Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

SRIMAD BHAGAVAD-GITA (Canto do Senhor), Notas de aula de Yoga

Também o chamam Gita ou Canto porque é um diálogo em verso entre Sri Krishna, a Encarnação Divina e. Arjuna. O Gita é um dos mais importantes textos espirituais ...

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Copacabana
Copacabana 🇧🇷

4.4

(49)

221 documentos

1 / 74

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
SRIMAD BHAGAVAD-GITA
(Canto do Senhor)
Traduzido do original (com notas) para o espanhol por Swami
Vijoyananda1, monge da Ordem Ramakrishna
Edição em espanhol de responsabilidade do
Hogar Espiritual Ramakrishna (Ramakrishna Ashrama)
Buenos Aires - Argentina
1Swami Vijoyananda (1898-1973), discípulo de Swami Brahmananda, foi o pioneiro da Vedanta na América do
Sul e líder espiritual do Ramakrishna Ashrama, Buenos Aires, Argentina.
Nota: A tradução do Espanhol para o Português foi feita por um estudante dos ensinamentos de Sri Ramakrishna, Swami Vivekananda e
Vedanta.
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e
pf1f
pf20
pf21
pf22
pf23
pf24
pf25
pf26
pf27
pf28
pf29
pf2a
pf2b
pf2c
pf2d
pf2e
pf2f
pf30
pf31
pf32
pf33
pf34
pf35
pf36
pf37
pf38
pf39
pf3a
pf3b
pf3c
pf3d
pf3e
pf3f
pf40
pf41
pf42
pf43
pf44
pf45
pf46
pf47
pf48
pf49
pf4a

Pré-visualização parcial do texto

Baixe SRIMAD BHAGAVAD-GITA (Canto do Senhor) e outras Notas de aula em PDF para Yoga, somente na Docsity!

SRIMAD BHAGAVAD-GITA

(Canto do Senhor)

Traduzido do original (com notas) para o espanhol por Swami Vijoyananda 1 , monge da Ordem Ramakrishna Edição em espanhol de responsabilidade do Hogar Espiritual Ramakrishna (Ramakrishna Ashrama) Buenos Aires - Argentina (^1) Swami Vijoyananda (1898-1973), discípulo de Swami Brahmananda, foi o pioneiro da Vedanta na América do Sul e líder espiritual do Ramakrishna Ashrama, Buenos Aires, Argentina. Nota: A tradução do Espanhol para o Português foi feita por um estudante dos ensinamentos de Sri Ramakrishna, Swami Vivekananda e Vedanta.

PREFÁCIO

O Bhagavad-Gita, ou Canto do Senhor, pertence à grande epopéia Mahabharata dos hindus. Este texto sagrado tem dezoito capítulos (25 a

  1. do Bhisma-Parva desta epopéia. Também o chamam Gita ou Canto porque é um diálogo em verso entre Sri Krishna, a Encarnação Divina e Arjuna. O Gita é um dos mais importantes textos espirituais do mundo. O hindu instruído, culto e de temperamento espiritual lê este texto com profunda reverência e encontra através de seus versos sua pergunta respondida, sua dúvida dissipada, recobrado o seu ânimo e claro e iluminado o seu caminho; e assim prossegue com passos seguros sua marcha ao seu Ideal de vida. Sri Krishna, o instrutor do Gita , é o amigo ideal, o sábio preceptor, o grande yogui, o guerreiro invencível, o conhecedor perfeito, o estadista consumado da época; em sua pessoa todas as belas qualidades humanas estão harmonizadas. O fato de que este texto muito sagrado tenha como marco o campo de batalha, chama a atenção de muitos leitores, especialmente ocidentais, que sincera, mas desfavoravelmente, criticam a personalidade de Sri Krishna como Encarnação Divina. Dizem: Como é possível que a Encarnação de Deus instigue a seu melhor amigo a levantar seu arco e matar as pessoas? Como Deus, o misericordioso, pode ser a causa direta ou instrumental da matança? Isto necessita certo esclarecimento. Antes de tudo compreendamos uma coisa com toda claridade: Sri Krishna jamais disse à Arjuna que matasse a todos inimigos por algum fim pessoal; Ele o fez recordar seu dever de kshatriya , o guerreiro que protege a causa da retidão e justiça. Os adversários de Arjuna eram adictos de seu primo, que havia usurpado o trono de seu irmão mais velho. Esse primo havia tentado matá-los e lhes havia dito que teriam que reconquistar o trono no campo de batalha. Assim que não era o momento de demonstrar sua compaixão a estes injustos e ser morto por eles, dando-lhes a oportunidade de propagar a injustiça e a irreligiosidade. Muito diferentemente do que professam os crentes ocidentais, especialmente os cristãos, o hindu acha muito razoável a idéia de que Deus se encarne no corpo humano tantas vezes como sinta ser necessário. No Gita lemos: “Toda vez que declina a religião e prevalece a irreligião, Me encarno de novo.” Sem nos perdermos nas infrutíferas discussões dogmáticas das diferentes escolas de teologia, nas quais a lógica e o bom senso estão subordinados às opiniões sectárias, vamos ouvir o que diz o hindu em apoio de seu conceito sobre a Encarnação. Diz: Deus impessoal e sem qualidades é um conceito tão sumamente elevado que a maioria dos

