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ótima obra que retrata as questões em torno do processo de migração
Tipologia: Esquemas
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Não perca as partes importantes!
Eduardo Marandola Jr. ** Priscila Marchiori Dal Gallo ***
Migração e mobilidade são fenômenos constituintes da experiência contemporânea. Estar no mundo, hoje, é conviver com a mobilidade e a migração, e todas suas implicações. Do ponto de vista existencial, esta é uma experiência desconcertante, em que as referências espaciais e socioculturais são reconstituídas, num processo que envolve e atinge o próprio cerne da autoidentidade: a segurança existencial. Partimos da pergunta “que é ser migrante?” para refletir sobre as implicações existenciais e territoriais da migração, procurando entendê-la enquanto um fenômeno vivido em diferentes escalas espaço-temporais, mas que possui, do ponto de vista fenomenológico, uma mesma essência constitutiva. Esse percurso leva a um pensar ontológico acerca das estratégias e consequências do fenômeno migratório, o que faz refletir sobre o papel da identidade territorial, do envolvimento com o lugar e das redes sociais no movimento de sair do lugar de origem e estabelecer-se no local de destino.
Palavras-chave : Mobilidade. Lugar. Segurança existencial. Fenomenologia da migração. Geografia da população.
Introdução
Que é ser migrante? Esta pergunta expressa a preocupação em pensar o fenô- meno migração na forma como este é vivido. Em termos fenomenológicos, a atenção re- cai sobre a forma como o fenômeno aparece na experiência. Essa pergunta expressa tam- bém uma preocupação ontológica original: o migrante é um ser deslocado, movido de seu lugar primevo. E é neste deslocamento que procuramos o significado do que é esta condição.
A tradição dos estudos migratórios con- solidou uma série de questões fundamentais que giraram em torno das leis da migração (RAVEINSTEIN, 1980) e dos motivos e forças sociais que atraem ou expulsam as popula- ções, enquanto reflexos da própria estrutu- ração produtiva do capital e de suas neces- sidades. Neste sentido, os movimentos se davam por classes, não por indivíduos que decidiam isoladamente migrar (SINGER, 1973). Versões clássicas, estruturalistas ou pós-estruturalistas elaboraram estas e
outras perspectivas para explicar a lógica dos processos de redistribuição espacial da população e suas diferentes consequências. No entanto, apesar destas bases co- muns, enquanto fenômeno complexo e mul- tifacetado, a migração é estudada no con- texto dos estudos populacionais, recebendo a confluência de abordagens e disciplinas que, cada qual com suas preocupações e objetos, compõem um grande quadro sobre o migrante, seus movimentos, os processos materiais, as consequências e implicações em diferentes escalas, os simbolismos e as transformações culturais. Conforme mostram Brettell e Hollifield (2008), cada disciplina possui sua questão de pesquisa, os níveis ou unidades de análise, teorias dominantes e hipóteses orientadoras das investigações. A intensificação dos fluxos migratórios no período pós-1990, com a crescente mobi- lidade planetária e novos desenvolvimentos na área de transportes e comunicação, no entanto, tem produzido reflexos diretos nos estudos e teorias migratórias (FAVELL, 2008). A velocidade, intensidade e diver- sidade contemporâneas dificultam muito a apreensão dos fluxos e das dinâmicas que têm ritmos espaço-temporais muito variados, além de uma diversidade nunca vista. Diferente da modernidade sólida, para usar uma expressão de Bauman (2001), na modernidade líquida a fluidez é a tônica das instituições, relações sociais, mercado e até da esfera cotidiana. Isso deixa os cientistas sempre num terreno pantanoso no que se refere à apreensão da realidade e seu estudo. Esse cenário produziu pelo menos dois rebatimentos em termos das tendências dos grandes paradigmas científicos: a ênfase nos processos identitários, da esfera do cotidiano e dos microprocessos; e a atenção à dimen- são espacial dos fenômenos (SANTOS, 2000; MASSEY, 2008). Nos estudos migratórios, observam-se alterações nas tradicionais abordagens explicativas das migrações (es- truturalistas), com fortalecimento da atenção na identidade e nos elementos simbólicos do processo (AHMED, 1999; PADILLA, 2009). Por outro lado, a dimensão territorial das mi- grações tem ganhado importância, tanto em
