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Também o chamam Gita ou Canto porque é um diálogo em verso entre Sri Krishna, a Encarnação Divina e. Arjuna. O Gita é um dos mais importantes textos espirituais ...
Tipologia: Notas de aula
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Traduzido do original (com notas) para o espanhol por Swami Vijoyananda 1 , monge da Ordem Ramakrishna Edição em espanhol de responsabilidade do Hogar Espiritual Ramakrishna (Ramakrishna Ashrama) Buenos Aires - Argentina (^1) Swami Vijoyananda (1898-1973), discípulo de Swami Brahmananda, foi o pioneiro da Vedanta na América do Sul e líder espiritual do Ramakrishna Ashrama, Buenos Aires, Argentina. Nota: A tradução do Espanhol para o Português foi feita por um estudante dos ensinamentos de Sri Ramakrishna, Swami Vivekananda e Vedanta.
O Bhagavad-Gita, ou Canto do Senhor, pertence à grande epopéia Mahabharata dos hindus. Este texto sagrado tem dezoito capítulos (25 a
seu Ideal, se tornam egoístas e mesquinhas, se esquecem de amar à Deus e à seu próximo, vivem a vida puramente sensual, de luta e competição. Quando se generaliza este estado, certos amantes da Divindade rogam fervorosamente pela salvação de seus irmãos ignorantes e a misericórdia se condensa em uma forma humana. Este fato místico, esta manifestação de Puro Amor, ocorreu antes e ocorrerá no futuro. Em qualquer parte do mundo, para o homem comum, a religião consiste só em cumprir alguns deveres morais. O dever varia segundo o ambiente e posição social da pessoa. Aparentemente o dever do pai é bem diferente do dever do filho. O dever de um rei ou governante de um povo é velar com zelo pelo bem-estar físico, moral e espiritual de cada pessoa do povo. Esta magna tarefa se cumpre com êxito quando o governante leva uma vida abnegada e dedicada. Se seu povo é atacado por inimigos, ele tem que derrotá-los sem considerações e se for necessário, oferecer sua própria vida no campo de batalha. Este é seu dever primordial, esta é sua religião. Por esta ação abnegada, o rei ou governante se purifica de suas limitações e se aproxima de Deus. Através do cumprimento do dever o homem consciente, o homem que não vive uma vida egoísta e puramente sensual, descobre que a felicidade é mais apreciável que o momentâneo prazer, que se goza mais fazendo felizes aos demais, que jamais esteve separado do resto da humanidade, que a felicidade moral é muito mais duradoura que a alegria corpórea e que o homem como Ser é sempre universal. A individualidade é um conceito puramente objetivo. Mesmo o homem comum, de mentalidade limitada, quando pensa em si mesmo, o faz em relação com seus familiares ou parentes imediatos, o que demonstra que, subjetivamente, ele jamais pode limitar-se nesta forma que é vista pelos outros; o homem subjetivamente é sempre o reflexo do Universal, é um aspecto indivisível da Divindade. As pessoas comuns têm muitas idéias confusas sobre o conceito do dever; estas confusões não se aclaram enquanto o homem leva uma vida objetiva; enquanto a opinião alheia, o anelo de ganhar méritos, de receber o elogio das pessoas, a ostentação, o logro do prazer sensório e o medo, constituírem o motivo ou motivos de suas ações e pensamentos. Este medo, ainda que pareça um paradoxo para muitos, é o principal impulso na vida. Este medo nos persegue de diversas maneiras: medo da opinião pública, medo de perder os bens, a reputação, a posição social, os familiares e o medo da morte. Este medo fabricou a ilusória individualidade, nos