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Neste texto, o autor discute a epistemologia de max weber e sua relação com o protestantismo e o capitalismo moderno. Weber negou que o conhecimento pudesse ser uma reprodução ou cópia fiel da realidade, pois a realidade é infinita e inexaurível. A posição de weber na história das ciências sociais é evidência de que os paradigmas dessas seguem leis completamente diferentes daquelas aceitáveis nas ciências naturais. Weber é o primeiro sociólogo a trabalhar fora do paradigma evolucionista. Publicado entre 1904-1905, weber procura demonstrar que as ideias de marx representam apenas uma possibilidade entre muitas de explicação do surgimento do capitalismo. Weber busca uma causa adequada para explicar o surgimento do capitalismo moderno e a encontra na ética calvinista. Porque concentra-se nas motivações dos indivíduos como base do funcionamento da sociedade, weber confere à superestrutura um valor que marx não lhe havia dado.
Tipologia: Notas de estudo
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EDUCAÇÃO EM DEBATE
Seguindo a epistemologia kantiana, Weber negou que o "conhecimento pudesse ser uma reprodução ou cópia fiel da realidade, em exten- são ou compreensão, já que a realidade é infinita e inexaurível" (FREUND, 1969, p. 39). Questio- nou, porém, muitos outros aspectos do conheci- mento científico além daqueles propostos pela sua adoção da fenomenologia de Kant. De fato, o nome de Weber pode ser relacionado a um gran- de número de achados sociológicos que recente- mente têm recebido uma atenção inusitada. A própria posição de Weber na história das ciên- cias sociais é uma evidência de que os paradigmas destas seguem leis completamente diferentes daquelas aceitáveis nas ciências naturais. O objetivo deste ensaio é analisar os aspec-
os seguintes pontos:
Publicado entre 1904-1905, quando Weber
que neste trabalho ele questiona a proposição de Marx de acordo com a qual foram razões
Bernadete Beserra I
econômicas que produziram o surgimento do modo de produção capitalista. Weber procura demonstrar que os achados de Marx represen- tam apenas uma possibilidade entre muitas de explicação do surgimento do capitalismo. Weber não se posiciona claramente con- tra a idéia de evolução ou de proposições gerais sobre fenômenos universais. Mas, em vez de en-
cularidade de cada fenômeno. Ou seja, cada fe- nômeno é o resultado de uma situação única e deve ser considerado desta maneira. Seguindo tal raciocínio, jamais se teria esquemas expli- cativos sintéticos como os de Hegel, Marx ou Morgan, os quais postulavam a existência de uma idéia universal de história ou humanidade. Considerando que circunstâncias particu- lares produzem motivações particulares, Weber busca uma causa adequada para explicar o surgimento do capitalismo moderno e a encon- tra na ética calvinista. Para ele, esta ética foi o elemento sem o qual não teria sido possível o surgimento do capitalismo. Se, para Marx, a ex-
para a acumulação capitalista, a ética calvinista era, para Weber, o fator que permitiu e justificou não apenas a acumulação capitalista, mas tam- bém o comportamento indispensável para a acei- tação e manutenção do estilo de vida capitalista. Porque concentra-se nas motivações dos indiví- duos como base do funcionamento da sociedade, Weber confere à superestrutura um valor que
I Ph.D em Antropologia pela Universidade da Califórnia, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará. 2 A versão original deste ensaio foi escrita para a disciplina Anthropology 250, ministrada pelo prof. Gene Anderson em 1996 no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade da Califórnia, Riverside.