termos dos territórios migrantes quanto dos estudos de lugares e espaços específicos diante do fenômeno migratório (RAFFESTIN, 2003; SAQUET, 2007). No entanto, a maior parte desta biblio- grafia enfoca o tema pelo viés sociocultural, dos grupos e de suas práticas, não estando direcionada para as questões propriamente existenciais destas transformações. Por outro lado, a dimensão espacial, via territó- rio, continua sendo entendida, sobretudo, como metáfora, ou por um viés materialista, que limita o território às relações de poder estabelecidas por forças econômicas ou políticas. A Geografia é a disciplina em que estas abordagens estão potencialmente conciliadas. Ela é mais do que o estudo de padrões espaciais da migração, envolven- do uma gama de processos e fenômenos constituintes dos lugares, das redes e dos fluxos (HARDWICK, 2008). Favell (2008) chama atenção para o potencial da análise contemporânea da Geografia, que conside- ra o lugar enquanto dotado de significado e dinâmica cultural, permitindo um olhar para as dinâmicas próprias do e no espaço, onto- logicamente integrante da população que ali vive. Para avançar nesse sentido, é necessá- rio trilhar esta reflexão ontológica de fundo, superando a dissociação moderna espaço- sociedade, em busca de uma abordagem eminentemente existencial-fenomenológica. No contexto dos estudos migratórios, a dimensão existencial está parcialmente con- templada pelos trabalhos historiográficos, que tomam a migração enquanto narrativa e memória (DINER, 2008). Com seus estudos clássicos sobre a condição do estrangeiro e sua adaptação, Georg Simmel (1983; 1994) foi pioneiro em trazer a dimensão individual para uma análise social dos processos ligados à migração e à própria sociedade. Outras disciplinas que contribuem para este olhar são a Psicanálise e a Psicologia, que buscam compreender os impactos do processo migratório para a identidade e a personalidade (VIANA, 1978; DeBIAGGI; PAIVA, 2004; OLIVEIRA, 2005; FUKS, 2005). Como uma mobilidade em si, a migra- ção é um fenômeno que envolve tanto a materialidade quanto a produção social e
portante neste sentido, já que, perseguindo a questão ontológica fundamental, erigiu um conjunto de reflexões que colocam o lugar e o espaço como centrais para pensar a exis- tência (MALPAS, 2008; SARAMAGO, 2008). Nessa perspectiva, a dimensão territo- rial refere-se à própria constituição do ser, enquanto área de controle (mesmo que simbólico) que permite a continuação da existência, fornecendo a chamada segu- rança ontológica (GIDDENS, 2002). É esta segurança que permite ao ser continuar sendo, ou seja, manter-se vigente , existindo no mundo (HEIDEGGER, 2001b). Sack (1997) aborda a dimensão existen- cial da relação com o lugar a partir do self (eu), entendendo a relação self -lugar como uma teia indissociável de mútua constitui- ção. Para ele, ambos estão no centro de constituição da pessoa e do espaço, sendo o ponto no qual os fenômenos e dinâmicas de outras esferas se embatem na realida- de geográfica. Segundo o autor, o self é composto pela natureza, pelos significados e pelas relações sociais, tanto quanto o lugar, e é por isso que ambos apresentam personalidades específicas em cada tempo. O processo de desenraizamento origi- nal iniciado pelo movimento migratório se dá, em termos existenciais, pela alteração da territorialidade consolidada, a modificação desta relação originária self -lugar, saindo do lugar-natal, o que implica deixar os lugares de infância, juventude ou idade adulta, res- ponsáveis pela nossa formação enquanto pessoa e sobre os quais está edificada nossa identidade. Implica, portanto, sair dos territórios da segurança e lançar-se no mundo, em lugares de pouca ou nenhuma familiaridade, onde há pouco ou nenhum controle, uma das raízes da insegurança (MARANDOLA Jr., 2008a). A bibliografia clínica e antropológica elenca um razoável número de estresses e lutos causados pela experiência mi- gratória, relacionados às várias perdas, desorientações e incertezas consequentes da mudança. O local de destino representa uma nova realidade para o migrante em termos tanto culturais quanto espaciais. A bibliografia clássica indica alguns dos pro- cessos que ocorrem neste devir, tais como
