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Roda de conversa - -, Resumos de Filosofia

Descrição do vídeo roda de conversa

Tipologia: Resumos

2025

Compartilhado em 07/05/2025

geovanna-souza-48
geovanna-souza-48 🇧🇷

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RodaViva|AiltonKrenak|19/04/2021
TranscritoporTurboScribe.ai.AtualizeparaIlimitadopararemoverestamensagem.
Olá,boanoite.Sejammuitobem-vindosaoRodaViva.EstamosnoarparatodooBrasilpelaTV
Culturaeemissorasafiliadaseconectadosaomundopelasnossasplataformasdigitais.
ApandemiadonovocoronavírusfezcomqueaTerraparasseecolocouemcheque aideia de
que o homem controla tudo o que se passa ao seu redor. Com a sociedade assustada pela
proximidadedamorte,asideiasdepovosquevivemestaameaçaháséculosequesemprese
relacionaramcomoplanetadeformadiversaganharamforça.Opensamentoeamilitânciado
nossoentrevistadovemdemuitoantesdetudoisso.
Elacomeça, elecomeçasualuta pelosdireitosdospovos indígenasláatrás, nosanos1970,e
constrói década após década uma filosofia original, baseada em valores como memória e
respeitoàTerra.SeulivroIdeiasparaAdiaroFimdoMundo,de2019,jávendeumaisde90mil
cópias no Brasil e foi publicado, ou está para ser publicado, em nove países e sete idiomas.
Suasreflexõesarespeitodapandemiaoriginaramumnovovolume,esseaqui,A Vida Não é
Útil.
Para discutir essas ideias e as ameaças históricas e atuais aos povos indígenas e ao meio
ambiente, o Roda Viva recebe virtualmente, a partir da região do Médio Rio Doce, o líder
indígena,escritor,ativista,jornalistaefilósofoAiltonKrenak.Nascidona regiãodoValedoRio
Doce, ele testemunhou desde cedo os danos causados pela mineração, apenas uma das
ameaças aos povos indígenas. Há tempos, eles também sofrem com as invasões de terras
demarcadas,osconflitoscomosgrileiroseaexploraçãoilegaldamadeira.
Em discurso na Assembleia Constituinte, em 4 de setembro de 1987, lhe chamou a atenção
para as agressões sofridas pelas populações indígenas. E hoje nós somos o alvo de uma
agressãoquepretendeatingir,naessência,anossa fé,anossaconfiança,dequeaindaexiste
dignidade,dequeaindaépossívelconstruirumasociedadequesaberespeitarosmaisfracos,
quesaberespeitaraquelesquenãotêmodinheiroparamanterumacampanhaincessantede
difamação,quesaberespeitar um povo que sempre viveu a referiadetodasasriquezas,um
povoquehabitacasascobertasdepalha,quedormeemesteirasnochão.Nasúltimasdécadas,
suasreflexõessobre o futuro das populações indígenas o transformaramemreferênciapara
todososqueestudamaquestão.
ParaentrevistaroAiltonKrenak,nósconvidamosDenilsonBaniwa, artistavisual,comunicador
earticuladorindígena.JoséMiguelWisnik,ensaísta,músicoeprofessor.LeãoServa,diretorde
jornalismodaTVCultura.
Renata Machado Tupirambá, jornalista, poeta, roteirista e cofundadora da rádio indígena e
SiddharthaRibeiro,neurocientistaeescritor,fundadorevice-diretordoInstitutodoCérebroda
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Boa noite, Ailton, um prazer imenso receber
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Roda Viva | Ailton Krenak | 19/04/

