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Guias e Dicas
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Contando Histórias para Valorizar Produtos e Marcas, Provas de Marketing

Este documento discute o poder de storytelling na comunicação e interação humana, sua evolução ao longo da história e sua importância na valorização de produtos, marcas e criação de novas propriedades intelectuais. O texto também explora como histórias podem ser utilizadas para aproximar pessoas de empresas e vender produtos, serviços ou ideias.

O que você vai aprender

  • Qual é a importância de personagens em narrativas de marketing?
  • Quais são os elementos principais de uma boa história?
  • Como as empresas utilizam histórias para se aproximar do público-alvo?
  • Como o storytelling evoluiu ao longo da história?
  • Qual é a importância de contar histórias em marketing?

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Adriana_10 🇧🇷

4.5

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
MBA BRANDING & BUSINESS
STORYTELLING:
O poder da narrativa estratégica dentro do branding e marketing.
Leonardo Schwertner dos Santos
Lajeado, junho de 2016
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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU MBA BRANDING & BUSINESS

STORYTELLING :

O poder da narrativa estratégica dentro do branding e marketing.

Leonardo Schwertner dos Santos Lajeado, junho de 201 6

Leonardo Schwertner dos Santos

STORYTELLING :

O poder da narrativa estratégica dentro do branding e marketing.

Artigo apresentado na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de MBA Branding & Business , do Centro Universitário UNIVATES, como parte da exigência para a obtenção do título de Especialista em Branding & Business. Orientador: Prof. Ma. Thaís Carnieletto Müller Lajeado, junho de 201 6

mundial, distribuída de forma instantânea e duradoura. Com o passar dos tempos os meios de interação e comunicação social desenvolvem-se e tornam-se um fator fundamental no registro e no desenvolvimento da civilização humana. Sendo um elemento tão presente em nossa sociedade, esta ferramenta passou a ser estudada e vista como um meio, uma oportunidade a ser utilizada estrategicamente dentro do branding e do marketing, onde ganhou a alcunha de storytelling , uma poderosa ferramenta que a cada dia vem se provando uma opção estratégica e efetiva em transmitir, aproximar, divulgar e moldar a imagem de uma marca ou produto para junto do público. Sendo recente dentro do branding , entender e dominar esta ferramenta pode ser um trunfo na hora de trabalhar a imagem de marca ou apresentar uma campanha de forte apelo, mas para isso é preciso entender as origens, o conceito e os elementos que tornam uma narrativa cativante e envolvente para o público em geral, o storytelling tem como objetivo principal reproduzir uma mensagem de forma que afete as emoções das pessoas através da narrativa de um relato. O objetivo deste artigo é estudar as origens, entender os motivos da eficácia do storytelling , bem como definir quais os elementos que tornam uma narrativa interessante e, utilizando estes dados, identificar e analisar casos que sejam referência da boa aplicação de técnicas de storytelling, sobretudo na divulgação e promoção de marca, e no potencial de expansão de portfólio de produtos e criação de novas propriedades intelectuais que a implementação deste recurso permite.

1. STORYTELLING: HISTÓRIA E DEFINIÇÃO De forma geral é possível definir storytelling como um termo que está relacionado com uma narrativa e a capacidade de contar histórias relevantes, basicamente se refere a um contador de histórias. Antônio Núñez (2008) define storytelling como uma ferramenta de comunicação estruturada em uma sequencia de acontecimentos que apelam a nossos sentidos e emoções. Para Castro (2013), story refere-se a uma história, fato ou ocorrido, enquanto telling tem por significado o aspecto de reproduzir, contar ou transmitir estas histórias através de imagens ou outros recursos que ajudem a manter o interesse dos espectadores. Deve haver uma conexão e sequencia lógica entre as ideias/feitos que compõe a narrativa para que desta forma a história não se dilua em um mar de informações se apelo emocional ou capacidade de transmitir sua mensagem. Destaca-se que story se diferencia do termo history, que traduzidos para o português são equivalentes aos termos estória e história. Para exemplificar melhor a