a integração, a assimilação, a separação ou a marginalização (BERRY; POORTINGA, 2002), constituindo o processo mais geral de adaptação do migrante, que envolve não apenas questões comportamentais e cul- turais (HOGAN, 1974), mas também adap- tações do seu próprio modo de ser. Como a adaptação nem sempre é possível (nem sempre a pessoa tem condições mentais de realizá-la), o desgaste emocional pode se avolumar a ponto de gerar a chamada Síndrome do Migrante, ou Síndrome de Ulisses (PASQUA; MOLIN, 2009). A expressão antropológica deste pro- cesso é o embate entre migrantes e esta- belecidos, problemática clássica de todos os estudos sobre alteridade, adaptação cultural e migração ( insiders e outsiders ) (ELIAS, 1994). O outro é o desconhecido, que ameaça o eu e sua pureza, provocando o medo e a repulsa e, não raro, reações hostis que podem gerar estigmatização (GOFFMAN, 1982; BAUMAN, 1998). Esta oposição revela não apenas a diferença de pertença e identidade entre grupos, mas também uma diferenciação de apropriação dos saberes do lugar e de sua inserção territorial (MARANDOLA Jr., 2008b). Elsa Lechner aborda a questão pelo ângulo da psiquiatria, identificando no pro- cesso migratório elementos potenciais que atingem a saúde mental. Segundo a autora, a experiência migratória é a da descontinui- dade e ruptura, alterando a trajetória pessoal e rompendo laços. “Laços esses que tam- bém são inscritos no corpo, cinestésicos e vivenciados. Esta experiência provoca um deslocamento do sentimento de si que pode concorrer para o mal-estar existencial ou mesmo para a doença.” Ela corrobora a importância da dimensão territorial do pro- cesso, afirmando que na migração “as iden- tidades são inter-territoriais e o sentimento de pertença quase extra-territorial, desafian- do formas convencionais de representação das identidades” (LECHNER, 2007, p. 81). Migrar é ser obrigado a desenvolver outros tipos de territorialidade, dando um salto em direção ao desconhecido. É por isso que a desestabilização da ligação essencial ser-lugar causa um abalo na segurança existencial e identidade terri-
torial do migrante, que tem de enfrentar um desencaixe espacial. Isso o torna suscetível à angústia e ansiedade, impondo a neces- sidade de enraizar-se no lugar de destino, ou de manter os vínculos com o lugar natal, apesar de ter migrado. A segurança existencial e a identidade dependem de a pessoa estabelecer e cultivar laços com o lugar, envolvendo-se com ele (MARANDOLA Jr., 2008c). Lussi e Marinuci (2007) e Lussi (2009) procuram sistematizar os elementos e si- tuações que tornam a condição migrante vulnerável, entre os quais se destacam as questões legal, religiosa, familiar, econômica e simbólica. Todos os aspectos arrolados pelos autores estão associados ao envol- vimento com o lugar, à identidade e ao processo de territorialização incipiente no lugar de destino. Nesse sentido, o migrante sente a ne- cessidade de fixar-se para poder alcançar uma sensação de bem-estar, aliviando o incômodo sentimento de incerteza e ins- tabilidade que perdura e se reforça com a ausência do lugar. No entanto, a fixação do migrante no local de destino tem algumas restrições ou condições em termos de identificação sociocultural e espacial. O envolvimento de um indivíduo com o lugar é um processo complexo que não ocorre aleatoriamente. Alguns fatores encorajam/ incentivam esse envolvimento, enquanto outros repelem qualquer tentativa ou inte- resse em fazê-lo. Entre os fatores de encorajamento, a identificação com o lugar é crucial. O estabelecimento de laços e a sensação de pertencimento ocorrem em um lugar cujas características sociais, culturais e a organização espacial não sejam de todo desconhecidas. É o chamado place attachment (envolvimento com o lugar), que é um dos aspectos dos efeitos de lugar, ou senso de lugar (LOW; ALTMAN, 1992). Para a psicologia ambiental, o processo de envolvimento com o lugar implica pelo menos mais dois aspectos: a dependência do lugar ( place dependece ), que se refere às vantagens comparativas do lugar (o que tem ali que não tem em outros lugares); e a identidade com o lugar ( place identity ), que
