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O livro 'novas histórias dos povos indígenas no brasil' reúne artigos sobre a temática indígena, evidenciando os protagonismos e agenciamentos dos povos indígenas desde o período colonial. A obra aborda diversos aspectos, como a atuação indígena, a desconstrução de estereótipos, a relação entre história e antropologia, os atos cometidos contra a população indígena, o lugar do feminino, a presença dos povos em diferentes regiões, os movimentos de professores e lideranças pela educação escolar indígena, entre outros temas relevantes. A obra se destaca por trazer uma perspectiva interdisciplinar e dar voz aos próprios indígenas, revelando seus desafios, lutas e conquistas.
Tipologia: Resumos
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Goiânia, v. 17, n.2, p. 576-580, jul./dez. 2019. DOI 10.18224/hab.v17i2.
APOLINÁRIO, Juciene Ricarte; REGO, André de Almeida (Orgs.). Novas Histórias dos Povos Indígenas no Brasil : territorialidades da escrita interdisciplinar indígena e não indígena. Editora Sagga: Salvador, 2018.
ublicado em 2018, pela editora Saga, o livro “Novas Histórias dos Povos Indígenas no Brasil ” foi organizado pelos historiadores Juciene Ricarte Apolinário, professora da Universidade Federal de Campina Grande, e André de Almeida Rego, professor da Universidade Federal do Sul da Bahia, unindo artigos de pesquisadores, de todo o Bra- sil que estudam sobre temática indígena. A coletânea está dividida em duas partes. A primeira, intitulada de “Prota- gonismos Indígenas em diferentes espacialidades, temporalidades e discursividades ” é formada por 8 artigos, dentre os quais estão os trabalhos dos professores Jorge Eremites, Izabel Missagia, Eduardo Neumann, Elisa Garcia, André Rego, Juciene R. Apolinário, Márcio Couto e Vania Losada, os quais realizam um importante debate sobre a atuação indígena e sobre a desconstrução de estereótipos vinculados aos mundos indígenas. A segunda parte, “História, Cultura e Protagonismo indígena na Educação” é constituída pelos artigos de Tonico Benites, Mauro Cezar e Roque Fernandes, e por fi m, de Odair Giraddin. Todos eles destacam a educação escolar indígena, com seus avanços e difi c uldades n a e fetivação prática à u ma e ducação e specífi ca , di ferenciada, intercultural, bilíngue/multilíngue e comunitária, observando as demandas de cada grupo étnico.
Goiânia, v. 17, n.2, p. 576-580, jul./dez. 2019.
O livro se enquadra nas concepções historiográficas mais recentes, pós década de 1980, as quais trouxeram para o campo da História Indígena novas direções que evidenciam os protagonismos e os agenciamentos dos homens e mulheres indígenas no Brasil, desde o período colonial até os dias atuais. Tratam-se de diálogos entre os diferentes campos do saber, como a História, Antropologia, Arqueologia, Linguística etc., consubstanciados em intensos trabalhos de análises críticas que partem de fontes diversificadas, questionando e desconstruindo as visões dualistas que costumavam des- tinar aos indígenas um lugar nos bastidores da história, e nunca o palco^1. No primeiro capítulo, Jorge Eremites parte de suas experiências em campo com os grupos étnicos no Mato Grosso do Sul, para mostrar que cada povo possui his- toricidades particulares, marcadas por contatos interétnicos e mudanças socioculturais deles advindas, assim como a percepção as trajetórias de cada povo está relacionada a contextos mais amplos. O autor faz um debate importante (p. 21-25) sobre a aproximação da história com a antropologia, ao perpassar pelas teorias antropológicas, pelo conceito de eth- nohistory e destacar como os aportes da antropologia sociocultural, arqueologia, usos, técnicas, métodos etc. influenciaram no estudo da história e da cultura dos povos in- dígenas. Especialmente, para fins de levantamento, análise e interpretação das mais variadas fontes, em uma perspectiva espaço-temporal desde o período colonial até a contemporaneidade. Ao final do artigo, o autor apresenta um quadro (p. 35-36) das dissertações de mestrado que foram apresentadas no Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados, Mato Grosso do Sul. Revelando que entre os anos de 2001 e 2006, houve um aumento no número de pesquisas relacionadas a questão étnica sobre a temática indígena nesse programa. Em “História dos Índios e Etnologia no Brasil: imbricações e significados contemporâneos” , a professora Isabel Missagia (UFFRJ) revisita reflexões de cunho an- tropológico sobre os povos indígenas através de documentos oficiais. A fonte utilizada por ela é o Relatório Figueiredo, elaborado pela Comissão Nacional da Verdade, que fora instituída no ano de 2012. Missagia fez uma abordagem audaciosa sobre os graves atos cometidos contra a população indígena, nos anos de 1950 até 1967, casos também arrolados no dito re- latório. Além de tortura, escravidão, abuso sexual, roubo de terras e negligência, houve vários desvios de verbas públicas e crimes de assassinatos em aldeias inteiras, que se dava através da inoculação proposital de varíola ou de envenenamento por meio de arsênio misturado ao açúcar fornecido aos indígenas. A partir de uma sólida discussão, a autora problematiza a existência de uma profunda imbricação entre os dados levantados nas fontes históricas e as lutas por so- brevivência dos povos indígenas, seja no passado ou no presente. Isso porque, há muitas pessoas que ainda tentam silenciar os povos indígenas no presente e as fontes que tra- tam sobre suas histórias. Silenciamento que pode ser observado no caso das caixas onde estava o Re- latório Figueiredo, as quais estiveram depositadas durante décadas e sem nenhuma identificação na sede da Funai, em Brasília, até 2008. Ano em que foram transportadas para o Museu do Índio, no Rio de Janeiro, e que os pesquisadores e arquivistas não co- nheciam mais seu paradeiro. Provavelmente, pelo fato de a documentação incomodar, ainda atualmente, políticos e ruralistas (p. 45).