diferença entre estes dois termos na prática, cita-se Castro, que explica: Para entender o que digo é preciso saber a diferença entre as duas palavras da língua inglesa: history e story. A primeira está relacionada a fatos reais, como o homem ter chegado à Lua, ou a algum fato que ocorreu na vida de alguém. A segunda é uma estrutura narrativa, não necessariamente ficção, representa episódios que, alinhados, criam a História. Por exemplo, a história de um povo consiste em várias stories , isto é, anedotas, historietas, episódios da vida cotidiana, mitos, e etc (CASTRO, 2013, p. 3). Historiadores acreditam que o ato de contar histórias dentro da história da evolução humana tenha surgido a aproximadamente cem mil anos, tendo sido utilizado inicialmente para transmitir e compartilhar informação e conhecimento entre os homens primitivos. Mcsill (2013) destaca a importância destes hábitos narrativos: Storytelling é o velho hábito de contar histórias. Os nossos ancestrais já tinham esse hábito, quando, ao fim de cada dia, se reuniam em volta das fogueiras e contavam suas fantásticas caçadas e vitórias. Já naquele tempo, essa era a maneira de legitimar uma liderança por meio da referência. A história seria ainda para perpetuar práticas e conhecimentos arraigados àquelas culturas, tão necessários à sobrevivência dos grupos, e que esses líderes repassavam dentro de suas histórias. Storytelling é a arte de contar uma história, ou seja, por meio da palavra escrita, da música, da mímica, das imagens, do som ou dos meios digitais (MCSILL, 2013, p. 31). Graças a estes registros arcaicos, expressos sob a forma de pinturas rupestres (pintadas nas paredes de cavernas), conseguimos ter o registro da narrativa do dia-a-dia do homem ancestral. Conforme o homem evoluiu, vemos o surgimento das primeiras civilizações e com isso o desenvolvimento do conceito de sociedade. Surgem as primeiras cidades e formas de comércio e com isso cada vez mais cresce a necessidade de comunicar, transmitir e registrar informação, e neste quesito, o storytelling se torna uma importante ferramenta dentro da sociedade antiga. Exemplos da importância do storytelling nestas civilizações são citados por Berger (2014). Segundo ele, ao observarmos e estudarmos o estilo de vida de um cidadão grego do período de 1000 a.C, vemos que as técnicas de narrativa tinham um papel importante como meio de entretenimento e propagação de histórias. Tamanha era sua importância e fascínio que a população tinha por costume se reunir nos anfiteatros para ouvir as fascinantes narrativas épicas de contos como “O Cavalo de Tróia e a Odisséia", nesse sentido, Núnez explica que: “um relato tem algo de sagrado, pois é uma verdade universal carregada de emoções e de sensações. Sendo uma verdade universal, um relato é capaz de contribuir dando sentido aos momentos de nossas vidas, dando iluminação, respostas e concelhos a respeito de mistérios e dúvidas do mundo que nos rodeia” (2008, p.15). Este hábito de contar história foi muito importante para a perpetuação de histórias e

transmitissem seus ideais, tornando o leitor e ouvinte não somente um agente passivo, mas um personagem participativo e importante neste processo. Um dos melhores registros do poder de uma boa narrativa expressa através de storytelling para as grandes massas utilizando meios modernos de comunicação, ocorreu no dia 30 de outubro de 1938, quando George Orwell narrou em um programa de rádio os eventos de uma fictícia invasão extraterrestre. Sua técnica oratória e o modo convincente como sua narrativa fora construída, foram capazes de desencadear pânico na costa leste dos Estados Unidos. Este é um exemplo real e concreto de como uma boa história é capaz de gerar e inspirar os mais variados sentimentos nas pessoas. Outro exemplo do poder de persuasão do storytelling pode ser visto nas narrativas, discurso e propaganda criada pelos nazistas para convencer o povo alemão, nesse sentido, Gutiérrez-Rubi explicita que: “El relato es una história de vida y es efectivo cuando transmite, evoca, comunica, emociona, moviliza, seduce, identifica, compromete y convence desde la veracidade de lo que sentimos como auténtico” (2016, p.28). A propaganda nazista soube utilizar elementos de storytelling não somente para inflar a imagem do partido, vender seus ideais políticos, mas também para exaltar o espírito e o engajamento do povo alemão, criando uma unidade através de uma narrativa na qual exaltavam as características culturais e raciais dos indivíduos que pretendiam convencer através de seu discurso. A efetividade dos recursos narrativos como meio de propagação histórica e política comprovadas historicamente, acabou por tornar a mesma uma ferramenta muito efetiva na área da publicidade e propaganda. A partir da metade do século XX vemos cada vez mais empresas utilizando recursos de storytelling para cativar seu público consumidor. Atualmente, com a ascensão e difusão dos meio de comunicação a nível globalizado, as marcas estão cada vez mais preocupadas em conseguir se comunicar e transmitir suas ideias e conceitos para seu público-alvo.

