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Teologia Sistematica Berkhof, Notas de estudo de Teologia

Teologia Sistematica Berkhof

Tipologia: Notas de estudo

2013

Compartilhado em 13/08/2013

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patrick-carvalho-9 🇧🇷

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Teologia Sistemática
Louis Berkhof
Título do original em Inglês
Systematic Theology
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Teologia Sistemática

Louis Berkhof

Título do original em Inglês

Systematic Theology

Prefácio

Agora que minha teologia sistemática está sendo novamente impressa, o prefácio pode ser

curto. Não é necessário dizer muita coisa acerca da natureza da obra, visto que ela tem estado

perante o público durante mais de quinze anos e tem sido amplamente usada. Tenho todas as

razões para estar agradecido pela maneira bondosa como ela tem sido recebida, pelo testemunho

favorável de muitos críticos e pelo fato de o livro estar sendo agora usado como livro-texto em

muitos seminários teológicos e institutos bíblicos em nosso país, e de que têm sido feitos pelos

pedidos do estrangeiro de permissão para traduzi-la em outras línguas. Estas são as bênçãos que

eu não previa, pelas quais estou profundamente agradecido a Deus. A Ele toda a honra. E se a

obra puder continuar sendo uma bênção em muitas partes da igreja de Jesus Cristo,

simplesmente aumentará o meu reconhecimento da abundante graça de Deus.

L. BERKHOF

Grand Rapids, Michigan,

1º de agosto de 1949.

Primeira Parte: A DOUTRINA DE DEUS

I. A Existência de Deus

A. Lugar da Doutrina de Deus na Dogmática.

As obras de dogmática ou de teologia sistemática geralmente começam com a Doutrina de

Deus. A opinião prevalecente tem reconhecido sempre este procedimento mais lógico, e ainda

continua apontando na mesma direção. Em muitos casos, mesmo aqueles cujos princípios

fundamentais pareceriam exigir outro arranjo, continuam na prática tradicional. Há boas razões

para começar com a Doutrina de Deus, se partirmos da admissão que a Teologia é o

conhecimento sistematizado de Deus de quem, por meio de quem, e para quem são todas as

coisas. Em vez de surpreender-nos de que a dogmática comece com a Doutrina de Deus, bem

poderíamos esperar que seja completamente um estudo de Deus, em todas as suas ramificações,

do começo ao fim. Como uma questão de fato, é isto exatamente o que se pretende que seja,

embora somente o primeiro locus ou capítulo teológico trate diretamente de Deus, enquanto que

as partes ou loci subseqüentes tratam dele de maneira mais indireta. Iniciamos o estudo de

teologia com duas pressuposições a saber: (1) Que Deus existe; (2) Que Ele se revelou em Sua

Palavra divina. E por esta razão não nos é impossível começar com o estudo de Deus. Podemos

dirigir-nos a Sua revelação para aprender o que Ele revelou a respeito de Si mesmo e a respeito

de Sua relação para com as Suas criaturas. Têm-se feito tentativas no curso dos tempos para

distribuir o material da dogmática de tal modo que exiba claramente que ela é não apenas em um

locus, mas em sua totalidade, um estudo de Deus. Isto foi feito pela aplicação do método trinitário,

que dispõe o assunto da dogmática sob os três títulos: (1) O Pai; (2) O Filho; (3) O Espírito Santo.

Esse método foi aplicado em algumas das primeiras obras sistemáticas, foi restaurado ao favor

geral por Hegel, e se pode ver ainda na Dogmática Cristã, de Martensen. Uma tentativa

semelhante foi feita por Breckenridge, quando dividiu o assunto da dogmática em (1) O

Conhecimento de Deus Objetivamente Considerado; (2) O Conhecimento de Deus subjetivamente

Considerado. Nem um nem outro destes podem ser considerados como tendo tido sucesso.

