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Resenha do livro "A mulher que escreveu a Bíblia", Resumos de Psicologia

Resenha do livro "A mulher que escreveu a Bíblia "

Tipologia: Resumos

2019

Compartilhado em 22/09/2021

jiceli-nahani
jiceli-nahani 🇧🇷

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Universidade Estadual do Campo-Oeste
Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes de Irati
Departamento de Letras
Disciplina: Leitura e Produção de Escrita
Acadêmica: Jicéli Nahani
Resenha:
A mulher que tentou escrever a bíblia sozinha
Gaúcho, judaico, médico, escritor, ganhador de vários prêmios literários incluindo o
Prêmio Jabuti e amante da literatura, Moacyr Scliar é considerado um dos grandes nomes da
literatura, literalmente! Seu nome, de acordo com parte de sua biografia disponível no site da
Academia Brasileira de Letras: “Foi escolhido por sua mãe Sara após a leitura de Iracema, de
José de Alencar, significando “filho da dor”.” Moacyr possui 80 livros publicados, sendo eles:
contos, romances, ficção infanto-juvenil, crônicas e etc.
Navegando neste mar da literatura, encontramos o Romance “A mulher que escreveu a
Bíblia, de 1999. Recheado de humor, crítica social, o livro em suas páginas iniciais
contextualiza o leitor sobre o que o romance vai tratar:
Em Jerusalém, quase três mil anos, alguém escreveu um trabalho que,
desde então, tem formado a consciência espiritual de boa parte do nosso
mundo [...]. Não era um escriba profissional, mas antes uma pessoa altamente
sofisticada, culta e irônica, destacada figura da elite do rei Salomão [...]; uma
mulher, que escreveu para seus contemporâneos como mulher. (SCLIAR,
1999, p.1)
Ou seja, o que prende o leitor o se resume apenas em enredo ou intriga como
elementos narrativos, mas também pelo uso da comicidade que Moacyr Scliar articula. Ao
decorrer das páginas conhecemos a personagem principal, sem nome, ela de certa forma se faz
presente independente da época que seja lida, os anseios existentes de uma mulher. Fugindo
dos padrões da época, a protagonista denominada por ela mesma como “a feia” traz de forma
irônica e empoderada, diversos tabus como: sexualidade, desejos femininos, masturbação,
estética, religião e claro, o machismo. Temas esses que existem e reexistem até hoje.
Por se tratar de uma cultura patriarcal, a imponderação vivida pela “feia” é um fator
incomodativo e questionado diversas vezes ao decorrer da história, principalmente pelo fato de
ler e escrever:
A culpa é tua. Quem mandou aprender a ler e a escrever? Eu sabia que essa
história não ia dar certo. Falei pra tua mãe: negócio de mulher não é esse,
negócio de mulher é outro, é na cama. Nem eu, que sou chefe, sei ler e
escrever. Por que precisavas te meter a besta? (SCLIAR, 1999, p. 69)
Críticas à parte, o fato de ser letrada, modifica sua perspectiva de mundo. Antes
amarrada apenas na sua triste realidade de feiura, contentava-se apenas com a satisfação que a
pequena pedra polida lhe proporcionava, refugiava-se nas montanhas para lamentar sua feiura
e seus desamores. Após o episódio do letramento ocorrido graças ao escrivão de seu pai, a moça
que antes não se reconhecia no mundo, passa agora a ser protagonista de sua própria história.
Sua personalidade forte e inteligente, se concretiza a cada passagem. Já no palácio do Rei
Salomão, do qual agora como esposa fazia morada, seu empoderamento e suas críticas se fazem
cada vez mais presentes na sua narrativa. A rebelião comandada por ela, é um exemplo dessa
tentativa de quebra da submissão da qual setecentas esposas e trezentas concubinas eram
submetidas.
E o que via era uma mulher de sobre uma mureta, punho erguido no ar,
cabelos em desalinho, rosto belo rosto, sim, belo, muito belo, de uma beleza
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Universidade Estadual do Campo-Oeste Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes de Irati Departamento de Letras Disciplina: Leitura e Produção de Escrita Acadêmica: Jicéli Nahani Resenha: A mulher que tentou escrever a bíblia sozinha Gaúcho, judaico, médico, escritor, ganhador de vários prêmios literários incluindo o Prêmio Jabuti e amante da literatura, Moacyr Scliar é considerado um dos grandes nomes da literatura, literalmente! Seu nome, de acordo com parte de sua biografia disponível no site da Academia Brasileira de Letras: “Foi escolhido por sua mãe Sara após a leitura de Iracema , de José de Alencar, significando “filho da dor”.” Moacyr possui 80 livros publicados, sendo eles: contos, romances, ficção infanto-juvenil, crônicas e etc. Navegando neste mar da literatura, encontramos o Romance “A mulher que escreveu a Bíblia”, de 199 9. Recheado de humor, crítica social, o livro em suas páginas iniciais contextualiza o leitor sobre o que o romance vai tratar: Em Jerusalém, há quase três mil anos, alguém escreveu um trabalho que, desde então, tem formado a consciência espiritual de boa parte do nosso mundo [...]. Não era um escriba profissional, mas antes uma pessoa altamente sofisticada, culta e irônica, destacada figura da elite do rei Salomão [...]; uma mulher, que escreveu para seus contemporâneos como mulher. (SCLIAR, 1999, p. 1 ) Ou seja, o que prende o leitor não se resume apenas em enredo ou intriga como elementos narrativos, mas também pelo uso da comicidade que Moacyr Scliar articula. Ao decorrer das páginas conhecemos a personagem principal, sem nome, ela de certa forma se faz presente independente da época que seja lida, os anseios existentes de uma mulher. Fugindo dos padrões da época, a protagonista denominada por ela mesma como “a feia” traz de forma irônica e empoderada, diversos tabus como: sexualidade, desejos femininos, masturbação, estética, religião e claro, o machismo. Temas esses que existem e reexistem até hoje. Por se tratar de uma cultura patriarcal, a imponderação vivida pela “feia” é um fator incomodativo e questionado diversas vezes ao decorrer da história, principalmente pelo fato de ler e escrever: A culpa é tua. Quem mandou aprender a ler e a escrever? Eu sabia que essa história não ia dar certo. Falei pra tua mãe: negócio de mulher não é esse, negócio de mulher é outro, é na cama. Nem eu, que sou chefe, sei ler e escrever. Por que precisavas te meter a besta? (SCLIAR, 1999, p. 69 ) Críticas à parte, o fato de ser letrada, modifica sua perspectiva de mundo. Antes amarrada apenas na sua triste realidade de feiura, contentava-se apenas com a satisfação que a pequena pedra polida lhe proporcionava, refugiava-se nas montanhas para lamentar sua feiura e seus desamores. Após o episódio do letramento ocorrido graças ao escrivão de seu pai, a moça que antes não se reconhecia no mundo, passa agora a ser protagonista de sua própria história. Sua personalidade forte e inteligente, se concretiza a cada passagem. Já no palácio do Rei Salomão, do qual agora como esposa fazia morada, seu empoderamento e suas críticas se fazem cada vez mais presentes na sua narrativa. A rebelião comandada por ela, é um exemplo dessa tentativa de quebra da submissão da qual setecentas esposas e trezentas concubinas eram submetidas. E o que via era uma mulher de pé sobre uma mureta, punho erguido no ar, cabelos em desalinho, rosto — belo rosto, sim, belo, muito belo, de uma beleza

