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TALES DE MILETO Descreve o seu pensamento e ideia na epoca
Tipologia: Resumos
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Tales de Mileto passou para a história como o primeiro filósofo, e de fato, pelo pouco que sabemos sobre ele, deu os primeiros passos no caminho da indagação racional sobre o universo, um caminho que em essência, continua sendo o nosso. Sua atitude era nova, mas sobre ele seguia pesando, como não podia deixar de ser, a tradição anterior presa ao pensamento mítico. Sua reputação de sábio foi sempre indiscutível, mas, paradoxalmente, era notavelmente defeituoso e inseguro o conhecimento de sua figura já na antiguidade. Basta observar a insistência de Aristóteles em pontuar, quando se refere a Tales, que não o conhece de primeira mão, mas de ouvir dizer, e isto porque em sua época não se contava com nenhum escrito do miletense. O mais provável é que não tenha deixado nada escrito e, na verdade, frases suas como ‘tudo está pleno de deuses’, aponta mais para uma forma de comunicação e transmissão de experiência de caráter oral, como foi a dos Sete Sábios^1 , entre os quais Tales sempre foi catalogado. Assim, pois, o erro de algumas fontes antigas que lhe atribuíram obras concretas se deve possivelmente à existência de falsificações com o seu nome. Isso nos obriga a por em quarentena muitas ideias que passam por suas. De sua vida tão pouco é grande coisa o que sabemos. Deve ter nascido no último terço do século VII a.C e morrido em meados do século VI a.C. Viajou para o Egito e a Caldeia e trouxe uma série de valiosos conhecimentos científicos. Fora dessas informações não nos foi legado sobre ele mais do que um punhado boatos carentes de valor histórico, como sobre proveitosas atividades derivadas de seus superiores conhecimentos, configurando nele a figura de um sábio distraído. Seu maior êxito pessoal pesa por ter previsto um eclipse solar (585/584 a.C), mas, como em sua época se carecia de bases para prever um eclipse de modo científico, é possível que Tales tenha usado um sistema babilônico que conhecemos: os registros de eclipses em determinado lugar ao longo de muitos anos possibilitaram o estabelecimento de uma série de datas em que os eclipses eram possíveis. Seu acerto na ocasião deu a ele fama e isso levou a atribuição a Tales de outros feitos em matéria de astronomia. Tales passou à história da matemática dando nome a uma série de teoremas sobre triângulos semelhantes, cuja demonstração foi obra de Eudemo, séculos mais tarde. Também é duvidoso que neste terreno pode aplicar o princípio de semelhança de triângulos de forma empírica, como faziam os egípcios: por exemplo, a medição da altura de uma pirâmide pelo procedimento de medir sua sombra quando a sombra de um pau encravado no solo era igual à altura do pau. Em matéria de cosmologia e cosmogonia, as afirmações mais conhecidas de Tales são que a água é a origem de todas as coisas e que a terra flutua sobre a água ( N 1 e 4)^2. Não é por menos que quando tentamos precisar esta magra informação nos assaltam as maiores dúvidas. O mais provável é que afirmou algo como ‘de início foi a água’, o que não quer dizer, necessariamente, que a água seguiu sendo único princípio constitutivo das coisas. A sistematização da física miletense devida a Aristóteles e herdada por Teofasto e, mais tarde, por praticamente todos e cada um dos manuais de história da filosofia do
(^1) Sete Sábios era um nome utilizado para se referir a sete filósofos, juristas e estadistas do início do século VI a.C., que com o passar dos séculos ganharam renome devido à sua sabedoria. Tales, Bias, Pítaco, Sólon, Quílon, Cleóbulo e Anacarses. (nota da tradutora) (^2) Daqui em diante , N seguido de um número remete às Notícias sobre cada autor; fr , se refere aos fragmentos.