Até o começo do século XIX era quase geral a prática de começar o estudo da dogmática

com a doutrina de Deus, mas ocorreu uma mudança sob a influência de Schleiermacher , que

procurou salvaguardar o caráter científico da teologia com a introdução de um novo método. A

consciência religiosa do homem substituiu a palavra de Deus como a fonte da teologia. A fé na

Escritura como autorizada revelação de Deus foi desacreditada e a compreensão humana,

baseada na apreensão emocional ou racional do homem, veio a ser o padrão do pensamento

religioso. A religião gradativamente tomou o lugar de Deus como objeto da teologia. O homem

deixou de ser ou de reconhecer o conhecimento de Deus como algo que lhe foi dado na Escritura

e começou a orgulhar-se de Ter a Deus como seu objeto de pesquisa. No curso do tempo tornou-

se comum falar do descobrimento de Deus feito pelo homem, como se o homem alguma vez O

tivesse descoberto; e toda descoberta feita nesse processo foi dignificada com o nome de

“revelação”. Deus vinha no final de um silogismo, ou como o último elo de uma corrente de

raciocínio, ou como a cumeeira de uma estrutura de pensamento humano. Sob tais

circunstâncias, era simplesmente natural que alguns considerassem incoerência começar a

dogmática pelo estudo de Deus. Antes é surpreendente que tantos, a despeito do seu

subjetivismo, tenham continuado a seguir a ordem tradicional.

Contudo, alguns perceberam a incongruência e partiram por outro caminho. A obra dogmática

de Schleiermacher dedica-se ao estudo e análise do sentimento religioso e das doutrinas nele

envolvidas. Ele não trata da doutrina de Deus de maneira conexa, mas apenas em fragmentos, e

conclui a sua obra com uma discussão sobre a Trindade. Seu ponto de partida é antropológico, e

não teológico. Alguns teólogos intermediários foram tão influenciados por Schleiermacher que,

logicamente, começaram os seus tratados de dogmática com o estudo do homem. Mesmo nos

dias presentes esta ordem é seguida ocasionalmente. Acha-se um notável exemplo disto na obra

de O. A. Curtis em The Christian Faith. Esta começa com a doutrina do homem e conclui com a

doutrina de Deus. Poderia parecer que a teologia da escola de Ritschl requeresse ainda outro

ponto de partida, desde que encontra a revelação objetiva de Deus, não a Bíblia como na palavra

divinamente inspirada, mas em Cristo como fundador do Reino de Deus, e considera a idéias do

Reino como o conceito central e absolutamente dominante da teologia. Contudo, dogmáticos da

Escola de Ritschl, como Herrmann, Haering e Kaftan, seguem, pelo menos formalmente, a ordem

usual. Ao mesmo tempo, há vários teólogos que em suas obras começam a discussão da

dogmática propriamente dita com a doutrina de Cristo ou da Sua obra redentora. T. B. Strong

distingue entre teologia e teologia cristã , define esta última como “a expressão e análise da

encarnação de Jesus Cristo”, e faz da encarnação o conceito dominante em todo o seu Manual of

Theology.

B. Prova Bíblica da Existência de Deus.

Para nós a existência de Deus é a grande pressuposição da teologia. Não há sentido em

falar-se do conhecimento de Deus, se não se admite que Deus existe. A pressuposição da

teologia cristã é um tipo muito definido. A suposição não é apenas de que há alguma coisa,

alguma idéia ou ideal, algum poder ou tendência com propósito, a que se possa aplicar o nome de

Deus, mas que há um ser pessoal auto-consciente, auto-existente, que é a origem de todas as

coisas e que transcende a criação inteira, mas ao mesmo tempo é imanente em cada parte da

criação. Pode-se levantar a questão se esta suposição é razoável, questão que pode ser

respondida na afirmativa. Não significa, contudo, que a existência de Deus é passível de uma

Os estudiosos de religiões comparadas e os missionários freqüentemente dão testemunho do

fato de que a idéia de Deus é praticamente universal na raça humana. É encontrada até mesmo

entre as mais atrasadas nações e tribos do mundo. Isto não significa, contudo, que não há

indivíduos que negam a existência de Deus completamente, nem tampouco que não há um bom

número de pessoas em terras cristãs que negam a existência de Deus como Ele é revelado na

Escritura, uma Pessoa de perfeições infinitas, auto-existente e auto-consciente, que realiza todas

as coisas segundo um plano predeterminado. É esta última forma de negação que temos

particularmente em mente aqui. Ela pode assumir várias formas e, na verdade, tem assumido

várias formas no curso da história.

