Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Líderes Comunitários na Modernidade: Estudo do Banco Palmas e Teoria de Giddens, Notas de estudo de Sustentabilidade

Este documento discute a ação do líder comunitário do banco palmas e sua associação com a modernidade tardia, como descrita por anthony giddens. O texto examina as características da modernidade tardia, sua influência na vida cotidiana e na construção da identidade, e o papel fundamental da mídia neste contexto. O documento também aborda as implicações dessas ideias para as relações sociais, a política e a autoidentidade.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Neymar
Neymar 🇧🇷

4.7

(130)

378 documentos

1 / 7

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
221
RESENHA
Comunicologia. Revista de Comunicação e Epistemologia da Universidade Católica de Brasília
Reflexões sobre o livro de Anthony Giddens Modernidade e identidade
Luíza Mônica Assis da Silva1
1 Doutora em Psicologia Social, das Organizações e do Trabalho pela Universidade de Brasília, UnB. Professora do Mestrado em Comunicação
da Universidade Católica de Brasília. E-mail: luizamonica@uol.com.br.
2 A estrutura limita e ao mesmo tempo é limitada pelas ações individuais. Há uma relação de implicação e interdependência entre o micro e
o macro e a ação e a estrutura.
O líder comunitário Joaquim de Mello Neto de uma associação de moradores na periferia de Fortaleza, Ceará,
que criou um banco com moeda própria, a Palma, expressa com irreverência a noção de sustentabilidade com a frase
“Nós tamo lascados mesmo; tem que se unir!”. A organização que coordena, o Banco Palmas, tem como financiadoras
instituições oficiais e não governamentais nacionais e internacionais e tenta mudar a vida dos moradores colocando
em prática os princípios de economia solidária, da cooperação e de modelos de desenvolvimento local, de modo a
diminuir o impacto da globalização no aumento da pobreza e da exclusão. A associação mantém um site na Internet
que apresenta a organização e traduz seus princípios por meio de uma história em quadrinhos e uma fotonovela com
personagens da comunidade.
Como compreender e interpretar a ação desse líder comunitário e de sua associação no contexto contemporâneo?
Uma das chaves pode estar no pensamento de Anthony Giddens, em sua Teoria da Estruturação2, ao descrever as ca-
racterísticas de uma sociedade que, segundo o autor, vive um processo de modernidade tardia ou de alta modernidade.
pf3
pf4
pf5

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Líderes Comunitários na Modernidade: Estudo do Banco Palmas e Teoria de Giddens e outras Notas de estudo em PDF para Sustentabilidade, somente na Docsity!

RESENHA

Comunicologia.

(^) Revista (^) de Comunicação

(^) e (^) Epistemologia

(^) da Universidade

(^) Católica

(^) de (^) Brasília

Reflexões sobre o livro de Anthony Giddens Modernidade e identidade

Luíza Mônica Assis da Silva^1

1 Doutora em Psicologia Social, das Organizações e do Trabalho pela Universidade de Brasília, UnB. Professora do Mestrado em Comunicação da Universidade Católica de Brasília. E-mail: luizamonica@uol.com.br. 2 A estrutura limita e ao mesmo tempo é limitada pelas ações individuais. Há uma relação de implicação e interdependência entre o micro e o macro e a ação e a estrutura.

O líder comunitário Joaquim de Mello Neto de uma associação de moradores na periferia de Fortaleza, Ceará, que criou um banco com moeda própria, a Palma, expressa com irreverência a noção de sustentabilidade com a frase “Nós tamo lascados mesmo; tem que se unir!”. A organização que coordena, o Banco Palmas, tem como financiadoras instituições oficiais e não governamentais nacionais e internacionais e tenta mudar a vida dos moradores colocando em prática os princípios de economia solidária, da cooperação e de modelos de desenvolvimento local, de modo a diminuir o impacto da globalização no aumento da pobreza e da exclusão. A associação mantém um site na Internet que apresenta a organização e traduz seus princípios por meio de uma história em quadrinhos e uma fotonovela com personagens da comunidade. Como compreender e interpretar a ação desse líder comunitário e de sua associação no contexto contemporâneo? Uma das chaves pode estar no pensamento de Anthony Giddens, em sua Teoria da Estruturação^2 , ao descrever as ca- racterísticas de uma sociedade que, segundo o autor, vive um processo de modernidade tardia ou de alta modernidade.

Comunicologia.

(^) Revista (^) de Comunicação

(^) e (^) Epistemologia

(^) da Universidade

(^) Católica

(^) de (^) Brasília

Dada a pluralidade de significados que podem ser atribuídos à modernidade, Giddens a classifica como “insti- tuições e modos de comportamento estabelecidos depois do feudalismo na Europa e que no século XX se tornaram mundiais em seu impacto” (2002, p. 17). A industrialização é o cerne desse processo composto também por: i) o desenvolvimento de relações capitalistas; ii) o estabelecimento de instituições de vigilância por meio do uso da infor- mação como mecanismo de submissão e da industrialização da guerra ou “guerra total” com o desenvolvimento de armas nucleares; iii) o estabelecimento de formas sociais distintas como as organizações e o Estado-Nação. Em seu livro Modernidade e identidade , Giddens examina as consequências da nova dinâmica das instituições na modernidade e sua influência na vida cotidiana das pessoas e nas transformações do eu e dos mecanismos de autoi- dentidade dos indivíduos. No século XX, as instituições têm seu dinamismo acelerado: são impactadas e impactam processos em nível global. O mesmo acontece com os indivíduos que “independentemente do quão local sejam os contextos específicos da ação, os indivíduos contribuem para (e promovem diretamente) as influências sociais que são globais em suas consequências e implicações” (GIDDENS, 2002, p. 9). Para ele, não há como se falar em pós-modernidade já que não há uma ruptura completa com as tradições e instituições da modernidade, mas sim um maior dinamismo, amplitude e profundidade que afetam práticas sociais e modos de comportamento em uma escala global. Nesse sentido, existem três elementos. O primeiro seria a separação entre espaço e tempo. O segundo, o desencaixe das instituições sociais em fichas simbólicas e sistemas especializados, onde todos podemos ser considerados leigos. O terceiro seria o da reflexividade institucional, onde há uma constante revisão do conhecimento e da informação usados para guiar a vida cotidiana. Os impactos desses elementos na vida cotidiana dos indivíduos, que são inescapáveis, nos encerram num mundo de dúvida radical e múltiplas fontes de autoridade. A construção do eu e da identidade é feita de forma reflexiva (os indivíduos sabem o que estão fazendo e por que estão fazendo), mas dentro de uma miríade de opções e de possibi- lidades de agir.