Marx não lhe havia dado porque manteve sua atenção na estrutura econômica buscando suas leis e evolução natural, procedimento que Weber rejeita completamente.
está dividido em cinco capítulos e a edição em análise, publicada pela Charles Scribner's Sons, New York, em 1958, contém uma introdução escrita por Anthony Giddens, em 1976, e uma outra introdução escrita pelo próprio Weber em 1920, para a série sobre sociologia da religião. No primeiro capítulo, Weber explica que a sua motivação empírica para relacionar as ori- gens do capitalismo com o protestantismo é o fato de que a maioria esmagadora dos homens de negócios e donos de capital, assim como os técnicos de alto nível são protestantes (WEBER, 1976, p. 35). Por que os protestantes estão mais intrinsecamente ligados à riqueza material e ao prestígio do que os católicos? O que de especial os protestantes teriam e os católicos não? Weber oferece a seguinte resposta:
A emancipação do tradicionalismo econô- mico parece, sem dúvida, ser um fator que fortalece extraordinariamente a tendência para duvidar da tradição religiosa assim como de qualquer autoridade tradicional. Mas é ne- cessário observar, como sempre tem-se esque- cido, que a reforma não significou a elimi- nação do controle da igreja sobre a vida diária, mas, ao contrário, a substituição da forma de controle anterior por uma nova (1976: 36).
Weber observa que razões específicas li- gadas à ética religiosa poderiam explicar não ape- nas porque os protestantes ocupam as melhores posições no mercado de trabalho, mas também porque os católicos preferiam ou eram motiva- dos a se graduar nas áreas das ciências humanas, por exemplo; ou, por que os católicos preferem dormir bem a comer bem? Havia qualquer coisa sobre a ética protestante que sugeria que ela de- veria ser entendida para que se pudesse explicar porque os protestantes se comportam tão dife- rentemente dos católicos e, especialmente, por-
empresa capitalista. O título do capítulo seguinte, "O Espírito do Capitalismo", revela o que há de diferente no protestantismo: sua ética carrega o "espírito do capitalismo". O próprio Weber revela sua pre- ocupação em usar expressão tão pretensiosa como "espírito do capitalismo" e chama a aten- ção para as dificuldades de definição do fenô- meno histórico:
Se há qualquer objeto ao qual o termo [Espí- rito do capitalismo] pode ser aplicado com algum significado, este objeto somente pode ser um indivíduo histórico, isto é, um com- plexo de elementos associados a uma realida- de histórica a qual podemos reunir num todo conceitual do ponto de vista do seu significa- do cultural. Tal conceito histórico, entretanto, uma vez que se refere no seu conteúdo a um fenômeno significante pela sua individuali- dade, não pode ser definido de acordo com a fórmula genus proximum, differentia specifica, mas deve ser gradualmente montado com todas as suas partes individuais retiradas da realidade histórica. Então, o conceito final e definitivo não pode ser elaborado no início da investi- gação, mas no final.
É provavelmente por esta razão que ao invés de iniciar o seu estudo sobre o espírito do capitalismo pela definição deste termo, Weber inicia reproduzindo as proposições utilitárias de Benjamin Franklin sobre o comportamento apro- priado ao mundo capitalista em crescimento.' Para Weber tais proposições representam a sín- tese moderna do espírito do capitalismo. To- mando as proposições de Franklin como refe- rência, volta ao passado buscando fenômenos similares nas origens do mundo capitalista. Embora não parecendo estar interessado em negar nenhuma das condições materiais que Marx apresenta como pré-requisitos para o sur- gimento do capitalismo, ele está certamente in- teressado em demonstrar que as condições ma- teriais sozinhas jamais seriam suficientes para
3 Weber enumera várias dessas proposições, dentre as quais as seguintes resumem bastante bem a sua lógica utilitária e bastante conhecida da sociedade capitalista: "Lembre-se que tempo é dinheirompo é dinheiro. Para aquele qz shillings por dia pelo seu trabalho e vai passear, ou fica ocioso metade do dia, apesar de não gastar mais que seis pence em sua vadiagem ou diversão, não deve ser computada apenas essa despesa, ele gastou, ou melhor, jogou fora, mais cinco shillings (WEBER, 1976, p. 48)."
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quais, originadas na crença e na prática reli- giosa deram uma direção à conduta prática e amarrou o indivíduo a ela" (1976, p. 97).