1. A ABSOLUTA NEGAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE DEUS. Como acima foi dito, há forte prova

da presença universal da idéia de Deus na mente humana, mesmo entre as tribos não civilizadas

e que não tem recebido o impacto da revelação especial. Em vista deste fato, alguns chegam a

negar a existência de pessoas que negam a existência de Deus, que haja verdadeiros ateus, a

saber, os ateus práticos e os teóricos. Os primeiros são simplesmente pessoas não religiosas,

pessoas que na vida prática não contam com Deus, e vivem como se Deus não existisse. Os

últimos são em regra, de um tipo mais intelectual, e baseiam a sua negação num processo de

raciocínio. Procuram provar que Deus não existe usando para este fim aquilo que lhes parece

argumentos racionais conclusivos. Em vista da semen reliogionis implantada em todos os seres

humanos, pela criação do homem à imagem de Deus, é seguro admitir que ninguém nasce ateu.

Em última análise, o ateísmo resulta do estado moral pervertido do homem e do seu desejo de

fugir de Deus. É deliberadamente cego para o instinto mais fundamental do homem, para as

necessidades mais profundas da alma, para as mais elevadas aspirações do espírito humano, e

para os anseios de um coração que anda tateando em busca de um ser mais alto; é cego para

estas realidades e as procura suprimir. Esta supressão prática ou intelectual da operação da

semen reliogionis freqüentemente envolve prolongados e penosos conflitos.

Não se pode duvidar da existência de ateus práticos, visto que tanto a Escritura como a

experiência a atestam. A respeito dos ímpios o Salmo 14.1 declara: “Diz o insensato no seu

coração: não há Deus” (cf. Sl 10.4b). E Paulo lembra aos Efésios que eles tinham estado

anteriormente “sem Deus no mundo”, Efésios 2.12. A experiência também dá abundante

testemunho da presença deles no mundo. Eles não são necessariamente ímpios notórios aos

olhos dos homens, mas podem pertencer aos assim chamados “homens decentes do mundo”,

embora consideravelmente indiferentes para com as coisas espirituais. Tais pessoas muitas vezes

têm a consciência do fato de que estão em desarmonia com Deus, tremem ao pensar em

defrontá-lo e procuram esquecê-lo. Parecem Ter um secreto prazer em exibir o seu ateísmo

quando tudo vai bem, mas é sabido que dobram os seus joelhos em oração quando sua vida

entra repentinamente em perigo. Na época presente, milhares desses ateus práticos pertencem à

Associação Americana para o Progresso do Ateísmo.

Os ateus teóricos são doutra espécie. Geralmente são de um tipo mais intelectual e procuram

justificar a afirmação de que não há Deus por meio de argumentação racional. O professor Flint

distingue três espécies de ateísmo teórico, a saber, (1) Ateísmo dogmático, que nega

peremptoriamente a existência de um ser divino; (2) Ateísmo cético , que duvida da capacidade da

mente humana de determinar se há ou não há um Deus; (3) Ateísmo crítico , que sustenta que não

há nenhuma prova válida da existência de deus. Estes freqüentemente caminham de mãos

dadas, mas mesmo o mais moderado deles realmente declara que toda e qualquer crença em

