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Um estudo sobre a influência de conversas lúdicas na habilidade de crianças em atribuir estados mentais de crença, utilizando verbos mentais para explicitá-los. Os resultados mostram que as atividades lúdicas favoreceram o surgimento dessa habilidade e tiveram efeito positivo no desempenho nas tarefas de falsa crença.
Tipologia: Resumos
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Não perca as partes importantes!
Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Educação no Programa de Psicologia da Educação, sob orientação da Profª. Drª. Maria Regina Maluf.
A Deus, por colocar no meu caminho uma pessoa tão especial, como a Profª. Drª. Maria Regina Maluf, minha orientadora, que, com carinho, amizade e dedicação me conduziu ao término desse trabalho. Obrigada, professora, por todos esses anos que pude conviver com seus ensinamentos. Foram muito valiosos. Nessa trajetória, aprendi muito, sobretudo, por sua demonstração de carinho, afeto e confiança. Ao meu marido, Wilson, e meus filhos, Wilson e Alan. Reconheço que esse tipo de trabalho nos afasta, e muito, daqueles que amamos. Muitas vezes, não pudemos dispensar a atenção e o carinho que desejávamos, devido ao tempo que passava rapidamente, de forma implacável. Mas agora, quando finalizo minha tarefa, agradeço a vocês pela compreensão e pela torcida. Aos meus pais, Nilson e Sylvia, pelo apoio, confiança e respeito, demonstrados nos meus momentos mais difíceis. Contem com meu reconhecimento e gratidão eterna. Aos meus cunhados, sobrinhos, e, especialmente, à minha irmã, Sandra, pelo amor, apoio, torcida. Compartilho com vocês a minha alegria. Às colegas, principalmente, Sara, Ane, Maria José, Maura e Ediva, que, ao longo do período de convivência, tornaram-se, verdadeiramente, amigas e compartilharam momentos importantes de minha vida. O meu carinho. À Diretora da CEI, Padre Juan Carlos Costa Guardiola, Maria Rosejane Oliveira que, sem nenhuma restrição, possibilitou a realização desta pesquisa, meus sinceros agradecimentos. Aos professores que, generosamente, permitiram o desenvolvimento desta pesquisa. Às crianças que participaram da pesquisa, pela alegria e disposição. Aos Professores Elizeu Coutinho de Macedo, Maria Isabel da Silva Leme e Melania Moroz, pela atenção com que leram a primeira versão deste trabalho e pelas valiosas críticas e sugestões apontadas. À professora Yara Cunha, pela assessoria técnica, na análise estatística dos dados. Às Professoras e Secretárias do Programa de Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pelo tratamento cordial e atencioso. Aos Professores Valdemir Gutierrez Rodriguez e Sueli Cristina Marquesi, da Universidade Cruzeiro do Sul, por um dia disporem do seu tempo para me orientar na escolha do caminho correto. Foi o mais comprido, porém, o assertivo. O meu eterno agradecimento. A minha querida aluna Deborah Ganini da Silva, pela transcrição das fitas.
Ao Waldeir Antunes, pela revisão gramatical do texto. Foram muitas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho. A todas elas meus agradecimentos. À CAPES, pelo financiamento desta pesquisa.
Há evidências de que a conversação e a explanação sobre estados mentais têm influência sobre a capacidade de compreensão da mente do outro, manifestada sob a forma de sucesso em tarefas de falsa crença. No entanto, ainda são escassos estudos na área da teoria da mente que testem hipóteses de precedência de habilidades lingüísticas em relação à habilidade de atribuição de estados mentais, utilizando procedimentos de intervenção. A presente pesquisa, do tipo experimental, teve por objetivo verificar os efeitos de uma intervenção sobre a habilidade de atribuição de estados mentais de crença e foi desenvolvida em três fases: pré-teste, intervenção, pós-teste. A intervenção foi baseada na explicação de tarefas de falsa crença e acompanhada por demonstrações com a ajuda de gestos e de objetos, além da fala explicativa. Participaram da pesquisa 44 crianças de ambos os sexos, com idade variando de 3,5 a 4,7 anos, que freqüentavam uma creche situada na zona leste da cidade de São Paulo, que atende crianças provenientes de famílias de baixa renda. Os resultados obtidos através das conversações realizadas com as crianças para falar sobre eventos que implicam ações mentais, juntamente com demonstrações e manipulação do material, indicaram que as crianças do grupo experimental (GE) se beneficiaram, parcialmente, com o procedimento de intervenção e, à exceção de uma única tarefa, foi observada uma diferença significativa no desempenho do grupo experimental (GE) em relação ao desempenho do grupo controle (GC). As atividades favoreceram o surgimento da habilidade de atribuição de estados mentais de crença e os efeitos se mantiveram no grupo experimental (GE), após três semanas. As análises qualitativas do comportamento das crianças do grupo experimental, durante as situações lúdicas utilizadas como procedimento de intervenção, mostraram uma clara relação entre participação implicada e posteriores avanços nas tarefas de falsa crença. Assim, quando na intervenção as crianças demonstravam mais atenção e usavam mais respostas de explicação de conduta, elas apresentavam melhores resultados nas tarefas de falsa crença. Em contrapartida, crianças para as quais a intervenção não teve efeito, tinham em comum a falta de atenção e não deram respostas de explicação de conduta. Esses resultados dão sustentação às hipóteses que apontam para a existência de uma relação entre a habilidade de atribuição de estados mentais e desenvolvimento da linguagem.
