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Este documento aborda a importância da saúde mental em tempos de pandemia, com ênfase nos impactos sobre as instituições escolares e os jovens. O texto discute a complexidade da concepção de saúde mental, sua relação com a construção de autoimagens e habilidades em crianças e adolescentes, e as transformações na política pública de saúde mental no brasil. Além disso, são apresentados programas de promoção e prevenção da saúde mental e os desafios de sua implementação em escolas e comunidades.
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Não se sentir bem ou ter algum adoecimento mental diagnosticado, mesmo que por curtos períodos, pode impactar severamente atividades do dia a dia, como: passear, estudar, encontrar amigos, trabalhar, ficar em casa com os pais, ir à igreja/templo, andar de bicicleta, assistir filmes e séries, jogar, namorar, viajar e fazer compras. A temática da saúde mental vinha ganhando destaque nos últimos anos, mas, sem sombra de dúvida, o contexto pandêmico contribuiu para que fosse escolhida para as atividades da edição 2022 do Parlamento Jovem de Minas. Mas o que é saúde mental? Como ela pode ser discutida a partir da perspectiva dos jovens? A definição do conceito de saúde mental é complexa por envolver diferentes aspectos individuais e coletivos do cotidiano das pessoas. Não existe um conceito oficial e único. Mas podemos dizer, inspirados na Organização Mundial da Saúde (OMS), que a saúde mental está diretamente ligada à forma como cada indivíduo administra os desafios e as exigências sociais, tentando harmonizá-los com os seus valores, ideias e sentimentos pessoais. Ter uma boa saúde mental é conseguir lidar com as cobranças, as expectativas, as diferenças, as adversidades e os conflitos que são inerentes à vida em sociedade, reconhecendo as suas potencialidades e os seus limites pessoais. Ou seja, ter saúde mental não é apenas um estado de ausência de doença, mas uma sensação de satisfação, de bem-estar, decorrente da habilidade de aprender a lidar com os desafios da vida, de forma produtiva e útil, para si e para os outros. A partir dessa definição, observamos que a saúde mental decorre da conjugação de fatores de ordem pessoal (subjetividade e a personalidade) e de ordem familiar, social, cultural, econômica e política (desigualdade social, injustiça, violência, pobreza, fome). Por isso, dois indivíduos com traços de personalidade aparentemente semelhantes, ou de uma mesma família, podem lidar com um mesmo problema, como o desemprego, de formas distintas: um pode tentar enfrentá-lo com maior esperança e resiliência, enquanto o outro pode ficar desanimado e adoecer. Além dessas dimensões, também é sabido que há fatores de natureza biológica (traços genéticos e aspectos fisiológicos) que podem ser responsáveis por causar ou agravar quadros de adoecimento / sofrimento mental já estabelecidos.
outras drogas (lícitas ou ilícitas), ou desenvolvam transtornos alimentares. Outra consequência do sofrimento mental dos jovens é a prática de autoextermínio (suicídio). Também tem sido observado o aumento no consumo de medicamentos psicotrópicos (antidepressivos, ansiolíticos etc.), com, ou sem, o devido acompanhamento médico. Um número cada vez maior de jovens é submetido à medicalização como a única forma de tratamento para o adoecimento psíquico, quando, em muitos casos, o acompanhamento psicoterápico seria o mais importante. Como apontou a psicanalista francesa Elizabeth Roudinesco, a banalização do tratamento por via exclusivamente medicamentosa faz parte de um modelo que simplifica o processo de saúde- doença, reduzindo-o à sua dimensão biológica. Experimentar essa fase de profundas transformações em um contexto de crise sanitária, social, cultural, econômica e política, é certamente mais desafiadora para adolescentes e jovens de grupos mais vulneráveis (pobres, negros, LGBTQIA+, moradores de áreas rurais, indígenas, entre outros). Além dos problemas e dificuldades comuns dessa fase da vida, meninos e meninas desses grupos enfrentam privações e violências extras, decorrentes de uma sociedade ainda classista, machista, racista, sexista, patriarcal e lgtqia+fóbica. Por tudo isso, potencializar o lugar de fala dos jovens sobre essa temática, a partir das suas múltiplas inserções sociais, experiências, visões de mundo, opiniões, críticas e análises constituirá a tônica do PJ de Minas em 2022. Para organizar as atividades, estudos e debates que irão resultar na proposição de ações legislativas que visem melhorar a saúde mental dos jovens nos municípios participantes, e no estado de Minas Gerais, estão indicados três subtemas: a) Políticas públicas de prevenção e tratamento em Saúde Mental; b) Estratégias da comunidade para promoção da saúde mental; c) Uso saudável das novas tecnologias. O primeiro enfoca as obrigações do estado, por meio da implementação de políticas públicas de enfrentamento ao adoecimento mental, nas perspectivas da prevenção e do tratamento. O segundo é voltado para o papel e as potencialidades das iniciativas sociais e comunitárias, de escala local, regional e estadual, no enfrentamento de um problema que requer a efetiva participação de todas e todos. Já o último subtema problematiza o uso abusivo das novas tecnologias de comunicação e de informação, e fomenta o debate de como poderiam ser requalificadas, para que deixem de ser tecnologias de adoecimento. VAMOS REFLETIR? Muitas vezes, sem percebermos, acabamos reproduzindo ideias e opiniões que podem reforçar preconceitos e estereótipos em relação ao adoecimento / sofrimento mental do outro. Em um modelo de sociedade que valoriza cada vez mais a meritocracia, a competição e o desempenho, é comum escutarmos: “Isso não é depressão, é frescura” “Que exagerado, não há motivo para tanto sofrimento!” “Não fica triste não. Isso não é nada” “Como você é mole, se fosse seu(sua) irmão(ã) já teria resolvido isso” “Tá sem problema de verdade para se preocupar e fica depressivo por qualquer bobagem” “Isso é desculpa para não estudar / trabalhar” “Depressão não é doença, é falta de força de vontade” “Ela(e) está querendo é chamar a atenção” Uma forma de contribuirmos para o enfrentamento dos problemas decorrentes do adoecimento
mental é resignificarmos comportamentos e hábitos. Repensarmos e reelaborarmos essas frases é um dos caminhos para construirmos uma escuta autêntica, e boas práticas para o acolhimento do outro que compartilha suas dores, limitações e sofrimentos. MATERIAIS COMPLEMENTARES Cartilha – Saúde Mental de Adolescentes e Jovens. Publicada no ano de 2021 pelo Instituto Vita Alere e pelo Unicef Brasil, direcionada para a juventude, aborda, com uma linguagem acessível, conceitos básicos, dicas de autocuidado, tipos de adoecimento e exercícios que contribuem para a melhoria da qualidade de vida de adolescentes e jovens. Recurso eletrônico (colorido), 29 páginas. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/media/16126/file/saude-mental-de-adolescentes-e- jovens.pdf Cartilha – Cartilha de saúde mental e atenção psicossocial frente à pandemia do coronavírus no âmbito escolar. Produzida e publicada pela Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais é voltada para o público em geral: funcionários das escolas, estudantes, pais e responsáveis. Contêm orientações e dicas sobre autocuidado e cuidado do outro no contexto da pandemia, mas que também se aplicam ao contexto não pandêmico. Ano da publicação: 2020. Recurso eletrônico (colorido), 10 páginas. Disponível em: https://www2.educacao.mg.gov.br/images/documentos/Cartilha%20de%20Sa%C3%BAde %20Mentale%20Aten%C3%A7%C3%A3o%20Psicossocial%20Frente%20%C3%A0%20Pandemia %20do%20Coronav%C3%ADrus%20no%20%C3%82mbito%20Escolar.pdf Animação – Na travessia do