Deus é uma ilusão.^1 Nesta divisão se verá que o agnosticismo também aparece como uma

espécie de ateísmo, classificação que desagrada a muitos agnósticos. Deve-se ter em mente,

porém, que o agnosticismo referente à existência de Deus, embora admitindo a possibilidade da

sua realidade, deixa-nos sem um objeto de culto e adoração exatamente como faz o ateísmo

dogmático. Contudo, o verdadeiro ateu é o ateu dogmático , o homem que faz a afirmação

categórica de que não há Deus. Essa afirmação pode significar uma de duas coisas: ou que ele

não reconhece Deus nenhum, de nenhuma espécie, não erige nenhum ídolo para si mesmo, ou

que não reconhece o Deus da escritura. Ora, há muitos poucos ateus que na vida prática não

modelam alguma espécie de Deus para si próprios. Há um número muito maior daqueles que

teoricamente põem de lado todo e qualquer deus; e um número ainda maior dos que romperam

com o Deus da Escritura. O ateísmo teórico geralmente está arraigado em alguma teoria científica

ou filosófica. O monismo materialista, em suas várias formas, e o ateísmo normalmente andam de

mãos dadas. O idealismo subjetivo absoluto pode ainda deixar-nos a idéia de Deus, mas nega

que haja qualquer realidade que lhe corresponda. Para o humanista moderno “Deus”

simplesmente significa “o espírito da humanidade”, “o sentimento de integralidade”, “meta racial” e

outras abstrações desta espécie. Outras teorias não somente dão lugar a Deus; também

pretendem manter a sua existência, mas certamente excluem o Deus do teísmo, um Ser pessoal

supremo, o Criador, o Preservador, e o Governador do Universo, distinto de Sua criação e,

contudo, em toda parte presente nela. O panteísmo funde o natural e o sobrenatural, o finito e o

infinito numa só substância. Muitas vezes fala de Deus como base oculta do mundo fenomenal,

mas não O concebe como pessoal e, portanto dotado, como dotado de inteligência e vontade.

Ousadamente declara que tudo é Deus, assim se envolve naquilo a que Brightman chama “a

expansão de Deus”, de modo que temos “muito de Deus”, visto que Ele inclui também todo o mal

do mundo. Isto exclui o Deus da escritura, e até aqui claramente ateísta. Spinoza pode ser

chamado “O homem intoxicado por Deus”, mas o seu Deus certamente não é o Deus que os

cristãos cultuam e adoram. Seguramente, não pode haver dúvida da presença de ateus teóricos

no mundo. Quando David Hume expressou dúvida a respeito da existência de um ateu dogmático,

o Barão d’Holbach replicou: “Meu caro senhor, neste momento estais sentado à mesa na

companhia de dezessete pessoas dessa classe”. Os que são agnósticos quanto à existência de

1 Anti-Theories , p.4s.

metafísica da teologia. Bradley considerava o deus da religião cristã como uma parte do Absoluto,

e James defendia um conceito de Deus que estava mais em harmonia com a experiência humana

de que com a idéia de um Deus infinito. Ele elimina de Deus os atributos metafísicos de auto-

existência, infinidade e imutabilidade, e declara supremos os atributos morais. Deus tem um meio-

ambiente, existe no tempo, e elabora uma história exatamente como nós o fazemos. Em vista do

mal existente no mundo, Ele deve ser imaginado como limitado em conhecimento ou no poder, ou

em ambos. As condições do mundo tornam impossível crer num Deus bondoso, infinito em

conhecimento e poder. A existência de um poder superior amistoso para com o homem e com o

qual este pode comungar satisfaz todas as necessidades e experiências práticas da religião.

James concebia este poder como pessoal, mas não desejava expressar-se como se acreditasse

num Deus finito ou em vários deuses finitos. Bergson acrescentou a este conceito de James a

idéia de um Deus em luta e em crescimento, constantemente envolvendo em seu meio-ambiente.

