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Uma pesquisa sobre o desenvolvimento moral de crianças e adolescentes em relação às regras alimentares. O texto discute o processo de tomada de consciência e a necessidade de momentos de desequilibrio para a conselhagem autônoma em escolhas alimentares. Além disso, o documento aborda a compreensão de regras alimentares, a autonomia da consciência moral e a motivação para escolhas alimentares saudáveis.
O que você vai aprender
Tipologia: Slides
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Porto Alegre 2019
Porto Alegre 2019
Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação. Orientador: Prof. Dr. Marcelo Leandro Eichler
Agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) pelo espaço que me concedeu para estudo, tendo iniciado em minha graduação e finalizado até o momento com o mestrado. Em tempo, agradeço também a meus professores do mestrado, Maria Luiza Becker, Marcelo Leandro Eichler e Carlos Eduardo Valente Dullo, que contribuíram muito para meu aprendizado sobre a moral e/ou para compreensão dos estudos piagetianos. Em especial, deixo meu agradecimento a meu orientador, Marcelo Leandro Eichler, por acreditar na minha proposta de estudo, por incentivar meu progresso como pesquisadora e me receber tão bem como sua pupila. Agradeço também a minha colega nutricionista, Maurem Ramos, pela oportunidade de realização de estágio docente em minha área de formação, pelo incentivo e parceria em diferentes momentos. Agradeço as escolas, alunos que participaram desta pesquisa e familiares desses, pois permitiram que este trabalho se concretizasse. Agradeço com muito carinho e orgulho a minha família e meu namorado pelo incentivo, pela força que me conferiam nos momentos difíceis, pela paciência com minha ausência para estudos, pelo amor que me oferecem e por acreditarem em meu potencial e crescimento como profissional. Agradeço, por fim, a meus amigos e colegas de trabalho que também se mostraram solidários com meus estudos e me deram grande suporte neste momento.
Desde o nascimento somos submetidos a regras alimentares, mas muito pouco conhecemos sobre o desenvolvimento do sujeito moral neste sentido. Criamos normas para comer e pronunciamos discursos sobre alimentação saudável, mas fundamentamos insuficientemente os juízos que as crianças e adolescentes fazem dessas informações, como as explicam, se vinculam e se utilizam dessas. Por conta disso, nesta pesquisa, procurou-se compreender como se desenvolve o juízo moral no universo das regras alimentares, a fim de explicar especificamente como se orienta a consciência moral de crianças e adolescentes. Promoveu-se um estudo de casos múltiplos incorporados a fim de traçarmos um panorama evolutivo sobre o tema. Criou- se quatro instrumentos de coleta de dados, envolvendo tanto tarefas práticas de seleção de alimentos e indicação de critérios sensoriais quanto questionamentos mediante entrevista semi- estruturada. A pesquisa contou com dezenove participantes de escolas públicas e privadas nos municípios de Canoas e Porto Alegre/RS. Embasou-se esta pesquisa em estudos de Jean Piaget e Lawrence Kohlberg. Constatou-se a existência de quatro estados de orientação da consciência moral: 1) moral da submissão; 2) moral hedônica; 3) moral das expectativas e 4) moral do saudável. Compreendeu-se que os progressos na orientação da consciência moral são fruto de processos de tomada de consciência e que há necessidade de momentos de desequilibração do sujeito, os quais podem ocorrer, por exemplo, mediante questionamento das motivações e consequências de regras alimentares, para que se consiga tender aos poucos para uma consciência mais autônoma em termos de escolhas alimentares. Contudo, uma lacuna ainda precisa ser sanado em futuros estudos por conta de nem sempre as enunciações coincidirem com as ações morais, sendo demandadas mais pesquisas sobre a motivação para ação, contribuindo, assim, para que mudanças em prol de condutas alimentares mais saudáveis se tornem verdadeiramente efetivas.
