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Texto de um diálogo entre o diretor de teatro e os atores sobre a importância da autenticidade em representar os sentimentos e as emoções na peça. O texto aborda a importância de criar verossimilhanças para que a história pareça real, mesmo sendo uma narrativa. O texto também aborda a relação complexa entre o pai, a mãe e seus filhos, e a forma como as pessoas podem ser representadas em uma peça de teatro.
Tipologia: Notas de aula
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Diretor da Companhia. Outras duas mesinhas, uma pouco maior do que a outra, com cadeiras em volta, postas na baixa, prontas para serem utilizadas no ensaio, quando necessárias. Outras cadeiras espalhadas à direita e à esquerda, para os Atores. Ao fundo, de um lado, quase escondido, um piano. Apagada a platéia, vê-se o Maquinista entrar pela porta do palco, de macacão azul e com o saco de ferramentas à cintura. Apanha alguns sarrafos, num canto do fundo, levando-os para a baixa e pondo-se a pregá-los, ajoelhado no chão. Ao barulho das marteladas, entra, apressado, pela porta dos camarins, o Assistente de Direção.
O ASSISTENTE – Ei, você aí, que está fazendo?...
O MAQUINISTA – Martelando.
O ASSISTENTE – A esta hora? (Olha o relógio.) Já são dez e meia. Daqui a pouco chega o Diretor para o ensaio.
O MAQUINISTA – Mas eu também preciso de tempo para trabalhar.
O ASSISTENTE – Você vai ter, mas não agora.
O MAQUINISTA – Quando?...
O ASSISTENTE – Quando não for mais hora de ensaio. Vamos, vamos: leve embora tudo isso, e deixe-me arrumar a cena para o segundo ato de A Cada Qual Seu Papel. (O Maquinista, indignado, resmungando, pega os sarrafos e vai embora. Entretanto, começam a entrar os Atores da Companhia,
homens e mulheres, pela porta do palco; primeiro um, depois outro, mais dois, juntos, como quiserem; nove ou dez: quantos se supõem serem necessários para o ensaio da comédia. Entram, cumprimentam o Assistente e uns aos outros, dando-se bons-dias. Alguns irão para os camarins, outros - entre os quais o Ponto, que tem o texto enrolado debaixo do braço - ficam no palco, à espera do Diretor, para começar o ensaio, sentados em grupos ou de pé, conversando entre si. Um acende um cigarro, outro se lamenta por causa do papel que lhe foi distribuído, um terceiro lê para os colegas, em voz alta, notícias de um jornalzinho teatral. Será conveniente que, tanto as Atrizes como os Atores, estejam vestidos com roupas claras e alegres, e que esta primeira cena improvisada tenha, na sua naturalidade, muita vida e movimento. Num dado instante, um dos Atores senta-se ao piano e toca um trecho da dança; os Atores e Atrizes mais jovens começam a dançar.).
O ASSISTENTE (Batendo palmas para chamá-los à ordem) – Vamos, vamos, parem com isso. O Diretor vem aí! (O piano e a dança param repentinamente. Os Atores ficam a olhar para a platéia, por cuja porta entra o Diretor que, de chapéu coco na cabeça, bengala debaixo do braço e um charutão na boca, desce pelo corredor entre as poltronas, cumprimentado pelos Atores, sobe ao palco por uma das escadinhas. O Secretário entrega-lhe a correspondência: alguns jornais, um texto enfaixado.).
O DIRETOR – Cartas?...
O SECRETÁRIO – Nenhuma. Toda a correspondência está aí.
O DIRETOR (Resmungando) – Ainda por cima o cãozinho! Como se fôssemos poucos, os quadrúpedes, aqui. (Bate de novo as mãos e dirige-se ao Ponto.) Vamos, vamos, o segundo ato de A Cada Qual o Seu Papel. (Sentando-se na poltrona.) Atenção, senhores. Quem está em cena?... (Os Atores e Atrizes saem da baixa do palco e vão sentar-se a um lado, exceto os três que iniciam o ensaio e a Primeira Atriz, a qual, sem prestar atenção à pergunta do Diretor, foi sentar-se diante de uma das mesinhas.).