Vazio. Produzida pela Shark (produtora de vídeo e fotografia) no contexto da pandemia de Covid-19, trata-se de uma animação de curta duração (2min39seg), em português, que aborda o autocuidado e a saúde mental a partir de uma perspectiva motivacional. Ano de publicação: 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ufQ3LJzSdsc Podcast – Saúde mental de adolescentes e jovens. Podcast episódio 88, produzido pelo programa Bem Estar, do grupo Globo de Comunicação, com duração aproximada de 45 min. Trata-se de uma entrevista com dois especialistas. Disponível em: https://g1.globo.com/bemestar/podcast/noticia/2021/04/28/bem-estar-88-saude-mental-de- adolescentes-e-jovens.ghtml Programa de entrevista – Saúde Mental nas Escolas. Trata-se de um episódio do programa Conexão, do Canal Futura, que aborda a temática da saúde mental do jovem no cotidiano nas escolas a partir de um bate papo com três especialistas da área. Duração: aproximadamente 25min. Ano de publicação: 2019. Disponível em: https://www.youtube.com/watch? v=ZWiK8Ms133c Programa de entrevista – Depressão em jovens e adolescentes. Trata-se de um episódio do programa Ciência Aberta, realizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) com apoio da Folha de São Paulo, que aborda os desafios no enfrentamento da depressão em adolescentes e jovens. São três os pesquisadores convidados, que abordam o assunto com densidade e aprofundamento, mas com linguagem acessível para não especialistas. Duração: aproximadamente 1h40min. Ano de publicação: 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QGbgLtf9dZU Reportagem e entrevistas – Saúde mental de jovens. É uma reportagem escrita e entrevistas (no formato de vídeo, disponibilizado dentro do texto) produzidas pelo canal UOL, e que fazem parte
A política pública de atenção à saúde mental consiste no conjunto de diretrizes e ações adotadas pelo País com o objetivo de organizar a assistência às pessoas com necessidades de tratamento e cuidados específicos em saúde mental. Abrange a atenção a pessoas com necessidades relacionadas a transtornos mentais como depressão, ansiedade, esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo, incluindo aquelas com quadro de uso nocivo e dependência de substâncias psicoativas (álcool, cocaína, crack e outras drogas). A Política Nacional de Saúde Mental está articulada de acordo com os princípios da reforma psiquiátrica ocorrida no final da década de 1970, que aboliu o modelo hospitalocêntrico/manicomial de atendimento das pessoas com transtornos mentais. De maneira bem simplificada, pode-se dizer que modelo hospitalocêntrico de atenção em saúde é aquele centrado na atenção hospitalar e curativa, que presta assistência à saúde quando a doença ou agravo já ocorreu, em oposição à atenção preventiva, que busca evitar o surgimento de doenças e agravos à saúde. Em saúde mental, o modelo hospitalocêntrico se caracteriza pelos tratamentos fundamentados na internação dos pacientes que, em geral, ocorre em instituições asilares ou manicomiais, que são fechadas e não permitem sua livre circulação no mundo externo. Assim, a atenção em saúde mental baseia-se atualmente em modelo de assistência aberto e de base comunitária, isto é, garante a livre circulação dos pacientes com transtornos mentais, permitindo-lhes o acesso a serviços, comunidade e cidade e oferecendo-lhes cuidados de acordo com os recursos disponíveis na comunidade, de forma a propiciar-lhes autonomia. A atenção em saúde mental é prestada no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS – por meio da Rede de Atenção Psicossocial. Essa rede é composta por serviços que englobam componentes da atenção básica, da atenção psicossocial, da atenção de urgência e emergência, da atenção residencial de caráter transitório, da atenção hospitalar, além de estratégias de desinstitucionalização e de reabilitação psicossocial (Quadro 1).
