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TARÔ E ARQUÉTIPOS, Notas de estudo de Psicologia

Este artigo sintetiza a análise junguiana das cartas do Tarô de Marselha, ... Hermes, da mitologia grega (Mercúrio da romana) é o deus da eloqüência, do.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Raimundo
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Revista das Faculdades de Educação, Ciências e Letras e Psicologia Padre Anchieta 47
ARGUMENTO - Ano V - No 9 - Abril/2003
TARÔ E ARQUÉTIPOS Lannoy Dorin*
RESUMO:
Este artigo sintetiza a análise junguiana das cartas do Tarô de Marselha, feita por Sallie
Nichols, que usou o baralho como técnica projetiva. E também apresenta o correspondente Tarô
dos Deuses, com dados sobre as figuras mitológicas nele representadas e uma relação de traços
opostos da psique, os arquétipos sugeridos pelas imagens das cartas.
ABSTRACT:
This article synthesizes the Junguian analysis of the Marseilles Tarot´s cards made by
Sallie Nichols, who used the pack of cards like a projective technic. It has also the Gods Tarot,
and data about them mythologic pictures. In conclusion, there are a list of opposed psychic traits,
or archetypes, suggested by the pictures of the cards.
INTRODUÇÃO
O baralho de tarôs, ou o Tarô (Tarocco no Italiano antigo; Tarok em Alemão;
Tarot ou Tarau em Francês), originário da Europa Central, embora suas raízes sejam
milenares, é constituído de 22 cartas (trunfos ou naipes), sendo 21 numeradas de I
a XXI e uma sem número, conhecida como O Louco (Le Fou, em antigo Tarô francês;
11 Matto, no italiano; The Fool, no inglês), que é O Poeta no Tarô dos Deuses, o
Curinga (do quimbundo kuringa = matar), representando o bobo da corte, o coringa,
pessoa feia e raquítica, cuja personalidade tem como traços marcantes a infantilidade,
a ingenuidade, a inteligência, a bizarrice, a engenhosidade, a intuição, a
irresponsabilidade, a graça e a loucura.
Os desenhos dos tarôs (cartas) têm significados esotéricos (de conhecimento
dos iniciados e ocultos para leigos) e são representações simbólicas de arquétipos.
São símbolos (e não meros sinais) eternos em nossa vida e ubíquos, isto é, presen-
tes em toda parte.
Cada carta do Tarô é uma imagem arquetípica, isto é, uma figura que represen-
ta um conjunto de arquétipos (motivos da espécie) pertencentes ao inconsciente
coletivo. Mesmo que em diferentes baralhos alguns traços sejam dessemelhantes,
essas figuras possuem características eternas da espécie e se encontram em situ-
ações que se repetem em todos os tempos. Logo, os personagens do baralho estão
* Pedagogo (PUCCAMP, 1960), mestre em Psicologia pela (USP, 1981), jornalista (MTb, 19.970) e escritor.
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Revista das Faculdades de Educação, Ciências e Letras e Psicologia Padre Anchieta (^47)

TARÔ E ARQUÉTIPOS

Lannoy Dorin*

RESUMO:

Este artigo sintetiza a análise junguiana das cartas do Tarô de Marselha, feita por Sallie Nichols, que usou o baralho como técnica projetiva. E também apresenta o correspondente Tarô dos Deuses, com dados sobre as figuras mitológicas nele representadas e uma relação de traços opostos da psique, os arquétipos sugeridos pelas imagens das cartas.

ABSTRACT:

This article synthesizes the Junguian analysis of the Marseilles Tarot´s cards made by Sallie Nichols, who used the pack of cards like a projective technic. It has also the Gods Tarot, and data about them mythologic pictures. In conclusion, there are a list of opposed psychic traits, or archetypes, suggested by the pictures of the cards.

