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História e evolução do teatro português, Slides de Teatro

Este documento fornece uma análise histórica do teatro português, desde suas origens no século xii até o século xx, abordando as influências estrangeiras, a evolução dos gêneros e a relação com a sociedade e a política portuguesas. Além disso, é apresentada uma visão geral da dramaturgia portuguesa no contexto europeu.

O que você vai aprender

  • Como o teatro português evoluiu ao longo da história?
  • Quais foram as principais influências estrangeiras no teatro português?
  • Como o teatro português se relacionou com a sociedade e a política do país?

Tipologia: Slides

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Luiz_Felipe
Luiz_Felipe 🇧🇷

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Teatro português
Flavia Maria Corradin
Francisco Maciel Silveira
dizia Almeida Garrett, no texto introdutório a Um auto de Gil Vicente, que
“em Portugal nunca chegou a haver teatro, o que se chama teatro nunca...”1.
Quais as causas para um povo de tão opulenta literatura jamais ter tido tradição
no que respeita à dramaturgia? Afinal passaram-se três séculos, desde a fundação do
teatro português com Gil Vicente até o Romantismo, e a cena lusa jamais deixou a fase
do engatinhar. Talvez possamos abrir um parêntesis nesta longa lacuna da dramaturgia
portuguesa para mencionar o nome de Antônio José da Silva, o Judeu, cujas oito peças
que nos legou comprovam seu estro dramático, ceifado, entretanto, em 1739, nos
cárceres da Inquisição. O próprio Garrett explica tal questão:
O teatro é um grande meio de civilização, mas não prospera onde a
não há.
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Depois de criado o gosto público, o gosto público sustenta o teatro: é o
que sucedeu em França e em Espanha; é o que teria sucedido em
Portugal, se o misticismo belicoso de el-rei D. Sebastião, que não
tratava senão de brigar e rezar, e logo a dominação estrangeira que
nos absorveu, não tivessem cortado à nascença a planta que ainda
precisava muito abrigo e muito amparo.2
A resposta só poderia ser dada por um romântico que crê firmemente nos valores
nacionalistas, isto é, na independência nacional, pois, segundo nosso Autor, “...a
literatura dramática é, de todas, a mais ciosa de independência nacional.”3
Se a reconquista da independência política ocorrera em 1640, é com os ideais
liberais advindos da Revolução Francesa, (responsável pela entronização de uma nova
classe social a burguesia ), que Portugal, de fato, emerge para uma tentativa de
ressurreição, ou até mesmo de (re?)criação da dramaturgia nacional.
A revolução de setembro de 1836, conhecida como Setembrismo, liderada, entre
outros, por Passos Manuel, intentava o fomento cultural do País. Para tanto, Garrett é
nomeado Inspetor Geral dos Teatros, (se é que podemos afirmar ter havido teatros
capazes de serem inspecionados, pois só existiam “duas arribanas” Salitre e Rua dos
Condes). Pondo mão à obra, criou o Repertório da Cena Nacional, que intentava
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GARRETT, Almeida. Frei Luís de Sousa - Um auto de Gil Vicente (prefácio de Teófilo Braga).Porto,
Chardron, s/d., 157.
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Id. ibid. , p.158.
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Id. ibid. , p.161.
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Teatro português Flavia Maria Corradin Francisco Maciel Silveira Já dizia Almeida Garrett, no texto introdutório a Um auto de Gil Vicente, que “em Portugal nunca chegou a haver teatro, o que se chama teatro nunca...”^1. Quais as causas para um povo de tão opulenta literatura jamais ter tido tradição no que respeita à dramaturgia? Afinal passaram-se três séculos, desde a fundação do teatro português com Gil Vicente até o Romantismo, e a cena lusa jamais deixou a fase do engatinhar. Talvez possamos abrir um parêntesis nesta longa lacuna da dramaturgia portuguesa para mencionar o nome de Antônio José da Silva, o Judeu, cujas oito peças que nos legou comprovam seu estro dramático, ceifado, entretanto, em 1739, nos cárceres da Inquisição. O próprio Garrett explica tal questão: O teatro é um grande meio de civilização, mas não prospera onde a não há. (...) Depois de criado o gosto público, o gosto público sustenta o teatro: é o que sucedeu em França e em Espanha; é o que teria sucedido em Portugal, se o misticismo belicoso de el-rei D. Sebastião, que não tratava senão de brigar e rezar,  e logo a dominação estrangeira que nos absorveu, não tivessem cortado à nascença a planta que ainda precisava muito abrigo e muito amparo.^2 A resposta só poderia ser dada por um romântico que crê firmemente nos valores nacionalistas, isto é, na independência nacional, pois, segundo nosso Autor, “...a literatura dramática é, de todas, a mais ciosa de independência nacional.”^3 Se a reconquista da independência política ocorrera em 1640, é com os ideais liberais advindos da Revolução Francesa, (responsável pela entronização de uma nova classe social  a burguesia ), que Portugal, de fato, emerge para uma tentativa de ressurreição, ou até mesmo de (re?)criação da dramaturgia nacional. A revolução de setembro de 1836, conhecida como Setembrismo, liderada, entre outros, por Passos Manuel, intentava o fomento cultural do País. Para tanto, Garrett é nomeado Inspetor Geral dos Teatros, (se é que podemos afirmar ter havido teatros capazes de serem inspecionados, pois só existiam “duas arribanas”  Salitre e Rua dos Condes). Pondo mão à obra, criou o Repertório da Cena Nacional, que intentava 1 ^ GARRETT, Almeida. Frei Luís de Sousa - Um auto de Gil Vicente (prefácio de Teófilo Braga).Porto, Chardron, s/d., 157. 2 ^ Id. ibid. , p.158. 3 ^ Id. ibid. , p.161.