There are evidences that the conversation and explanation about mind studies influence the capacity to comprehend one’s mind which arises as the success in false belief tasks. However, there are still few studies about the theory of mind that may test the hypothesis of precedence concerning linguistic abilities related to the ability of assignment of mind states by applying intervention procedures. The experimental research presented herein is aimed at checking the effects of intervention over the assignment ability of children’s mental states of belief. The investigation was done in three phases: pre-test, intervention and post-test. The intervention was based upon the explanation of false belief tasks followed by demonstrations using as aids gestures and objects aside from the explanatatory speech. Forty- four male and female children took part in this research. Their age vary from 3.5 to 4.7 years old and they attend a day care center for low income families in the east area of São Paulo. The attained results were possible through conversation with these children when they could talk about the events which involve mind actions, along with demonstrations and handling the material. Such results indicated that children from the experimental group (GE) partially benefited themselves from the interventional procedure, except in just one task, and it was observed a significant difference in the performance of the experimental group (GE) when compared to the performance of the control group (GC). The activities favored the occurrence of the attribution ability of mind states of belief and the effects remained in the experimental group (GE) after three weeks. The qualitative analysis concerning the behavior of the children from the experimental group during the playful situations applied as interventional procedure show a clear relation between implied participation and afterward advances in the false belief tasks. Therefore, under the intervention, when the children paid more attention and used more answers related to behavior explanations, they presented better results in the false belief tasks. On the other hand, children in whom intervention had no effect shared the lack of attention and did not give any answers related to behavior explanations. These results support the hypothesis pointing to the existence of a relation between the ability of assignment of mind states and the development of language.
Pág. 5.2.2 – Grupo 2: crianças que acertaram uma tarefa de falsa crença no pós- teste 1 ou 2 .......................................................................................... (^92) 5.2.3 – Grupo 3: crianças que não acertaram nenhuma tarefa de falsa crença no pós-teste 1 e 2 ................................................................................ (^103) 5.2.4 – Discussão............................................................................................. (^117)
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................... (^119)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... (^125)
Pág. Tabela 1 - Distribuição das 44 crianças do grupo experimental (GE) e do grupo controle (GC) por idade e sexo ................................................................. 42
Tabela 2 - Escores das crianças do grupo experimental (GE) e do grupo controle (GC) nas tarefas de falsa crença 1,2,3 e 4, aplicadas no pós-teste 1 e no pós-teste 2 .................................................................................................. 55
Tabela 3 - Resultados da comparação das tarefas entre sinos pós-teste 1 e 2 (T1, T2,T3 e T4), no grupo experimental e no grupo controle (teste de Mc Nemar com distribuição binomial) ............................................................ 60
Tabela 4 - Crianças que acertaram duas ou mais tarefas de falsa crença nos pós- testes 1 e 2, e acerto ou erro (1/0) na atribuição de falsa crença no final das quatro histórias utilizadas nas sessões de intervenção, acrescentando-se idade e sexo .................................................................. 65
Tabela 5 - Crianças que acertaram uma tarefas de falsa crença nos pós-testes 1 e 2, e acerto ou erro (1/0) na atribuição de falsa crença no final das quatro histórias utilizadas nas sessões de intervenção, acrescentando- se idade e sexo ........................................................................................... 92
Tabela 6 - Crianças que não acertaram nenhuma tarefa de falsa crença nos pós- testes 1 e 2, e acerto ou erro (1/0) na atribuição de falsa crença no final das quatro histórias utilizadas nas sessões de intervenção, acrescentando-se idade e sexo .................................................................. 103
2 um sistema de dedução que, provavelmente, seja utilizado para predizer o comportamento do outro. (Astington, 1999; Rivière & Núñez, 2001).