INTRODUÇÃO

O baralho de tarôs, ou o Tarô (Tarocco no Italiano antigo; Tarok em Alemão; Tarot ou Tarau em Francês), originário da Europa Central, embora suas raízes sejam milenares, é constituído de 22 cartas (trunfos ou naipes), sendo 21 numeradas de I a XXI e uma sem número, conhecida como O Louco (Le Fou, em antigo Tarô francês; 11 Matto, no italiano; The Fool, no inglês), que é O Poeta no Tarô dos Deuses, o Curinga (do quimbundo kuringa = matar), representando o bobo da corte, o coringa, pessoa feia e raquítica, cuja personalidade tem como traços marcantes a infantilidade, a ingenuidade, a inteligência, a bizarrice, a engenhosidade, a intuição, a irresponsabilidade, a graça e a loucura. Os desenhos dos tarôs (cartas) têm significados esotéricos (de conhecimento dos iniciados e ocultos para leigos) e são representações simbólicas de arquétipos. São símbolos (e não meros sinais) eternos em nossa vida e ubíquos, isto é, presen- tes em toda parte. Cada carta do Tarô é uma imagem arquetípica, isto é, uma figura que represen- ta um conjunto de arquétipos (motivos da espécie) pertencentes ao inconsciente coletivo. Mesmo que em diferentes baralhos alguns traços sejam dessemelhantes, essas figuras possuem características eternas da espécie e se encontram em situ- ações que se repetem em todos os tempos. Logo, os personagens do baralho estão

  • Pedagogo (PUCCAMP, 1960), mestre em Psicologia pela (USP, 1981), jornalista (MTb, 19.970) e escritor.

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em situações que todos nós, de um ou de outro modo, estaremos em certos instan- tes ou fases de nossa vida. Em resumo, cada carta é representativa de vários traços da psique humana, sintetizados numa denominação: Papisa (a grande Mãe), Mago, Imperatriz, Louco, etc. Os arquétipos existem em forma de opostos na psique (conjunto de fenômenos psíquicos conscientes e inconscientes), tanto na individual como na coletiva (objetiva). Eles estão sempre em luta, ora preponderando uns, ora outros. Caberá ao ego (centro da consciência) esforçar-se por conhecê-los na psique individual (autoconhecimento com auxílio da Psicologia Analítica de Jung e seus seguidores) e na coletiva (conhecimento das grandes religiões, das ciências humanas, das ar- tes, das mitologias, dos folclores, dos sonhos e das psicoses). Aos interessados em estudar a psique humana, é indispensável o conhecimen- to das mitologias, principalmente a grega, pela riqueza de encontros arquetípicos nos seus mitos.

Mito, do grego mythos, significa uma história de origem popular, transmitida através de gerações, que relata de forma ampliada as forças da natureza e aspectos da condição humana. Os mitos, as fábulas, como disse Jung, são histórias de encontros arquetípicos. “Como o conto de fadas é análogo às atividades do comple- xo pessoal, o mito é uma metáfora para as atividades do arquétipo per se” (SAMUELS, SHORTER e PLAUT, 1988: 127-29). Eles são projeções da psique e nos mostram a vida que tiveram os “primitivos”, no dizer de JUNG (1977). Ou seja, o mitologema, a narrativa mítica, sempre tem uma figura representando traços da psique humana hiperdimensionados (para a consciência). Exemplo? Ulisses, o maior dos heróis na cultura grega. As cartas do Tarô, como figuras de testes projetivos, permitem ao indivíduo a projeção de seus complexos, cujos núcleos são os arquétipos. A partir dessa projeção e seu entendimento (com a ajuda de um psicólogo que conheça as teorias e os procedimentos de análise junguianos), a pessoa pode se conscientizar de alguns complexos (e arquétipos) que no momento estão desempenhando importante papel no seu pensamento e no seu comportamento. Ou seja, as figuras do baralho possi- bilitam ao ego “pescar” no inconsciente alguns complexos, que são contornos pes- soais dos arquétipos, e depois tentar descobrir o que eles estão fazendo. E isto ocorre porque, ao se projetar, a pessoa transfere à imagem da carta as idéias com forte carta afetiva (complexos) que estão mais próximas da consciência. Assim, o Tarô não diz o que você é e nem prevê o seu futuro. Na verdade, ele é um desses instrumentos seculares que ajudam as pessoas a se conhecerem e a conhecerem a humanidade. Todas as figuras humanas do Tarô e as situações ensejadas existem na reali- dade. Algumas são vistas a olho nu (como o Louco que vagueia pela cidade) e outras só com lente de aumento (como a Grande Mãe, a Papisa, pela maioria dos filhos que vivem bem abrigados sob as asas enormes dessa “galinha Conchinchina”).