seu Ideal, se tornam egoístas e mesquinhas, se esquecem de amar à Deus e à seu próximo, vivem a vida puramente sensual, de luta e competição. Quando se generaliza este estado, certos amantes da Divindade rogam fervorosamente pela salvação de seus irmãos ignorantes e a misericórdia se condensa em uma forma humana. Este fato místico, esta manifestação de Puro Amor, ocorreu antes e ocorrerá no futuro. Em qualquer parte do mundo, para o homem comum, a religião consiste só em cumprir alguns deveres morais. O dever varia segundo o ambiente e posição social da pessoa. Aparentemente o dever do pai é bem diferente do dever do filho. O dever de um rei ou governante de um povo é velar com zelo pelo bem-estar físico, moral e espiritual de cada pessoa do povo. Esta magna tarefa se cumpre com êxito quando o governante leva uma vida abnegada e dedicada. Se seu povo é atacado por inimigos, ele tem que derrotá-los sem considerações e se for necessário, oferecer sua própria vida no campo de batalha. Este é seu dever primordial, esta é sua religião. Por esta ação abnegada, o rei ou governante se purifica de suas limitações e se aproxima de Deus. Através do cumprimento do dever o homem consciente, o homem que não vive uma vida egoísta e puramente sensual, descobre que a felicidade é mais apreciável que o momentâneo prazer, que se goza mais fazendo felizes aos demais, que jamais esteve separado do resto da humanidade, que a felicidade moral é muito mais duradoura que a alegria corpórea e que o homem como Ser é sempre universal. A individualidade é um conceito puramente objetivo. Mesmo o homem comum, de mentalidade limitada, quando pensa em si mesmo, o faz em relação com seus familiares ou parentes imediatos, o que demonstra que, subjetivamente, ele jamais pode limitar-se nesta forma que é vista pelos outros; o homem subjetivamente é sempre o reflexo do Universal, é um aspecto indivisível da Divindade. As pessoas comuns têm muitas idéias confusas sobre o conceito do dever; estas confusões não se aclaram enquanto o homem leva uma vida objetiva; enquanto a opinião alheia, o anelo de ganhar méritos, de receber o elogio das pessoas, a ostentação, o logro do prazer sensório e o medo, constituírem o motivo ou motivos de suas ações e pensamentos. Este medo, ainda que pareça um paradoxo para muitos, é o principal impulso na vida. Este medo nos persegue de diversas maneiras: medo da opinião pública, medo de perder os bens, a reputação, a posição social, os familiares e o medo da morte. Este medo fabricou a ilusória individualidade, nos tem amarrados a ela e nos obriga a crer que somos criaturas de nascimento, juventude, velhice e morte. Freqüentemente vemos que o homem, confundido e assustado, fala demasiado de valor, compaixão e desapego que ele realmente não sente nem demonstra nos fatos. Algo muito parecido aconteceu à Arjuna no campo de batalha e, justamente por isso, Sri Krishna lhe deu conselhos apropriados sobre o dever, o yoga , a renúncia, os diversos caminhos espirituais e a liberação. O Bhagavad-Gita não é um tratado de teologia, nem um livro de orações devocionais e nem um texto de um sistema filosófico. Este