2. CONSTRUINDO UMA NARRATIVA O Storytelling é uma ótima forma de compartilhar conhecimento. E essa arte de contar histórias aproxima as pessoas da empresa, podendo ser muito bem aplicada para vender produtos, serviços ou ideias, uma vez que ao apresentar algo através de uma narrativa, conseguimos nos comunicar de forma mais pessoal e apelativa para com o público-alvo. Segundo Domingos (2009), é possível definir o storytelling como uma negociação constante entre o que é apresentado dentro da narrativa e o leitor/ouvinte. O trecho abaixo ajuda a

definir e exemplificar a proposta dos recursos narrativos aplicados: Narrar-se é criar a ilusão no narrador de que o mesmo se tornou uma personagem protagonista arquetípica, em geral eufórica, do texto, então, narrado. Como não há narrativa que não seja seleção de fatos vividos por personagens em um determinado tempo e espaço, o ato de narrar é inevitavelmente um ato de deslocamento e de negociações entre a consciência e a inconsciência, gerando significadas formas de ser e estar do mundo. É uma forma de se mostrar e esconder-se, ao mesmo tempo. É o ponto de vista que determina a sequencialidade das ações narradas em que o narrador seleciona da vida o que ele deseja narrar. Portanto, não há jamais na narrativa um eu puro; ele sempre será um ser humano que traz em si não só os primórdios de sua existência, como os adaptam às novas maneiras de narrar a vida (DOMINGOS, 2009, p.8). Para desenvolver-se um bom storytelling é preciso estar atento a uma série de condições que, quando implementadas, ajudam a formar uma história fluída, instigante e coerente. O primeiro fator fundamental dentro de uma narrativa é o cenário. Uma boa ambientação ajuda o ouvinte/leitor a melhor se situar na história. Permite a ele imaginar e conectar-se com o local ou mundo no qual a narrativa se passa. O segundo aspecto importante dentro de uma história é o seu protagonista. Este pode ser um personagem real, um ser fictício ou até mesmo o próprio leitor. Um bom protagonista é fundamental para que a história gere empatia e identificação. Sendo muitas vezes os elementos principais da trama, bons personagens são os principais responsáveis pelo sucesso da narrativa uma vez que uma figura que ajude a aproximar o leitor/ouvinte da história, seja por semelhança ou admiração, reforça o apelo emocional e marcante do storytelling. Por fim, uma boa história depende de um bom roteiro. Este torna possível o bom andamento da narrativa, respeitando e criando uma coerência entre espaço tempo que ajuda o leitor/narrador a acompanhar e entender o andamento da história. Sem um bom script ou linha de tempo narrativa, uma história pode ficar confusa ou sem sentido, falhando em comunicar-se com seu público-alvo. Sendo construída desde o primórdio com o intuito de comunicar de uma forma mais envolvente, Berguer (2014) enfatiza que toda boa história possuí um começo, meio e fim. A medida que nossos hábitos e costumes sociais evoluíram, o modo como contamos as histórias também se desenvolveu, se antes nos reuníamos ao redor das fogueiras para ouvir e compartilhar histórias, agora substituímos este ritual por uma mesa de bar com os amigos, porém ainda continuamos falando sobre as mesmas histórias, adaptadas para nosso tempo ou para nossa realidade. Este hábito confirma a necessidade humana de se expressar através de narrativas. Um bom storytelling se sustenta principalmente em relatos e histórias emocionantes e que apelem para o emocional. Histórias com forte apelo emocional e com elementos

