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Sobre Maria Madalena, a mulher que muito amou, Resumos de Literatura

Somente o primeiro capitulo do livro.. quem quiser ver ler todo compre no site do comshalom

Tipologia: Resumos

2013

Compartilhado em 03/08/2021

milena-ribeiro-44
milena-ribeiro-44 🇧🇷

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Quando menos esperei, senti que ele se inclinava em mi- nha direção. Não ousei me mover, o coração congelado. Com as duas mãos, tomou-me o rosto, enterrado no chão do pátio da casa de Simão. Meus olhos se escondiam. Meu rosto se fe- chava. Suavemente, voltou-o para o seu, e me olhou. Olhou-me profundamente, vazando-me a alma, conhecendo-me toda. Olhou-me e me amou. Meu impulso era chorar, berrar, urrar pela dor daquele amor, que me tomava assim, sem avisar; que- ria sair correndo, sumir!

Então ele não sabia quem eu era?^1 Não sabia que não podia me tocar? Não sabia que ficava muito mal para um rabi sequer olhar para uma prostituta? Será que ele não sabia que eu peca- va, que era a quarteleira, a pecadora mais conhecida da cidade?

Seus olhos ignoravam o que todos sabiam, o que eu sabia, o que meu coração gritava, com urgência: Afasta-te! Sou peca- dora! Sem me ouvir, os olhos mais belos que já vira insistiam em me olhar e me amar, em passar para dentro de mim e ser, em mim, sem a menor cerimônia, amor indiviso, total, inteiro.

Lutei o que pude contra aquela doce invasão. Lembrei-me de quantos me haviam decepcionado, ferido. Lembrei-me do quanto era impura, impura, impura! Mil vozes dentro de mim gri- tavam: Nãaao! Não quero! Vieram à tona as mágoas, as dores, a solidão, o desprezo, a desesperança, o abandono, a verda- de atestada pela Lei de Moisés: Sou pecadora! Afasta-te! Que queres comigo? Afasta-te! Não suporto este amor! Não quero

1 Baseado em Lc 7,36-50.

MARIA EMMIR O. NOGUEIRA

pre fora minha. Vida vivida um no outro, mergulhados em uma única experiência de misericórdia.

Incapaz de mover-me, ouvi sua voz, longe, longe: Simão... um credor tinha dois devedores... perdoou a ambos a sua dívi- da... Qual deles o amará mais? Qual deles o amará mais? Qual deles o amará mais? Meu ser gritava em palavras mudas: Eu! Eu! Eu te amarei mais! Ninguém, ninguém te amará mais! No entanto, ninguém me ouvia! Também ele não ouvia! Ele só era. Como eu. Só era, sem forças para qualquer outra coisa.

Vês esta mulher? Não! Simão não via! Ninguém me via! Só ele! Nem mesmo eu me via, a vasculhar em mim, buscando aquela vergonha profunda que me acompanhara por tantos, tantos anos. Onde estava a pecadora? Onde estava a prostitu- ta? Onde, a impura? Não mais me encontrava, não mais achava aquela mulher.

Suas palavras continuavam a me cortar cada vez mais fun- do: Tu, ... mas ela... tu não... mas ela... e eu queria berrar de dor e gozo por aquele fogo cortante da misericórdia que me esquar- tejava a alma. Quanto mais desejava gritar: Não eu, mas tu! Não eu, mas tu! Tu és o perfume! Tu és o beijo! Tu, as lágrimas que lavam! Tu, o bálsamo! Tu! Tu! Não eu, mas tu! , mais se me es- quartejava a alma, mais me doía o gozo, mais incapaz eu era.

Nenhum fogo se compara ao amor! Nenhum queima tanto e por tanto tempo como o fogo da misericórdia. Nenhum corta tão fundo, tão visceralmente! Haveria ainda algo a viver? Have- ria ainda algo a desejar?

Sim, haveria. A obra não estava acabada. O corte mais pro- fundo estava por vir: nossos olhos se entregaram, mais inteira- mente ainda: Seus muitos pecados lhe foram perdoados... per- doados… perdoados!!! Pois ela tem mostrado muito... amor!!!

Não sei ao certo, mas creio que me curvei sobre mim mes- ma. Soluços altos abafados pelo corpo gritavam: Perdoados, ele disse? Muitos pecados? Então ele sabia?!? Então ele conhe-

A MULHER QUE MUITO AMOU

cia?!? Ai, meu Deus! Ele sabia! Ele perdoava!!! Meus muitos pe- cados... Ele os conhecia!!! E, em vez de afastar-se, Ele perdoa- va! Ele perdoava! Ele me perdoava, a mim… a mim… pecadora! Perdoada!

Ah, a dor de ser perdoada assim, sem mais nem menos, sem nem mesmo pedir perdão! Sem mesmo ir ao Templo e cumprir as prescrições da Lei! Quando tinha sido, mesmo, que eu tinha muito amado? O alabastro! O perfume! O frasco de perfume guardado para quando eu tomasse jeito! Teria sido isso? Teria sido isso o meu amar? Mas, não, não! Ele me olhara primeiro! Aquele olhar me fizera pegar o frasco! Meu Deus! Ele, que me fizera pegar o perfume, dizia que eu muito havia amado? Então, um frasco de perfume é amor? Então, um pouco de bálsamo perfumado é arrependimento? Ou seria o contrário? O perdão dos meus muitos pecados em troca de um vidro de alabastro de óleo perfumado?!? Ou em troca de nada?^3

Talvez, as lágrimas! Sim! Podia ver suas marcas claras em seus pés sujos da poeira. Eram tantas que iam lavando tudo. A poeira em seus pés, a lama em meu coração. Seriam as lágrimas o amor?

Não! Não era isso! Ele queria me guardar! Queria me elevar! Ele conseguia ver o que eu não via, o que ninguém via! Ele se via em mim e dizia que era eu quem muito amava! Ele tomava o meu lugar! Ele tomava o meu lugar! Meu Deus, ele era louco!

Não entendia mais nada. Era dor demais, era amor demais, eu não tinha forças, não conseguia pensar, não conseguia falar! Quis morrer, quis rolar pelo chão do pátio, e berrei, e chorei, feri- da pela deliciosa dor do amor. Não sei o que pensaram de mim e não me interessava mais. Sei que me agarrei a ele. Aos seus pés, aos seus olhos, às suas mãos que me seguravam o rosto, ao seu amor, a ele todo.

3 “O líquido que a mulher carregava no vaso de alabastro era o nardo puro (Marcos 14,3). O nardo era um perfume raro feito de raízes de uma planta nativa do Himalaia. Nos tempos bíblicos, ele era importado justamente em frascos selados de alabastro. Esses pequenos vasos de alabastros eram abertos apenas em ocasiões muito especiais.” CONEGERO, D. O Que é o Vaso de Alabastro? Dis- ponível em: https://estiloadoracao.com/o-que-e-vaso-de-alabastro Acesso em 2 de jun. 2020.

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