expressa as características do lugar com as quais a pessoa se identifica, vendo-se nele (HERNÁNDEZ et al., 2007; LEWICKA, 2008). Estes fatores operam como fundamentos da identidade territorial, ajudando a promover a fixação, sendo para isso o aspecto mais importante o envolvimento. Kyle et al. (2004) afirmam que o atta- chment é baseado nos laços emocionais, na afetividade e na afetação que o lugar provoca na pessoa, sendo a base de todo o senso de lugar. Este laço de envolvimento foi chamado por Tuan (1980) de topofilia , referindo-se aos laços que ligam a pessoa a dada porção do espaço. Esta “filia” pode ou não ser buscada, assim como pode ou não ocorrer sem uma intencionalidade. Dessa forma, ela existe em relação tanto aos luga- res do local de origem quanto aos do local de destino, estando no centro dos elemen- tos que, do ponto de vista da experiência, irão influenciar na forma como os migrantes vão ou não se envolver com o novo lugar. A relação ser-lugar pressupõe uma construção mútua e simultânea de ambos: o sujeito constrói o lugar e ao mesmo tempo é construído por esse (CASEY, 2001). Os lugares em que o indivíduo viveu ou vive são responsáveis pela constituição de sua maneira de ser, assim como garantem a continuidade desse ser, baseada na expe- riência. Por meio da percepção, sensação, cognição, representação e imaginação, o lugar-ser se constitui. A experiência tem como meio o corpo, grande mediador dessa relação (MERLEAU-PONTY, 1971). Segundo Casey (2001), o que o corpo experiencia tem efeito direto sobre ele mesmo. Digerida, a experiência passa a fazer parte integrante do corpo. Internalizada, ela é responsável, por meio do processo de somatização, pela forma de ser do sujeito. Com a inter- nalização, o corpo incorpora o lugar que permanece na memória “ in a virtual state ” (CASEY, 2001, p.688) e se expressa na forma de ser do sujeito. Nessas condições, a relação de soma- tização ser-lugar se estabelece quando há uma identificação entre eles. O indivíduo não pode ou não é capaz de ignorar toda sua história e formação, sendo indiferente às características de sua nova realidade
e material a que o migrante tem acesso no local de destino. É neste sentido que pensamos o papel da rede social e suas relações com a territorialidade e os lugares migrantes: em que medida elas conseguem diminuir o impacto da ruptura com o lugar de origem, em termos familiares, culturais e existenciais? A inserção nas redes sociais possibilita a identificação e o pertencimento, podendo gerar alívio/amortecimento ao impacto das mudanças espaciais vividas pelos migran- tes, por forneceram um espaço de seguran- ça onde o seu modo de ser é reconhecido, ligando-o ao lugar-natal. Em vista disso, são importantes para amenizar os estresses causados pela migração (PASQUA; MOLIN, 2009). A base da rede social é a cooperação entre seus integrantes, sendo que a identi- ficação é o que fornece a liga e estabelece a confiança. Essas redes se fundamentam nas relações de amizade, vizinhança, paren- tesco, trabalho e origem comum (SOARES,
impostos pela nova realidade vivida pelo migrante certamente traz mais benefícios do que ações individuais. As redes sociais funcionam para os migrantes como uma estratégia para sua sobrevivência e susten- tabilidade (FAZITO, 2002). Para o migrante, essas redes represen- tam um referencial identitário e um meio fundamental para orientar seu envolvimento no local de destino. Em vez de partir de relações puras (GIDDENS, 2002), sem re- ferenciais prévios, os migrantes possuem uma rede de lugares e relacionamentos baseados na confiança alicerçada na origem comum, sendo o fato de serem conterrâneos a base dos laços de confiança e do novo processo de territorialização. Seus lugares são construídos pelos e para os migrantes a partir de seus aspectos socioculturais. Os migrantes passam a adquirir domínio/ controle espacial do local de destino, geran- do territorialidades ao recriar seu território identitário. As redes sociais são, portanto, também redes territoriais, pois são alicerçadas em lugares