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amanhã, levam o dinheiro que ontem ganhamos com muito sacrifício.

Com base na citada obra de Nichols e outras leituras (CAMPBELL, 1988, 1990; EDINGER, 1989; FRANZ, 1992; GUIMARÃES, 1983; JUNG, C. G., 1975, 1977, 1986, 1988, 1991; JUNG, E., 1991; WHITMONT, 1990), resumimos alguns dos traços psíquicos (opostos) que os símbolos do Tarô sugerem.

O LOUCO (TARÔ DE MARSELHA)

O POETA (TARÔ DOS DEUSES)

Ligação do mundo racional – o da palavra (Logos) ao não-verbal – o da imagina- ção (Eros), é o profeta e poeta, que se move fora do espaço e do tempo. É aquele que não tem número; é o círculo e seu centro (self junguiano). Mais andrógino que os outros tipos, é o Eros em luta contra o Logos. Os opostos de sua psique estão em constante combate e sempre buscando o significa- do das coisas e da vida. Ele é o ser humano que deseja ser tudo ao mesmo tempo, como, em parte, tenta no Carnaval. opostos

I - O MAGO (TARÔ DE MARSELHA)

HERMES (TARÔ DOS DEUSES)

Hermes, da mitologia grega (Mercúrio da romana) é o deus da eloqüência, do comércio e dos ladrões. É o yang do Taoísmo. Manipulando o tempo e criando confusão, o Mago liga o mundo superior ao inferior, o ego ao self, e revela-nos o que somos, ajudando-nos em nossa humanização.

opostos

alegria, infantilidade, aventureirismo, espí- rito sonhador, simplicidade, graça, avidez, espontaneidade, ingenuidade, indiferença pelo social, isolamento, criatividade, genialidade, seriedade, espírito folgazão.

tristeza, safadeza, boêmia, imobilidade, solidão, complexidade, introversão, falsida- de, dispersão, loucura, vagabundice, ten- dência à fuga, falta de confiança, desâni- mo, obsessão, remorso.

aventureirismo, astúcia, lirismo, equilibração, gênio do bem, comunicabilidade, vivacidade mental, criatividade, espírito comerciante, miraculosidade, dado ao sonho.

falsidade, ilusionista, desequilíbrio, incomunicabilidade, ociosidade mental, tendência ao roubo, mistificador, espírito di- abólico, aproveitador dos outros, maquiavélico.

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II - PAPISA (TARÔ DE MARSELHA)

HERA (TARÔ DOS DEUSES)

Suma sacerdotisa no Tarô de Marselha, é a deusa da fertilidade e da reprodução, do crescimento e da decadência. É a personificação da feminilidade. Simboliza o céu. Hera, esposa de Zeus, o deus supremo, é a rainha do Olimpo. Corresponde a Juno da mitologia romana. Com poderes como o Mago, é o yin do Taoísmo. A Papisa é a mãe coletiva. É a Virgem, a espiritualidade. Tem a magia da lua e a profundidade e o perigo do mar. Por ser sua essência paradoxal, é conhecendo-a que o homem se conhecerá, porque ela representa o self junguiano espiritualmente desenvolvido.

opostos

III - A IMPERATRIZ (TARÔ DE MARSELHA)

DEMÉTER (TARÔ DOS DEUSES)

Governante do reino mundano, é a Madona, a Grande Mãe, a Rainha do Céu e da Terra, isto é, o elo de ligação entre espírito e carne. Ceres, na mitologia romana, era a deusa da colheita (de cereais). É a mãe individual, que guarda relação com a coletiva (Papisa). É Lilith, a que queria igualdade com Adão, a qual lhe foi negada. Corresponderia à Papisa governando o mundo, ligando yang a yin.