tem amarrados a ela e nos obriga a crer que somos criaturas de nascimento, juventude, velhice e morte. Freqüentemente vemos que o homem, confundido e assustado, fala demasiado de valor, compaixão e desapego que ele realmente não sente nem demonstra nos fatos. Algo muito parecido aconteceu à Arjuna no campo de batalha e, justamente por isso, Sri Krishna lhe deu conselhos apropriados sobre o dever, o yoga , a renúncia, os diversos caminhos espirituais e a liberação. O Bhagavad-Gita não é um tratado de teologia, nem um livro de orações devocionais e nem um texto de um sistema filosófico. Este
sagrado texto, de forma sintética, ilumina a consciência humana, aclara os complexos problemas sobre o dever, o propósito da vida, a diferença entre o amor e o apego, a ciência do yoga, a prática da devoção e do difícil caminho do discernimento pelo qual, o homem de renúncia, logra o conhecimento direto do UM sem segundo, a Existência-Conhecimento- Bem-aventurança Absoluta. Lendo este livro, aquele que realmente tenha inquietude espiritual, descobre com assombro e certa alegria que muitas, senão todas, as perguntas de Arjuna, são ou poderiam ser as suas e que certas respostas de Sri Krishna retiram todas suas dúvidas, lhe dão ânimo e convicção, lhe preparam para seguir firmemente o caminho espiritual e fazem eco ao dito final de Arjuna: “Me sinto firme, minhas dúvidas desapareceram. Cumprirei Tua ordem.” Temos que advertir ao nosso leitor, se é um aspirante espiritual, sobre algo muito importante. Será muito difícil compreender o verdadeiro significado deste texto se não possui de antemão os imprescindíveis requisitos da vida espiritual. Antes de tudo, deve ter a capacidade de discernir entre o Real e o irreal; depois deve ter a firme determinação de renunciar à irrealidade; deve possuir as seis virtudes seguintes: controle dos sentidos, controle da mente, fortaleza para suportar as aflições, saber retirar-se dos objetos e conceitos que o perturbam no caminho espiritual, fé inquebrantável na própria capacidade e na existência divina, concentração e por último, o anelo de liberar-se desta irreal existência objetiva, deste conjunto de idéias e formas transitórias. Sem tais requisitos, a leitura deste texto espiritual não servirá muito ao nosso leitor. Talvez lhe ajude algo em sua carreira de erudição, agregando outra flor em sua cesta de ecletismo. O leitor deve saber muito bem que a vida de “parecer” é absolutamente distinta e contrária à vida de “ser” e que unicamente pelo caminho de “ser”, da sinceridade e retidão, se compreende a grande importância da vida espiritual. A espiritualidade ou religião transforma totalmente a vida; a leitura dos tratados espirituais não é para satisfazer uma mera curiosidade intelectual, seu propósito é levantar ao homem de seu equivocado e pernicioso estado animal e fazê- lo recordar constantemente sua natureza divina, prepará-lo para viver uma vida de plenitude e ao final conduzi-lo à união completa com Deus, seu verdadeiro Ser. Os caminhos a este magno e único ideal são vários. Os hindus os chamam de “ yogas ”. Os principais yogas são quatro: Karma yoga ou yoga da ação, Raja yoga ou yoga do controle interno e externo, Bhakti yoga , ou yoga da devoção e Jñana yoga ou yoga do conhecimento do Supremo. Yoga também significa “união”, o que nos une com Deus. De maneira que yoga é ao mesmo tempo a base e o grande Ideal de todas as religiões. Os grandes sábios, santos e profetas de todas as religiões foram, são e serão yoguis; em suas vidas notamos a maravilhosa fusão das belas qualidades humanas com a divindade universal. Um verdadeiro yogui transcendeu as limitações individuais, personifica ao Conhecimento e seus sentimentos são universais; através de sua personalidade transparente a Divindade chega a nós diretamente. Por natureza um yogui é equânime,