A questão a se responder, portanto, é como a doutrina Calvinista da predestinação produziu uma conduta prática na qual ou através da qual o espírito capitalista se desenvolveu. A doutrina da predestinação de Calvino acreditava que de- terminadas pessoas são eleitas por Deus à salva- ção, enquanto outras são rejeitadas por Ele e condenadas à maldição eterna. Se, independentemente da sua obra no mundo, algumas pessoas são a priori salvas ou condenadas, Calvino transferiu a salvação das mãos dos homens para as mãos de Deus. Porém, para responder quem são os eleitos, Calvino teve de elaborar uma doutrina capaz de guiar a ação dos seus seguidores na qual os seguintes pontos
a afirmação segundo a qual alguém pode apren- der através da conduta de outros, sejam estes
gação absoluta considerar a si mesmo escolhido e combater todas as dúvidas como tentações do Mal, já que a falta de autoconfiança é o resul- tado de uma fé insuficiente, portanto de uma graça imperfeita (p. 111): 3. Para se obter essa autoconfiança a pessoa precisa se envolver intensamente com os negócios do mundo. O tra- balho e somente ele pode dispersar as dúvidas religiosas e conferir a certeza da graça. (p.112). Weber conclui que na prática a doutrina de Calvino "significa que Deus ajuda aqueles que aju- dam a si próprios [e] o Deus do Calvinismo re- quer dos seus fiéis não bons trabalhos eventual- mente, mas toda uma vida de bons trabalhos combinados num sistema unificado" (p. 115-117). Se o chamado para o trabalho é nele mesmo importante, seu objetivo, no entanto, é a base da racionalização requerida para o sur- gimento da atitude capitalista. Portanto, "essa racionalização da conduta dentro do mundo, mas pelo amor de um mundo além, foi a conse- qüência do conceito de chamado do protestan- tismo as cético" (p.154). No último capítulo, "Asceticismo e o Es- pírito do Capitalismo", Weber examina o traba- lho de Richard Baxter, considerado uma das me- lhores interpretações da doutrina calvinista. No último capítulo, de fato, Weber mostra, sempre tendo a pregação de Benjamin Franklin em
mente, que a doutrina calvinista continha os ele- mentos essenciais da atitude que ele denominou de espírito do capitalismo. A diferença, diz ele, é que faltava às idéias de Franklin "a base religiosa, que, no tempo de Franklin, já havia desapare- cido" (p.180).
mente, em nome de Deus e da Sua glória, os calvinistas construíram (na verdade, apenas aju- daram a construir) o mais pagão dos mundos. Agora, breves respostas as questões propostas no início desta resenha. A primeira hipótese pode ser exemplificada através da comparação entre Durkheim e Weber. Embora contemporâneos, produziram métodos completamente diferentes de explicação do fe- nômeno social. Durkheim, refletindo o seu am- biente intelectual, aceitou como absolutamente razoável a afirmação de que as ciências sociais deveriam ser assimiladas pelas ciências naturais, e assumiu a missão histórica de organizar um campo científico para a sociologia. Por outro lado, a sociologia de Weber desenvolveu-se num con- texto no qual a mencionada verdade positivista era absolutamente questionada. Analisando o background intelectual de Weber, Freund (1969, p. 37-39) explica que "já nos finais do século XIX, os acadêmicos germânicos estavam divididos numa disputa metodológica em torno do status das ciências humanas: elas deve- riam ser assimiladas às ciências naturais, como os positivistas reivindicavam ou, ao contrário, ser consideradas de forma totalmente autônoma? Aqueles que sustentavam que as ciências humanas deveriam ser autônomas, Dilthey en- tre eles, acreditavam que a realidade pode ser subdividida em setores independentes. Outros, dentre estes Rickert, rejeitaram tal fragmentação, afirmando que a realidade é indivisível e sempre idêntica a si mesma. Para estes, as diferentes ciên- cias estudam a realidade sob ângulos diferentes, e os princípios-guias de classificação devem por- tanto estar na diferença dos métodos utilizados. De acordo com esta perspectiva, há dois méto- dos: o método generalizante, que busca desco- brir relações gerais e leis; e o método indivi- dualizante, que estuda os aspectos particulares de um dado fenômeno. Duas categorias funda- mentais das ciências surgiram deste raciocínio: as ciências naturais e as culturais. Embora aceitando a distinção entre os métodos generalizante e individualizante, Weber