O DIRETOR (À Primeira Atriz) – A senhora então está em cena?
A PRIMEIRA ATRIZ – Eu? Não, senhor.
O DIRETOR (Aborrecido) – Então saia daí, pelo amor de Deus! (A Primeira Atriz levanta-se e vai se sentar junto aos outros Atores, que já se afastaram.).
O DIRETOR (Ao Ponto) – Comece, comece.
O PONTO (Lendo o texto) – “Em casa de Leone Gala. Uma estranha sala de jantar e de estudo.”
O DIRETOR (Ao Assistente) – Poremos o gabinete vermelho.
O ASSISTENTE (Anotando numa folha de papel) – O vermelho. Perfeitamente.
O PONTO (Continuando a ler) – “Mesa posta e escrivaninha com livros e papéis. Estantes de livros e cristaleira com ricos objetos de mesa. Porta ao fundo abrindo para o quarto de dormir de Leone. Porta lateral, à esquerda, pela qual se vai à cozinha. Entrada à direita.”
O DIRETOR (Levantando-se e indicando) – Bem! Prestem atenção: lá é a entrada, aqui, a cozinha. (Indo ao Ator que fará o papel de Sócrates.) O senhor entrará e sairá por esta porta. (Ao Assistente.) Ponha, ao fundo, uma porta de um só batente e pendure as cortinas. (Senta.).
O ASSISTENTE (Anotando) – Perfeitamente.
O PONTO – “Cena primeira. Leone Gala, Guido Venanzi, Filipe, chamado Sócrates.” (Ao Diretor.) Devo ler também a rubrica?...
O DIRETOR – Claro! Claro! Já lhe disse isso mais de cem vezes!
O PONTO – “Ao levantar o pano, Leone Gala, com gorro de cozinheiro e avental, bate, com uma colher de pau, um ovo, numa tigela. Filipe bate outro, também com vestido de cozinheiro. Guido Venanzi escuta: sentado.”
O PRIMEIRO ATOR (Ao Diretor) – Com licença: tenho mesmo de pôr um gorro de cozinheiro na cabeça?...
O DIRETOR (Chocado com a pergunta) – Parece-me que sim! Está escrito ali! (Indica o texto.).
O PRIMEIRO ATOR – Desculpe, mas é ridículo!...
O DIRETOR (Saltando, furioso) – “Ridículo! Ridículo!” E que quer o senhor que eu faça se não nos vem mais, da França, uma boa comédia e se estamos reduzidos a pôr em cena peças de Pirandello, que só os “iniciados” entendem, feitas, de propósito, de tal modo que não satisfazem nem aos atores nem aos críticos nem ao público?... (Os Atores riem. Então o Diretor, levantando-se, vem para junto do Primeiro Ator e
translado cênico desta peça, precisa valer-se dos meios possíveis, a fim de obter o máximo de efeito, no sentido de que estas Seis Personagens não se confundam com os Atores da Companhia. A disposição, de uns e outros, indicada nas rubricas, quando aquelas subirem ao palco, sem dúvida ajudará muito, assim como o colorido diferente da luz, por meio de refletores devidamente colocados. O meio mais eficaz e conveniente, porém, que aqui sugerimos é o uso de máscaras para as Personagens, máscaras feitas expressamente de material que não amoleça como suor e que sejam leves, para não incomodar os atores que as usarem. Devem ser fabricadas e cortadas de modo a deixar livres os olhos, o nariz e a boca. Desta maneira, interpretar- se-á também o sentido profundo da peça. As Personagens não deverão aparecer como “fantasmas”, porém como “realidades criadas”, construções imutáveis da fantasia e, por conseguinte, mais reais e consistentes do que a volúvel naturalidade dos Atores. As máscaras ajudarão a dar a impressão de rostos construídos artisticamente e cada qual fixado imutavelmente na expressão do próprio sentimento fundamental, que é, para o Pai, o remorso; para a Enteada, a vingança; para o Filho, o desdém; para a Mãe, a dor, com lágrimas fixas, de cera, na lividez das olheiras e ao longo da face, conforme se vêem, nas igrejas, em imagens esculpidas e pintadas da Mater Dolorosa. E os vestuários devem ser também de tecidos e feitios especiais, sem extravagância, com pregas rígidas e volume quase estatuário, de modo que não dêem a idéia de terem sido feitos com fazendas que se podem comprar em qualquer