em seguida, purificando-o de toda limitação individual, o une com Deus Impessoal e o libera definitivamente da ignorância, do medo e da morte. Existem intelectuais que opinam que religião atua como ópio, que adormece ao homem e o faz esquecer a realidade da vida. À eles aconselhamos a cuidadosa leitura do Bhagavad-Gita sem idéias pré- concebidas. Aqui o instruído encontrará que o Senhor recomenda ao aspirante espiritual a aço abnegada, contínua e incessantemente; esta ação é a que purifica o coração de um homem e ao mesmo tempo o salva de mais apegos. Somente as ações abnegadas produzem resultados bons e duradouros. A advertência de Sri Krishna para aqueles que confundem a vida espiritual com a inércia é: “Teu motivo para trabalhar não deve ser a ansiedade de obter o fruto da ação, nem dever aderir-te à inação”. A vida religiosa separada da vida diária é uma coisa estéril, algo sem sentido, talvez um adorno vistoso, uma ação sobreposta, um gesto de ostentação. Se o significado de ‘ser religioso’ é pertencer nominalmente a uma instituição religiosa, sem fazer o esforço de sentir a viva presença de Deus no coração, então toda sua ida aos templos foi em vão, toda sua leitura das escrituras sagradas foi inútil e sua vida de “parecer” teve muitas complicações. Freqüentemente estes religiosos, em seu afã de apresentar sua doutrina particular, se tornam fanáticos e inconscientemente causam a ruína e fazem sofrer aos demais. Apesar de tanta prédica religiosa, a maioria dos religiosos, vivendo uma vida afastada de Deus, não sentem a fraternidade humana porque não compreendem nem aceitam que Deus Pessoal ou Impessoal é sempre Universal e que todos os seres humanos são Sua manifestação. A inércia, a indolência e a inadvertência são os três inimigos mais poderosos do ser humano. São mais daninhos que a maioria dos atos pecaminosos. Sri Krishna queria salvar à Arjuna de seu desejo encoberto de escapar de seus deveres, com o pretexto de levar a vida pacifica de um ermitão. Como todos os homens estão convencidos da limitada idéia de individualidade, também o grande Arjuna pensava que não lutando poderia transformar imediatamente seu caráter de guerreiro e apagar de sua mente todas as impressões passadas. Com paciência Sri Krishna convenceu à Arjuna de que cumprindo desapegadamente com seu dever imediato de destruir aos inimigos que representavam a injustiça, entenderia melhor o ideal humano e para isso era melhor enfrentar a crua e desapiedada realidade. Ensinando à Arjuna o poder das ações passadas, Sri Krishna lhe diz: “Ó Kounteya, alucinado, o que não queres fazer agora, depois o farás mesmo assim, pois estás atado ao teu karma (impulso da vida passada), nascido de tua natureza”. Atuar ou cumprir desapegadamente o dever de cada um, segundo o ambiente em que nasceu, não é contraproducente na vida espiritual. Se o instrutor espiritual, cumprindo desapegadamente seu dever de ensinar se emancipa, o açougueiro que serve ao povo matando animais, cumprindo com seu dever sem apego, logrará idêntica emancipação. O verdadeiro inimigo da vida espiritual é a ignorância que nos fez esquecer que somos seres sempre livres e nos fez acreditar que somos limitados e mortais.