Transcrito por TurboScribe.ai. Atualize para Ilimitado para remover esta mensagem. Olá, boa noite. Sejam muito bem-vindos ao Roda Viva. Estamos no ar para todo o Brasil pela TV Cultura e emissoras afiliadas e conectados ao mundo pelas nossas plataformas digitais. A pandemia do novo coronavírus fez com que a Terra parasse e colocou em cheque a ideia de que o homem controla tudo o que se passa ao seu redor. Com a sociedade assustada pela proximidade da morte, as ideias de povos que vivem esta ameaça há séculos e que sempre se relacionaram com o planeta de forma diversa ganharam força. O pensamento e a militância do nosso entrevistado vem de muito antes de tudo isso. Ela começa, ele começa sua luta pelos direitos dos povos indígenas lá atrás, nos anos 1970, e constrói década após década uma filosofia original, baseada em valores como memória e respeito à Terra. Seu livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo, de 2019, já vendeu mais de 90 mil cópias no Brasil e foi publicado, ou está para ser publicado, em nove países e sete idiomas. Suas reflexões a respeito da pandemia originaram um novo volume, esse aqui, A Vida Não é Útil. Para discutir essas ideias e as ameaças históricas e atuais aos povos indígenas e ao meio ambiente, o Roda Viva recebe virtualmente, a partir da região do Médio Rio Doce, o líder indígena, escritor, ativista, jornalista e filósofo Ailton Krenak. Nascido na região do Vale do Rio Doce, ele testemunhou desde cedo os danos causados pela mineração, apenas uma das ameaças aos povos indígenas. Há tempos, eles também sofrem com as invasões de terras demarcadas, os conflitos com os grileiros e a exploração ilegal da madeira. Em discurso na Assembleia Constituinte, em 4 de setembro de 1987, lhe chamou a atenção para as agressões sofridas pelas populações indígenas. E hoje nós somos o alvo de uma agressão que pretende atingir, na essência, a nossa fé, a nossa confiança, de que ainda existe dignidade, de que ainda é possível construir uma sociedade que sabe respeitar os mais fracos, que sabe respeitar aqueles que não têm o dinheiro para manter uma campanha incessante de difamação, que sabe respeitar um povo que sempre viveu a referia de todas as riquezas, um povo que habita casas cobertas de palha, que dorme em esteiras no chão. Nas últimas décadas, suas reflexões sobre o futuro das populações indígenas o transformaram em referência para todos os que estudam a questão. Para entrevistar o Ailton Krenak, nós convidamos Denilson Baniwa, artista visual, comunicador e articulador indígena. José Miguel Wisnik, ensaísta, músico e professor. Leão Serva, diretor de jornalismo da TV Cultura. Renata Machado Tupirambá, jornalista, poeta, roteirista e cofundadora da rádio indígena e Siddhartha Ribeiro, neurocientista e escritor, fundador e vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Boa noite, Ailton, um prazer imenso receber

você aqui neste dia, em qualquer dia, e contar aí com a sua sabedoria para nos ajudar a iluminar os caminhos. Eu queria começar te perguntando a respeito de onde você está, você está na região do Médio Rio Doce, na aldeia Krenak, mas especificamente agora no Instituto Terra, onde está sendo gravada essa entrevista, e é uma região que sofreu ao longo dos anos os efeitos devastadores da mineração, mas mais ultimamente de uma maneira dramática, com dois acidentes ecológicos de grande magnitude. Logo depois disso veio a pandemia que parou o mundo. Como esses momentos, essa concomitância de tragédias atingiu o seu povo, atingiu você, e que reflexões isso provocou em você? Boa noite, Vera, boa noite a todos que estão nos acompanhando nessa conversa que está sendo feita à distância. É em razão disso que eu me desloquei de lá da aldeia Krenak, aqui para a acolhida dos meus amigos aqui do Instituto Terra, e eles me proporcionaram essa conexão ótima para a gente poder conversar aqui, sem o risco de cair o sinal, né? E nós estamos dentro desse quadro, Vera, de sobreposição de tragédia, vivendo uma expressão que eu já me recorri a ela, nós estamos vivendo uma suspensão, uma suspensão dos sentidos. A pandemia e a série de eventos ambientais, com consequência, já encadeando eventos climáticos, ela nos desafia a pensar o que nós estamos fazendo com a nossa experiência de comer, andar, se deslocar, viver aqui na terra. É um desafio enorme, as pessoas estão todas muito tocadas, na verdade, com o cotidiano. Cada dia é um susto, do ponto de vista real da sobrevivência, da saúde e nosso sentido de solidariedade com milhões de pessoas que perderam seus parentes, né? Com seus pais, seus irmãos, amigos, não escapou ninguém, todo mundo perdeu algum afeto, e isso deixa mesmo a nossa vasta comunidade de humanos em estado de choque. Certo, então a gente vai conversar sobre todos esses aspectos aqui ao longo desse programa. A pergunta agora é do Leão Serva. Ailton, boa noite. Você protagonizou na Constituinte um episódio icônico, quando o protocolo exigia que você estivesse de terno, e você fez um discurso de terno e foi pintando o rosto de Jenipapo como se você fosse construindo um líder indígena ali durante o discurso. Naquela Constituinte, direita, centro e esquerda votaram a favor das reivindicações dos índios e dos indígenas brasileiros. Na sua opinião, onde foram parar aqueles apoios todos que brindaram a Constituição com um capítulo tão bem escrito pelo coronel Jarbas Passarinho na época? Boa noite, Leão Serva. Olha, você me fez fazer uma viagem no tempo agora, né? Quase 40 anos atrás, a configuração do Brasil era, digamos, menos contraditória do que essa cena que a gente tem na vida política brasileira nos últimos 10 anos, 20 anos. E era possível alguém como Jarbas Passarinho. Não dá para imaginar um sujeito com a qualidade dele nessa cena da vida política brasileira hoje. E ele ajudou a que a gente fixasse na Constituição brasileira um capítulo que tem o título emblemático de Do Direito dos Índios. Então assim, o corte que foi feito daquela época, de 87 para cá, ele decide que esses povos passam a disputar a vida política dentro do Brasil. Antes não.