mundo, segundo os quais Tales se encontra na mesma situação que Anaximandro e Anaxímenes quanto à mesma pergunta pela arché , falseia provavelmente a realidade. Quanto à afirmação de que a terra flutua sobre a água, seria coerente com esta a explicação dos terremotos como devidos à flutuação desta terra (N5), se é que na realidade tal afirmação possa ser atribuída a Tales, coisa que muitos autores duvidam. O mais curioso é que os estudiosos posteriores se interessaram mais pelos motivos que o primeiro filósofo pode ter para chegar à conclusão de que a água foi o elemento primordial, do que pela própria validade da explicação proposta por Tales ou por seus detalhes. As respostas a esta questão são de diversas índoles, mas evidentemente não se excluem. Falou-se da origem egípcia (N2), por bons motivos. Na verdade, conhecemos um papiro egípcio que nos diz frases que Tales teria assumido perfeitamente: No princípio era Nu, massa líquida primordial, na qual infinitas profundidades se agitavam, confusos, os gérmens das coisas. Dado que Tales viajou ao Egito, não há nada de estranho em vir dali as explicações do mundo. Da mesma forma há registros na própria mitologia grega de antecedentes atribuições à água de um papel primordial e originário ( N 1), como por exemplo, em duas passagens da Ilíada 14.200-201: vou ver Oceano, progenitor dos deuses, e à mãe Tetis, e 14-244: a corrente do rio Oceano, que é a gênese de todas as coisas, antecedentes míticos estes que poderiam sem dúvida ter seu peso no momento em que Tales explicava a questão da origem do mundo. A ideia de que a terra flutua sobre a água é um tema muito presente nas mitologias do Oriente Próximo. Diversos textos egípcios nos falam da terra como um prato plano com bordas que flutua sobre a água enquanto que o sol navega pelo céu. E o mito babilônio de Eridu nos narra que todo o universo era mar, mas que o deus Marduk fez sobre o mar uma balsa, nossa terra. Na própria Bíblia, no Salmo 136.6, se conta como Yahveh estendeu terra sobre as águas. Não há, portanto, nada de estranho que Tales tenha transportado este tema mítico em uma explicação mais racional do mundo. Alguns tentaram buscar a origem das teorias de Tales em relatos aprendidos fora da Grécia ou em transposições da tradição mítica da própria Grécia; outros trataram de explicar o postulado do miletense como consequência de uma observação racional do comportamento das coisas. Assim se supôs que o filósofo havia reparado nas variadas formas que toma a água na natureza – algo que é acessível à vista sem instrumentos de observação -, o que o fez conceber a ideia de que a água era o elemento mais adequado para se transformar nos demais elementos. ( N 3) Provavelmente mais próximo da realidade estava Aristóteles ( N 1) quando acreditou que o movimento mais poderoso que impulsionou o filósofo a considerar a água como elemento primordial é a íntima relação deste elemento com a vida, seu caráter vivificador de toda a natureza. Juntamente com as ideais referidas à origem das coisas, se atribui ainda a Tales uma concepção denominada hilozoísmo , que significa algo assim como considerar a matéria como um organismo biológico. De fato, nesta época inicial da filosofia, a matéria não é tida em absoluto por inerte, por isso não há nenhuma necessidade de explicar o seu movimento, já que se considera em princípio, o movimento como inerente à matéria. Não se distingue matéria/vida nem há separação entre seres inanimados e animados. Daí Tales ter feito afirmações tais como, ‘tudo está pleno de deuses’ ( N 6), ou que a pedra imantada tem alma porque atrai o ferro. ( N 7). A alma (ψυχή) é, para os gregos desta época, fonte de consciência ativa e da vida, mas fundamentalmente fonte de movimento. De modo que se a pedra imantada pode mover é porque tem alma, e se objetos aparentemente inertes têm vida (quer dizer, ‘alma’) é que há algo vivo penetrado na matéria, que, quando excede o âmbito do indivíduo, se denomina ‘divino’. Em suma, Tales, viajante curioso, junto a sua própria bagagem mítica da tradição épica grega, acrescenta explicações mais 0u menos míticas da realidade dos países que visitou. Com tudo isso ele forma sua explicação sobre o mundo, sumamente simples; na origem era a água e a terra se formou sobre ela. A matéria pode mover, é ativa, há nela algo divino. Para concebermos as coisas da forma como fez Tales, teríamos que prescindir de