Essa ignorância é a mãe do apego, do medo, da ilusão, da debilidade, da dependência e de todos os tipos de limitações. O dilema principal de Arjuna se apresentou com respeito ao dever. Quando no campo de batalha viu com seus próprios olhos, que entre os inimigos estavam seus parentes e amigos, até seu próprio instrutor, lhe surgiram as seguintes idéias: É necessário e benéfico cumprir com os deveres mundanos, quando produzem pesar e sofrimento à si mesmo e aos demais? Não seria melhor abandonar estes deveres e seguir o caminho da renúncia? Um momento antes, decidido, Arjuna havia ido disposto a lutar; um momento antes ele sabia muito bem quem eram seus adversários que, segundo ele, eram representantes da injustiça e colaboradores de seu primo havia usurpado o trono de seu irmão mais velho. Mas quando os viu frente a frente, Arjuna esqueceu seu dever, seu coração se encheu de medo e falsa compaixão e muito deprimido começou a falar com muita emoção, sentimento e raciocínio adequado. Através de suas palavras, aparentemente sábias, mas realmente egoístas, demonstrando seu grande apego, confusão e ilusão, Arjuna queria convencer Sri Krishna de que ele preferia a morte a matar aos seus inimigos. Mas o onisciente Sri Krishna viu a momentânea debilidade de Arjuna e por isso, quando este se sentou no carro de guerra e soluçando disse: “Ó Govinda, não vou lutar”, Sri Krishna lhe respondeu com firmeza: “De onde vem esta tua indigna debilidade, não-ariana, baixa e contrária ao logro da vida celestial? Você está lamentando-se pelos que não o merecem, no entanto falas como um sábio. Os verdadeiros sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos.” Sri Krishna não predicou à Arjuna o ideal dos estóicos, cumprir o dever só pelo dever; porém predicou que o cumprimento do dever tem um só propósito: purificar o coração para desfrutar da infinita bem- aventurança da Presença Divina. Deus é imanente no universo, como a alma de todos os seres e objetos. Cumprir o dever equivale à adoração de Deus. Ao que considera o dever desta forma, pouco lhe molestam as idéias de êxito ou fracasso, ele desfruta como um instrumento vivente nas mãos de Deus e não sofre nem se desespera pensando de antemão em sua própria morte e na dos demais; seu conhecimento por estar em contato com Deus é uma ditosa percepção permanente. Ainda que o Gita seja um compendio de todas os yogas , no entanto Sri Krishna recomenda como disciplina espiritual o Karma yoga , o caminho da ação. Para o aspirante espiritual a ação deve ser abnegada, desapegada e sem esperar os frutos. Este tipo de ação destrói radicalmente todas as limitações do Ser. Viver significa atuar, pensar é atuar; pela ação o homem expressa a si mesmo. Sri Krishna disse: “Ó Partha, Eu não tenho nenhum dever que cumprir, não há nada nos três mundos que não haja logrado ou que Me falte lograr, no entanto, atuo constantemente”. Talvez seja possível para o egoísta retirar-se da ação, cobiçando o estado de inércia, mas para aquele que ama a humanidade não há descanso possível e por isso vemos que as Encarnações jamais deixam de atuar. Como não têm nenhum motivo pessoal, a ação para as