específicos onde o grupo se encon- tra, conserva práticas comuns associadas ao lugar natal e propaga, a partir dele, sua territorialidade. Em geral, as redes sociais mantêm pouca relação com o sistema do lugar (GODOI, 1998), constituindo-se em lugares marginalizados ou pouco frequen- tados pelos estabelecidos, o que contribui para a separação entre estes e os migran- tes. Não é muito diferente dos enclaves étnicos, em que códigos de conduta dos migrantes e estabelecidos constrangem o uso e a frequência de lugares na cidade, configurando territorialidades distintas entre os grupos (VARADY, 2005). Essa separação, no entanto, não é monolítica; há os lugares marcados pela permeabilidade entre os ter- ritórios e grupos, possibilitando o encontro e o compartilhamento do espaço. Esta concentração nos territórios e lu- gares migrantes dificulta o estabelecimento de relações/interação com a cidade e seus habitantes, tornando difícil o desenvolvimen- to de laços afetivos com o local de destino, já que esse não é vivenciado livremente. A provável falta de familiaridade com as estruturas, dinâmica e cotidiano da cidade
e também a prevalência da impessoalidade dificultam a constituição de lugares, pois seus dois “suportes” essenciais ficam au- sentes: não há identificação com a cidade e/ou convívio com seus habitantes. Esse é um fenômeno comum entre migrantes de baixa qualificação que migram clandestinamente para países centrais, como o caso de brasileiros nos Estados Uni- dos ou na Europa (SALES, 1999; ALMEIDA, 2009a; 2009b). Pela condição ilegal e dificul- dades com a língua, os migrantes não se arriscam muito em viagens ou em transitar pelas cidades e raramente despendem seus dias ou horas de folga em atividades de lazer e convívio social, concentrando-se no traba- lho (em geral com longas jornadas) e nas remessas para suas famílias. Essa é outra forma de territorialidade e de envolvimento com o lugar de destino que tem sido anali- sada de diferentes maneiras, que tendem a ressaltar o impacto das novas possibilidades de mobilidade e de identidade na constru- ção de territorialidades. Três abordagens ou entendimentos são mais presentes na leitura da migração e suas territorialidades contemporâneas: o transnacionalismo; a multiterritorialidade; e o entreterritórios. O transnacionalismo , por exemplo, considera o movimento migratório para além de sua dinâmica polarizada e unidirecional, pois os fluxos não se limitam mais à saída do local de origem e ao assentamento (pensa- do como definitivo e determinante) no local de destino (MASSEY, 1993). A rigidez da permanência é posta em cheque pela inten- sa transitoriedade dos migrantes em função da interconectividade e expansividade de seus territórios e simultaneidade de práticas territoriais, culturais, econômicas e multina- cionais (LINDÓN, 2007). O migrante mantém ativa e viva suas relações com lugares que estão geograficamente distantes, rompen- do com a noção de obrigatoriedade da assimilação e aculturamento (vistos como processos indissociáveis da migração) (DUNN, 2008). Reconhecem-se a relevância e a potencialidade das práticas individuais e sociais do migrante que permitem a ele se adaptar sem transformações identitárias radicais. Isso abre a possibilidade da exis- tência de identidades duais ou múltiplas
(identificação não apenas com o lugar de origem, mas também com os lugares de destino) e de identidades unas (o indivíduo se identifica prioritariamente com seu lugar de origem). Já a multiterritorialidade busca rever a forma como o processo de territorializa- ção se apresenta na contemporaneidade (HAESBAERT, 2004; 2007). Num cenário mundial em que predominam a fluidez, o móvel e o globalizado, há o afrouxamento das fronteiras estatais e territoriais (que se tornam gradativamente mais permeáveis, embora mais conflituosas também) e os fluxos ocorrem de maneira mais aleatória, dispersa e descontinua, aumentando a tensão entre mobilidade e imobildiade. O migrante constrói múltiplas territorialidades, mas não apenas ele: todos vivemos vários territórios ao mesmo tempo. O território é produzido na articulação dos processos de desterritorialização e reterritorialização, que dão origem aos territórios-rede. Estes