Outros que defendiam a idéias de um Deus finito, embora de diferentes maneiras, são Hobhouse,

Shiller, James Ward, Rashdall e H.G. Wells.

c. Deus como personificação de uma simples idéia abstrata. Ficou muito em voga na moderna

teologia “liberal” considerar o nome de “Deus” como um simples símbolo, representando algum

processo cósmico, uma vontade ou poder universal, ou um ideal elevado e abrangente. Repete-se

com freqüência a afirmação de que, se Deus criou o homem à Sua imagem, o homem agora está

devolvendo o cumprimento criando a Deus à imagem do homem. Diz-se a respeito de Harry Elmer

Barnes que uma vez ele disse numa de suas aulas de laboratório: “Cavalheiros, agora vamos criar

Deus”. Essa foi uma rude expressão de uma idéia muito comum. A maioria dos que rejeitam o

conceito teísta de Deus ainda professa fé em Deus, mas este é um Deus de sua própria

imaginação.. A forma que ele assume numa ocasião particular depende, segundo Shailer

Matthews dos atuais modelos de pensamento. Nos tempos anteriores à guerra, o padrão

dominante era o de um soberano autocrático, que exigia obediência absoluta; agora é o de um

governante democrático, disposto a servir a todos que lhe estão subordinados. Desde os dias de

Comte tem havido a tendência de personificar a ordem social da humanidade como um todo e de

cultuar esta personificação. Os assim chamados melhoristas ou teólogos sociais revelam a

tendência de identificar Deus de algum modo com a ordem social. E os neopsicologistas dizem-

nos que a idéia de Deus é uma projeção da mente humana, que em seus primeiros estágios é

inclinada a formar imagens de suas experiências e a revesti-las de uma semi-personalidade.

Leuba é de opinião que esta ilusão de Deus não será necessária. Umas poucas definições

servirão para mostrar as tendências dos dias presentes. “Deus é o espírito imanente da

comunidade” (Royce). Deus “é aquela qualidade da sociedade humana em desenvolvimento” (E.

S. Ames). “A palavra ‘deus’ é um símbolo para designar o universo em sua capacidade ideal de

formação” (C.B. Foster). “Deus é o nosso conceito, nascido da experiência social, dos elementos

que desenvolvem personalidade e os elementos de explicação pessoal do nosso ambiente

cósmico, como o qual estamos organicamente relacionados” (Shailer Matthews). Mal se precisa

dizer que o Deus assim definido não é um Deus pessoal e não responde às necessidades mais

profundas do coração humano.

D. As Assim Chamadas Provas Racionais da Existência de Deus.

No transcurso do tempo foram elaborados alguns argumentos em favor da existência de

Deus. Acharam ponto de apoio na teologia, especialmente pela influência de Wolff. Alguns deles já

tinham sido sugeridos, em essência, por Platão e Aristóteles, e outros foram acrescentados

modernamente por estudiosos da filosofia da religião. Somente os mais comuns podem ser

apresentados aqui.

1. O ARGUMENTO ONTOLÓGICO. Este argumento foi apresentado em várias formas por

Anselmo, Descartes, Samuel Clark, e outros. Foi apresentado em sua mais perfeita forma por

Anselmo. Este argumenta que o homem tem a idéia de um ser absolutamente perfeito; que a

existência é atributo de perfeição; e que, portanto, um ser absolutamente perfeito tem que existir.

Mas é evidente que não podemos tirar uma conclusão quanto à existência real partindo de um

pensamento abstrato. O fato de que temos uma idéia de Deus ainda não prova a Sua existência

objetiva. Além disto, este argumento pressupõe tacitamente como já existente na mente humana o

próprio conhecimento da existência de Deus que teria que derivar de uma demonstração lógica.

Kant declarou, com ênfase, insustentável este argumento, mas Hegel o aclamou como um grande

argumento em favor da existência de Deus. Alguns idealistas modernos sugeriram que ele poderia

ser proposto de forma um tanto diferente, como a que Hocking chamou, “O registro da

experiência”. Em virtude podemos dizer: “Tenho idéia de Deus: portanto, tenho experiência de

Deus”.