sagrado texto, de forma sintética, ilumina a consciência humana, aclara os complexos problemas sobre o dever, o propósito da vida, a diferença entre o amor e o apego, a ciência do yoga, a prática da devoção e do difícil caminho do discernimento pelo qual, o homem de renúncia, logra o conhecimento direto do UM sem segundo, a Existência-Conhecimento- Bem-aventurança Absoluta. Lendo este livro, aquele que realmente tenha inquietude espiritual, descobre com assombro e certa alegria que muitas, senão todas, as perguntas de Arjuna, são ou poderiam ser as suas e que certas respostas de Sri Krishna retiram todas suas dúvidas, lhe dão ânimo e convicção, lhe preparam para seguir firmemente o caminho espiritual e fazem eco ao dito final de Arjuna: “Me sinto firme, minhas dúvidas desapareceram. Cumprirei Tua ordem.” Temos que advertir ao nosso leitor, se é um aspirante espiritual, sobre algo muito importante. Será muito difícil compreender o verdadeiro significado deste texto se não possui de antemão os imprescindíveis requisitos da vida espiritual. Antes de tudo, deve ter a capacidade de discernir entre o Real e o irreal; depois deve ter a firme determinação de renunciar à irrealidade; deve possuir as seis virtudes seguintes: controle dos sentidos, controle da mente, fortaleza para suportar as aflições, saber retirar-se dos objetos e conceitos que o perturbam no caminho espiritual, fé inquebrantável na própria capacidade e na existência divina, concentração e por último, o anelo de liberar-se desta irreal existência objetiva, deste conjunto de idéias e formas transitórias. Sem tais requisitos, a leitura deste texto espiritual não servirá muito ao nosso leitor. Talvez lhe ajude algo em sua carreira de erudição, agregando outra flor em sua cesta de ecletismo. O leitor deve saber muito bem que a vida de “parecer” é absolutamente distinta e contrária à vida de “ser” e que unicamente pelo caminho de “ser”, da sinceridade e retidão, se compreende a grande importância da vida espiritual. A espiritualidade ou religião transforma totalmente a vida; a leitura dos tratados espirituais não é para satisfazer uma mera curiosidade intelectual, seu propósito é levantar ao homem de seu equivocado e pernicioso estado animal e fazê- lo recordar constantemente sua natureza divina, prepará-lo para viver uma vida de plenitude e ao final conduzi-lo à união completa com Deus, seu verdadeiro Ser. Os caminhos a este magno e único ideal são vários. Os hindus os chamam de “ yogas ”. Os principais yogas são quatro: Karma yoga ou yoga da ação, Raja yoga ou yoga do controle interno e externo, Bhakti yoga , ou yoga da devoção e Jñana yoga ou yoga do conhecimento do Supremo. Yoga também significa “união”, o que nos une com Deus. De maneira que yoga é ao mesmo tempo a base e o grande Ideal de todas as religiões. Os grandes sábios, santos e profetas de todas as religiões foram, são e serão yoguis; em suas vidas notamos a maravilhosa fusão das belas qualidades humanas com a divindade universal. Um verdadeiro yogui transcendeu as limitações individuais, personifica ao Conhecimento e seus sentimentos são universais; através de sua personalidade transparente a Divindade chega a nós diretamente. Por natureza um yogui é equânime,