Quadro 1: Atenção em saúde mental Componentes Pontos de Atenção Atenção Básica Unidades Básicas de Saúde Núcleo de Apoio à Saúde da Família — Nasf Consultório na Rua Centros de Convivência e Cultura Atenção Psicossocial Centros de Atenção Psicossocial — Caps Equipe Multiprofissional de Atenção Especializada em Saúde Mental / Unidades Ambulatoriais Especializadas Atenção de Urgência e Emergência Samu 192 Sala de estabilização UPA 24h e portas hospitalares de atenção à urgência/pronto-socorro Portas hospitalares de atenção à urgência/pronto-socorro em Hospital Geral Atenção Residencial de Caráter Transitório Unidade de Acolhimento Serviço de Atenção em Regime Residencial Atenção Hospitalar Unidade de Referência Especializada em Hospital Geral Hospital Psiquiátrico Especializado Hospital Dia Estratégias de Desinstitucionalização Serviços Residenciais Terapêuticos Estratégias de Reabilitação Psicossocial Iniciativas de trabalho e geração de renda, empreendimentos solidários e cooperativas sociais. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria de Consolidação nº 3, de 28/9/2017. Consolida as normas sobre as redes do Sistema Único de Saúde. A assistência prestada pela atenção básica inclui as unidades básicas de saúde, as equipes de atenção básica para populações específicas, os centros de convivência e cultura e os Núcleos de Apoio à Saúde da Família — Nasf. Na atenção básica, são desenvolvidas ações de promoção, prevenção e tratamento dos principais problemas de saúde decorrentes do uso de drogas, além de atividades para reinserção social dos usuários. A equipe de Consultório na Rua é constituída por profissionais que atuam de forma itinerante, dispensando cuidados de saúde para a população em situação de rua, de acordo com suas necessidades específicas. É responsabilidade dessa equipe prestar cuidados voltados à saúde mental de pessoas em situação de rua em geral, pessoas com transtornos mentais e usuários de crack, álcool e outras drogas. As ações desenvolvidas são articuladas com as Unidades Básicas de Saúde, as equipes dos Caps, os serviços de urgência e emergência e os outros pontos de atenção. As equipes podem ser compostas por profissionais de saúde de diversas formações. Para
acompanhamento terapêutico e proteção. As unidades têm caráter residencial transitório, com funcionamento ininterrupto, e os pacientes podem permanecer nelas por até seis meses. Essas unidades devem garantir moradia, serviços educacionais e convivência familiar e social. Os Serviços de Atenção em Regime Residencial, entre os quais se incluem as comunidades terapêuticas, se destinam a oferecer cuidados contínuos de saúde, por até 9 meses, para adultos com necessidades clínicas estáveis decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Esses serviços devem funcionar de forma articulada com a atenção básica e com o Caps, que é responsável pela indicação do acolhimento, pelo acompanhamento especializado durante este período, pelo planejamento da saída e pela continuação do cuidado, bem como pela participação de forma ativa da articulação intersetorial para promover a reinserção do usuário na comunidade. Em 2015, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas estendeu o prazo de acolhimento dos usuários de álcool e outras drogas pelas comunidades terapêuticas de 9 para 12 meses, em um período de 24 meses. O Ministério da Saúde criou também as estratégias de desinstitucionalização da Rede de Atenção Psicossocial no âmbito do SUS. O programa é constituído por iniciativas que visam garantir às pessoas com transtorno mental, ou ainda com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, em situação de internação de longa permanência, o cuidado integral, para sua progressiva inclusão social. Entre essas estratégias de desinstitucionalização, destacam-se os Serviços Residenciais Terapêuticos, que são moradias inseridas na comunidade destinadas a acolher pessoas egressas de internação de longa permanência, de hospitais psiquiátricos, hospitais de custódia, entre outras instituições. Há também o Programa de Volta para Casa, que busca contribuir efetivamente para o processo de inserção social das pessoas com longa história de internação em hospitais psiquiátricos, por meio do pagamento mensal de um auxílio reabilitação. O componente reabilitação psicossocial da rede é composto por iniciativas de geração de trabalho e renda, empreendimentos solidários e cooperativas sociais. Por fim, acrescentamos que é crucial fortalecer a detecção precoce e o acesso ao tratamento de adolescentes e jovens com condições de saúde mental que deles necessitem, evitando a institucionalização e a medicalização excessiva, priorizando abordagens não farmacológicas e respeitando os direitos humanos. Acrescentamos que as intervenções para adolescentes e jovens devem considerar as diretrizes baseadas em evidências e os serviços devem ser prestados por equipe supervisionada e treinada para o manejo de suas necessidades específicas. A medicação deve ser usada com grande cautela e só deve ser oferecida a adolescentes com condições de saúde mental moderada a grave, quando as intervenções psicossociais se mostrarem ineficazes e quando clinicamente indicado e com consentimento informado. Os tratamentos devem ser realizados sob a supervisão de um especialista e com acompanhamento clínico rigoroso de potenciais efeitos adversos. Nesse sentido, vale lembrar que um dos fundamentos para a organização da Rede de Atenção Psicossocial é a intersetorialidade, que diz respeito à articulação de serviços e ações de instituições (governamentais ou não) de diferentes áreas, como educação, assistência social, direitos humanos, cultura e esporte, entre outras, com o objetivo de desenvolver estratégias de prevenção e cuidado que levem em conta os múltiplos fatores que interferem na saúde mental. Para que o trabalho intersetorial seja efetivado e ampliado, é importante que os gestores e os profissionais da rede estabeleçam mecanismos de diálogo e de referência com os diferentes serviços e equipamentos disponíveis no território.