atual encarnação do homem foi causada pelo impulso dessas impressões; são elas que determinam seu caráter, seu dever, sua idéia de religião, seu critério de bom e de mal, do correto e do injusto. Nenhum homem nasce com a mente absolutamente pura, mesmo o nascimento das encarnações demonstra que Elas, voluntariamente aceitam certa impureza. A diferença entre a individualidade da Encarnação e a de qualquer homem é que a Encarnação é sempre consciente de Seu estado universal e de Seu voluntário e momentâneo estado individual. Em troca, o homem comum é inconsciente de ambos estados. Terminada a missão com que vem ao mundo, a encarnação deixa Sua individualidade. Ao homem comum, ao princípio, custa muito desfazer-se de sua individualidade, mas logo o faz pela misericórdia Divina, que age como o grande destruidor da ignorância. A educação ou o impacto do ambiente ajuda ao homem a desenvolver as qualidades que ele mesmo fabricou e com as quais veio ao mundo. Seus pais são causas instrumentais, que lhe proporcionam o meio físico para dar curso ao seu dharma. Eles são como os ceramistas e a roda que dá forma ao vaso. Assim que o dharma de cada ser humano é a base de seu pensamento e ação; ele não pode desfazê-lo. Ir contra este dharma é criar confusão. Arjuna ficou confundido quando quis deixar o swa dharma do kshatriya , cujo dever é proteger aos corretos e destruir aos injustos. Sua confusão surgiu, quando esquecendo seu dharma , quis levar vida de ermitão. Tampouco devemos esquecer o outro aspecto do dharma , o que nos ajuda a realizar nossa Divindade, senão dharma significaria desapiedada fatalidade. A lição de Sri Krishna é que ninguém deve agir contra o swa dharma , o dever do ambiente em que nasceu. Cumprindo abnegadamente com o dever, o homem gasta o impulso com que nasceu e dedicando toda sua ação a Deus, não cria novos impulsos. Então compreende que o supremo dever é adorar a Deus. Diz Sri Krishna: “Renunciando a todos os deveres, refugie-se em Mim unicamente. Não te aflijas, Eu o salvarei de todos os pecados.” Swami Vijoyananda Ramakrishna Ashrama Gaspar Campos 1149 Bella Vista Buenos Aires República Argentina
Capítulo I O PESAR DE ARJUNA 1 – Disse Dhritarashtra: Diga-me Sanjaya, que fizeram meus filhos e os de Pandu reunidos, no sagrado campo de Kurukshetra, com o desejo de lutar? 2 – Disse Sanjaya: Vendo ao exército bem formado dos filhos de Pandu, o rei Duryodhana se aproximou do mestre (Drona, instrutor de guerra) e disse o seguinte: 3 - 6 – Contemple, mestre, ao grande exército dos Pandavas (filhos de Pandu), bem formado por teu talentoso discípulo, o filho de Drupada. Aqui estão os heróicos e grandes arqueiros Yuyudhana, Virata e o valente guerreiro Drupada, todos eles iguais a Bhima e Arjuna na guerra. Também estão Dhristaketu, Chekitana, o valoroso rei de Kashi, Purujit, Kuntiboja e o verdadeiro príncipe entre os homens, o rei de Shibi, o forte Yudhamanyu, o valente Uttamouja e os grandes guerreiros filhos de Subhadra e Droupadi. 7 - 9 – Ó Tu, o melhor dos nascidos duas vezes (Brahmins), para informar- te vou mencionar os nomes dos distintos condutores de meu exército. Tu, Bhisma, Karna, Kripa, todos vitoriosos na guerra. Também estão Ashvat- thama, Vikarna, o filho de Somadatta e muitos outros heróis que manejam com habilidade distintas armas, todos dispostos a sacrificar suas vidas por minha causa. 10 – Este exército deles, sob o comando de Bhima, é suficiente para a vitória, em troca aquele, o nosso, capitaneado por Bhisma, não o é. 11 – Assim que vós, segundo vossa posição no exército, deveis proteger só a Bhisma. 12 – Alegrando o coração de Duryodhana, Bhisma, o tio-avô deles, o mais velho e mais forte dos Kurús, rugiu como um leão e soprou com força sua concha (que os indo-arianos utilizam como um clarim).