loja da cidade, nem cortados e cosidos por uma costureira qualquer. O Pai andará pelos 50 anos; entradas fundas, mas não calvo; cabelo ruivo; bidoginho espesso, quase encaracolado ao redor da boca ainda fresca, freqüentemente aberta num sorriso incerto e vão. Pálido, principalmente, na fronte ampla; olhos azuis, ovais, lucidíssimos e argutos. Veste calça clara e paletó escuro. Ora será melífluo, ora será áspero e duro. A Mãe parece apavorada e esmagada por um peso intolerável de vergonha e aviltamento. Velada por espesso crepe de viúva, está humildemente vestida de negro e, quando levantar o véu, mostrará um rosto não dolente, mas como se fosse de cera, sempre de olhos baixos. A Enteada, de 18 anos, é petulante, quase impudente. Belíssima, veste-se também de luto, mas com elegância vistosa. Mostra desprezo pelo ar tímido, aflito e enleado do irmãozinho, o Rapazinho esquálido, de 14 anos, vestido também de negro, e uma ternura vivaz pela irmãzinha, a Menina, de 4 anos, vestida de branco, com uma faixa de seda negra na cintura. O Filho, de 22 anos, alto, quase inteiriçado num contido desprezo pelo Pai e numa carrancuda indiferença pela Mãe, veste um sobretudo leve, violeta, e um longo cachecol verde em torno do pescoço.).
O PORTEIRO (Com o boné na mão) – Com licença, senhor Diretor...
O DIRETOR (Abrupto, de maus modos) – Que é ainda?
O PORTEIRO (Tímido) – Estão aqui umas pessoas, perguntando pelo senhor. (O Diretor e os Atores voltam-se surpresos, a olhar para a sala.).
O DIRETOR – Façam-me o favor de ir embora! Não temos tempo a perder com loucos.
O PAI (Ofendido, mas melífluo) – Oh, senhor, sabe muito bem que a vida é cheia de infinitos absurdos, os quais, descaradamente, nem ao menos têm necessidade de parecerem verossímeis. E sabe por que, senhor? Porque esses absurdos são verdadeiros.
O DIRETOR – Mas que diabo está o senhor dizendo?
O PAI – Digo que, ao pensarmos nesses absurdos verdadeiros, que nem mesmo verossímeis nos parecem, vemos que a loucura consiste, justamente, no oposto: em criar verossimilhanças que pareçam verdadeiras. E essa loucura, permita-me que lhe observe, é a única razão de ser da profissão dos senhores. (Os Atores agitam-se, indignados.).
O DIRETOR (Levantando-se e olhando-o de alto a baixo) – Ah, é?... Acha então que a nossa é uma profissão de loucos?...
O PAI – Hmmm! Fazer com que pareça verdadeiro o que não o é, sem necessidade... só por prazer. O ofício dos senhores não consiste em Dara vida, na cena, a personagens imaginárias?...
O DIRETOR (Fazendo-se porta-voz da indignação crescente dos seus Atores) – Pois eu lhe peço o favor de acreditar, meu caro senhor, que a profissão de ator é uma nobilíssima profissão! E, se hoje em dia os senhores teatrólogos modernos só nos dão peças cretinas para representar, e fantoches em vez de homens, saiba que nos gloriamos de ter dado vida, aqui, sobre estas tábuas, a obras imortais! (Os Atores, satisfeitos, aprovam e aplaudem o Diretor.).