outros governos. No livro A Vida Não É Útil, você diz uma coisa que me deixa um pouco triste e desesperado, que parece que essa concentração de riquezas chegou a um clímax onde não há uma revolução porque não há como se revolucionar contra grandes corporações ou grandes logotipos. Ailton, no futuro de um Brasil onde a inclusão social é um eufemismo para a violência contra povos indígenas, o futuro é o presente? Quem serão os caçadores de fantasmas que você cita no livro A Vida Não É Útil? Ainda bem, Denilson, que essa argumentação que você trouxe pra me fazer a pergunta, ela me dá a oportunidade de dizer a você que o presente é ancestral. Essa ideia de que o presente é ancestral, ela nos dá a coragem não de ficar entre essas marcas e essas apropriações que, em determinados períodos da história, animam governos a fazer isso, seja no Brasil, seja em outro país, essa ideia de que as forças políticas que se sucedem na administração da vida pública num país podem fazer coisas como um time de futebol, que tem o Corinthians, o Palmeiras, o Flamengo, e cada um veste uma camisa dessa, os atuais estão vestindo descaradamente a bandeira do Brasil mesmo, eles encarnaram essa bandeira do Brasil como se fosse a camisa de um time. E nesse caso, nem os povos indígenas, nem outras minorias, que sequer figuram junto com os emblemas deles, porque eles têm a monocultura, a ideia de achar que nós não somos uma diversidade, esse país não é constituído de pluralidades, ele é constituído de intenções. Então essa ideia dos emblemas, que pode ser camisa de time de futebol também, ela é uma doença infantil da política, o cidadão, o homem que é eleito para representar o interesse do povo brasileiro tinha que ter a dignidade de não vestir camisa nenhuma, de estar diante do seu povo, usando uma imagem que eu acho que é muito poderosa, nu, mas eles preferem vestir fantasia. Então nós vamos continuar buscando uma possibilidade de que esse presente, que é ancestral, se constitua, venha a se constituir, ele não existe ainda, né? Perfeito. Renata, por favor. Essa pergunta do Banila faz a gente lembrar muitas passagens, né, que a gente vê aqui no Brasil, dentro desses processos históricos que a gente vem passando, mas o que me vem muito à mente é esse momento de agora, o que está acontecendo também dentro das comunidades e o que continua se repetindo durante todos esses processos históricos, né? A gente vê hoje um cenário em que dentro dos territórios os garimpeiros entram em plena Covid, a gente vê um cenário em que casas ainda são, ainda é colocado fogo em algumas casas, a gente vê um cenário de extrema violência em plena uma pandemia, né? E as pessoas não têm muita dimensão do que está acontecendo dentro do território indígena de um modo geral, principalmente nas regiões mais isoladas. E pra gente sempre é alarmante quando a gente se depara com situações em que é como se não tivesse nada que segurasse o pior acontecer, mas dentro da nossa cultura e dentro da nossa autonomia e dentro da nossa independência, muitas comunidades estão conseguindo sobreviver assim em relação ao Covid, apesar das muitas mortes. E a minha pergunta em si seria como você enxerga esse momento de agora em relação a esse passado, a esses direitos também que têm sido constantemente negados, né? Foram muitas