valorizar os autores dramáticos por meio de prêmios aos novos talentos, e o Conservatório da Arte Dramática, que se propunha a julgar as peças aí inscritas. É também de Garrett a idealização do futuro teatro D. Maria II, inaugurado efetivamente em 1846 com o drama histórico Magriço ou os 12 de Inglaterra , de Jacinto de Aguiar Loureiro. Eis os três elementos indispensáveis, na óptica garrettiana, para que frutificasse a cena portuguesa. Talvez possamos aventar um quarto fator sem o qual seria impossível o florescimento da arte dramática: o espectador. Classe dominante, desejosa de ver e ser vista , expressão patenteada pelo crítico Ortega y Gasset que se aplica precisamente à visão de mundo dessa camada da sociedade, a burguesia, que buscava, em seu tempo livre, a valorização cultural, já ideada por Garrett. Ainda que atrasado em relação ao resto da Europa, Portugal, a partir da Revolução Liberal, com o Setembrismo, democratiza a alfabetização, o ensino e mesmo a cultura, permitindo, assim, o acesso das camadas populares aos “bens de consumo literários”, tais como o romance e o teatro. Porém a popularização do conhecimento e das artes causa um novo problema: a burguesia, ainda que pretendendo aristocratizar-se, está bastante distante de atingir o tão sonhado intelectualismo que a capacitaria ser espectadora de grandes obras teatrais. Surge, então, uma produção dramática que, restrita às imitações ou traduções de textos dramáticos alienígenas, revelava-se proveitosa exclusivamente para agradar ao gosto diletante das massas populares. Portanto, a cena lusa, nesse século XIX, é financiada e frequentada por um público muito pouco exigente em termos de qualidade cênica e/ou literária, o que implica (talvez com uma única exceção  Frei Luís de Sousa , Almeida Garrett  ) a baixa qualidade das (e certa dose de alienação nas) peças produzidas no período. Ao fim e ao cabo, a proposta de soerguimento do teatro nacional português, formulada por Almeida Garrett, parece ter esbarrado, de um lado, na tradição melodramática importada da França, dando asas ao chamado melodrama burguês; de outro, no melodrama histórico, no qual se privilegia tão-somente uma visão superficial e episódica da História, em que fatos e pessoas se desvinculam do processo em que estão inseridos. Embora persista a sobrevivência do teatro histórico, o Realismo no teatro português inicia-se em 1893, com Os velhos , de D. João da Câmara, mesmo autor que, no ano seguinte, dá início ao drama simbolista, com O pântano.