proporcionam a experiência, identificação e apropriação de diversos territórios e o trânsito em diversas territorialidades. Por fim, a interterritorialidade propõe uma reflexão sobre a produção dos territó- rios pelos migrantes e suas implicações, num cenário de forte fluidez espaço-tempo- ral, no qual se constroem territórios em mo- vimento e sob múltiplas influências culturais (VANIER, 2008). Diante da intensificação da mobilidade em detrimento da estabilidade, há de se considerar que os processos de construção/estruturação territorial e forma- ção da identidade do indivíduo migrante têm se tornado complexos. Os migrantes vivem entre territórios e entre culturas; desenvolvem uma identidade fragmentada em função de sua situação de ocupante da fronteira entre ser e não ser cidadão e de dividir-se entre estratégias de vida que atendam às exigências do local de origem e do local de destino (ALMEIDA, 2009c). Os migrantes ativam diversos territórios e todos eles contribuem para formação de sua iden- tidade social e cultural; o cruzamento dessas pluralidades constitui a interterritorialidade. As três perspectivas, aqui resumidas, possuem pontos em comum (especialmente seu ponto de partida: a fluidez contempo-
o grupo migrante é capaz de se enraizar e dar fundamento à sua identidade que, evi- dentemente, não será a mesma, pois agora são migrantes num outro lugar e não estão isentos das influências locais, incorporando- as mesmo que parcialmente. Recriar seu território é uma forma de dar suporte e manutenção à identidade e à sua forma de existir/ser pela presença de referenciais iden- titários. Nesse sentido, territorializar-se serve como um mecanismo protetor da segurança existencial (MARANDOLA Jr., 2008c). Fundamentadas na família e nos laços elementares de parentesco, vizinhança e amizade, as redes sociais têm a capacidade de oferecer segurança existencial, atuando como casulo protetor (GIDDENS, 2002), o qual, constituído e construído pelos migran- tes, filtra as eventuais ameaças que esses possam sofrer (MARANDOLA Jr., 2008b). A confluência de “lugares próprios” propor- cionada pelas redes instiga as famílias, os amigos e conhecidos a se encontrarem e cultivarem seus laços, assim como estabe- lecerem novos outros. O mesmo não pode ser dito com relação ao sistema do lugar, pois a falta de envolvi- mento entre os migrantes e a população local priva o casulo protetor de uma fonte impor- tante de confiança e segurança, obrigando-o a estratégias de segurança desencaixadas, que estão diretamente vinculadas à existên- cia de uma rede impessoal de instituições, organizações e empresas, cujo forte é a pa- dronização e dispersão espacial. Paralela às redes sociais, uma nova rede organiza estes migrantes do tempo da globalização: a rede de lugares globais, chamada por Bauman (2001) de lugares neutros. Segundo o autor, estes lugares envol- vem certa homogeneização e padronização do comportamento social, não exigindo envolvimento ou socialização para serem frequentados; pelo contrário, isso é quase desnecessário. São os shoppings , as gran- des redes de supermercados, lojas multina- cionais e outros serviços similares que estão organizados segundo os mesmos códigos globais associados à vida metropolitana. Esses lugares, ao contrário do sistema do lugar ou das redes sociais dos migrantes, são regidos por uma lógica desencaixada,
que não exige conhecimento da cultura local para entender sua dinâmica. O migrante pode ir aos mesmos lugares padronizados que frequentava em sua terra natal e usu- fruir de uma impessoalidade que lhe dá segurança. O migrante os frequenta sem inibição, pois não há o compromisso de se envolver com ele. Essas características dos lugares neu- tros advêm, em grande medida, de sua relação com os sistemas abstratos, entre os quais estão os chamados sistemas peritos (GIDDENS, 1991). Esses sistemas tendem a apresentar certa uniformidade em termos de fun- cionamento, independentemente de sua localidade. Seu funcionamento baseia-se em alguns procedimentos padrão que, ao serem cumpridos, permitem sua utilização. Os sistemas peritos são os principais res- ponsáveis pelas transformações ocorridas nas relações pessoais, sendo grandes promotores da impessoalidade. A