O Alienista – Machado de Assis
Dr. Simão Bacamarte, maior dos médicos do Brasil, Portugal e da Espanha. D.
Evarista, viúva de 25 anos, e não bonita e nem simpática, mas tinha condições
fisiológicas e anatômicas de primeira ordem: digeria com facilidade, dormia
regularmente, tinha bom pulso e excelente vista; estava assim apta para dar-
lhes filhos robustos, são e inteligentes. Mas, ela era estérea, não podia ter
filhos. Dr. Bacamarte decidiu seguir no ramo psíquico, consequentemente,
pediu licença a Câmara para agasalhar e tratar de todos os loucos de Itaguaí e
das demais vilas vizinhas. Ao decorrer do tempo, já haviam mais de cinquenta
por cento da população na Casa. O vereador, Sebastião Freitas, fez esta
reflexão: “-Nada tenho que ver com a ciência; mas, se todos homens em que
suponho são reclusos por demente, quem nos afirma que o alienado não é o
alienista?”. No protesto contra a Casa Verde, o barbeiro falava dos infelizes que
lá estão. Simão diz que todos eram loucos. Os cultores de enigma, os
fabricantes de charadas, de anagramas, os maldizentes, os curiosos da vida
alheia, os que põe todo o seu cuidado na tafularia, um ou outro almotacé
enfunado, ninguém escapava aos emissários do alienista. Dr. Bacamarte em
uma noite acorda e não ver sua esposa na cama, levanta e vai até no quarto de
vestir, acho-a diante dos dois colares, um de safira e o outro de granada, ela
estava ensaiando-os ao espelho, ora um ora o outro. D. Evarista estava muito
preocupada porque não sabia qual o colar usaria. Era evidente a demência,
disse ele e a recolheu logo. Contudo, o barbeiro que revolucionou a Revolta
dos Canjicas, faz um protesto para a Casa Verde ser fechada. Então, todos os
loucos da Casa Verde iam ser postos na rua. Logo depois é fechada a porta
da Casa. Ele entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo. Dizem os cronistas
que ele morreu no mesmo estado que ele entrou, sem ter podido alcançar
nada. Alguns chegam ao ponto de conjetura que nunca houve outro louco além
dele em Itaguaí e que o único alienado de lá era o Dr.