conquistas, mas elas ainda são negadas, muitas coisas básicas ainda são negadas em muitos lugares e a gente vive num Brasil plural, um Brasil em ser impedido de ser, como dizia o próprio Darcy Ribeiro, um Brasil com mais de 300 povos diferentes em que as pessoas ainda pensam que somos todos iguais e que estamos restritos a uma palavra apenas, a palavra índio, como se não tivéssemos um corpo, como se não tivéssemos diversidade de cores, como se não tivéssemos várias línguas, como se não fôssemos toda essa pluralidade mesmo. E além de nós, aqui dentro desse país, a gente vê também uma população que veio de muitos outros lugares, a gente vê comunidades ciganas, a gente vê comunidades também de matriz africana, a gente vê povos do mundo aqui dentro. Então, em um Brasil tão plural como esse, como você enxerga, nesse momento, como essa pluralidade pode ajudar o Brasil a ser quem ele poderia realmente ser, mas nunca deixaram ele ser? Renata, que bom você me dar essa janela para a utopia. Vamos animar uma possibilidade de utopia, porque você mencionou uma pessoa que eu gosto muito, que é o Darcy Ribeiro, e, aliás, eu não sei se a maioria das pessoas chegou a ler um romance do Darcy Ribeiro chamado Utopia Selvagem. O Darcy escrevia muito bem e tinha uma imaginação corajosa. E Utopia Selvagem convoca exatamente esse impossível arranjo que constitui o que são os brasileiros. A pluralidade disso é tão imprevista, tão imprevisível, que no Utopia Selvagem são as amazonas, são as mulheres que governam esse mundo primordial, onde já está presente essa disputa acelerada entre o ter e o ser. Os primeiros estranhos que entram nesse mundo, eles querem tomar posse do mundo. E as ikamiaba, as mulheres, eu estou fazendo essa homenagem porque tem mulheres também na conversa, e elas denunciam essa fúria dos homens de dominar o mundo e de botar nome nas coisas, nomear o mundo. Então, aproveito para falar, quem não leu, leia. Utopia Selvagem é muito bom. E nós estamos mesmo, Renata, diante de uma repetição constante dessas violências, a violência colonial. E eu acho que você compartilhou comigo, há um tempo atrás, quando eu publiquei um texto com o título de O Eterno Retorno. Esse título encerra um conjunto de reflexões sobre essa nossa ideia de que nós já existimos, que nós estamos constituídos, mas a ideia do Eterno Retorno é exatamente porque a gente nem se encontrou ainda. A ideia do Brasil, uma coisa que existe, é uma receita que nem foi testada ainda. Professor Wisnik, por favor. Que alegria, Eilton, poder conversar com você aqui nessa companhia e na televisão aberta. E eu queria lembrar aqui a relação que tem a sua experiência e da Aldeia Krenak com a mineração e com a história da Companhia Vale do Rio Doce. A mineração vem atuando no Brasil ao longo do século XX, sem que isso se tornasse visível para o país. Essa devastação foi sendo feita de uma maneira que se revelou como que abruptamente, aos olhos, podemos dizer assim, nas nossas retinas, tão fatigadas, para usar a expressão do Drummond, com as tragédias criminosas de Mariana e Brumadinho. Foi então que a gente viu a escala desses acontecimentos.

O Drummond é onipresente, porque ele passou quase que o século XX todo testemunhando essa invasão, evocando os outros estragos históricos, que é essa atividade de fuçar a terra, como diz o Copenau e Yanomami, e de buscar tirar de dentro da terra aquilo que dorme em mágico equilíbrio cósmico, mas que quando você traz para fora vira chauara, vira uma doença, vira um veneno. O Drummond e o meu querido amigo Copenau e Yanomami denunciam de alguma maneira a mesma coisa. Os homens deveriam deixar dormir no fundo da terra, essa potência que constitui o delírio de gente aqui fora, que é o ouro, que é o minério. Essa fúria de alcançar o minério e trazê-lo para fora, no pensamento do Xamã e Yanomami, ele é trazer para fora essa tragédia sanitária que nós estamos vivendo no mundo hoje, com a morte de milhões de pessoas. Isso é de uma gravidade tão absurda que não daria para a gente limitar o comentário a um contexto do capitalismo regional, local, aqui no nosso país, mas pensar esse capitalismo com essa máquina devoradora de mundo. E seguindo ainda a parelha de pensamento do Drummond e do Xamã e Yanomami, o mundo da mercadoria não sossega, assim como esse trem que passa incansavelmente aqui levando as montanhas embora. O que me fez pensar que aquele... Este arquivo tem mais de 30 minutos. Atualize para Ilimitado em TurboScribe.ai para transcrever arquivos de até 10 horas.