possibilidade de trafegar entre di- ferentes lugares, independentemente de seus atributos socioespaciais e sociocul- turais, tem permitido o deslocamento dos indivíduos de forma muito mais fluida, fora das suas territorialidades. Um processo cada vez mais frequente que tem marcado nossas metrópoles corresponde às migra- ções espontâneas, marcadas por decisões individuais (MARANDOLA Jr., 2008b,c). Em vez de grupos sociais migrantes, ligados a um lugar específico que operava como lugar de expulsão, hoje temos migrantes de grupos difusos espacialmente, que, no espaço impessoal da metrópole, não têm se orientado unicamente pela existência de redes sociais previamente estabelecidas. Torna-se possível viver uma vida inteira numa cidade ou região sem integrar-se às dinâmicas do sistema do lugar. Mesmo após vários anos, a pessoa ainda pode se considerar “de fora”, pois os laços de envolvimento com o lugar não ultrapassam aqueles ligados à sobrevivência e às práti- cas cotidianas funcionais. Este tipo de expe- riência é possível tanto pelos lugares neutros quanto pela possibilidade de manter os la- ços essenciais com o lugar de origem, o que tem acontecido tanto internamente quanto
internacionalmente (BAUMAN, 2007). Os lugares neutros facilitam a adaptação na medida em que não exigem familiaridade e envolvimento com o lugar (MARANDOLA Jr., 2008b). Por outro lado, se antes mudar-se significava distanciamento absoluto, hoje migrantes regionais ou até internacionais conseguem manter vívidos os laços com a terra natal, ficando, em muitos casos, integrado existencialmente a ele e apenas funcionalmente ligados ao lugar de mora- dia atual. As melhorias tanto nos sistemas de transporte (malhas aérea e rodoviária) quanto de comunicação (telefonia e Internet) possibilitam esta vivência deslocada do lugar: à distância. O reflexo disso, no entanto, é que as regiões metropolitanas estão cheias de migrantes temporários: pessoas que vivem a semana no trabalho e acorrem à casa- natal no final de semana, feriados e férias. Pessoas que, ao se aposentarem, voltarão para seus lugares e territórios que foram mantidos durante anos. São temporários por não considerarem este o seu lugar; entendem-se fora do lugar (MARTINS, 1986). Estes migrantes aproveitam a possibi- lidade do deslocamento e da proximidade para manter seus laços fundamentais, seu casulo protetor (GIDDENS, 2002) fundado em sua casa e terra natal. Assim, tendem a ter relações mais funcionais com a cidade e a região, morando nela durante a semana, mas, em função de seus retornos periódicos, mantêm seus laços mais fundamentais e duradouros com sua cidade natal. Ativida- des corriqueiras, que exigem confiança e conhecimento locais, como comprar bens duráveis (um carro, por exemplo), tratamen- tos de saúde mais delicados, planejamento de viagens, etc., não são realizadas na metrópole, mas sim na terra natal, onde as redes e a memória dão segurança, além de ser uma estratégia de manter o vínculo (MARANDOLA Jr., 2008b, c). As metrópoles, em especial em áreas muito densas e com alta fluidez, abrigam cada vez mais pessoas que não procuram e até evitam o envolvimento com ela: não querem pertencer, seu lugar é outro. Quais são as consequências?
Para a cidade, diminuem a participação e o envolvimento com seus próprios proble- mas. Reduzir a cidade à sua dimensão fun- cional potencializa que ela seja guiada pelo consumo e pelos sistemas produtivos. Isso retroalimenta a disposição das pessoas de não fazerem da metrópole seu lugar. Para as pessoas, seu não envolvimento as mantém fora de redes de proteção locais, estando completamente dependentes das redes privadas de proteção, produzindo uma se- paração clara entre migrantes com e sem condições de pagar por estes mecanismos. A indiferença torna-se uma forma de relação com o lugar, estando associada diretamente ao não envolvimento que, para Tuan (1998), é uma forma de escapismo que pode afetar de forma ambivalente a vulnera- bilidade individual do escapista: expondo-o a certos riscos, protegendo-o de outros. A coletividade, no entanto, será atingida de forma mais direta, afetando diretamente a vulnerabilidade do lugar e a efetividade das redes sociais de prover proteção.