O PAI (Interrompendo e falando com ímpeto) – É isso mesmo! Exatamente! Dar vida a seres vivos, mais vivos que aqueles que respiram e vestem roupas! Menos reais, talvez, porém mais verdadeiros. Somos da mesma opinião. (Os Atores se entreolham, pasmados.).
O DIRETOR – Mas como? Se, ainda agora, dizia...
O PAI – Não, desculpe: respondi ao senhor, que nos gritou não ter tempo para perder com doidos. E, no entanto, ninguém melhor do que o senhor pode saber que a natureza se serve da fantasia humana como instrumento para prosseguir, em nível mais alto, a sua obra de criação.
O DIRETOR – Está bem, está bem. Mas que pretende concluir com isso?...
O PAI – Nada, senhor. Demonstrar-lhe que, para a vida, se nasce de tantos modos, de tantas formas... Árvore ou pedra, água ou borboleta... ou mulher... E que se nasce também personagem!
O DIRETOR (Espanto fingido e irônico) – E o senhor, com essas outras pessoas em volta, nasceu personagem?...
O PAI – Exatamente. E vivos, como nos vê. (O Diretor e os Atores desatam a rir, como se tratasse de uma brincadeira. O Pai fica magoado.) Desagrada-me que riam dessa maneira, porque trazemos em nós – repito -, um drama doloroso, o que é fácil perceber, pelo aspecto desta senhora velada de negro. (Assim falando, estende a mão para ajudar a Mãe a subir os últimos degraus da escadinha e, continuando a segurá-la pela mão, a conduz, com certa solenidade trágica, para o
A ENTEADA (Indo ao Diretor, sorridente e provocante) – Creia senhor, que somos, verdadeiramente, seis personagens interessantíssimas! Se bem que desperdiçadas!...
O PAI (Afastando-se) – Sim, desperdiçadas, isso mesmo! (Ao Diretor, subitamente.) No sentido de que o autor que nos criou vivos não quis, depois, ou não pôde, materialmente, meter-nos no mundo da arte. E foi um verdadeiro crime, senhor, porque quem tem a sorte de nascer personagem viva, pode rir até da morte. Não morre mais! Morrerá o homem, o escritor, instrumento da criação; a criatura não morre jamais! E, para viver eternamente, nem mesmo precisa possuir dotes extraordinários ou realizar prodígios. Quem era Sancho Pança? Quem era Dom Abbondio? E, no entanto, vivem na eternidade, porque, germes vivos, tiveram a felicidade de encontrar a matriz fecunda: eternidade!
O DIRETOR – Tudo isso está muitíssimo bem. Mas que querem os senhores aqui?
O PAI – Queremos viver, senhor!
O DIRETOR (Irônico) – Por toda a eternidade?
O PAI – Não, senhor, ao menos, por um momento, nos senhores.
UM ATOR – Oh, vejam só... vejam só!
A PRIMEIRA ATRIZ – Querem viver em nós!
O GALÃ (Indicando a Enteada) – Quanto a mim, terei muito prazer, se me couber aquela ali!
O PAI – Vejam, vejam: a peça está por fazer; (ao Diretor.) mas, se o senhor quiser, e seus atores também, podemos arranjá-la agora mesmo, entre nós.
O DIRETOR (Aborrecido) – Mas o que é que quer arranjar? Aqui não se fazem desses arranjos! Aqui se representam dramas e comédias.
O PAI – Pois então! Foi justamente por isso que viemos procurá-lo.
O DIRETOR – E onde está o texto?...
O PAI – Está em nós, senhor. (Os Atores riem.) O drama está em nós; somos nós! E é grande a nossa impaciência, o nosso desejo de representá-lo, impelidos que somos pela paixão que ferve dentro de nós e não nos dá trégua!...