tios-avós, tios maternos, sogros, netos, cunhados e demais parentes, para quem desejamos essas felicidades, estão reunidos aqui para lutar, tendo renunciado a seus bens e mesmo a suas vidas? 35 – Ó Madhusudana (Krishna), ainda que eles me matem, eu não quero matá-los, nem para reinar neste mundo, nem para a soberania dos três mundos. 36 - 37 – Ó Janardana (Krishna), que prazer teríamos matando aos Dharta-rashtras? Seria um ato pecaminoso matar a estes agressores. Por isso, não devemos destruir aos nossos parentes, os Dharta-rashtras. Ó Madhava (Krishna), como poderíamos ser felizes matando a nossos próprios parentes? 38 - 39 – Ainda que eles, com a mente dominada pela cobiça, não vêem nenhum mal em destruir aos parentes, nem pecado em serem hostis aos amigos, por que, Ó Janardana, nós que vemos ao grande mal que nasce da destruição dos parentes, não desistimos de cometer este pecado? 40 - 42 – Ao destruir-se a família morrem seus cultos de tempos imemoriais e assim, perdendo a espiritualidade, a família inteira se torna ímpia. Ao prevalecer a imoralidade, as mulheres se corrompem e disto, Ó Varshneya (Krishna), nascem os mestiços, o que é um verdadeiro inferno para uma família, que logo se destrói. Os antepassados caem de sua morada celestial, porque não recebem as oferendas de água e tortas de arroz. 43 – Por estas más ações dos destruidores da família que criam os mestiços, se destroem os cultos religiosos e da casta. 44 – Temos ouvido, Ó Janardana, que aqueles cujos cultos religiosos da família são destruídos, levam uma vida permanentemente infernal. 45 – Ai! Estamos envolvidos em grande pecado. Cobiçando o prazer de reinar, nos preparamos para aniquilar aos nossos parentes. 46 – Seria melhor que me matem os bem armados filhos de Dhartarashtra, quando não esteja armado nem lhes resista na guerra. 47 - Disse Sanjaya: Dizendo isto, Arjuna jogou fora seu arco e flechas e com o coração muito dolorido, permaneceu sentado em seu carro.
Capítulo II O CAMINHO DO DISCERNIMENTO 1 - Disse Sanjaya: A ele, que estava assim abatido pelo pesar e compaixão, com os olhos cheios de lágrimas e com a mente confusa, Madhusudana (Krishna) disse o seguinte: 2 – Disse o BENDITO SENHOR: Neste momento crítico, ó Arjuna, de onde vem esta tua indigna debilidade, não-ariana, baixa e contrária ao logro da vida celestial? 3 – Não te portes como um eunuco (carente de masculinidade), ó Partha, isto é indigno de ti, afasta esta debilidade de coração e ergue-te, ó destruidor dos inimigos! 4 – Disse Arjuna: Mas, ó Madhusudana, ó destruidor dos inimigos, como queres que combata com flechas a Bhisma e Drona, merecedores de toda a veneração? 5 – Sem dúvida seria melhor para mim viver mendigando, do que matar a estes nobres senhores. Mas se chegar a matar-lhes, então todos os nossos bens e prazeres neste mundo estariam manchados com seu sangue. 6 – Não sabemos o que seria melhor, vencer ou sermos vencidos. Estes filhos de Dhritarashtra, a cuja destruição não queremos sobreviver, aí estão diante de nós. 7 – Minha própria natureza está esmagada pela compaixão; a mente está perplexa com respeito ao dever. Diga-me, te suplico, o que seria definitivamente bom para mim; tomei refúgio em Ti, sou teu discípulo, instrua-me. 8 – Ainda que eu fosse um rei próspero neste mundo, sem rivais e dominasse os seres celestiais, não vejo realmente o que poderia quitar este pesar que está consumindo meus sentidos. 9 – Disse Sanjaya: Falando desta maneira a Hrishikesha, Gudakesha (o que domina o sono: Arjuna), o vencedor dos inimigos, disse de novo: “Ó Govinda, não vou lutar” e ficou em silêncio. 10 – Ó Bhárata, então Hrishikesha, sorrindo, disse o seguinte ao que se lamentava entre ambos os exércitos.