Palavras-chave : moral; regras alimentares; desenvolvimento de crianças e adolescentes; nutrição
AI Adequate Intakes/ Ingestão Adequada CNS Conselho Nacional de Saúde DeCS Descritores em Ciências da Saúde DIT Defining Issues Test/ Definir Valores Morais DRI Dietary References Intakes/ Ingestão Dietética de Referência EAR Estimated Average Requirements/ Necessidade Média Estimada FAO Food and Agriculture Organization FATIPUC Faculdade de Tecnologia do Instituto Pró-Universidade Canoense FATO Faculdade Monteiro Lobato FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IMC Índice de Massa Corporal IOM Institute of Medicine IPGS Instituto de Pesquisas, Ensino e Gestão em Saúde MJI Moral Judgement Interview/ Entrevista de Julgamento Moral NEPA Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação OMS Organização Mundial da Saúde PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais PNAN Política Nacional de Alimentação e Nutrição RDA Recommended Dietary Allowances/ Ingestão Dietética Recomendada SAN Segurança Alimentar e Nutricional SISAN Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional SRM Sociomoral Reflection Measure/ Mensuração da Reflexão Sociomoral TACO Tabela Brasileira de Composição de Alimentos TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UL Tolerable Upper Intake Levels/ Ingestão Máxima Recomendada UNICAMP Universidade Estadual de Campinas VET Valor Energético Total
VIGITEL Sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico
WHO World Health Organization
Possivelmente, o leitor se perguntará sobre a gênese da perspectiva dialética naquele que escreve este estudo, a considerar a cultura científica na qual se insere a nutrição, cabendo, pois, uma breve apresentação da trajetória percorrida. A formação em bacharel em Nutrição^1 e, em concomitância, na área da Licenciatura em Letras^2 potencializaram certamente uma abertura de horizontes. Enquanto transitava nas diversas áreas da nutrição, a área da educação permaneceu latente nas práticas vivenciadas e teorias estudadas, questionando a elaboração de conceitos em saúde, a compreensão que o alocutário possuía da enunciação do profissional nutricionista, a efetividade da educação nutricional, a visão do nutricionista de um paciente ainda passivo no cuidado com a saúde, os fatores psicológicos imbricados nas escolhas alimentares, as emoções motivadoras de comportamentos e a pouca razoabilidade em imposições de dietas calculadas aos pacientes. Ainda, na graduação, propusemos uma pesquisa sobre o grau de letramento em nutrição (BLANCO, 2015), especificamente do domínio dos conceitos nutricionais de forma a permitir sua aplicação prática quando da leitura dos rótulos de alimentos. Percebemos com esse estudo o quanto os conceitos nutricionais – como de macronutrientes e micronutrientes – aprendidos na escola necessitam uma aproximação com a realidade dos consumidores de alimentos e que o letramento da população parece bastante insuficiente para permitir uma escolha alimentar mais consciente. Sem um domínio mínimo de conceitos em saúde, a compreensão do objeto (rótulo) e sua utilização como instrumento de avaliação da qualidade dos alimentos fica fadada ao fracasso. Lembremos da relevância do “levar a perceber^3 ” (DEQUI, 2005, p. 13) o espaço dos termos, conceitos e gêneros textuais no cotidiano dos indivíduos, seja para o aprendizado da área da nutrição ou da saúde de maneira geral. Continuando na tentativa de compreender mais sobre o comportamento alimentar humano, investigamos sobre fatores de influência – na perspectiva do próprio sujeito – no momento das escolhas alimentares durante a especialização em Psicologia em Nutrição^4.
(^1) Pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), concluída em outubro de 2015. (^2) Pela Faculdade de Tecnologia do Instituto Pró-Universidade Canoense (FATIPUC), concluída em dezembro de
3 2015. Habilitação em Língua Portuguesa e suas respectivas literaturas. A citação objetiva ampliar a ideia pré-concebida de que o aprendizado da gramática ou da linguagem parte da decoreba desvinculada de uma experimentação prática, devendo ser buscadas metodologias modernas e 4 instigadoras, permitindo uma construção lógica que deveras faça sentido ao sujeito. Pós-graduação Lato Sensu pelo Instituto de Pesquisas, Ensino e Gestão em Saúde (IPGS)/ Faculdade Monteiro Lobato (FATO), concluída em julho de 2016. Ênfase no Manejo do Comportamento Alimentar.
achados. Por conta disso, adotamos o uso da primeira pessoal do plural nesse texto como método de aproximação dos sujeitos do discurso.
A nutrição, como ciência, tem suas raízes fixadas nas ciências médicas. Em sua constituição, no Século XX, são identificadas duas correntes principais, uma pautada na ideia do alimento como remédio, focada, portanto, no biológico, e outra, em uma perspectiva social, incluindo desde a produção do alimento até seu consumo (VASCONCELOS, 2002). Contudo, essa discussão sobre a alimentação – indagações sobre o que se pode ou não comer; investigação sobre o potencial de cura de um nutriente ou de manutenção de um estado saudável; análise dos mitos e tabus; averiguação de formas de produção do alimento e sua adequação ao tipo de trabalho executado – perpassou diferentes momentos históricos (FLANDRIN; MONTANARI, 1998). Seria talvez inviável, haja vista um oceano de possibilidades, indicar precisamente o momento inicial em que a alimentação passou a figurar na mente humana para aquém da ideia de consumo pela necessidade de sobrevivência. Tradicionalmente e, ainda, contemporaneamente, a concepção “biologicista” é marcadamente integrante do currículo de graduação em Nutrição sob os nomes de Dietoterapia (ou Nutrição Clínica) e Nutrição Experimental. Entretanto, busca-se abrandar o caráter prescritivo da profissão, direcionado ao suporte no tratamento de patologias, com a inclusão de disciplinas como Sociologia, Antropologia e Psicologia à grade do curso. Contudo, essas áreas do saber nem sempre dão conta de romper com as barreiras impostas pelo direcionamento biológico, oriundo das ciências médicas, e pela insuficiência de reflexões sobre as relações de parte e todo ou do homem em toda sua complexidade (ser biológico, social, psicológico). Incorremos, muitas vezes, ao reducionismo do homem a um ser puramente orgânico, movido apenas pelos mecanismos bioquímicos, para quem os nutrientes são meros “abastecedores” de processos internos. Alvarenga et al. (2015) e Pollan (2008), em seus questionamentos sobre as práticas nutricionais, mencionam o vocábulo nutricionismo para aludir a essa doutrina ou ideologia alimentar que objetiva à indicação de nutrientes em sua forma isolada, sem considerar o alimento em sua totalidade. Pollan (2008, p. 15-16) ainda informa que há pelo menos três mitos que são difundidos pelo nutricionismo :