em seguida, purificando-o de toda limitação individual, o une com Deus Impessoal e o libera definitivamente da ignorância, do medo e da morte. Existem intelectuais que opinam que religião atua como ópio, que adormece ao homem e o faz esquecer a realidade da vida. À eles aconselhamos a cuidadosa leitura do Bhagavad-Gita sem idéias pré- concebidas. Aqui o instruído encontrará que o Senhor recomenda ao aspirante espiritual a aço abnegada, contínua e incessantemente; esta ação é a que purifica o coração de um homem e ao mesmo tempo o salva de mais apegos. Somente as ações abnegadas produzem resultados bons e duradouros. A advertência de Sri Krishna para aqueles que confundem a vida espiritual com a inércia é: “Teu motivo para trabalhar não deve ser a ansiedade de obter o fruto da ação, nem dever aderir-te à inação”. A vida religiosa separada da vida diária é uma coisa estéril, algo sem sentido, talvez um adorno vistoso, uma ação sobreposta, um gesto de ostentação. Se o significado de ‘ser religioso’ é pertencer nominalmente a uma instituição religiosa, sem fazer o esforço de sentir a viva presença de Deus no coração, então toda sua ida aos templos foi em vão, toda sua leitura das escrituras sagradas foi inútil e sua vida de “parecer” teve muitas complicações. Freqüentemente estes religiosos, em seu afã de apresentar sua doutrina particular, se tornam fanáticos e inconscientemente causam a ruína e fazem sofrer aos demais. Apesar de tanta prédica religiosa, a maioria dos religiosos, vivendo uma vida afastada de Deus, não sentem a fraternidade humana porque não compreendem nem aceitam que Deus Pessoal ou Impessoal é sempre Universal e que todos os seres humanos são Sua manifestação. A inércia, a indolência e a inadvertência são os três inimigos mais poderosos do ser humano. São mais daninhos que a maioria dos atos pecaminosos. Sri Krishna queria salvar à Arjuna de seu desejo encoberto de escapar de seus deveres, com o pretexto de levar a vida pacifica de um ermitão. Como todos os homens estão convencidos da limitada idéia de individualidade, também o grande Arjuna pensava que não lutando poderia transformar imediatamente seu caráter de guerreiro e apagar de sua mente todas as impressões passadas. Com paciência Sri Krishna convenceu à Arjuna de que cumprindo desapegadamente com seu dever imediato de destruir aos inimigos que representavam a injustiça, entenderia melhor o ideal humano e para isso era melhor enfrentar a crua e desapiedada realidade. Ensinando à Arjuna o poder das ações passadas, Sri Krishna lhe diz: “Ó Kounteya, alucinado, o que não queres fazer agora, depois o farás mesmo assim, pois estás atado ao teu karma (impulso da vida passada), nascido de tua natureza”. Atuar ou cumprir desapegadamente o dever de cada um, segundo o ambiente em que nasceu, não é contraproducente na vida espiritual. Se o instrutor espiritual, cumprindo desapegadamente seu dever de ensinar se emancipa, o açougueiro que serve ao povo matando animais, cumprindo com seu dever sem apego, logrará idêntica emancipação. O verdadeiro inimigo da vida espiritual é a ignorância que nos fez esquecer que somos seres sempre livres e nos fez acreditar que somos limitados e mortais.

Essa ignorância é a mãe do apego, do medo, da ilusão, da debilidade, da dependência e de todos os tipos de limitações. O dilema principal de Arjuna se apresentou com respeito ao dever. Quando no campo de batalha viu com seus próprios olhos, que entre os inimigos estavam seus parentes e amigos, até seu próprio instrutor, lhe surgiram as seguintes idéias: É necessário e benéfico cumprir com os deveres mundanos, quando produzem pesar e sofrimento à si mesmo e aos demais? Não seria melhor abandonar estes deveres e seguir o caminho da renúncia? Um momento antes, decidido, Arjuna havia ido disposto a lutar; um momento antes ele sabia muito bem quem eram seus adversários que, segundo ele, eram representantes da injustiça e colaboradores de seu primo havia usurpado o trono de seu irmão mais velho. Mas quando os viu frente a frente, Arjuna esqueceu seu dever, seu coração se encheu de medo e falsa compaixão e muito deprimido começou a falar com muita emoção, sentimento e raciocínio adequado. Através de suas palavras, aparentemente sábias, mas realmente egoístas, demonstrando seu grande apego, confusão e ilusão, Arjuna queria convencer Sri Krishna de que ele preferia a morte a matar aos seus inimigos. Mas o onisciente Sri Krishna viu a momentânea debilidade de Arjuna e por isso, quando este se sentou no carro de guerra e soluçando disse: “Ó Govinda, não vou lutar”, Sri Krishna lhe respondeu com firmeza: “De onde vem esta tua indigna debilidade, não-ariana, baixa e contrária ao logro da vida celestial? Você está lamentando-se pelos que não o merecem, no entanto falas como um sábio. Os verdadeiros sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos.” Sri Krishna não predicou à Arjuna o ideal dos estóicos, cumprir o dever só pelo dever; porém predicou que o cumprimento do dever tem um só propósito: purificar o coração para desfrutar da infinita bem- aventurança da Presença Divina. Deus é imanente no universo, como a alma de todos os seres e objetos. Cumprir o dever equivale à adoração de Deus. Ao que considera o dever desta forma, pouco lhe molestam as idéias de êxito ou fracasso, ele desfruta como um instrumento vivente nas mãos de Deus e não sofre nem se desespera pensando de antemão em sua própria morte e na dos demais; seu conhecimento por estar em contato com Deus é uma ditosa percepção permanente. Ainda que o Gita seja um compendio de todas os yogas , no entanto Sri Krishna recomenda como disciplina espiritual o Karma yoga , o caminho da ação. Para o aspirante espiritual a ação deve ser abnegada, desapegada e sem esperar os frutos. Este tipo de ação destrói radicalmente todas as limitações do Ser. Viver significa atuar, pensar é atuar; pela ação o homem expressa a si mesmo. Sri Krishna disse: “Ó Partha, Eu não tenho nenhum dever que cumprir, não há nada nos três mundos que não haja logrado ou que Me falte lograr, no entanto, atuo constantemente”. Talvez seja possível para o egoísta retirar-se da ação, cobiçando o estado de inércia, mas para aquele que ama a humanidade não há descanso possível e por isso vemos que as Encarnações jamais deixam de atuar. Como não têm nenhum motivo pessoal, a ação para as