Goiânia, v. 17, n.2, p. 576-580, jul./dez. 2019.
o processo de conquista e colonização portuguesa. A autora destaca as intervenções que iniciaram com as políticas jesuíticas do século XVI, quando impuseram a monogamia, até o incentivo oficial aos casamentos entre índios e “brancos”, nas reformas pombali- nas do século XVIII. Segundo Vania Losada, superar a poligamia dos índios tornou-se, na ver- dade (p. 156), uma das obsessões da evangelização no Brasil, porque, sendo o matri- mônio um dos sacramentos do cristianismo, a poligamia impedia a conversão e o batismo dos adultos, comprometendo o sucesso da obra missionária. Por outro lado, os casamentos mistos que teriam facilitado os processos de assimilação ét- nica, social e cultural dos índios, devem ser vistos como fenômenos complexos, frequentemente demorados, e não devem continuar sendo tratados como meros epifenô- menos da política assimilacionista de Pombal. Iniciando os trabalhos apresentados na segunda parte do livro, Tonico Guarani- Kaiowá trata dos movimentos dos professores e das lideranças Guarani e Kaiowá pela implementação da educação escolar indígena no atual Território Etnoeducacional Cone Sul do Mato Grosso do Sul. Além de fazer parte do grupo étnico, o trabalho de Tonico revela-se interessante por trazer, entre outros, documentos resultantes de encontros/reuniões feitas pelos próprios professores e lideranças da etnia para tratar sobre a questão educacional. Tonico desconstrói a ideia do indígena como sendo sujeito passivo, eviden- ciando a atuação dos homens e mulheres indígenas como peça fundamental para a conquista e, mais ainda, para manutenção dos direitos estabelecidos na Constituição Federal de 1988; mostrando como a articulação dos Guarani e Kaiowá foi crucial para eles iniciarem uma discussão organizada sobre as práticas do saber própria para seu povo. Mauro Coelho e Fernando Fernandes fazem um levantamento sobre o pro- tagonismo indígena, discutindo como esses povos, no contexto da Região Norte, têm sistematizado ao longo dos séculos e atuam politicamente através de instrumentos re- correntes dos não-índios, sem abandonar as práticas tradicionais (p. 194). Apontando para o fato de que o movimento indígena tem atuado cada vez mais, de modo amplo, apresentando demandas e construindo conquistas, dentre elas: a educação. Por último, o artigo do professor Odair Giraldin problematiza os processos de escolarização e sociabilidades entre os Krahô, e como o grupo reivindica seus direitos a partir de suas demandas e interesses. Como por exemplo, aconteceu após o Decreto 26/91 ao estabelecer uma nova fase de escolarização entre os Krahô (p. 226), com a estadualização da educação escolar para os povos indígenas do Tocantins. O mesmo decreto que ofertou às escolas nas aldeias, a primeira fase do ensino fundamental, que passados mais de dez anos, os Krahô passaram a pleitear uma nova necessidade: a oferta do ensino médio. As abordagens dos autores deste livro revelam os desafios da história indígena, que assumem uma dimensão mais ampla, à medida que precisamos levar em considera- ção não somente as diferentes historicidades, mas também a diversidade sociocultural dos povos indígenas. E que, mesmo negados no plano discursivo e na grande mídia atual, os grupos indígenas sabiam e sabem se colocar diante os ditames do Estado. Homens e mulheres que continuam a existir, cada vez mais organizados po- liticamente, reafirmando as suas etnicidades nos processos de contatos interétnicos e nos posicionamentos diante das legislações indigenistas ao longo da história. Por fim,
Goiânia, v. 17, n.2, p. 576-580, jul./dez. 2019.
podemos dizer que esta obra é resultado de um esforço coletivo e que impulsiona à novas investigações, notoriamente dos próprios indígenas que estão ocupando espaços na academia e estão reescrevendo sobre aspectos importantes de suas próprias histórias.
Nota 1 A expressão é utilizada por Regina Celestino de Almeida para referir-se ao lugar que tradicionalmente a historiografia reservou aos indígenas, na concepção de que os indígenas desempenhavam um papel secundário (bastidores) no cenário nacional e não como protagonistas (no palco). Ver.: ALMEIDA, R.C. Os índios na História do Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2010.