opostos

receptividade, sensatez, paciência, espe- ra, passividade, compreensão, fidelidade, moralismo, espírito frio, escuro e fluido (como a água), persistência, amorosidade, alma fechada e misteriosa, segurança, sabedoria, poderes não-verbais, percep- ção, praticidade, intuição, pitonisa.

ignorância, ciúme, rancor, egoísmo, possessividade, infidelidade, vingança, dominação, melancolia, controle, mutabilidade, presunção, impiedade, tradicionalismo, severidade, dureza, rudez.

dinamismo, sedução, feminina, deusa, madona, sociabilidade, disposição, deci- são, ação, conclusão, governo pelo amor, amorosidade, criatividade feminina, inova- ção.

fraqueza, futilidade, abandono, esterilida- de, cruel mãe natureza, poder asfixiante, vacilação, infidelidade, invejosa, madras- ta cruel, feiticeira, pobreza de espírito, in- teresseira, mulher fatal, autoritária, Kali (esposa de Shiva, sedenta de sangue).

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VI - O ENAMORADO (TARÔ DE MARSELHA)

A ESCOLHA DE HÉRCULES (TARÔ DOS DEUSES)

Hércules (ou Herácles, como o chamavam os gregos), significa “a glória de Hera”, a qual, por ciúme, tentou eliminá-lo ainda no berço. Ele, porém, estrangulou as serpentes enviadas por Hera. Sua vida caracterizou-se, então, pelo contínuo conflito entre a solução pela força física ou pelo intelecto, já que sempre viveu sendo desafiado. No seu primeiro trabalho, afogou o leão de Nemén e no décimo segundo libertou Teseu dos infernos. Coube-lhe ainda a tarefa de libertar Prometeu. O Enamorado é o ego jovem e vigoroso, pronto para enfrentar sozinho os desa- fios desta existência. Terá que se decidir e assumir. Na carta do Tarô de Marselha, entre duas mulheres (princípio yin), talvez a mãe e a namorada (que no fundo é a sua anima), ou ainda a esposa e a amante. É o triângulo amoroso com seus conflitos. Que traços revela o Enamorado, esse jovem em quem a consciência e a força instintual sexual duelam?

opostos

VII - O CARRO (TARÔ DE MARSELHA)

ARES (TARÔ DOS DEUSES)

Ares (Marte dos romanos) é o deus grego da guerra, do ataque e da defesa. O carro é um veículo de poder e conquista. Simboliza o meio pelo qual o ego equilibra a luta dos opostos e leva adiante o processo de individuação. Equilibrado, é o ego funcionando em sintonia com o self (o eu maior). Como guerreiro, o ego tem que matar o dragão (o orgulho).

opostos

vigor, prudência, beleza, cautela, força, otimismo, decisão, vivacidade mental, livre- arbítrio, liberdade, confiança, gosto pelos desafios, renúncia aos prazeres.

fraqueza, imprudência, dispersão, insatis- fação, afoiteza, dúvida, inocência, depen- dência, irresponsabilidade, infidelidade sentimental.

força, segurança, liderança, domínio, operosidade, impulsividade, coragem, va- lentia, passionalidade, equilíbrio, sucesso, triunfo, amorosidade.

machismo, egocentrismo, teomania (ma- nia de Deus), descontrole, chauvinismo (nacionalismo exagerado), insensibilida- de, fraqueza, explosividade, agressividade, brutalidade, rudez, orgulho, arrogância, belicosidade.