sobrenaturais ou desafiadoras, onde através de forças fabulosas, sejam elas mágicas ou simplesmente de superação, após a transposição de um grande obstáculo, ele obtêm a vitória definitiva. Após a jornada e o dever cumprido o herói retorna de sua aventura com poder e conhecimento para compartilhar com seus semelhantes. Esta estrutura serve de linha guia para as mais marcantes narrativas de storytelling , como as já citadas acima. O herói mitológico, saindo de sua cabana ou castelo cotidianos, é atraído, levado ou se dirige voluntariamente para o limiar da aventura. Ali, encontra uma presença sombria que guarda a passagem. O herói pode derrotar essa força, assim como pode fazer um acordo com ela, e penetrar com vida no reino das trevas (batalha com o irmão, batalha com o dragão; oferenda, encantamento); pode, da mesma maneira, ser morto pelo oponente e descer morto (desmembramento, crucifixão). Além do limiar, então, o herói inicia uma jornada por um mundo de forças desconhecidas e, não obstante, estranhamente íntimas, algumas das quais o ameaçam fortemente (provas), ao passo que outras lhe oferecem uma ajuda mágica (auxiliares). Quando chega ao nadir da jornada mitológica, o herói passa pela suprema provação e obtém sua recompensa. Seu triunfo pode ser representado pela união sexual com a deusa-mãe (casamento sagrado), pelo reconhecimento por parte do pai-criador (sintonia com o pai), pela sua própria divinização (apoteose) ou, mais uma vez – se as forças se tiverem mantido hostis a ele - , pelo roubo, por parte do herói, da bênção que ele foi buscar (rapto da noiva, roubo do fogo); intrinsecamente, trata-se de uma expansão da consciência e, por conseguinte, do ser (iluminação, transfiguração, libertação). O trabalho final é o do retorno. Se a forças abençoaram o herói, ele agora retorna sob sua proteção (emissário); se não for esse o caso, ele empreende uma fuga e é perseguido (fuga de transformação, fuga de obstáculo). No limiar de retorno, as forças transcendentais devem ficar para trás; o herói reemerge do reino do terror (retorno, ressurreição). A benção que ele traz consigo restaura o mundo (elixir) (CAMPBELL, 1989, p. 241). A montagem a baixo (figura 01) expressa graficamente a estrutura da Jornada do Herói definida e estudada por Campbell. Nela podemos ver todas as etapas em sequência e como as mesmas contribuem para a estruturação de uma boa narrativa. Sendo um recurso de estrutura opcional, uma boa narrativa não precisa necessariamente seguir todas as etapas, mas certamente a implementação de cada um destes estágios dentro de uma história ajuda a mesma a ter uma narrativa fluida e interessante.

Figura 0 1: Jornada do herói. F onte: http://somosmesclados.com/wp-content/uploads/2016/05/jornada.png Como já vimos, o ato de contar histórias está enraizado na natureza humana sendo um mecanismo no qual repassamos experiências e conhecimentos para os demais indivíduos do nosso círculo social. Conforme Alfredo (2013) atesta, Quando passamos um legado às próximas gerações, fizemos através das estórias. Contar um conto faz parte da nossa essência, é o que nos mantêm vivos, capazes de fazer as conexões cognitivas que o mundo nos oferece. É possível traçar um paralelo com motivações emocionais e psicológicas que estão ligadas a força e importância do storytelling. Conforme Matos (2010) atesta, problemas do dia-a-dia, e de nossa sociedade contemporânea, como estresse, podem ser combatidos ou minimizados através de boas histórias. Segundo a autora, uma boa narrativa tem poder de inspirar e motivar, servindo como uma metáfora para a renovação da alma, criando um paralelo entre os desafios reais que enfrentamos no dia-a-dia e os obstáculos enfrentados pelo herói em sua jornada dentro da história, podendo assim criar uma motivação e gerar uma força real para que o indivíduo se sinta incentivado a mudar de situação. Todos estes fatores fundamentais dentro da construção de uma narrativa abordados até aqui se tornam inúteis se não levarmos em conta o meio no qual a história será contada. É importante sempre considerar as limitações e possibilidades dos canais pelos quais uma narrativa será compartilhada. Uma narrativa construída para ser vinculada em um meio visual (cinema, televisão, internet) tem uma estrutura, elementos, timing e script diferente de uma narrativa literária ou gráfica (livros, histórias em quadrinhos).