Após esse trabalho de Premack e Woodrulf, outros tantos foram publicados, inclusive pelos mencionados autores, gerando muitas críticas a respeito dos seus resultados, tais como: se era possível, de fato, um chimpanzé possuir a capacidade de atribuir estados mentais. Críticas parecem comuns, em trabalhos realizados com chimpanzés. Constituem exemplo as pesquisas de Köhler que sofreram muitas objeções, gerando vasta bibliografia a respeito.
Contudo, o que não se pode negar é o fato de que trabalhos como os de Köhler e, mais especificamente, os de Premack e Woodrulf, propiciaram grandes questionamentos quanto aos seus achados. Para Rivière e Núñez (2001), o estado de conhecimento que pesquisas como essas geraram parece demonstrar, não só a dúvida quanto às verdadeiras capacidades mentais dos chimpanzés, mas, também, a grande resistência do ser humano em admitir, em outros animais, suas mais altas capacidades. As críticas endereçadas a Premack e Woodrulf estavam também relacionadas à diferença que se faz entre saber algo e saber que se sabe algo , ou seja, os críticos acreditavam que os chimpanzés atribuíam mente, mas que não existiam indicadores que permitissem concluir que eles sabiam o que faziam.
A questão colocada torna-se um problema epistemológico, pois o fato de se atribuir uma mente ao outro não significa, por si só, que sejamos capazes de explicar ou justificar essa atribuição. Sendo assim, a habilidade de atribuir estados mentais é anterior à capacidade de explicar ou justificar essa habilidade. Saber que se sabe algo é um estado posterior ao estado de ser capaz de atribuir, implicitamente, algum estado mental. Essas questões são tratadas, em grande parte, no âmbito da filosofia da mente.
Segundo Rivière e Núñez (2001, p. 25), o filósofo Daniel Dennet estabeleceu dois critérios para justificar a atribuição de estados mentais, para ele um organismo que possua uma “teoria da mente” deve ser capaz de ter crenças sobre as crenças dos outros, distinguindo-as das suas, como, também, deve ser capaz de predizer algo em função de suas crenças, diferenciando-as das do outro. A situação de se atribuir estados mentais ao outro poderia ser o exemplo maior dessa capacidade de predição, sendo, este, o critério principal para se dizer se alguém tem ou não uma “teoria da mente”.
Premack e Woodrulf, em 1979, criaram uma tarefa experimental, demonstrando o uso, pelos chimpanzés, da capacidade de ocultar informação ou de enganar , implicando o
3 emprego de alguma atividade mental. Tratava-se, pois, da seguinte tarefa: quatro chimpanzés estavam numa sala e contavam com uma informação sobre a localização de comida, porém, não tinham acesso a ela. A partir desse problema, foram criadas duas situações: na primeira, entrava, na sala, um homem, cooperador , e, na segunda situação, entrava um homem, competidor. O primeiro aproximava a comida do chimpanzé e o segundo ficava com ela. A conduta funcional que se esperava dos chimpanzés era de discriminar, entre as duas situações, aquela que era mais adaptativa para eles, ou seja, discriminar entre informar corretamente ao cooperador ou ocultar a informação, isto é, enganar o competidor. Os resultados obtidos demonstraram que os chimpanzés tinham capacidade de ocultar informação do homem competidor , quando ele aparecia, proporcionando a ele sinais falsos de onde estava a comida. Esses pesquisadores demonstraram que a capacidade de falsa crença pode ser verificada, experimentalmente, o que parece implicar que esses animais fazem uso de estratégias mentais. Muitas críticas foram feitas a esse trabalho quanto à capacidade de o chimpanzé possuir um conceito tácito de crença. Para alguns pesquisadores, esses animais somente enganaram depois de um longo treinamento e isso poderia ter dado lugar a uma aprendizagem por conduta de associações empíricas, não ao uso verdadeiro de uma “teoria da mente” (Rivière & Núñez, 2001).
Apesar de a psicologia animal, ainda, apresentar muitas dúvidas a respeito da pergunta feita no artigo de Premack e Woodrulf (1978), intitulado Os chimpanzés têm uma teoria da mente? algumas áreas da psicologia estão, cada vez mais, interessadas por esse construto, buscando, através dele, respostas para aspectos obscuros dentro de cada campo de investigação da psicologia cognitiva, evolucionista, médica e do desenvolvimento.
Dentre as áreas citadas, a psicologia do desenvolvimento ocupou-se muito cedo dos estudos que envolvem habilidades de atribuir estados mentais através de situações de engano, assumindo, praticamente, a dianteira das pesquisas, na área da “teoria da mente”. Tanto empírica como teoricamente, a psicologia do desenvolvimento, nos últimos 20 anos, tem produzido muitos trabalhos que investigam hipóteses a esse respeito. A preocupação dos psicólogos do desenvolvimento é com a questão de como e quando a criança adquire a capacidade de atribuir estados mentais e quais conseqüências psicológicas e comportamentais essa habilidade gera para a criança.
