 6.16: John Broadus Watson (1878 – 1958), considerado o fundador do behaviorismo norte-americano.

Introdução aos Estudos da Educação I A psicologia como o behaviorista a vê é um ramo experimental puramente objetivo das ciências naturais. Seu objetivo teórico é a previsão e o controle do comportamento. A introspecção não constitui parte essencial de seus métodos, nem o valor científico de seus dados depende da facilidade com que eles podem ser interpretados em termos de consciência. O behaviorista, em seus esforços para conseguir um esquema unitário da resposta animal, não reconhece linha divisória entre homens e animais. O comportamento do homem, com todo o seu refinamento e complexidade, constitui apenas uma parte do esquema total de investigação do behaviorista. (watSon, 1913). Para Watson, a consciência é um conceito irrelevante, pois, a seu ver, não é definível nem uti- lizável. Já o comportamento corresponde a respostas observáveis e que podem ser relacionadas a outras condições que o antecedem e o procedem. Assim, o behaviorismo pode “oferecer con- dições para prever e controlar os seres humanos: numa dada situação, dizer o que o ser humano fará; e quando o homem estiver em ação, ser capaz de dizer por que ele está reagindo daquela maneira.” (watSon, 1928). A concepção de Watson sobre a aprendizagem é totalmente baseada no conceito de condicionamento clássico de Pavlov. O que Watson faz é ampliar essa ideia para o comportamento emocional. Em outras palavras, para Watson, nascemos praticamente iguais, com um pequeno repertório de respostas como medo, raiva e amor, dirigidas a alguns estímulos específicos. Ao longo da vida, aprendemos a associar esses comportamentos a outros estímulos, muitas vezes sem significado emocional. Para ilustrar, desenvolveu uma demonstração bastante conhecida (e polêmica), em que tentou condicionar um corajoso bebê de 11 meses a sentir medo de um rato branco (e, por transferência, de outros elementos relacionados com os quais já havia brincado anteriormente). Acesse o vídeo O pequeno Albert que registra esse “experimento”: http://youtu.be/g4gmwQ0vw0A. Agora é a sua vez... Antes de prosseguirmos participe do fórum As experiências com o pequeno Albert e elabore duas críticas ao que foi demonstrado no vídeo e argumente o seu ponto de vista.

Introdução aos Estudos da Educação I Ao estudar os mecanismos empregados pelos gatos para escapar de suas caixas-problema, Thorndike via duas possibilidades de solução: ou os gatos poderiam tentar abrir a caixa dezenas ou centenas de vezes ou poderiam “analisar” a situação e ter um insight para abri-la. Após numerosas observações, Thorndike conclui que os gatos conseguem abrir a caixa por tentativa e erro. Assim, em uma determinada situação, um indivíduo emite um certo número de repostas, dentre as quais uma (ou algumas) resulta em solução ou em “um estado satisfatório”. Nesse processo, forma-se uma conexão entre a resposta e a situação, que seria aprendida ou, como dizia Thorndike, gravada. Para ele, é assim que as pessoas aprendem: estabelecem conexões entre estímulos e respostas, vínculos estes que possuem a forma de conexões neurais. Daí surge o nome dado a suas ideias: conexionismo. Nessa perspectiva, a contiguidade (a explicação para a aprendizagem fornecida pelas teorias de condicionamento como as de Pavlov e Watson) não seria suficiente para explicar qualquer processo de mudança de comportamento. Como já vimos, a contiguidade afirma que associações entre estímulos e entre estímulos e respostas se estabelecem porque estão próximos temporalmente. Para Thorndike, a melhor explicação para a aprendizagem seria o reforçamento. A aprendizagem ocorreria por que o comportamento resultou em algo agradável e/ou na eliminação de algo desagradável para o indivíduo. Pela sua Lei do Efeito, as respostas que ocorrem imediatamente antes de um estado satisfatório de eventos são mais propensas a serem repetidas. Da mesma forma, as respostas que ocorrem pouco antes de um estado desagradável de coisas são mais propensas a não serem repetidas. Vemos então uma diferença importante entre as teorias que discutimos anteriormente e o conexionismo. Para Pavlov e Watson , as associações eram estabelecidas entre dois estímulos pelo emparelha- mento, repetidos entre eles, independentemente das consequências. Acesse o vídeo A caixa de Thorndike nos ajuda a entender as ideias de Edward Thorndike: http://www.youtube.com/watch?v=EP6GsED0Hmk. Figura 6.19: A Lei do Exercício foi questionada por Thorndike após experimentos com humanos que demons- traram que a mera repetição não provoca a aprendizagem.