atual encarnação do homem foi causada pelo impulso dessas impressões; são elas que determinam seu caráter, seu dever, sua idéia de religião, seu critério de bom e de mal, do correto e do injusto. Nenhum homem nasce com a mente absolutamente pura, mesmo o nascimento das encarnações demonstra que Elas, voluntariamente aceitam certa impureza. A diferença entre a individualidade da Encarnação e a de qualquer homem é que a Encarnação é sempre consciente de Seu estado universal e de Seu voluntário e momentâneo estado individual. Em troca, o homem comum é inconsciente de ambos estados. Terminada a missão com que vem ao mundo, a encarnação deixa Sua individualidade. Ao homem comum, ao princípio, custa muito desfazer-se de sua individualidade, mas logo o faz pela misericórdia Divina, que age como o grande destruidor da ignorância. A educação ou o impacto do ambiente ajuda ao homem a desenvolver as qualidades que ele mesmo fabricou e com as quais veio ao mundo. Seus pais são causas instrumentais, que lhe proporcionam o meio físico para dar curso ao seu dharma. Eles são como os ceramistas e a roda que dá forma ao vaso. Assim que o dharma de cada ser humano é a base de seu pensamento e ação; ele não pode desfazê-lo. Ir contra este dharma é criar confusão. Arjuna ficou confundido quando quis deixar o swa dharma do kshatriya , cujo dever é proteger aos corretos e destruir aos injustos. Sua confusão surgiu, quando esquecendo seu dharma , quis levar vida de ermitão. Tampouco devemos esquecer o outro aspecto do dharma , o que nos ajuda a realizar nossa Divindade, senão dharma significaria desapiedada fatalidade. A lição de Sri Krishna é que ninguém deve agir contra o swa dharma , o dever do ambiente em que nasceu. Cumprindo abnegadamente com o dever, o homem gasta o impulso com que nasceu e dedicando toda sua ação a Deus, não cria novos impulsos. Então compreende que o supremo dever é adorar a Deus. Diz Sri Krishna: “Renunciando a todos os deveres, refugie-se em Mim unicamente. Não te aflijas, Eu o salvarei de todos os pecados.” Swami Vijoyananda Ramakrishna Ashrama Gaspar Campos 1149 Bella Vista Buenos Aires República Argentina

Capítulo I O PESAR DE ARJUNA 1 – Disse Dhritarashtra: Diga-me Sanjaya, que fizeram meus filhos e os de Pandu reunidos, no sagrado campo de Kurukshetra, com o desejo de lutar? 2 – Disse Sanjaya: Vendo ao exército bem formado dos filhos de Pandu, o rei Duryodhana se aproximou do mestre (Drona, instrutor de guerra) e disse o seguinte: 3 - 6 – Contemple, mestre, ao grande exército dos Pandavas (filhos de Pandu), bem formado por teu talentoso discípulo, o filho de Drupada. Aqui estão os heróicos e grandes arqueiros Yuyudhana, Virata e o valente guerreiro Drupada, todos eles iguais a Bhima e Arjuna na guerra. Também estão Dhristaketu, Chekitana, o valoroso rei de Kashi, Purujit, Kuntiboja e o verdadeiro príncipe entre os homens, o rei de Shibi, o forte Yudhamanyu, o valente Uttamouja e os grandes guerreiros filhos de Subhadra e Droupadi. 7 - 9 – Ó Tu, o melhor dos nascidos duas vezes (Brahmins), para informar- te vou mencionar os nomes dos distintos condutores de meu exército. Tu, Bhisma, Karna, Kripa, todos vitoriosos na guerra. Também estão Ashvat- thama, Vikarna, o filho de Somadatta e muitos outros heróis que manejam com habilidade distintas armas, todos dispostos a sacrificar suas vidas por minha causa. 10 – Este exército deles, sob o comando de Bhima, é suficiente para a vitória, em troca aquele, o nosso, capitaneado por Bhisma, não o é. 11 – Assim que vós, segundo vossa posição no exército, deveis proteger só a Bhisma. 12 – Alegrando o coração de Duryodhana, Bhisma, o tio-avô deles, o mais velho e mais forte dos Kurús, rugiu como um leão e soprou com força sua concha (que os indo-arianos utilizam como um clarim).