Entendemos, por “teoria da mente”, a habilidade da criança em atribuir crença a outra pessoa, representando ou falando, independente dessa crença ser verdadeira ou falsa. A importância dessa habilidade consiste na capacidade de interpretar ou antecipar as ações das outras pessoas.
5 As atividades de conhecimento que ocorrem no âmbito escolar consistem numa interação de mentes diferentes ou desiguais. Assim,
um bom professor tem que ser um bom comunicador, pois tem que representar em sua própria mente as representações mentais que tem seus alunos, e adaptar a essa representação – que não é estática, mas sim dinâmica e fluída - aos processos de seleção de idéias que transmite, no ritmo e na natureza dessa transmissão. A construção do conhecimento na escola depende de processos de “reconstrução recíproca” dos estados mentais dos indivíduos que se relacionam a ela (Rivière & Núñez, 2001, p.12).
Compreender essa reciprocidade faz presumir que todas as mentes humanas sejam capazes de ter crenças e idéias que, por meio de discussão e de interação, sejam direcionadas a um conhecimento compartilhado.
A importância de se estudar sobre como e quando as crianças pré-escolares desenvolvem uma compreensão da mente das outras pessoas tem como propósito compreender como elas - crianças - regulam suas interações com seus semelhantes, especialmente pelo uso do discurso, para coordenar o seu comportamento, dando sentido ao comportamento social e à comunicação verbal dos outros, designando seus desejos, intenções e crenças.
Portanto, conhecer a forma como as crianças compreendem e adquirem noções sobre estados mentais ganha importância para sua educação, pois esse conhecimento poderá contribuir com o educador na elaboração de estratégias facilitadoras do processo de socialização e aprendizagem escolar.
Neste contexto, o relato da presente pesquisa foi organizado em seis capítulos: No primeiro capítulo, foi apresentado referencial teórico. O segundo capítulo foi destinado à revisão da literatura relativa às pesquisas no campo da teoria da mente , utilizando tarefas de falsa crença.
No quarto capítulo, são apresentados o método e procedimentos da pesquisa. O quinto capítulo se presta a apresentar e discutir os resultados obtidos, buscando compará-los aos obtidos em outras pesquisas.
Finalmente, são apresentadas as conclusões e considerações finais.
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Serão tratados, a seguir, alguns modelos explicativos que estão discutindo o desenvolvimento da teoria da mente.
1.1 - Teoria da Mente na Psicologia do Desenvolvimento: Compreensão de Estados Mentais
Quando nos relacionamos com as pessoas, procuramos explicar o que determina suas ações, embasados nas crenças e desejos que possuímos. O que permite essa atitude é a consciência de que todos nos temos desejos, crenças, intenções, gostos e aversões, uns diferentes dos outros.
Intuímos sobre o comportamento das pessoas e nossas relações são, profundamente, afetadas por teorias que criamos a partir desse discernimento. Predizemos e explicamos seus atos, atribuindo estados mentais. Quando imputamos estados mentais aos outros, procuramos predizer suas ações e, para isso, adotamos uma estrutura explicativa referente ao seu comportamento, levantando um conjunto de hipóteses, criando uma teoria da mente , ou seja, um modo de compreender os processos mentais humanos. Na verdade, fazemos isso de modo tão espontâneo que, muitas vezes, nem nos damos conta.
As pesquisas nessa área são designadas como teoria da mente e se ocupam com problemas relativos à origem da habilidade da criança em atribuir e compreender os estados mentais humanos. Em outras palavras, ocorre quando as crianças desenvolvem uma teoria da mente.
O enfoque investigativo de alguns psicólogos do desenvolvimento recai sobre a questão: Quando e como a criança adquire a capacidade de atribuir estados mentais d e c r e n ç a s? Procurar responder essa questão tornou-se um grande problema teórico e
8 torna-se capaz de apreciar, simultaneamente, dois modelos alternativos e contraditórios da realidade, bem como de distinguir aparência de realidade.
A primeira tarefa de falsa crença serviu de parâmetro para muitos outros estudos que foram surgindo e buscando explicar, de formas diferentes, se as crianças conseguem resolver as tarefas propostas e elucidar as condições em que produzem sua resposta. A partir desses estudos, usando metodologias diferentes, encontramos duas grandes vertentes designadas por Astington e Olson (1995, p.186) como cognitivo-causal – “causal cognitive” – e sócio-interpretativa – “interpretive social”.