A ENTEADA (Escarnecendo, com graça pérfida, de afetada imprudência) – A minha paixão, se o senhor soubesse!... A minha paixão... por ele!... (Indicando o Pai, quase o abraça, mas desata, depois, num riso estridente.).
O PAI (Num repente de raiva) – Fique em seu lugar, por enquanto! E peço-lhe que não ria assim!...
A ENTEADA – Não? Então, com licença: se bem que órfã, apenas há dos meses, vejam, senhores, como canto e como danço! (Trauteia com malícia o Prends Garde à Tchou-Tchin- Tchou , de Dave Stamper, reduzido a Fox trote ou a one-step lento por Francis Salabert; acompanhando a primeira estrofe com passo de dança.) Les Chinois sont un peuple malin, / De Shangai à Pékin, / Ils ont mis des écriteaux partout: /
muito íntimo, entre mim e ele (mostra o Pai com um horrível esgar.), não posso mais me ver no meio desta gente, assistindo ao tormento daquela mãe, por causa daquele sujeito ali (indica o Filho.), veja-o, veja-o, indiferente, glacial, pois é o filho legítimo, ele! Cheio de desprezo por mim, por aquele (indica o Rapazinho.) e por esta criaturinha, que somos bastardos – compreendeu? – bastardos. (Aproxima-se da Mãe e abraça-a.) E a esta pobre mãe, que é a mãe comum de todos nós, ele não a quer reconhecer como sua mãe também, e a considera, de alto a baixo, como mãe somente de nós três – os bastardos – vil, que ele é! (Diz isso tudo rapidamente, com extrema excitação, e, ao chegar ao “vil”, depois de aumentar a voz em “bastardos”, pronunc ia-o surdamente, quase cuspindo.).
A MÃE (Com infinita angústia, ao Diretor) – Senhor: em nome destas duas criaturinhas, suplico-lhe... (Sente-se desfalecer e vacila.) Oh, meu Deus!
O PAI (Acudindo para sustê-la, com quase todos os Atores, aturdidos e consternados) – Pela Virgem Santíssima, uma cadeira, uma cadeira para esta pobre viúva!
OS ATORES (Acudindo) – Mas então é verdade? Está desmaiando mesmo?
O DIRETOR – Uma cadeira aqui, depressa! (Um dos Atores traz uma cadeira. Os outros se agrupam em roda, solícitos. A Mãe, sentada, procura impedir que o Pai levante o véu que lhe esconde o rosto.).
O PAI – Veja-a, senhor, veja-a...
A MÃE – Não, por favor, não faça isso.
O PAI – Deixe que a vejam! (Levanta-lhe o véu.).
MÃE (Levanta-se, cobrindo o rosto com as mãos, desesperadamente) – Oh, senhor, suplico-lhe que impeça este homem de realizar o seu propósito, que, para mim, é horrível!
O DIRETOR (Surpreso, aturdido) – Mas não sei mais onde estamos, nem de que se trata... (Ao Pai.) Esta senhora é sua esposa?
O PAI (Rápido) – Sim senhor, é minha mulher.
O DIRETOR – E como é, então, que ela é viúva, se o senhor está vivo?... (Os Atores desafogam todos, o seu espanto, numa fragorosa risada.).
O PAI (Magoado, com áspero ressentimento) – Não riam! Não riam assim, pelo amor de Deus! Este é, precisamente, o seu drama, senhores. Ela teve outro homem; outro homem que deveria estar aqui!
A MÃE (Num grito) – Não! Não!
A ENTEADA – Ele teve a sorte de morrer há dois meses. Já lhe falei nisso. E, como pode ver, ainda estamos de luto.
O PAI – Mas, se não está aqui, não é, contudo, porque esteja morto. Não está aqui porque – olhe para ela, senhor, por favor, e compreenderá logo. O seu drama não pôde consistir no amor de dois homens, pelos quais era incapaz de sentir coisa alguma – a não ser, talvez, um pouco de gratidão (não por mim, pelo outro). Não é mulher: é mãe. E o seu drama (intenso, senhor, muito