2. O ARGUMENTO COSMOLÓGICO. Este argumento tem aparecido em diversas formas. Em

geral se apresenta como segue: Cada coisa existente no mundo tem que ter uma causa

adequada; sendo assim, o universo também tem que ter uma causa adequada, isto é, uma causa

indefinidamente grande. Contudo, o argumento não produz convicção, em geral. Hume

questionou a própria lei de causa e efeito, e Kant assinalou que, se tudo que existe tem uma

causa adequada, isto se aplica também a Deus, e, assim, somos suposição de que o cosmo teve

uma cauda única, uma causa pessoal e absoluta, e, portanto, não prova a existência de Deus.

Esta dificuldade levou a uma construção ligeiramente diversa do argumento como, por exemplo, a

que B.P.Bowne fez. O universo material aparece como sistema interativo e, portanto, como uma

unidade que consiste de várias partes. Daí, deve haver um Agente Integrante que veicule a

interação das várias partes ou constitua a base dinâmica da existência delas.

3. O ARGUMENTO TELEOLÓGICO. Este argumento também é causal e, na verdade, é

apenas uma extensão do imediatamente anterior. Pode ser exposto da seguinte forma: Em toda

parte o mundo revela inteligência, ordem, harmonia e propósito, e assim implica a existência de

confiante aceitação da auto-revelação de Deus na Escritura. Se muitos em nossos dias estão

querendo firmar sua fé na existência de Deus nesses argumentos racionais, isto se deve em

grande medida ao fato de que eles se negam a aceitar o testemunho da palavra de Deus. Além

disso, ao usar estes argumentos na tentativa de convencer pessoas incrédulas, será bom ter em

mente que de nenhum que nenhum deles se pode dizer que transmite convicção absoluta.

Ninguém fez mais para desacreditá-los que Kant. Desde o tempo dele, muitos filósofos e teólogos

os têm descartado como completamente inúteis, mas hoje os referidos argumentos estão

recuperando apoio e o seu número está crescendo. E o fato de que em nossos dias tanta gente

acha neles indicações satisfatórias da existência de Deus, parece indicar que eles não são

inteiramente vazios de valor. Têm algum valor para os próprios crentes, mas devem ser

denominados testimonia , e não argumentos. Eles são importantes como interpretações da

revelação geral de Deus e como elementos que demonstram o caráter razoável da fé em um ser

divino. Além disso. Podem prestar algum serviço na confrontação com os adversários. Embora

não provem a existência de Deus além da possibilidade de dúvida e a ponto de obrigar o

assentimento, podem ser elaborados de maneira que estabeleçam uma forte probabilidade e, por

isso, poderão silenciar muitos incrédulos.

QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. Por que a teologia moderna inclinou-se a dar primazia

ao estudo do homem e não ao estudo de Deus? 2. A Bíblia prova a existência de Deus ou não? 3.

Se prova, como o faz? 4. O que é que explica o sensus divinitatis geral do homem? 5. Existem

nações ou tribos que absolutamente não o possuem? 6. Pode-se sustentara a posição de que não

existem ateus? 7. Os humanistas do presente devem ser classificados como ateus? 8. Que

objeções há para a identificação de Deus com o Absoluto da filosofia? 9. Um Deus finito satisfaz

as necessidades da vida cristã? 10. A doutrina de um Deus finito só se encontra nos

pragmatistas? 11. Por que é que a idéia de um Deus personificado é um pobre substituto do Deus

vivo? 12. Em que consiste a crítica de Kant aos argumentos da razão especulativa em favor da

existência de Deus? 13. Como devemos julgar esta crítica?

BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. II, p.52-74; Kuyper, Dirct. Dogm.