tios-avós, tios maternos, sogros, netos, cunhados e demais parentes, para quem desejamos essas felicidades, estão reunidos aqui para lutar, tendo renunciado a seus bens e mesmo a suas vidas? 35 – Ó Madhusudana (Krishna), ainda que eles me matem, eu não quero matá-los, nem para reinar neste mundo, nem para a soberania dos três mundos. 36 - 37 – Ó Janardana (Krishna), que prazer teríamos matando aos Dharta-rashtras? Seria um ato pecaminoso matar a estes agressores. Por isso, não devemos destruir aos nossos parentes, os Dharta-rashtras. Ó Madhava (Krishna), como poderíamos ser felizes matando a nossos próprios parentes? 38 - 39 – Ainda que eles, com a mente dominada pela cobiça, não vêem nenhum mal em destruir aos parentes, nem pecado em serem hostis aos amigos, por que, Ó Janardana, nós que vemos ao grande mal que nasce da destruição dos parentes, não desistimos de cometer este pecado? 40 - 42 – Ao destruir-se a família morrem seus cultos de tempos imemoriais e assim, perdendo a espiritualidade, a família inteira se torna ímpia. Ao prevalecer a imoralidade, as mulheres se corrompem e disto, Ó Varshneya (Krishna), nascem os mestiços, o que é um verdadeiro inferno para uma família, que logo se destrói. Os antepassados caem de sua morada celestial, porque não recebem as oferendas de água e tortas de arroz. 43 – Por estas más ações dos destruidores da família que criam os mestiços, se destroem os cultos religiosos e da casta. 44 – Temos ouvido, Ó Janardana, que aqueles cujos cultos religiosos da família são destruídos, levam uma vida permanentemente infernal. 45 – Ai! Estamos envolvidos em grande pecado. Cobiçando o prazer de reinar, nos preparamos para aniquilar aos nossos parentes. 46 – Seria melhor que me matem os bem armados filhos de Dhartarashtra, quando não esteja armado nem lhes resista na guerra. 47 - Disse Sanjaya: Dizendo isto, Arjuna jogou fora seu arco e flechas e com o coração muito dolorido, permaneceu sentado em seu carro.

Capítulo II O CAMINHO DO DISCERNIMENTO 1 - Disse Sanjaya: A ele, que estava assim abatido pelo pesar e compaixão, com os olhos cheios de lágrimas e com a mente confusa, Madhusudana (Krishna) disse o seguinte: 2 – Disse o BENDITO SENHOR: Neste momento crítico, ó Arjuna, de onde vem esta tua indigna debilidade, não-ariana, baixa e contrária ao logro da vida celestial? 3 – Não te portes como um eunuco (carente de masculinidade), ó Partha, isto é indigno de ti, afasta esta debilidade de coração e ergue-te, ó destruidor dos inimigos! 4 – Disse Arjuna: Mas, ó Madhusudana, ó destruidor dos inimigos, como queres que combata com flechas a Bhisma e Drona, merecedores de toda a veneração? 5 – Sem dúvida seria melhor para mim viver mendigando, do que matar a estes nobres senhores. Mas se chegar a matar-lhes, então todos os nossos bens e prazeres neste mundo estariam manchados com seu sangue. 6 – Não sabemos o que seria melhor, vencer ou sermos vencidos. Estes filhos de Dhritarashtra, a cuja destruição não queremos sobreviver, aí estão diante de nós. 7 – Minha própria natureza está esmagada pela compaixão; a mente está perplexa com respeito ao dever. Diga-me, te suplico, o que seria definitivamente bom para mim; tomei refúgio em Ti, sou teu discípulo, instrua-me. 8 – Ainda que eu fosse um rei próspero neste mundo, sem rivais e dominasse os seres celestiais, não vejo realmente o que poderia quitar este pesar que está consumindo meus sentidos. 9 – Disse Sanjaya: Falando desta maneira a Hrishikesha, Gudakesha (o que domina o sono: Arjuna), o vencedor dos inimigos, disse de novo: “Ó Govinda, não vou lutar” e ficou em silêncio. 10 – Ó Bhárata, então Hrishikesha, sorrindo, disse o seguinte ao que se lamentava entre ambos os exércitos.