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VIII - JUSTIÇA (TARÔ DE MARSELHA)

TÊMIS E NÊMESIS (TARÔ DOS DEUSES)

Têmis é a deusa da ordem e da justiça. Nêmesis, da ira justiceira, da vingança divina ou da retribuição. Ambas estão sempre juntas, como cara e coroa de uma mesma moeda. A figura feminina da Justiça representa o poder feminino sobre-humano. Com a espada, cortará as ilusões e muitas pretensões. É a união harmoniosa entre a neutralidade e a parcialidade.

opostos

IX- O EREMITA (TARÔ DE MARSELHA)

CRONOS (TARÔ DOS DEUSES)

Deus do tempo, Cronos (o Saturno dos romanos) é o que acumulou conheci- mento, tem estudo, paciência e discrição. É o Velho Sábio arquetípico, na termino- logia junguiana. Ilumina a parte escura da psique, porque é o arquétipo do espírito. Ao contrário dos que têm o saber ou o poder institucionalizado, ele o tem além deste espaço e deste tempo.

opostos

X - A RODA DA FORTUNA (TARÔ DE MARSELHA)

A ESFINGE (TARÔ DOS DEUSES)

A Esfinge era uma criatura com cabeça e peito de mulher, corpo de leão, asas de águia e rabo de serpente. Ela sempre propunha uma charada aos que passavam pelo monte de Tébas, onde vivia. Foi Édipo quem decifrou sua charada e por isso o povo de Tébas o fez rei. A Roda da Fortuna tem de um lado o macaco (associado a Tífon, deus da destruição) e de outro um animal estranho com cabeça de cachorro (associado a

justiça, ordem, disciplina, ponderação, sentimento, imparcialidade, decisão, aus- teridade, resolução.

retaliação, intolerância, prejuízo, autoritarismo, emoção, severidade exces- siva, punição, abuso.

luz, esperança, prudência, sabedoria, pa- ciência, equilíbrio de yang e yin (unidade interior), discrição.

vazio, tristeza, angústia, destruição, indife- rença, desconfiança, isolamento, solidão.

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XII - O ENFORCADO (TARÔ DE MARSELHA)

PROMETEU (TARÔ DOS DEUSES)

Prometeu foi o criador da Humanidade, tendo feito o primeiro homem com barro e lágrimas. Nesse Homem, Atena infundiu a alma, a vida. Esta Atena levou Prome- teu ao Olimpo. E, ao descer do céu, passando pelo carro de Apolo, Prometeu rou- bou uma fagulha do fogo divino para dá-la ao homem. E deu-a. Foi por isso punido por Zeus. Acorrentado ao Cáucaso, uma águia durante o dia arrancava-lhe o fígado e o devorava. Mas à noite outro fígado aparecia em Prometeu. Era a contínua tortura, que só terminou porque Hércules o salvou, matando a águia. Para os gregos, o fígado era a sede dos humores que determinavam as dispo- sições afetivas (veja a teoria de Hipócrates sobre os tipos de temperamento). Prometeu, o que auxilia o homem e desagrada os deuses, o rebelde criador da Civilização, simboliza a Humanidade. Esperto, forte, sério e belo, ele representa o ideal do sacrifício (de sacro, sagrado) pelo próximo. O Enforcado está nas mãos do Destino (força imaginária ou real que preside o curso dos eventos; para os gregos, força real, um deus, tal qual o determinismo das ciências a partir do séc. XIX). Está à mercê dos deuses, como os animais. Todavia, ele tem consciência e pode aceitar o destino conscientemente, para tentar decifrá- lo, buscar seu significado. O Enforcado está de ponta cabeça, isto é, mergulhado no inconsciente e pede a ajuda dos deuses (mitos, arquétipos) para ter paciência, coragem e aceitação do sofrimento, que é o conhecer a si mesmo em profundidade. Se compreender a crucificação (de cruz), estará na vida com nova consciência e um ego (centro dela) maior e mais consciente.

opostos

XIII - A MORTE (TARÔ DE MARSELHA)

HADES (TARÔ DOS DEUSES)

Hades é o deus dos Infernos. Designa também o mundo inferior (do latino infernus = região inferior). Na partilha do Universo, esse Plutão dos romanos, ficou com o império de baixo, dos Infernos, tendo Perséfone como rainha e esposa. Graças a seu capacete, que o tornava invisível, podia transitar pelo mundo terreno fazendo

liberalismo, paciência, abnegação, perfei- ção moral, coragem, esforço, altruísmo, sacrifício por ideais (idealismo), esperte- za, pragmatismo (a alma que Atena lhe deu).

fuga da realidade, fraqueza, ideais inatingí- veis, falta de vontade, excessiva confiança, fatalismo, dependência dos outros, um or- ganismo que veio do pó e ao pó voltará (in- consciente do que deveria ter consciência, alienado).