6 Teorias da Aprendizagem: Influências da Psicologia Experimental Para Thorndike , a conexão é formada entre uma resposta e o estímulo que a precedeu, em função de sua recompensa. Muitas são as leis produzidas por Thorndike para explicar a aprendizagem, como a Lei do Exercício, da Prontidão, das Respostas Múltiplas, da Resposta por Analogias, do Efeito pela Metade... Algumas foram desenvolvidas em um estágio inicial de sua atividade de pesquisa e foram revogadas, por ele mesmo, ao longo da sua vida. A Lei do Exercício, por exemplo, pela qual as conexões tornam-se mais fortes com a prática, foi questionada por ele após experimentos com humanos que demonstraram que a mera repetição não provoca a aprendizagem. Como ressalta Lefrançois (2008), mesmo não sendo o criador da ideia de que a prática e a repetição melhoram a aprendizagem, sua crença inicial na necessidade de exercitar as conexões contribuiu para fortalecer as abordagens que defendiam a aplicação de exercícios repetitivos, tão comuns nas décadas de 1930 e 40 (e ainda presentes em algumas escolas brasileiras). Sua concepção de pertencimento (se dois elementos são vistos como perten- centes um ao outro, são mais facilmente aprendidos) também adentrou os muros escolares e ainda influencia muitas práticas pedagógicas. Além da ênfase que colocou nas consequências do comportamento como determinantes daquilo que é ou não aprendido (Lei do Efeito - fartamente adotada nas salas de aula),Thorndike popularizou o uso de testes e métodos estatísticos na Educação e rebateu a ideia defendida por Watson, de que a mente das crianças é uma tábula rasa. Ressaltou a importância de o professor considerar as atitudes dos estudantes de dirigir sua atenção para os elementos mais importantes de uma situação e de ensinar para a generalização (“transferência”). Para facilitar a transferência, sugeria que os professores apontassem as semelhanças presentes em situações diferentes. Vemos, assim, que muitas das ideias intuitivas presentes hoje na escola, como o professor que dá ponto positivo pela tarefa feita ou que passa uma lista extensa de exercícios de matemática com poucas variações, ou ainda que apresenta situações diferentes de um mesmo tema, ressal- tando suas semelhanças, são derivadas das ideias de Thorndike. Apesar da pouca aceitação do behaviorismo nas escolas (é muito difícil ouvirmos um professor dizer que é behaviorista), vemos que as ideias derivadas dessa linha teórica estão muito arraigadas ao cotidiano escolar. Identificá-las e refletir sobre elas é uma tarefa importante para a formação do professor.