O cenário da pandemia de Covid-19 impactou a vida de todos os grupos sociais, e de forma especial os jovens. O estudo “Juventude e a Pandemia do Coronavírus”, realizado pelo Conselho Nacional da Juventude demonstrou que a saúde mental dos jovens foi severamente afetada de diversas formas. Diante desse cenário podemos fazer os seguintes questionamentos:
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a maioria dos adolescentes e jovens tem uma boa saúde mental. Mas as múltiplas mudanças físicas, emocionais e sociais inerentes a essa faixa etária, somadas à exposição a situações sociais desfavoráveis, como a pobreza, o abuso ou a violência, podem tornar os jovens e adolescentes vulneráveis ao adoecimento mental. Por isso, a promoção do bem-estar psicológico e a proteção de experiências adversas e fatores de risco são fundamentais. Nesse período da vida, crucial para o desenvolvimento e manutenção de hábitos sociais e emocionais importantes para o bem-estar mental, é importante atentar para alguns fatores determinantes da saúde mental como: adoção de padrões de sono saudáveis; exercícios regulares; resolução de problemas e habilidades interpessoais; aprendizado sobre como administrar as emoções; apoio familiar, na escola e na comunidade. Intervenções para promover a saúde mental dos adolescentes e jovens visam fortalecer os fatores de proteção e melhorar as alternativas aos comportamentos de risco, informa a Opas. A promoção da saúde mental e do bem-estar ajuda esse grupo a construir resiliência para que possam lidar bem com situações difíceis ou adversidades. Programas de promoção da saúde mental para todos os adolescentes e jovens tendem a ser mais eficazes utilizando formas de distribuição variadas como, por exemplo, mídias digitais, serviços de saúde ou de assistência social, escolas e comunidade. Podemos listar algumas atividades de promoção e prevenção: mudanças organizacionais nas escolas para um ambiente psicológico seguro e positivo; ensino sobre saúde mental e habilidades para a vida; treinamento de pessoal para a detecção e manejo básico do risco de suicídio; programas escolares de prevenção para adolescentes vulneráveis a condições de saúde mental; intervenções baseadas na comunidade, como liderança de pares ou programas de orientação; programas de prevenção dirigidos a adolescentes em situação de vulnerabilidade, como aqueles afetados por ambientes humanitários frágeis e grupos minoritários ou discriminados; programas para prevenir e administrar os efeitos da violência sexual em adolescentes; programas multissetoriais de prevenção ao suicídio e de prevenção ao abuso de
álcool e substâncias; educação sexual integral para ajudar a prevenir comportamentos sexuais de risco; etc. Sabe-se que, mesmo com a necessidade dessas iniciativas em prol da saúde mental dos adolescentes e jovens, ainda é muito difícil testemunhar essas ideias efetivamente implementadas nas escolas e cidades brasileiras. Ainda segundo a mesma fonte, em todo o mundo estima-se que 10% a 20% dos adolescentes vivenciem problemas de saúde mental, mas permanecem diagnosticados e tratados de forma inadequada. Sinais de transtornos mentais podem ser negligenciados por uma série de razões, tais como a falta de conhecimento ou conscientização sobre saúde mental entre trabalhadores de saúde e familiares ou o estigma que os impede de procurar ajuda. A divulgação sobre os transtornos mais frequentes pode contribuir para mudar essa situação. Nos transtornos emocionais, por exemplo, que geralmente surgem durante a adolescência, além da depressão ou da ansiedade, os adolescentes com essa condição também podem sentir irritabilidade, frustração ou raiva excessivas. Os sintomas podem se sobrepor em mais de um transtorno, com mudanças rápidas e inesperadas no humor e explosões emocionais. Os adolescentes mais jovens também podem desenvolver sintomas físicos como dor de estômago, dor de cabeça ou náusea. Em todo o mundo, a depressão é a 9ª causa de doença e incapacidade entre todos os adolescentes, a ansiedade é a 8ª principal causa. Transtornos emocionais podem ser profundamente incapacitantes para o funcionamento de um adolescente, afetando o trabalho e a frequência escolares. A retirada ou a separação de familiares, colegas ou comunidade podem ampliar o isolamento e a solidão. Na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio. Os transtornos alimentares, por sua vez, comumente surgem durante a