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sua obra sem ser obstaculizado. A Morte representa a poda do velho, os hábitos que devem ceder lugar aos novos, brotos com vida. O hiato entre fim e novo começo, estabilidade e movimento, morrer e renascer gera um período de aflição (ansiedade), angústia e pânico. A Morte, assim, simboliza transformação. É representada pelo esqueleto ósseo, por- que este é a parte mais profunda do corpo e, portanto, intocável. Quando a pessoa é enterrada, o que ficará depois é o que veio em primeiro lugar com sua consciência da natureza humana “a única coisa que sei e não duvido é que morrerei”. Impessoal (e andrógina), universal e eterna, a morte é o outro lado da moeda que traz a fecundação, a regeneração e a renovação. É também um enigma a ser decifrado quando se morre. Mas o todo – a vida – é feito de partes: morre-se e se renasce a cada segundo, como ensina o Budismo, sendo que na luta dos opostos o que morre não se extingue para sempre. Fica apenas menos potente ou saliente. Morte pertence ao lado yin (porque limitação carnal), mas é usualmente menci- onada como masculina. A ela sempre estiveram associados inúmeros rituais. “Com o colapso da religião organizada, esses modos rituais de enfrentar a morte se aca- bam perdendo e, uma vez que a idéia da morte é tão monstruosa que não podemos enfrentá-la sozinhos, até há pouco tempo simplesmente a varríamos para debaixo do tapete. Na última década, como discutiremos mais tarde, começamos a explorar novas maneiras de aceitar o problema universal da mortalidade física e de lidar com ele” (NICHOLS, 1991: 234). “A Natureza pouco se preocupa com o indivíduo; seus esforços propendem tão somente para a preservação da espécie” (NICHOLS, 1991: 236)

opostos

“O treze simboliza morte e nascimento, mudança e retomada após o final. Por isto marcada caracteristicamente com um valor adverso” (CIRLOT, 1984: 415). Embora seja número de mau agouro, não devemos entendê-lo só nesse sen- tido para não fugirmos à dialética. O motivo de 13 ser agourento está na literatura sagrada de alguns povos e não na de outros. Citemos apenas algumas alusões negativas: Zeus é o maior, mas é o décimo terceiro no cortejo de seus deuses subordinados. Ao acrescentar sua estátua à dos 12 deuses, Felipe da Macedônia morreu. A Cabala enumera 13 espíritos do mal. O 13º capítulo do Apocalipse é o do Anticristo e da Besta. Cristo teve doze apóstolos, um dos quais seu traidor. À Santa Ceia estavam os 13 do grupo (CHEVALIER e GHEERBRANT, 1989).

desprendimento, energia, doação, lucidez mental, amor, alegria, transformação radi- cal, renovação, radicalismo, renascimento, inovação, reorganização, reassimilação.

fraqueza, imobilidade, medo, horror, estag- nação, angústia existencial, apego ao cor- po, amargura, ruína, avareza, fuga, apego ao velho (conservadorismo), desestruturação, pragmatismo.

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seu lado negativo (negro, para o ocidental). É o oposto de Jesus Cristo. Como essa figura atua pode-se ver em Iago, personagem da peça Otelo , de William Shakespeare. O Diabo é também o bode expiatório. Por isso, modernamente, é o computa- dor.