25 – Se diz que este Ser é não-manifestável, impensável e imutável; sabendo que é assim, não deves lamentar-te. 26 - 27 – Mas, ó tu de braços poderosos, se pensas que este Ser sempre nasce e morre, ainda assim não deves afligir-te por ele, porque o que nasce, morre e o que morre, renasce com certeza. Portanto não deves sofrer pelo inevitável. 28 – Ó Bhárata! Os seres ao princípio não são manifestados; no meio, se manifestam e por último, permanecem não-manifestados. Então por que te afliges por eles? 29 – Ao Ser, alguém o considera como algo maravilhoso, outro fala dele maravilhado; um terceiro ouve dele com maravilha, e há quem mesmo ouvindo sobre ele, o desconhece. 30 – Ó Bhárata! Este Ser que mora em todos os corpos é sempre indestrutível, portanto não deves lamentar-te por nenhuma criatura. 31 – Considerando teu dever, tampouco deverias vacilar, porque para um kshatriya (da casta guerreira) não há melhor sorte que lutar por uma causa justa. 32 – Ó Partha! (Arjuna), são realmente afortunados aqueles kshatriyas, a quem se apresenta a grande oportunidade de lutar em uma guerra semelhante, que lhes abre as portas do céu. 33 – Mas, se tu não lutares nesta guerra justa, não farás jus a tua reputação, faltarás a teu dever e cometerás um pecado. 34 – Além disso, as pessoas falarão de tua eterna desgraça, o que para um fidalgo é pior que a morte. 35 - 36 – Estes grandes guerreiros que estão em seus carros, considerarão que tu, por medo, te retiraste da batalha; eles te estimam muito e agora cairás em desgraça. Teus inimigos falarão de ti em termos pouco lisonjeiros. Há algo mais lamentável que isto? 37 – Se morres na batalha ganharás o céu; se consegues a vitória, desfrutarás da terra. Assim que, levanta-te, decidido a lutar. 38 – Considerando igual ao prazer e a dor, a vitória e a derrota, prepara- te para lutar e assim não pecarás.

39 – Já lhe ensinei a atitude necessária com relação ao conhecimento do Ser; agora ouve sobre a atitude com relação ao caminho da ação, dotado da qual, ó Partha, te libertarás das amarras. 40 – Neste (caminho da ação) não se perde nenhum esforço por mais incompleto que seja, nem se produzem resultados contraditórios. Mesmo um pouco desta disciplina salva a uma pessoa de grande risco. 41 – Neste caminho, ó Kourava (descendente de Kurú), existe uma só determinação que se dirige ao objetivo único. Os propósitos dos indecisos são inumeráveis e de formas diversas. 42 - 44 – Ó Partha, os néscios, cujas mentes estão cheias de desejos, que consideram a vida celestial como sua meta mais elevada, que estão enamorados pelos panegíricos védicos, que consideram como algo muito superior, estes ignorantes falam em conhecidos termos floridos com relação a diversos tipos de cultos védicos que originam os nascimentos, ações e seus resultados, como meios para o prazer e o poder. Aqueles que estão atados a eles e se deixam levar por estas frases floridas, jamais logram a determinação única, que conduz o homem ao samadhi (absorção espiritual). 45 – Os Vedas tratam os temas relacionados aos três gunas (aspectos ou qualidades). São a pureza, a ação e a inércia (componentes da natureza psicofísica). Mantendo-se equilibrado, ó Arjuna, libere-se da trindade dos gunas, dos pares de opostos (frio e calor, prazer e dor, etc.), de adquirir e conservar e estabelece-te no Atman (Ser). 46 – Como o propósito de regar por várias fontes torna-se sem efeito quando chega a inundação, assim se alcança o propósito de estudar os Vedas pela realização íntima do Ser. 47 – Só tens direito ao trabalho, não aos seus frutos. Que estes frutos jamais sejam o motivo de seus atos, nem fiques preso na inação. 48 – Ó Dhananjaia, estabelece-te neste yoga, renuncia ao apego, seja indiferente ao êxito e ao fracasso e assim faça tudo. Esta equanimidade é o yoga. 49 - Ó Dhananjaia, qualquer trabalho que se faça motivado pelo desejo é muito inferior ao que se faz com a mente não perturbada pelos resultados esperados. Refugia-te nesta tranqüilidade. Infelizes são os que trabalham ansiando os resultados. 50 – Quando se tem esta tranqüilidade mental se libera, mesmo nesta mesma vida, do bem e do mal. Assim que, dedique-se a prática deste yoga. Karma Yoga significa a habilidade na ação.