Migração em tempos líquidos
É fundamental pensar os movimentos migratórios para além das condições ou motivações econômicas. Enquanto deslo- camento de pessoas, a intencionalidade e a volição têm papel central em vários momentos do processo. Não que hoje não vejamos grupos sociais em migração. Os fluxos continuam sendo parte fundamental da problemática. No entanto, a importância de questões existenciais aumenta nos atuais tempos líquidos da modernidade líquida, tempo de flexibilização de todos os campos da vida social, inclusive das relações amoro- sas, da vida comunitária, das instituições e das normatizações (BAUMAN, 2001; 2007). Nessa fluidez contemporânea, o peso das decisões tem sido jogado para o indivíduo, mesmo que não haja parâmetros socialmen- te definidos que o oriente em sua decisão (BECK, 1999). A dimensão geográfica do processo, ligada à constituição das identida- des territoriais, do lugar e das redes sociais é fundamental para compreender este ser migrante e os riscos e incertezas aos quais fica exposto.
preço. Os riscos dessas novas formas de constituição das identidades atingem dire- tamente o ser, produzindo consequências existenciais significativas (MARANDOLA Jr., 2008a). Bauman (2007) fala de tremores existenciais que atingem os mecanismos de autoidentidade e que fluidificam as cer- tezas. A incerteza, uma marca de qualquer vida migrante, é a marca de nossa época, e por isso ser migrante é a experiência de nosso tempo. É necessário, igualmente, refletir sobre a multiplicidade de modalidades e proces- sos migratórios. Uma constelação de moti- vos, densidades, direções, temporalidades e espacialidades configura as migrações e as mobilidades contemporâneas, tornando necessário um esforço interdisciplinar para acompanhar estas mutações. Por outro lado, as diferentes situações espaciais também precisam ser consideradas. Migrantes em espaços urbanos metropolitanos ou em pequenas cidades e áreas rurais enfrentarão condições e desafios diferenciados, relacio- nados com a inserção destes lugares nas redes, bem como com a própria especifici- dade das dinâmicas sociais locais. Os processos associados a territorializa- ção, desterritorialização e reterritorialização têm sido apontados como essenciais para compreender estas dinâmicas atualmente. No entanto, é necessário prestar atenção à tendência de positivar estes movimentos
como sequenciais ou ordenados, ou mesmo à ainda prevalência na leitura puramente materialista do território e da territorialidade (SAHR; SAHR, 2009). A fluidez está nos movimentos, nos sentidos e na própria constituição territorial e do ser, e por isso o pensar estes fenômenos deve ser no mesmo sentido. A dimensão ontológica da migração precisa ser investigada em suas implicações territoriais, contribuindo assim para uma perspectiva abrangente e compreensiva da migração e da mobilidade. Para isso, se mostra necessário avan- çar nas metodologias qualitativas, como as biografias e a análise das especificidades e da diversidade (LECHNER, 2007). Com a fluidez contemporânea, métodos que dão relevo às trajetórias particulares permitem apreender novos elementos que são re- levantes no processo, ampliando assim o universo de questões e fatores relevantes no fenômeno da migração. O desafio que se apresenta aos estudos migratórios é avançar teoricamente em suas abordagens, buscando uma compreensão abrangente e multifacetada do fenômeno. As dimensões territorial e existencial da migração fazem parte constituinte do fenô- meno, e por isso sua reflexão e o avanço na sua problematização contribuirão para enfrentar as questões que a sociedade tem colocado sobre a mobilidade no mundo contemporâneo.
Referências
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Resumen
Ser emigrante: implicaciones territoriales y existenciales de la emigración
Migración y movilidad son fenómenos constituyentes de la experiencia contemporánea. Estar en el mundo, hoy, es convivir con la movilidad y la migración, y todas sus implicaciones. Desde el punto de vista existencial, esta es una experiencia desconcertante, en la que las referencias espaciales y socioculturales son reconstituidas, en un proceso que involucra y alcanza la propia esencia de la autoidentidad: la seguridad existencial. Partimos de la pregunta “¿que es ser emigrante?”, con el objeto de reflexionar sobre las implicaciones existenciales y territoriales de la emigración, procurando entenderla como fenómeno vivido en diferentes escalas espacio-temporales, aunque posee, desde el punto de vista fenomenológico, una misma esencia constitutiva. Este recorrido lleva a un pensamiento ontológico acerca de las estrategias y consecuencias del fenómeno migratorio, lo que propicia la reflexión sobre el papel