XVI - A TORRE DA DESTRUIÇÃO (TARÔ DE MARSELHA) A IRA DE POSEIDON (TARÔ DOS DEUSES)

Essa Torre também é conhecida como A Casa de Deus, Dieu, em Francês, palavra cuja origem muitos relacionam a feu , fogo. Poseidon ou Posídon (Netuno dos romanos) é o deus dos oceanos, mares, rios e lagos. E se uma extensão de água simboliza o inconsciente coletivo, ele é um deus muito poderoso. Só não sabe disso quem não conhece o mar. Portanto, cuida- do com o inconsciente, que, como Poseidon, vinga e destrói quem invade seu espa- ço sem “licença”, “sem sabedoria”. A Torre ligaria o espírito à matéria, ego ao self, a consciência ao inconsciente. Seria uma escada pela qual o homem subiria e os deuses desceriam. Ela é útil para a defesa, a proteção, a observação e a retirada. E como a do farol, serve para se ver longe e antecipar possíveis perigos. Mas pode também ser prisão. Podemos viver aprisionados por torres ideológicas e, portanto, “no ar”. Uma prisão que criamos com nosso orgulhoso egocentrismo. Finalmente, é preciso lembrar que torres atraem raios, que fertilizam as águas, gerando nova vida. Queimando o orgulho, o homem é outro. Poseidon vinga-se de quem foge muito do que é fundamental para o homem: a simplicidade pela consciência de sua pequenez em relação ao Universo.

opostos

XVII - A ESTRELA (TARÔ DE MARSELHA)

AS PLÊIADES (TARÔ DOS DEUSES)

As Plêiades, ou Atlântidas, são as linhas filhas de Pleione e Atlas, o Titã que foi condenado a carregar a Terra sobre os ombros. Eram 7 (em algumas versões, 15). Raptadas pelo rei do Egito, Hércules as libertou. Em seguida, Órion (o caçador) as perseguiu, encantado pela beleza das Plêiades. Elas pediram auxílio aos deuses e estes as transformaram em estrelas. Como astros com luz própria, brilhavam e

defesa, espírito observador, consciência das limitações, libertação da prisão, mu- dança, nova direção.

desequilíbrio psíquico, orgulho, egocentrismo, egoísmo desmedido, ilu- sões, prisão ideológica, fracasso.

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consolavam Atlas, o pai, que seguia pagando sua pena. A Estrela é simbolizada pela mulher nua (natureza), brincando com a água do rio (energia, transformadora). Sobre ela, as estrelas, uma das quais gigante – a Grande Obra (Alquimia). As estrelas estão sempre ligadas à imortalidade, às forças condutoras, ao caminho a seguir (a estrela de Belém, por exemplo). Na Psicologia masculina, a estrela simboliza a anima; na feminina, um aspecto sombrio da personalidade. Como ela está em escala grandiosa, maior que a vida, poderia personificar uma qualidade muito além da sombra pessoal e mais próxima do self” (NICHOLS, 1991: 296), a estrela central da constelação psíquica.

opostos

XVIII - A LUA (TARÔ DE MARSELHA)

ÁRTEMIS (TARÔ DOS DEUSES)

Ártemis, a casta, era a deusa grega dos animais selvagens e da vegetação, da castidade, do nascimento e da caça, identificada pelos romanos como Diana. Apai- xonou-se uma vez só e por Órion (o deus da caça), mas Apolo, seu mano, a amava e tinha ciúme de Órion, que morreu picado por um escorpião e foi pra o céu, ficando entre os astros na constelação de Órion. O mundo de Ártemis é o campo, entre plantas e animais. Ela é também cha- mada a deusa Lua, escondida durante o dia e investigadora da noite. Feiticeira e encantadora, tem o poder de seduzir e transformar os homens em animais. Ártemis era prima e companheira de Hécate, a negra feiticeira das encruzilha- das, misteriosa, sombria, aterradora. Também propiciava os sonhos e ajudava na revelação dos mistérios ocultos. Não se esqueça que a lua só mostra um de seus lados, o iluminado pelo sol.

opostos

energia, iluminação, introvisão espiritual, autonomia da psique, esperança, otimismo, beleza, amor, criatividade.

desânimo, incompreensão de si mesmo, heteronomia, falta de confiança, desespe- rança, amargura, negatividade, desamor, estagnação.

silêncio, serenidade, reflexão, atração, in- diferença pelo sexo oposto, espiritualidade, encantamento, castidade, amor pela vida ao ar livre, ser ecológico, tendência ao iso- lamento (introversão).

inconstante, insensível (fria), obscuridade (mistério), contrariedade, desesperança, imprudência, paixão, desprezo pela huma- nidade, misantropismo (e introversão), enigmatismo.