25 – Se diz que este Ser é não-manifestável, impensável e imutável; sabendo que é assim, não deves lamentar-te. 26 - 27 – Mas, ó tu de braços poderosos, se pensas que este Ser sempre nasce e morre, ainda assim não deves afligir-te por ele, porque o que nasce, morre e o que morre, renasce com certeza. Portanto não deves sofrer pelo inevitável. 28 – Ó Bhárata! Os seres ao princípio não são manifestados; no meio, se manifestam e por último, permanecem não-manifestados. Então por que te afliges por eles? 29 – Ao Ser, alguém o considera como algo maravilhoso, outro fala dele maravilhado; um terceiro ouve dele com maravilha, e há quem mesmo ouvindo sobre ele, o desconhece. 30 – Ó Bhárata! Este Ser que mora em todos os corpos é sempre indestrutível, portanto não deves lamentar-te por nenhuma criatura. 31 – Considerando teu dever, tampouco deverias vacilar, porque para um kshatriya (da casta guerreira) não há melhor sorte que lutar por uma causa justa. 32 – Ó Partha! (Arjuna), são realmente afortunados aqueles kshatriyas, a quem se apresenta a grande oportunidade de lutar em uma guerra semelhante, que lhes abre as portas do céu. 33 – Mas, se tu não lutares nesta guerra justa, não farás jus a tua reputação, faltarás a teu dever e cometerás um pecado. 34 – Além disso, as pessoas falarão de tua eterna desgraça, o que para um fidalgo é pior que a morte. 35 - 36 – Estes grandes guerreiros que estão em seus carros, considerarão que tu, por medo, te retiraste da batalha; eles te estimam muito e agora cairás em desgraça. Teus inimigos falarão de ti em termos pouco lisonjeiros. Há algo mais lamentável que isto? 37 – Se morres na batalha ganharás o céu; se consegues a vitória, desfrutarás da terra. Assim que, levanta-te, decidido a lutar. 38 – Considerando igual ao prazer e a dor, a vitória e a derrota, prepara- te para lutar e assim não pecarás.
39 – Já lhe ensinei a atitude necessária com relação ao conhecimento do Ser; agora ouve sobre a atitude com relação ao caminho da ação, dotado da qual, ó Partha, te libertarás das amarras. 40 – Neste (caminho da ação) não se perde nenhum esforço por mais incompleto que seja, nem se produzem resultados contraditórios. Mesmo um pouco desta disciplina salva a uma pessoa de grande risco. 41 – Neste caminho, ó Kourava (descendente de Kurú), existe uma só determinação que se dirige ao objetivo único. Os propósitos dos indecisos são inumeráveis e de formas diversas. 42 - 44 – Ó Partha, os néscios, cujas mentes estão cheias de desejos, que consideram a vida celestial como sua meta mais elevada, que estão enamorados pelos panegíricos védicos, que consideram como algo muito superior, estes ignorantes falam em conhecidos termos floridos com relação a diversos tipos de cultos védicos que originam os nascimentos, ações e seus resultados, como meios para o prazer e o poder. Aqueles que estão atados a eles e se deixam levar por estas frases floridas, jamais logram a determinação única, que conduz o homem ao samadhi (absorção espiritual). 45 – Os Vedas tratam os temas relacionados aos três gunas (aspectos ou qualidades). São a pureza, a ação e a inércia (componentes da natureza psicofísica). Mantendo-se equilibrado, ó Arjuna, libere-se da trindade dos gunas, dos pares de opostos (frio e calor, prazer e dor, etc.), de adquirir e conservar e estabelece-te no Atman (Ser). 46 – Como o propósito de regar por várias fontes torna-se sem efeito quando chega a inundação, assim se alcança o propósito de estudar os Vedas pela realização íntima do Ser. 47 – Só tens direito ao trabalho, não aos seus frutos. Que estes frutos jamais sejam o motivo de seus atos, nem fiques preso na inação. 48 – Ó Dhananjaia, estabelece-te neste yoga, renuncia ao apego, seja indiferente ao êxito e ao fracasso e assim faça tudo. Esta equanimidade é o yoga. 49 - Ó Dhananjaia, qualquer trabalho que se faça motivado pelo desejo é muito inferior ao que se faz com a mente não perturbada pelos resultados esperados. Refugia-te nesta tranqüilidade. Infelizes são os que trabalham ansiando os resultados. 50 – Quando se tem esta tranqüilidade mental se libera, mesmo nesta mesma vida, do bem e do mal. Assim que, dedique-se a prática deste yoga. Karma Yoga significa a habilidade na ação.