adolescência e a juventude e afetam mais as mulheres do que os homens. Transtornos alimentares como anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar periódica são caracterizados por comportamentos alimentares nocivos, como restrição de calorias ou compulsão alimentar. A anorexia e a bulimia nervosa também incluem uma preocupação com a comida, a forma ou o peso do corpo, além de comportamentos como exercício excessivo ou purgação para compensar a ingestão de calorias. Pessoas com anorexia nervosa têm um baixo peso corporal e um medo maior de ganhar peso. Pessoas com transtorno de compulsão alimentar podem experimentar sentimentos de angústia, culpa ou autoaversão quando comem compulsivamente. Os transtornos alimentares são prejudiciais à saúde e frequentemente coexistem com depressão, ansiedade e/ou abuso de substâncias. As psicoses surgem mais comumente no final da adolescência ou início da vida adulta e entre seus sintomas estão alucinações (ouvir ou ver coisas que não existem) ou delírios (incluindo crenças fixas e não precisas). Experiências de psicose podem prejudicar gravemente a capacidade de um adolescente ou jovem de participar da vida diária e da educação. Em muitos contextos, adolescentes com psicose são altamente estigmatizados e estão em risco de violações dos direitos humanos. Além dos quadros descritos acima, estima-se que 62 mil adolescentes morreram em 2016 como resultado de suicídio, sendo este a 3ª principal causa de morte entre adolescentes mais velhos ( a 19 anos). As tentativas de suicídio podem ser impulsivas ou associadas a um sentimento de desesperança ou solidão. Os fatores de risco para o suicídio são multifacetados, incluindo o uso nocivo do álcool, abuso na infância, estigma que dificulta a busca de ajuda, barreiras para
Diante disso, algumas questões se colocam para reflexão:
A ampliação da conectividade tem representado uma nova relação entre as pessoas, encurtando distâncias e aproximando as pessoas, mesmo que virtualmente, e possibilitando outras formas de comunicação e entretenimento por meio das tecnologias de informação e comunicação. Os smartphones possibilitam a comunicação, o convívio, a diversão e o trabalho por meio do uso de diferentes ferramentas e aplicativos que atendem a diferentes interesses e necessidades do dia a dia. Diversos fatores determinam a saúde mental dos adolescentes e jovens. Entre os fatores que contribuem para o estresse nesse período da vida, estão o desejo de maior autonomia, pressão para se conformar aos pares, exploração da identidade sexual e maior acesso e uso de tecnologias. A influência da mídia pode exacerbar a disparidade entre a realidade vivida por um adolescente e suas percepções ou aspirações para o futuro. E qual o impacto disso na vida e na saúde mental das pessoas e sobretudo dos jovens? Sem negar os benefícios trazidos, estudiosos têm alertado que o uso excessivo destes recursos pode trazer impactos e riscos para a saúde mental, com implicações físicas, sociais e psíquicas. Atualmente, os diferentes recursos tecnológicos preenchem o nosso tempo com informações e respostas instantâneas, que levam um tempo para serem assimiladas. Na infância e na adolescência isto pode representar um perigo maior ainda. A exposição excessiva de crianças e adolescentes a vídeos, jogos eletrônicos e excesso de informação pode resultar naquilo que hoje vem sendo reconhecido como um fenômeno chamado “intoxicação ou dependência da tecnologia”, que apresenta alguns sinais como: ansiedade, irritação e tristeza quando o recurso tecnológico é retirado; necessidade de estar em contato com a tecnologia todo o tempo; perda de interesse por outras atividades, especialmente ao ar livre como brincadeiras e jogos; prejuízo social e escolar; desmotivação na realização de tarefas comuns como se alimentar, brincar, e cuidar da higiene pessoal. Em 2018, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu o vício em jogos eletrônicos como um problema de saúde pública que necessita de intervenção e acompanhamento, e que traz consequências a curto, médio e longo prazo. Segundo a Organização, o fortalecimento dos laços familiares é fundamental neste processo, para prestar atenção aos sintomas e para colocar limites em relação ao uso de tecnologias na rotina diária, estimulando a diversificação de experiências, viabilizando espaços para que a criança ou adolescente desenvolva soluções criativas diante de diferentes situações.