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rejeito ões, isto é, a classificação das ciê e da diferença de métodos. Ele acre ,ct ao contrário, que cada ciência usa um o o rro método em função das suas necessidades circunstanciais, mas nenhum dos métodos é preferível ou superior ao outro. Freund sintetiza:
Qualquer que seja o método adotado, cada um faz uma seleção na infinita diversidade da realidade empírica. Dessa forma, por causa de seu fim, o método generalizante despoja o real de todos os aspectos contingentes e sin- gulares, reduzindo as diferenças qualitativas a quantidades que podem ser medidas com precisão e podem formar uma proposição geral de caráter legal. O método individua- Iizante omite os elementos genéricos, a fim de dirigir sua atenção apenas aos caracteres qualitativos e singulares dos fenômenos. Neste sentido, um e outro se afastam da reali- dade por força das necessidades da conceitua- lização, sem a qual não poderia haver conhe- cimento científico. Por conseguinte, nada nos permite dizer que, em confronto com a reali- dade, um desses métodos seria mais viável, mais exato ou mais completo do que o outro (1969, p. 33-34);
A teoria sociológica de Weber é o resul- tado das suas posições metodológícas' e episte- mológicas. A noção de tipo ideal, por exemplo, é um resultado evidente da sua compreensão de que as categorias científicas não correspondem diretamente à realidade. Elas são, portanto, se- res de um outro mundo, do mundo das concei- tualizações e interpretações e, como tal, servem ao mundo da interpretação. Já que o método é uma função do problema, Weber propôs ques- tões cujas respostas requeriam a utilização do método individualizante, o qual considera todos os fenômenos históricos como únicos ou parti- culares. Através da interpretação das razões ou motivações de certos fenômenos sociais do ponto de vista daqueles que o produzem, Weber inaugu- rou a perspectiva subjetivista na sociologia - urna perspectiva exatamente oposta à de Ourkheim
que se baseia na compreensão do funcionamento do sistema e das suas leis. É importante observar que a metodologia das ciências sociais de hoje incorpora ambas as alternativas. Aliás, é da complementariedade dessas perspectivas combinadas com a de Marx que Pierre Bourdieu, por exemplo, tem produ- zido os seus insights. Isto é, as ciências sociais têm-se desenvolvido diferentemente das ciências naturais porque as primeiras não têm que negar os seus ancestrais completamente para formular novas teorias. Ao invés disso, elas apenas têm que formular novas questões cujas respostas re- querem um esforço coletivo buscado pelas dife- rentes tradições. Weber desconsidera completamente o paradigma evolucionista. Embora enfatizando a civilização ocidental como um fenômeno singu- lar, não parece interessado ou preocupado em localizar tal fenômeno numa escala geral de pro- gresso e produzir a sua compreensão a partir das semelhanças ou diferenças entre as sociedades dispostas em tal escala. Ao contrário, ele buscou a compreensão de cada fenômeno através da com- preensão dos seus próprios elementos (catego- rias analíticas) os quais aparecem através da des- crição do fenômeno. Finalmente, pode-se dizer que a compre- ensão de ciência de Weber não foi ainda incor- porada por muitos cientistas sociais que desen- volvem suas teorias em torno de valores políticos e morais os quais acabam por desviar o debate na direção de categorias não científicas como a verdade ou a retidão. A não ser que considere- mos essas categorias como categorias históricas, jamais alcançaremos um acordo científico. Porém, é saudável lembrar que não é da concordância que a ciência se nutre.
Referências bibliográficas
WEBER, Max. The protestant ethic and the spirit of capitalismo New York: Charles Scribner's Sons. 1976. FREUNO, Julien. Sociologia de Max Weber. Rio de Janeiro: Editora Forense Ltda, 1975.
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