instigar a participação e interesse no público, algo tão cobiçado em um ambiente competitivo como é o marketing e o branding. Quando desenvolvemos uma história ou narrativa visando fortalecer o branding de uma determinada marca, utilizamos os mesmos critérios e técnicas de desenvolvimento de roteiro e histórias empregadas em storytelling de outras mídias, como cinema e literatura. Desta forma, mesmo quando criamos narrativas onde o foco da história é a marca em si, vemos muitas vezes a presença em destaque de um personagem. Castro (2013), destaca que “estórias encantam e engajam porque mostram personagens extraordinários, enfrentando desafios extraordinários, que conseguem atingir resultados extraordinários”. Em uma narrativa que exalta e promova uma marca, na maioria das vezes o elemento explorado é a própria história da empresa, e seus personagens de destaque são muitas vezes seus fundadores. Sua luta e dedicação na criação e crescimento da empresa acaba sendo explorada de forma inspiradora e emocional. No trecho abaixo Matos define muito bem o modo como estas figuras são utilizadas dentro do storytelling voltado para o branding. Histórias de impacto contam invariavelmente com personagens que carregam em suas ações muito simbolismo. Alguns desses personagens viram mitos e, ao longo do tempo, suas ações, ao serem recontadas, vão se distanciando da realidade efetiva, pois o que perdura são as lições, valores, dilemas e posicionamentos morais ou éticos desses personagens. No contexto empresarial, isso é visto com frequência à medida que as organizações homenageiam seus fundadores e pioneiros. Estes, em alguns casos, viram “super-homens”. De fato, não importa mais quem de fato foram personagens, mas sim o que eles representam para o inconsciente coletivo das organizações (MATOS, 2010, p. 78). Visando um maior impacto, muitas vezes os personagens principais dentro de uma narrativa de storytelling de marca são confrontados com dilemas e dificuldades que acabam sendo explorados como um elemento narrativo para valorizar e destacar boas características e valores deste indivíduo e por consequência da marca. Nesse sentido, Semprini diz que: As marcas nos oferecem um espelho formidável, nos reenviam uma visão ora charmosa, ora impiedosa de nós mesmos, de nossas escolhas, de nossos desejos. Elas nos mostram sem disfarce e, as vezes, com rispidez, nossas qualidades, mas também nossas graquezas, nossas virtudes, mas também as inclinações menos admissíveis de nossos valores e nossas condutas ( SEMPRINI, 2006, p.26). Abaixo, imagens do vídeo intitulado Lego Story , no qual através de uma narrativa de storytelling , somos apresentados a toda a história da marca e de seu fundador. O apelo emocional exaltado e destacado pela peça ajuda a criar um forte sentimento de identificação e admiração pela marca.

Figura 0 2: LEGO Story. Fonte: www.youtube.com/watch?v=NdDU_BBJW9Y Um storytelling de marca bem construído e que evoque sentimentos de admiração e fascínio possuí um poder muito além de simplesmente divulgar e reforçar a história de uma marca. Ele ajuda a destacar os valores e características visuais e conceituais que constituem a identidade da marca como um todo, e quando aplicadas de forma bem resolvida e impactantes, podem contribuir fortemente para a criação de um culto de admiração e desejo em torno de uma marca ou produto de forma planejada.