Apoiados na primeira vertente, ou seja, a vertente cognitivo-causal, encontram-se os pesquisadores que acreditam possibilitarem, essas tarefas, o conhecimento da maneira como a criança se concentra e organiza as relações do mundo abstrato. Consideram a criança como um pequeno cientista , pois consegue predizer suas ações e as dos outros, inferindo sobre as causas de crenças e desejos. Nessas tarefas, as respostas das crianças são pontuadas, existindo somente dois critérios: resposta esperada ou certa e resposta errada. Os resultados são dados a partir do escore obtido pelas crianças e analisados quantitativamente.
As vantagens de se usar essa metodologia residem no fato de que ela permite mobilizar a habilidade a ser pesquisada, quando expõe a criança a uma tarefa controlada de situação de engano, podendo ser usada para predizer o desenvolvimento da criança. A desvantagem está no fato de que as tarefas propostas em condições experimentais dizem pouco sobre a natureza dessa habilidade das crianças no seu cotidiano.
Apoiados na segunda vertente estão os pesquisadores sócio-interpretativos (interpretive social), que buscam entender o fato dentro do contexto social em que ele ocorre. Dessa forma, desenvolvem suas pesquisas utilizando recursos metodológicos naturalístico, procurando avaliar as crianças em interação no seu meio, com irmãos e parentes. Seus dados se referem às expressões lingüísticas e observações do cotidiano das crianças. Para eles, diferentemente dos pesquisadores adeptos da vertente cognitivo-causal, as crianças são muito competentes nas suas interações, por volta dos dois ou três anos de idade. Evidência disso é o trabalho de Dunn (1988), publicado em seu livro, intitulado “The Beginnings of Social Understanding”. O livro é baseado nas pesquisas feitas com crianças de 18, 24 e 36 meses, compreendendo os sentimentos e os comportamentos dos outros em seu mundo familiar. Os resultados sugerem que a capacidade de compreensão das crianças pequenas vai bem além daquela mostrada nos estudos experimentais.
9 Para os pesquisadores, essa habilidade pode ser observada em crianças com menos idade, desde que os estudos sejam realizados em situação natural, ou seja, no mundo familiar e no cotidiano da criança. Essa habilidade de atribuir estados mentais é originada na cultura do grupo que integra o indivíduo e se dá através de um sistema pelo qual as pessoas organizam suas experiências no mundo social, a partir das trocas com o meio. Esse conhecimento assume a forma de crenças, que são utilizadas para explicar desejos, intenções ou programas de ação. Para esses pesquisadores essa habilidade é mais difícil de ser observada em situação experimental do que em situação natural (Bruner,1997; Dunn, 1988).
Os pesquisadores da vertente sócio-interpretativa (interpretive social) partem de contextos particulares em que as crianças vivem considerando-as protagonistas que aprendem a desempenhar um papel nas relações cotidianas, antes mesmo que lhe seja exigida qualquer narração ou justificação. Nessas relações, a criança vai aprendendo a tarefa de equilibrar seus próprios desejos e o seu comprometimento social com os outros. Dessa forma, ela entende que, para obter o que deseja, é preciso saber o comportamento que é mais aceitável, ou seja, o que é mais comum, mais aceito e, portanto, auto-explicativo (Astington & Olson, 1995; Bruner, 1997).
A competência na interação social pode ser observada em pesquisas que procuram relacionar o uso de termos mentais pelas crianças, no seu cotidiano, para expressar estados mentais, tais como pensar, achar e saber, como indicadores de uma teoria da mente (Bretherton & Beeghly, 1982).
Esse modelo de pesquisa tem demonstrado que as crianças reconhecem e diferenciam as emoções, usando, primeiramente, termos ligados a estados emocionais e, depois, termos mentais. Elas falam sobre desejos e emoções antes de falar sobre crenças. Muito pequenas, elas já sabem distinguir entre estado físico e mundo mental, envolvendo compreensão desses estados (Dunn, Brow, Slomkowski, Tesla & Youngblade, 1991).
A vantagen de se usar essa metodologia é que ela possibilita fazer uma análise da natureza dessa habilidade das crianças através das situações cotidianas. A desvantagem é que esse tipo de pesquisa não cria oportunidades para focalizar e diagnosticar mudanças.
Para Bruner (1997), as pesquisas do tipo cognitivo-causal levam a discussões centradas sobre como se mede , ou seja, centradas nas investigações empíricas, o que se constitui num fator muito comum nos estudos do desenvolvimento das crianças. Contudo, ele acredita que não é apenas com situações controladas que se pode verificar o desenvolvimento