com a exposição maciça e sem mediação dos conteúdos consumidos, que podem aumentar as vulnerabilidades para estresse e ideações suicidas. Refletindo sobre a sociabilidade digital e suas implicações nas interações de adolescentes mediadas pela internet e analisando o protocolo do isolamento social adotado no Brasil, que apresenta profunda desigualdade e diversidade, observou-se que milhões de pessoas se viram obrigadas a interromper bruscamente grande parte das interações humanas presenciais e a transmissão de dados por meio digital, genericamente chamada de internet, tornou-se o único meio disponível para a não interrupção completa das interações sociais e de trabalho. A hiperconectividade e a mobilidade da internet trouxeram aquilo que autores apontam como sendo a principal característica da sociabilidade digital, a espetacularização do “eu” na busca de um reconhecimento midiático da sua persona. Na pretensão de ser amado, apreciado e aplaudido, os indivíduos estariam submetidos ao que Sibilia chamou de “tiranias da visibilidade”, tendo que estilizar e cultivar suas imagens aos moldes de personagens da mídia audiovisual e “atuar como se estivesse sempre diante de uma câmera, disposto a se exibir em qualquer tela”, tornando a hiperexposição uma característica intrínseca desta sociabilidade digital. Esses elementos se apresentam de forma mais intensa nas interações digitais entre os mais jovens, para quem a auto- estima é afirmada a partir da aceitação nas mídias sociais, pelo olhar e aprovação do outro (conhecidos e desconhecidos). Assim, agências internacionais tais como Unicef e OMS sugerem que a circulação e interação nos ambientes digitais sejam mediadas pelos pais, com linguagem compreensível para as diferentes idades e fases de desenvolvimento, permitindo que crianças e adolescentes possam expressar seus sentimentos, angústias e dúvidas e assim elaborar psíquica e culturalmente a situação, de forma a evitar os diversos efeitos colaterais que o isolamento pode ocasionar como depressão, ansiedade, solidão, maior vulnerabilidade às violências familiares, possíveis tentativas de suicídios ligados à falta da sociabilidade presencial e ao clima social de medo em relação aos desdobramentos da pandemia. Embora a interatividade e mobilidade da internet possam amenizar os efeitos da supressão da interação humana, o uso excessivo da internet pode também gerar uma forma de adicção, um transtorno que gera dependência. Os mais jovens já eram os internautas com maior tempo de uso e, com o isolamento social, essa condição de exposição se acirrou, mas os limites entre as definições nosológicas de transtorno e normalidade serão redefinidas e interpretadas pelo grau de tolerância cultural a tais práticas. Os guias que tratam do tema do uso do tempo entre adolescentes sugerem a criação de rotinas de atividades de estudos, lazer e exercícios. Se é certo que tais sugestões levam em conta uma rotina saudável, há igualmente uma dose de idealização das condições de sua realização que, dependendo do espaço que se dispõe, número de filhos e demais habitantes da casa, tornam tais conselhos difíceis de serem seguidos. A Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou, em 2020, manual de orientação com o objetivo de promover a saúde e o bem-estar de crianças e adolescentes em contato constante com tecnologias digitais. De acordo com a publicação, dados da pesquisa TIC Kiks Online – Brasil (2018), realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), revelam que 86% das crianças e adolescentes brasileiros, entre 9 e 17 anos, estão conectados, o que corresponde a 24,3 milhões de usuários da internet. Cerca de 20% dos participantes do levantamento relataram contato com conteúdos sensíveis sobre alimentação ou sono; 16% com formas de machucar a si mesmo; 14% com fontes que informam sobre modos de cometer suicídio; 11% com experiências com o uso de drogas. Além disso, cerca de 26% foram tratados de forma ofensiva (discriminação ou cyberbullying); e 16% relataram acesso às imagens ou vídeos de conteúdo sexual. Outros 25% assumiram não conseguir controlar o tempo de uso, mesmo tentando passar menos tempo na internet.