4. STORYTELLING COMO FERRAMENTA ESTRATÉGICA PARA DIVULGAÇÃO E FORTALECIMENTO DO PORTFÓLIO DE PRODUTOS. Se a cada dia que passa vemos mais e mais marcas buscando criar narrativas empolgantes para trabalhar sua imagem, vemos estas mesmas marcas criando estratégias que envolvam storytelling como uma nova forma de divulgar seus produtos, desse modo, como Brunner & Emery (2010, p.21): “A diferença entre um ótimo produto e um produto simplesmente bom é que um produto ótimo personifica uma ideia que as pessoas conseguem entender e aprender, uma ideia que cresce em suas mentes, com a qual elas se envolvem emocionalmente”.

versatilidade e abrangência dessas novas mídias associadas ao fascínio natural do ser humano pelo ato de compartilhar histórias gerou resultados muito favoráveis como explica Yenkins (2008, p.135) “uma história transmidiática se desenrola através de multiplos suportes midiáticos, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo.” A empatia gerada por uma boa estratégia de storytelling associada a essas mídias modernas e digitais promove um maior engajamento do público-alvo em relação a mensagem da narrativa. Permitindo uma maior interação e identificação, essas histórias possuem o poder de cativar de tal forma que o próprio público acaba por engajar-se na divulgação e propagação da narrativa que acaba por se completar e expandir graças a essa participação das audiências. Uma boa história também permite a uma empresa explorar novas oportunidades. Um storytelling criativo e cativante é capaz de criar novas opções de investimento para uma empresa, ajudando não somente a fortalecer marcas e produtos já existentes, mas também abrindo precedentes para a criação e implementação de novos propriedades intelectuais, as quais podem ampliar o leque de atuação de uma determinada marca. Podemos citar por exemplo um desenho animado: Uma série de animação criada com base em uma narrativa de s torytelling , possui personagens e motivações que criam empatia e apelo com o público. Se bem executada, o apelo criado por esta história pode ser explorado de forma muito além de sua mídia original. Boas narrativas dentro da ótica do marketing geram ótimas oportunidades de merchandising através da exploração dos elementos de propriedade intelectual e aplicação dos mesmos em outros meios. O fascínio e admiração que um bom desenho ou história gera em seus expectadores ou leitores, é responsável por instigar um desejo, por parte do mesmo, em explorar e consumir mais produtos relacionados com este universo. Os melhores exemplos de caso, estão justamente ligados às grandes narrativas apresentadas nos cinemas. Grandes marcas já aprenderam a explorar de forma lucrativa o apelo de suas franquias. A força destas histórias, e o carisma que as mesmas exercem para com o público, tornam as mesmas muitos maiores do que o meio no qual são originalmente vinculadas. Com o desejo do público em consumir mais a respeito de um determinado universo, as marcas passam a explorar seus direitos intelectuais criados a partir de uma narrativa em vários outros meios, os quais muitas vezes se tornam ações e produtos de merchandising que reforçam e exploram o valor e força da propriedade intelectual apresentada primariamente através de um recurso de storytelling. A imagem abaixo mostra um exemplo de como os personagens “ minions ” do filme “Meu malvado favorito” passaram a ser amplamente explorados em peças e produtos de merchandising que iam muito além do seu meio de origem.

Figura 03 : Produtos de merchandising dos Minions. Fonte: web O storytelling tem esse poder de emocionar e empolgar o público-alvo através de uma história. Essa empolgação muitas vezes se transforma em devoção e fidelidade por parte do público, que se torna fã e muitas vezes até um divulgador e defensor dos valores, do produto ou do universo apresentado na narrativa. Matos (2010), atesta que os clientes não compram apenas os produtos, mas também a história que ele representa, frequentando as redes sociais para verificar se houver atualização das personagens da história. De forma geral é possível atestar que o marketing associado ao storytelling vai além do simples ato de convencer e persuadir o consumidor. Ele possuí o poder de criar um vínculo, fascínio e sentimento de desejo que vai além do simples ato de possuir algo, estando ligado mais fortemente ao conceito de pertencer/participar de algo. Uma marca que não está apenas estimulando o consumo, mas criando uma experiência na qual o consumidor se identifica e sente-se inclinado a participar, vemos o real benefício e as oportunidades a serem exploradas pela empresa evidenciando que o storytelling foi bem implementado.