64 – Mas o homem controlado, com seus sentidos restringidos, livre da atração e aversão, ainda que se mova entre os objetos, alcança a paz. 65 – Ao alcançar a paz, todos seus pesares desaparecem. Na verdade, logo se manifesta a sabedoria do homem sereno. 66 – Em troca, para aquele sem controle, não existe a sabedoria nem a meditação. Aquele que não medita não tem paz e sem a paz, como se pode lograr a felicidade? 67 – Como o vento leva ao barco para fora de sua rota, assim perde-se a consciência quando a mente é levada pelos intranqüilos sentidos. 68 – Por isso, ó tu de poderosos braços, aquele cujos sentidos diante dos objetos são bem controlados, alcançou o conhecimento firme. 69 – O que é noite para os seres comuns, é dia para o homem de autocontrole e o que é dia para aqueles é noite para o conhecedor do Ser. (O homem comum é ignorante do supremo conhecimento, o qual é logrado pelo homem de autocontrole. A consciência do homem comum, que está sempre intranqüila, é puramente sensória; o sábio é indiferente a este tipo de consciência.) 70 - Só alcança a paz o muni (sábio silencioso ou quem sempre pensa em Deus) em quem entram os desejos do mesmo modo que os rios no pleno e plácido oceano, sem perturbá-lo e não aquele que deseja os prazeres. 71 – Aquele que vive desapegado, que abandona todos os desejos e que não tem noção alguma de ‘eu’ e ‘meu’, alcança a paz. 72 – Ó Partha, este é o estado de estabelecer-se em Brahman, alcançando o qual não permanecem mais as ilusões. Mesmo que se consiga este estado no momento da morte, o homem alcança Brahma- Nirvana e se identifica com o Supremo.

Capítulo III O CAMINHO DA AÇÃO 1 – Disse Arjuna: Ó Janardana, se segundo tua opinião, o conhecimento é superior à ação, então por que me conduzir a esta terrível ação? 2 – Com palavras aparentemente contraditórias, pareces confundir minha compreensão. Diga-me algo que com certeza me ajude a lograr o Supremo. 3 – Disse o BENDITO SENHOR: Ó Impecável, ao principio (antes), para os homens, Eu havia declarado dois cominhos espirituais: Jñana yoga , ou caminho do conhecimento para os contemplativos e karma yoga , ou caminho da ação para os ativos. 4 – O não trabalhar não conduz ao estado da inação, nem pela mera renúncia da ação se logra a perfeição. (O estado da inação é aquele onde todo motivo pessoal para atuar está ausente.) 5 – Na verdade, ninguém pode estar inativo nem por um momento, porque os gunas ou qualidades nascidas da prakriti (a natureza psicofísica) o obrigam a atuar. 6 – O néscio que, controlando externamente os órgãos da ação, segue mentalmente aos objetos dos sentidos é um hipócrita. 7 – Pelo contrário, ó Arjuna, se distingue aquele que controlando com a mente seus órgãos de ação, os dirige sem apego à karma yoga (a ação que conduz à liberação). 8 – Cumpre com os deveres prescritos, porque a ação é superior a indolência e, além disso, se não atuas nem sequer poderás manter teu corpo. 9 – Este mundo (as pessoas) está atado por ações distintas das de yagña (culto, sacrifício, Vishnu ou Deus mesmo), de maneira que, ó Kouteya, atua sem apego, somente para o yagña. 10 – 12 - Ao principio quando Prajapati, o Criador, criou os seres juntamente com o yagña disse: “Por este yagña vos multiplicareis, que este yagña outorgue tudo o que desejais. Pelo yagña nutrireis aos devas (seres celestiais) e eles vos nutrirão. Nutrindo-se mutuamente ambos alcançareis ao bem supremo. Sendo nutridos pelo yagña (pelas oferendas), os devas vos darão os objetos desejados. É um verdadeiro