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estado alienatório. Após esse ato de contrição, essa metanóia, o ego jamais será como foi. opostos

XXI - O MUNDO (TARÔ DE MARSELHA)

O OLIMPO (TARÔ DOS DEUSES)

O Olimpo era para os gregos o que o Céu é para os cristãos: um mundo noutra dimensão que tem o que este nosso tem. E a nossa psique possui a totalidade do mundo, o dos mortais e dos mitos, o que vemos com os olhos e o que existe no nosso inconsciente mais profundo. Entre ambos, está nossa consciência, com o ego sendo levado pelos ventos e pelas ondas do oceano. Esta carta do Tarô de Marselha tem uma mulher nua dentro de uma figura ovóide (mandorla), que bem poderia ser um círculo (mandala), que é o símbolo da totalidade do ser. Então essa mulher é o self, o centro inconsciente organizador e diretor da psique; ou seja, o responsável pelo equilíbrio da personalidade (psique). E ela, ao som da música, dança, que dança é sagrado. Aliás, viver é dançar; a vida é uma dança sutil, diz o zen-budista. E se somos o mundo, não passamos de peque- nas partículas dançando (vibrações). O mundo é a anima mundi, a alma do mundo, o inconsciente coletivo, cujo centro é o self, o guia da Humanidade que é guiado por Deus, não o deus inventado, mas o Deus intuído, as leis que governam o Universo. O aspecto funcional, existen- cial da totalidade, que é a manifestação dos arquétipos, núcleos dos complexos, tem o nome de psique, ou personalidade total. Psique, que conheceu o amor universal (Eros) e a inveja das irmãs, tinha como traço marcante a curiosidade e isto lhe custou muito caro. Assim, a psique é curio- sa, e conhecer o mundo interior (self, totalidade e centro) e o exterior é o seu desti- no, um destino marcado pelo sofrimento. A vida é sofrimento, isto não é segredo para as mentes despertas. Mas vida é um conceito. O que existe de concreto é o nosso viver. E o segredo do viver é dançar gentilmente, isto é, transformando as dores em prazer, em sublime alegria. É o que nos ensina o Budismo, a religião existencial- humanista. E como a vida é uma dança, retorne à carta sem número, O Louco, O Poeta, O Curinga, que só na apa- rência é coringa, que em Português significa pessoa anã e feia. Ao vê-la, dance e... deixe de levar tão a sério sua razão (Logos). Não se esqueça de que é ela que o escraviza, tal qual pode fazer o computador com seu proprietário. A razão nos per- tence, mas ela tem o poder de se metamorfosear rapidamente: de escrava passa a rainha. Com lógica, como um computador, o Diabo, que não tem criatividade, intui-

iluminação, vitória, renascimento, glória, esforço, inventividade, busca de novos ca- minhos.

incompreensão (alienação), fracasso, cul- pa, incerteza, sofrimento, ócio, obediência a velhos hábitos, medo do novo.

Revista das Faculdades de Educação, Ciências e Letras e Psicologia Padre Anchieta (^63)

ção e sentimento. opostos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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__________ (1977). O homem e seus símbolos. Trad. de Maria L. Pinto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Publicado originalmente em 1964.

vegetação, leão, boi, águia, anjo, androginia espiritual, alegria, ritmo, equilíbrio, estabi- lidade, espontaneidade, unicidade. Self

aridez, raposa, hiena, macaco, coruja, frag- mentação, insatisfação, machismo ou fe- minismo estéril, repressão, ataque com defesa a não questionamento de seus complexos Persona