De Deo I, P. 77-123; Hodge, Syst. Theol. I , p. 221-248; Dabney, Syst. And Polem. Theol, p.5-26;

Macintosh, Theol. as an Empirical Sciense , p.90-99; Knudson, The Doctrine of God, p. 203-241;

Beathie, Apologetics, p.250-444; Brightman, The Problem of God, p. 139-165; Wright, A Student’s

Phil of Rel., p.339-390; Edward, The Philosophy of Rel., p. 218-305; Beckwith, The Idea of God , p.

64-115; Thompson, The Chirstian Idea of God , p. 160-189; Robinson, The God of the Liberal

Christian, p.114-149; Galloway, The Phil, of Rel., p.382-394.

II. A cognoscibilidade de Deus

A. Deus Incompreensível e, contudo, Cognoscível.

A igreja cristã confessa, por um lado, que Deus é o Incompreensível, mas também, por outro

lado, que Ele pode ser conhecido e que conhecê-lo é um requisito absoluto para a salvação. Ela

reconhece a força da questão levantada por Zofar, “Porventura desvendarás os arcanos de Deus

ou penetrarás até a perfeição do Todo-Poderoso?” Jó 11.7. E ela percebe que não tem resposta

para a indagação de Isaías. “Com quem comparareis a Deus? Ou que cousa semelhante

confrontareis com ele?” Isaías 40.18. Mas, ao mesmo tempo, ela também está atenta à afirmação

de Jesus: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus

Cristo, a quem enviaste” João 17.3. Ela regozija no fato de que “o Filho de Deus é vindo, e nos

tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro, e estamos no verdadeiro, em seu Filho

Jesus Cristo” 1 João 5.20. As duas idéias refletidas nestas passagens sempre foram sustentadas

lado a lado na igreja cristã. Os primitivos pais da igreja, assim chamados, falavam do Deus

invisível como um Ser não gerado, indenominável, eterno, incompreensível, imutável. Eles tinham

ido bem pouco além da antiga idéia grega de que o Ser Divino é existência absoluta e sem

atributos. Ao mesmo tempo, eles confessavam que Deus revelou-se no Logos e, portanto, pode

ser conhecido para a salvação. No século IV Eunômio, um ariano, argumentou, com base na

simplicidade ontológica de Deus, que não há nada em Deus que não seja perfeitamente

cognoscível e compreensível para o intelecto humano, mas a sua opinião foi rejeitada por todos

os líderes reconhecidos da igreja. Os escolásticos distinguiam entre o Quid e o Qualis de Deus, e

sustentavam que não sabemos o que Deus é em Seu Ser essencial, mas podemos saber algo da

Sua natureza, daquilo que Ele é para nós, como Ele se revela em Seus atributos divinos. As

mesmas idéias gerais foram expressas pelos Reformadores, apesar de que eles não

concordavam com os escolásticos quanto à possibilidade de adquirir real conhecimento de Deus

pela razão humana desajudada, partindo da revelação geral. Lutero fala repetidamente de Deus

como o Deus Absconditus (Deus oculto), em distinção dele como o Deus Revelatus (Deus

revelado). Em algumas passagens ele até fala do Deus Revelado como ainda um Deus Oculto ,

em vista do fato de que, mesmo através da Sua revelação especial, não podemos conhecê-lo

plenamente. Para Calvino, Deus, nas profundezas do Seu Ser, é insondável. “Sua essência”, diz

ele, “é incompreensível; desse modo, Sua divindade escapa totalmente aos sentidos humanos”.

Os Reformadores não negam que o homem possa aprender alguma coisa da natureza de Deus

por meio da Sua obra criadora, mas sustentam que ele só pode adquirir verdadeiro conhecimento

de Deus por meio da revelação especial, sob a influência iluminadora do espírito Santo. Sob a

influência da teologia da imanência, de tendência panteísta, inspirada por Hegel e

Schleiermacher, ocorreu uma mudança. A transcendência de Deus, segundo o novo conceito, é

enfraquecida, ignorada ou explicitamente negada. Deus é reduzido ao nível do mundo, é colocado