Alfredo Cortês e Carlos Selvagem, a tratarem da desagregação da sociedade burguesa nos anos da guerra e nos que imediatamente se seguiram. No décimo capítulo, o autor compila as tendências atuais do teatro português. Com o desejo de ser informativo, evitando a sobrecarga de dados factuais disponíveis em outras fontes bibliográficas, História do teatro português , de José Oliveira Barata (1991), em seus sete capítulos, começa por problematizar a especificidade do fenômeno teatral, oferecendo um modelo teórico de análise e ainda reflete acerca da vitalidade de uma tradição dramática portuguesa. Os capítulos II, das origens a Gil Vicente, III, Reflexos do renascimento europeu no teatro português, IV, A dramaturgia portuguesa em busca de identidade, V, Do romantismo ao naturalismo, VI, do simbolismo à modernidade, VII, O teatro português contemporâneo no contexto da crise entre guerras, rastreiam diacronicamente as manifestações teatrais portuguesas, dando destaque a António Ferreira ( Castro ), António José da Silva, Garrett ( Frei Luís de Sousa ), D. João da Câmara ( Os velhos ), o teatro poético de António Patrício, Raul Bandão, culminando na contemporaneidade com Sttau Monteiro ( Felizmente há luar! ), Bernardo Santareno ( O Judeu ). Não enveredando por comentários de textos dramáticos, História do teatro português oferece linha de reflexão, levando o leitor a construir criticamente sua visão do que houve (há) de mais importante no teatro português. Produto de trinta anos de trabalho dedicados ao teatro, a História do teatro português, de Duarte Ivo Cruz (s/d), envolvendo simultaneamente um sentido factual e um sentido crítico, percorre, em catorze capítulos, as tendências do teatro português, indo dos “sinais difusos do teatro pré-vicentino” para a modernização do teatro com Anrique da Mota, Gil Vicente, António Ribeiro Chiado, Baltazar Dias. O teatro clássico merece a atenção do historiador em suas oscilações do texto e do espetáculo. O capítulo IV, intitulado “O teatro da expansão”, leva-nos a atentar para a expansão na criação e cultura teatrais, seminando o teatro brasileiro, o indiano e o africano. A primeira parte de sua história termina com os clássico, neoclássico e naturalmente Garrett e o Romantismo. A segunda, de 1893 a 2000, dedica-se à potenciação e sinais de modernidade, findando no décimo quarto capítulo com o teatro português contemporâneo, seus caminhos e tendências. Releva notar ainda o livro de Graça dos Santos, da Université de Haute-Bretagne

  • Rennes II, cuja edição portuguesa se intitula O espetáculo desvirtuado: o teatro português sob o reinado de Salazar (1933-1968) , 2004. Trazendo à tona um arsenal de

documentos, o trabalho parte das memórias de artistas, arquivos, encenadores e artigos de imprensa para tratar da vida teatral (e cultural) durante o salazarismo com o objetivo de analisar as particularidades do teatro português do período em comparação com o de outros países que viveram regimes ditatoriais. O ponto nevrálgico do livro é o capítulo que trata do Teatro do Povo, ideado por António Ferro, exemplo maior de propaganda do regime, em confronto com o Théâtre Populaire Française, apontado por Ferro como inspirador do projeto português. Ao fim e ao cabo, percebe-se muito pouco em comum entre as duas iniciativas. A autora acaba por concluir que a evolução teatral portuguesa é sobremaneira importante para a redemocratização do país. Para finalizar, não se poderia deixar de lado o trabalho coordenado por investigadores do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, intitulado Documentos para a História do Teatro em Portugal (http://ww3.fl.ul.pt/cethtp/webinterface/default.htm). O projeto, como deixa patente o título, reúne fontes documentais da atividade teatral portuguesa do século XVI ao XIX, permitindo ao interessado diferentes possibilidades de filtros de acesso. Sem dúvida, trata-se de fonte bibliográfica capital para aqueles que se dedicam ao estudo do teatro português nos diferentes âmbitos do conhecimento. Referências: BARATA, José Oliveira. História do teatro português. Lisboa, Universidade Aberta,

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