diferente, mas indiscutivelmente belo —, rosto resplandecente... Ah, se aquele momento se eternizasse, se aquela beleza permanecesse para sempre... Poderiam me chamar de feia, sim, mas estariam usando o termo no sentido carinhoso. Querida feia, adorável feia, brava feia, generosa feia. Bela feia. (SCLIAR, 1999, p. 41 ) Apesar de ocorrer um interesse particular em todo esse teatro, ela se coloca como líder e mostra sua inteligência. Recebemos a confirmação nessa cena, percebemos a sua evolução e seu reconhecimento como mulher forte, que luta pelos objetivos desejados, mulher que mais adiante, vai escrever um livro, o mais importante livro para o Rei Salomão. Nas cenas seguintes, dos quais dizem a respeito da escrita do livro, nesse caso a Bíblia, nos é apresentado uma cena, da qual, julgo por mim, importante para reflexão. A cena, trata-se da escrita na primeira versão que a esposa de Salomão faz sobre a história de Adão e Eva. A narrativa é feita perante uma perspectiva “picante” dá protagonista sobre a história, em consequência desse fato, vemos despertar um desejo sexual do velho ancião e o recuso imediato da escritora. — Estás rindo, tu? Tu estás rindo? Rindo de mim, cadela do deserto? Rindo porque eu quis trepar contigo, coisa que ninguém jamais fará, muito menos o Salomão? Vai te enxergar, mulher. Tu és um bagulho, és um monstro de tão feia. Mesmo assim eu, e só por pena, te ofereci sexo. E tu recusaste! Idiota! Mas não perdes por esperar. Mirou-me, triunfante no seu ódio: — Sabes quem os anciãos encarregaram de dar o parecer final sobre o texto? Sabes quem? Eu. Eu mesmo. Estou encarregado de dar um parecer sobre a merda que escreveste. Agora: adivinha qual será o parecer! Adivinha! Isto aqui é lixo, desgraçada! Isto aqui é abominação! (SCLIAR, 1999, p. 64 ) Conforme mostra neste trecho, existe uma atitude promovida pelo machismo ao receber um “não” o ancião acaba por ofender, tanto a “feia” quanto por decorrência a sua escrita, escrita da qual ele mesmo havia elogiado minutos antes de ser rejeitado. O texto aborda esses assuntos de forma cômica, o que acaba nos prendendo e nos faz assimilar que, infelizmente, atualmente não estamos distantes destas atitudes machistas. Intitulei esta resenha exatamente pelo acontecimento que sucede este evento. Após o recuso e o insulto. O ancião acaba por recusar a sua escrita, fazendo com que o rei estabeleça que a partir daquele momento ela iria escrever sob o olhar dos anciões. Assim, me vi, no dia seguinte, escrevendo a história tal como eles queriam. A mulher sendo fabricada a partir de uma costela de Adão. A mulher dando ouvidos à serpente. A mulher provando do fruto da Árvore do Bem e do Mal. Em suma: a mulher cagando tudo. E aí vinha aquela história do Caim e do Abel, os dois filhos do casal (dois filhos: nenhuma filha. Ou seja, não teriam chance de se reproduzir, nem por incesto). (SCLIAR, 1999, p. 65 ) Portanto, concluímos a importância de uma leitura minuciosa do livro de Moacyr, independente da perspectiva do olhar do leitor, é possível proporcionar várias reflexões. Uma das provocações que podem aumentar a problematização dos conceitos de leitor, escritor e autor é a afirmação do crítico literário Roland Barthes (1968) de que “sabemos que, para devolver à escritura o seu futuro, é preciso inverter o mito: o nascimento do leitor deve pagar-se com a morte do Autor.” Barthes escreveu essa frase no ensaio intitulado A Morte do Autor, publicado na revista Manteia em 1968. Podemos utilizar essa frase como uma reflexão onde contrapomos a visão de autoria da Bíblia, pois “a feia” ao ser obrigada e coagida no processo de escrita acaba fazendo valer o nascimento do leitor pela morte do autor.