6 Teorias da Aprendizagem: Influências da Psicologia Experimental são provocadas por um estímulo (comportamento respondente), para Skinner, as repostas mais importantes são simplesmente emitidas pelo indivíduo (comportamento operante). Os resultados da resposta seriam então centrais para a aprendizagem: são as consequências do comportamento que determinam a probabilidade do comportamento ocorrer de novo. Skinner difere também de Thorndike. Embora concorde com ele em relação ao fato de que o elemento central na aprendizagem são as consequências das respostas, entra em discordância ao afirmar que não há conexões entre estímulos e respostas e que um condicionamento operante nunca é eliciado, ou seja, provocado por algo. Se um rato aprende a pressionar a barra quando a luz é ligada, não é a luz que provoca a pressão na barra. A luz permite ao rato discriminar situações reforçadoras das não reforçadoras. Um aparato muito utilizado (e inventado) por Skinner em suas pesquisas foi a câmara de condicionamento operante , conhecida por caixa de Skinner. Este equipamento foi desenvolvido por ele durante sua graduação e serviu de base para numerosas pesquisas sobre condicionamento operante e condicionamento clássico. Com esse equipamento, fez observações sistemáticas sobre reforçamento e punição, detalhando objetivamente elementos como aquisição, extinção, esquecimento, generalização, discriminação, sempre se baseando nas respostas observáveis. Elaborou, inclusive, métodos de reforçamento e punição. Vale ressaltar que Skinner não negligenciava funções mentais complexas como a linguagem e o pensamento, mas defendia que as palavras estavam ligadas inicialmente a comportamentos e, dessa forma, seu condicionamento operante poderia explicar até mesmo a linguagem. Skinner sempre acreditou que sua concepção de aprendizagem dava conta de explicar todas as situações de mudanças de comportamento. Havia desenvolvido, portanto, uma visão universal para a aprendizagem. E foi além, fornecendo também uma teoria do ensino embasada nos seus pressupostos de aprendizagem. Para Skinner, a escola fazia uso excessivo das contin- gências aversivas (punição e reforçamento negativo), sendo as notas baixas, a suspensão, as reprimendas e as contínuas ameaças de punição predominantes no coti- diano escolar. O pesquisador defende que o elogio, os gestos amistosos, a promessa de nota alta ou a aplicação de outros reforçadores positivos seriam mais importantes Figura 6.21: Skinner defende que a punição não é muito eficaz para a aprendizagem.

Introdução aos Estudos da Educação I naquele ambiente. Os professores deveriam saber que o reforçamento pode provocar mudanças de comportamento e que, havendo muitas possibilidades do que poderia ser um reforçador, é possível valorizar o que é bom. Skinner defende que a punição não é muito eficaz para a aprendizagem e que alguns reforçadores são mais eficazes que outros. Além disso, o professor não deveria deixar grande espaço de tempo entre a manifestação do comportamento e suas consequências. Se o professor for comentar o trabalho dos alunos, por exemplo, é melhor que o faça o mais rápido possível. Skinner defende ainda que os estudantes não aprendem somente fazendo. Mesmo acreditando que as crianças naturalmente se interessam pelo mundo e que aprendem sozinhas, não concorda com o método da descoberta. Assim, não adianta partir apenas da experiência, pois um estudante provavelmente não aprenderia nada. O simples contato com fatos e fenômenos do mundo não garante que ocorra a aprendizagem. Para que esse processo ocorra, é necessário, como aponta Skinner, reconhecer a resposta (o comportamento do aluno), a ocasião em que ocorre a resposta e as consequências da resposta. Ensinar, portanto, é simplesmente arranjar as contingências de reforço sob as quais estudantes aprendem. Skinner define o mecanismo para facilitar a aprendizagem: deve-se dividir o assunto a ser trabalhado em uma sequência de passos muito pequenos. Os reforços devem ser dados a cada passo, após uma conclusão satisfatória (você pode concluir que o número de reforços positivos aumentará!). Como, para ele, o papel da educação é transmitir da melhor forma a cultura de uma geração a outra, cabe à escola encontrar as respostas (comportamentos) desejadas dentro daquela cultura e colocar os comportamentos sob controle, ou seja, moldar a criança conforme os valores, conhecimentos e práticas sociais da cultura a qual pertence. Skinner ressaltava que identificar os comportamentos e controlá-los por meio de reforçadores positivos é uma tarefa que vai além da capacidade do professor, pois os alunos são vários e torna-se muito complicado manter-se atento às principais Figura 6.22: Skinner defende ainda que os estudantes não aprendem somente fazendo. Ensinar é arranjar as contin- gências de reforço sob as quais estudantes aprendem. Figura 6.23: Skinner ressaltava que identificar os comportamentos e controlá-los por meio de reforçadores positivos é uma tarefa que vai além da capacidade do professor, pois os alunos são vários.