64 – Mas o homem controlado, com seus sentidos restringidos, livre da atração e aversão, ainda que se mova entre os objetos, alcança a paz. 65 – Ao alcançar a paz, todos seus pesares desaparecem. Na verdade, logo se manifesta a sabedoria do homem sereno. 66 – Em troca, para aquele sem controle, não existe a sabedoria nem a meditação. Aquele que não medita não tem paz e sem a paz, como se pode lograr a felicidade? 67 – Como o vento leva ao barco para fora de sua rota, assim perde-se a consciência quando a mente é levada pelos intranqüilos sentidos. 68 – Por isso, ó tu de poderosos braços, aquele cujos sentidos diante dos objetos são bem controlados, alcançou o conhecimento firme. 69 – O que é noite para os seres comuns, é dia para o homem de autocontrole e o que é dia para aqueles é noite para o conhecedor do Ser. (O homem comum é ignorante do supremo conhecimento, o qual é logrado pelo homem de autocontrole. A consciência do homem comum, que está sempre intranqüila, é puramente sensória; o sábio é indiferente a este tipo de consciência.) 70 - Só alcança a paz o muni (sábio silencioso ou quem sempre pensa em Deus) em quem entram os desejos do mesmo modo que os rios no pleno e plácido oceano, sem perturbá-lo e não aquele que deseja os prazeres. 71 – Aquele que vive desapegado, que abandona todos os desejos e que não tem noção alguma de ‘eu’ e ‘meu’, alcança a paz. 72 – Ó Partha, este é o estado de estabelecer-se em Brahman, alcançando o qual não permanecem mais as ilusões. Mesmo que se consiga este estado no momento da morte, o homem alcança Brahma- Nirvana e se identifica com o Supremo.
Capítulo III O CAMINHO DA AÇÃO 1 – Disse Arjuna: Ó Janardana, se segundo tua opinião, o conhecimento é superior à ação, então por que me conduzir a esta terrível ação? 2 – Com palavras aparentemente contraditórias, pareces confundir minha compreensão. Diga-me algo que com certeza me ajude a lograr o Supremo. 3 – Disse o BENDITO SENHOR: Ó Impecável, ao principio (antes), para os homens, Eu havia declarado dois cominhos espirituais: Jñana yoga , ou caminho do conhecimento para os contemplativos e karma yoga , ou caminho da ação para os ativos. 4 – O não trabalhar não conduz ao estado da inação, nem pela mera renúncia da ação se logra a perfeição. (O estado da inação é aquele onde todo motivo pessoal para atuar está ausente.) 5 – Na verdade, ninguém pode estar inativo nem por um momento, porque os gunas ou qualidades nascidas da prakriti (a natureza psicofísica) o obrigam a atuar. 6 – O néscio que, controlando externamente os órgãos da ação, segue mentalmente aos objetos dos sentidos é um hipócrita. 7 – Pelo contrário, ó Arjuna, se distingue aquele que controlando com a mente seus órgãos de ação, os dirige sem apego à karma yoga (a ação que conduz à liberação). 8 – Cumpre com os deveres prescritos, porque a ação é superior a indolência e, além disso, se não atuas nem sequer poderás manter teu corpo. 9 – Este mundo (as pessoas) está atado por ações distintas das de yagña (culto, sacrifício, Vishnu ou Deus mesmo), de maneira que, ó Kouteya, atua sem apego, somente para o yagña. 10 – 12 - Ao principio quando Prajapati, o Criador, criou os seres juntamente com o yagña disse: “Por este yagña vos multiplicareis, que este yagña outorgue tudo o que desejais. Pelo yagña nutrireis aos devas (seres celestiais) e eles vos nutrirão. Nutrindo-se mutuamente ambos alcançareis ao bem supremo. Sendo nutridos pelo yagña (pelas oferendas), os devas vos darão os objetos desejados. É um verdadeiro