Comunicologia.

(^) Revista (^) de Comunicação

(^) e (^) Epistemologia

(^) da Universidade

(^) Católica

(^) de (^) Brasília

jeito cada vez mais autônomo. Abrem espaço para lidar com questões ontológicas como a natureza da existência, a finitude da vida humana, a experiência dos outros e da identidade num eu e corpo contínuos. De acordo com Giddens, o corpo é visto como aspecto fundamental do eu e construção da autoidentidade. A partir das contribuições de Goffman e Garfinkel, o autor apresenta a questão de controle do corpo em situações de interação social, de demonstração de disciplina como nos regimes e na performance de transexuais. O indivíduo é visto como o principal responsável pela construção do eu a partir da reflexividade que permeia o desenvolvimento e as trajetórias individuais. Um exemplo seria o das narrativas biográficas que aparecem conjunta- mente com a modernidade. Os manuais de autoajuda e os processos de terapia focam os processos de autorrealização e de oportunidades e riscos para a escolha de estilos e planos de vida. Esse processo é cada vez mais complexo já que, para o autor, “a modernidade confronta o indivíduo com uma complexa variedade de escolhas e ao mesmo tempo ofe- rece pouca ajuda sobre as opções que devem ser selecionadas” (2002, p. 79). Essas escolhas devem ser feitas e devem estar sempre abertas a mudanças, dada a natureza mutável da autoidentidade e da diversidade de interações e papéis que os sujeitos exercem nas mais diferentes situações de interação social. Além disso, a modernidade pressupõe, ao mesmo tempo, fragmentação e unificação da mercantilização que influenciam o projeto de eu. Esse processo, além de provocar ansiedade e necessidade constante de adaptação, provoca também um esvazia- mento, uma falta de sentido pessoal. Nas relações mercantilizadas, a religião também se torna um domínio especiali- zado que compete com outras fontes de autoridade para a autorrealização. Alguns indivíduos, diante da incerteza e da dúvida constante, optam por serem submissos a uma autoridade dogmática ou ao ceticismo e à imobilização. Os dilemas do eu podem ser sintetizados em quatro campos. O primeiro é o da unificação versus fragmentação , em que o indivíduo desenvolve um projeto reflexivo do eu baseado no contexto, suas experiências possibilitadas pela mídia. O segundo é o da impotência versus apropriação , em que o indivíduo dispõe de variadas oportunidades, mas pode ser tomado por uma sensação de impotência. O terceiro seria o da experiência personalizada versus

Comunicologia.

(^) Revista (^) de Comunicação

(^) e (^) Epistemologia

(^) da Universidade

(^) Católica

(^) de (^) Brasília

mercantilizada , em que o desafio recai sobre construir a narrativa do eu a partir de suas vivências ou dos modelos de consumo oferecidos pelo mercado. Giddens afirma que, apesar das consequências da modernidade nos levarem a um eu mínimo, seus desdobra- mentos têm profundas implicações na esfera política. Tais implicações o levam a contrapor dois modelos distintos: a política emancipatória e a política vida. São enfatizadas as consequências da reflexividade da ação individual e a integração entre os níveis micro e macro. Percebe-se como as identidades individuais influenciam a esfera coletiva. Nas palavras do autor:

O etos do autocrescimento assinala importantes transições sociais na modernidade tardia como um todo. Essas transições são – a reflexividade institucional em expansão, o desencaixe das re- lações sociais pelos sistemas abstratos e a consequente interpenetração do local e do global. Em termos de uma agenda política, podemos captar suas implicações distinguindo entre a política emancipatória e a política vida (2002, p. 193).

A política emancipatória busca libertar os indivíduos da exploração e também da desigualdade de oportunidades e possibilidades de vida. Isso implica a adoção de valores morais e tornar imperativos os valores de justiça, igualdade e participação, num estado definido por Rawls, em sua teoria da justiça, como a liberdade de agir responsavelmente e de acordo com as obrigações coletivas. Giddens destaca que a política emancipatória é fundamental por conta das desigualdades materiais que crescem em escala global no capitalismo. A política emancipatória prepararia o terreno para a política vida, assim conceituada:

Refere-se a questões políticas a partir de processos de autorrealização em contextos pós-tradi- cionais, onde as influências globalizantes penetram profundamente no projeto reflexivo do eu e, inversamente, onde os processos de autorrealização influenciam as estratégias globais (2002, p. 197).

Comunicologia.

(^) Revista (^) de Comunicação

(^) e (^) Epistemologia

(^) da Universidade

(^) Católica

(^) de (^) Brasília

à luz de uma complexa gama de conhecimentos vinda da mídia, da academia, das ONGs, enfim, de diversas fontes. Num simples e engraçado modo “cearês” de falar, ele expressa a ameaça de viver num mundo sem sustentabilidade, o grande risco da modernidade tardia.

Referências

GIDDENS, A. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.