O storytelling está fazendo com que as marcas mais inovadoras comecem a entende a si mesmas como uma história sustentada no tempo. Uma grande marca hoje é como uma série de televisão com um número limitado de capítulos. O papel de seus responsáveis é serem fiadores da história da marca, que precisa ser criada, planejada, nutrida, protegida e permanentemente atualizada (NUNES 2009. pg 21). Com o suporte transmídia e o poder de narrativa de ambas as histórias, as linhas de produtos licenciadas foram um sucesso absoluto. O resultado positivo, além de ajudar a marca a se renovar e a se recuperar do período de crise, serviu como um incentivo para o próximo passo que a marca estava se preparando para dar. Constatada a força de mercado e o apelo que as linhas de brinquedos associadas as narrativas, e reforçadas através de recursos transmídias), a Lego passou a adotar uma estratégia de storytelling para suas próximas linhas de produtos. Através da criação e do desenvolvimento dessas novas propriedades intelectuais com foco na narrativa, a empresa passou a desenvolver parte de suas novas linhas baseadas na criação de novas propriedades intelectuais. Sustentadas por uma boa narrativa de storytelling e com o suporte de recursos transmídia como jogos e desenhos animados, a Lego conseguiu emplacar suas novas coleções, com destaque para os universos narrativos criados para as linhas Ninja-go e Chima. Figura 0 4 : Linha NinjaGo Fonte: www.lego.com Estas novas coleções, pela primeira vez na história da empresa, faziam parte de uma estratégia diferenciada e planejada totalmente de forma transmídia. Diferente da estratégia adotada até então pela empresa, estas novas linhas não possuíam o foco principal nos brinquedos de montar em si, mas sim no storytelling , no universo criado para servir de base para a história que a empresa estava disposta a contar e a convidar seus consumidores a participar. Esta linha de pensamento, focando e explorando a narrativa primariamente,

permitiu a empresa apostar e explorar novos meios e produtos relacionados, os quais conseguiria explorar de forma lucrativa. Desta forma, em vez de lançar apenas alguns conjuntos temáticos de montar, a Lego lançou um universo convidativo e cativante para ser explorado por seus consumidores. Este universo foi apresentado de forma transmídia, contando simultaneamente com o apoio de videogames, filmes de animação, quadrinhos, e é claro, os próprios conjuntos físicos dos famosos bloquinhos de montar, inspirados diretamente nos universos criados pela Lego. Figura 5 : Linha Chima e seus personagens. Fonte: www.lego.com O sucesso foi estrondoso, e a empresa passou a adotar esta estratégia para suas demais linhas. A partir daí, suas linhas de brinquedos seriam pensadas com o foco inicial em criar um storytelling cativante e que criasse interesse no público-alvo. Estas linhas deixaram de ser apenas linhas de brinquedos físicos para serem um conjunto multimídias, incluindo uma série de animações e jogos onde os elementos visuais e interativos estavam todos relacionados aos conjuntos apresentados no portfólio da empresa. Desta forma a empresa conseguiu não somente se reestruturar econômica e estrategicamente, mas também fez crescer seu valor de marca, sobretudo graças as novas propriedades intelectuais criadas para as estratégias de storytelling. A aposta neste novo método de promover marca e produto gerou resultados extremamente satisfatórios para a Lego. Vendo seu valor de marca crescer e a demanda por seus produtos aumentar graças a suas estratégias de storytelling explorando meios transmídia, a Lego decidiu dar um passo além, e criou o que até hoje pode ser considerado o maior e melhor exemplo de um caso de aplicação de storytelling com apelo transmídia. Em 2014 a