Entre as principais orientações atualizadas pelo referido manual, destacam-se: evitar a exposição de crianças menores de dois anos às telas, mesmo que passivamente; limitar o tempo de telas ao máximo de uma hora por dia, sempre com supervisão para crianças com idades entre dois e cinco anos; limitar o tempo de telas ao máximo de uma ou duas horas por dia, sempre com supervisão para crianças com idades entre seis e 10 anos; limitar o tempo de telas e jogos de videogames a duas ou três horas por dia, sempre com supervisão; nunca “virar a noite” jogando para adolescentes com idades entre 11 e 18 anos; evitar ficar diante de telas durante as refeições e desconectar uma a duas horas antes de dormir; oferecer alternativas como esportes, exercícios ou atividades ao ar livre ou em contato direto com a natureza; criar regras saudáveis para o uso de equipamentos e aplicativos digitais, além das regras de segurança, senhas e filtros apropriados para toda família, incluindo momentos de desconexão e mais convivência familiar; evitar encontros com desconhecidos online ou off-line; agir conforme a responsabilidade legal dos pais/cuidadores de saber com quem, onde e o que o filho está jogando; denunciar conteúdos ou vídeos com teor de violência, abusos, exploração sexual, nudez, pornografia ou produções inadequadas e danosas ao desenvolvimento cerebral e mental de crianças e adolescentes. Em síntese, é preciso reconhecer que para adolescentes e jovens o uso da internet é essencial na sua sociabilidade, mas os conteúdos devem ser de conhecimento dos pais e monitorados por eles. Esse é um tema controverso, pois diz respeito à autonomia e privacidade dos mais jovens, por um lado, e ao controle parental, por outro. O diálogo e a escuta sem julgamento culpabilizador ainda são as ferramentas mais efetivas para saber dos filhos quais atividades fazem online. A oportunidade de discutir os riscos das práticas digitais lesivas está dada no contexto de uso intensivo da internet que vivemos a partir da experiência de isolamento social decorrente da pandemia. Por um lado, não banalizar como jogo ou brincadeira tais desafios é uma forma de ajudar os adolescentes a problematizar os riscos envolvidos e a discutir as marcas identitárias dessa sociabilidade digital infantojuvenil. Por outro lado, o caráter lúdico, desafiador e transgressor como marcas da conectividade online não devem ser desconsiderados nem demonizados. Por fim, além de criar medidas para prevenir danos à saúde mental por meio de uma linguagem clara e compatível com o cotidiano de adolescentes e jovens, faz-se necessário trazer este público para o protagonismo das ações e medidas que serão adotadas com o intuito de propiciar o uso saudável das novas tecnologias. PARA REFLETIR Segundo dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2019, 89% das crianças e adolescentes no país eram usuárias regulares de internet no país, índice superior ao observado para a média da população, que foi cerca de 70%. Acessado principalmente através de aparelhos de celular, a internet era utilizada pelas crianças e jovens predominantemente para: o acesso a conteúdos multimídia (83%), trocar mensagens instantâneas (77%), pesquisas escolares (76%), acesso a redes sociais (68%), pesquisas por iniciativa própria (baixar músicas e filmes (59%) assistir ou ler notícias (53%). Além da instalação de filtros de acesso a conteúdos sensíveis e limitações de tempos e horários para uso, quais outras iniciativas concretas poderiam ser tomadas pelos pais / responsáveis para reduzir os impactos negativos do uso excessivo da internet e das redes sociais por crianças e jovens? E o que poderia ser feito pelo estado, enquanto política pública?