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Rebecca solnit descreve sua experiência com a arrogância masculina e a tendência dos homens de explicar coisas às mulheres, mesmo quando não são solicitadas. Ela discute como essa atitude pode ser prejudicial para as mulheres e como pode contribuir para a marginalização delas em vários contextos.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
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Não perca as partes importantes!
Imagens de ana teresa Fernandez
tradução de tânia Ganho
Quetzal serpente emplumada | Rebecca Solnit
a INDa HOJe CONtINuO SeM PeRCeBeR porque a Sallie e eu nos demos ao trabalho de ir àquela festa na encosta florestada acima de aspen. as pessoas eram todas mais velhas do que nós e desinteressantes, ainda que ilustres, suficientemente ve- lhas para que nós as duas, na faixa dos quarenta, passássemos pelas jovens da festa. a casa era excelente – para quem gosta de chalés ao estilo Ralph lauren –, feita de madeira e com ar tosco, mas de luxo, a quase três mil metros de altitude, decora- da com armações de alces, montes de kilims e uma salamandra. Preparávamo-nos para ir embora, quando o nosso anfitrião dis- se: «Não vão, fiquem mais um pouco para eu conversar con- vosco.» era um homem imponente, que conquistara uma fortuna. Fez-nos esperar enquanto os outros convidados saíam e mergulhavam na noite estival e, em seguida, mandou-nos sentar a uma mesa de madeira genuinamente riscada de veios e, dirigindo-se a mim, disse:
Na realidade, os seis ou sete que já tinha publicado até en- tão eram sobre uma série de coisas diferentes, mas, naquele dia de verão de 2003, comecei a falar só sobre o mais recente, Ri- ver of Shadows: Eadweard Muybridge and the Technological Wild West , o meu livro sobre a destruição do tempo e do espaço e a industrialização da vida quotidiana. ele interrompeu-me assim que mencionei Muybridge.
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(^1) Obra de Geoffrey Chaucer, considerado o pai da poesia inglesa, publicada pela primeira vez em 1475. (N. da T.)
o mundo não é delas. Faz-nos duvidar de nós próprias e au- toimpormo-nos limites, da mesma maneira que desenvolve a autoconfiança excessiva e injustificada dos homens. Não ficaria surpreendida se chegássemos à conclusão de que uma parte da trajetória da política norte-americana, desde 2001, foi moldada, por exemplo, pela incapacidade de dar ouvidos a Coleen Rowley, a agente do FBI que emitiu os pri- meiros avisos sobre a al-Qaeda, e foi indubitavelmente mol- dada por uma administração Bush à qual não se podia dizer nada, incluindo que o Iraque não tinha ligações à al-Qaeda nem armas de destruição maciça, ou que a guerra não ia ser «canja». (Nem os especialistas masculinos conseguiram entrar nessa fortaleza de presunção.) a arrogância poderá ter tido uma quota-parte de respon- sabilidade na guerra, mas esta síndrome é uma guerra que pra- ticamente todas as mulheres enfrentam todos os dias, uma guerra que se trava dentro delas, também, uma crença na sua superfluidade, um convite ao silêncio, uma guerra da qual uma carreira bastante simpática como escritora (com muita inves- tigação pelo meio e muitos factos corretamente alinhados) não me libertou por completo. No fim de contas, por um instante estive disposta a deixar que o Sr. Importante e a sua auto- confiança jactanciosa derrubassem as minhas certezas que eram mais trémulas. Não se esqueçam de que vi muito mais vezes confirmado o meu direito de pensar e falar do que a maior parte das mu- lheres, e aprendi que uma certa dose de autoquestionamento é uma boa ferramenta para corrigir, compreender, escutar e evoluir, embora em demasia tenha um efeito paralisador, enquanto a autoconfiança a cem por cento gera idiotas arro- gantes. existe uma solução de compromisso entre estes dois
14 ReBeCCa^ S^ OlNIt
extremos para os quais os sexos foram empurrados, uma faixa equatorial amena, onde se dá e se recebe, e onde todos nós nos deveríamos encontrar. existem versões mais extremas da nossa situação, por exemplo, naqueles países do Médio Oriente onde o depoi- mento das mulheres não tem qualquer valor jurídico, de ma- neira que uma mulher só pode declarar que foi violada se tiver uma testemunha masculina para contrapor ao violador mas- culino – o que raramente acontece. a credibilidade é uma ferramenta básica de sobrevivên- cia. Quando eu era muito jovem e começava a perceber o que era o feminismo e porque é que era necessário, tive um namo- rado cujo tio era físico nuclear. Num Natal, ele contou – como se fosse um assunto leve e divertido – que a mulher de um vizinho da sua comunidade suburbana, um fabricante de bom- bas, tinha saído de casa a correr a meio da noite, a berrar que o marido estava a tentar matá-la. Perguntei-lhe como é que sa- bia que ele não estava realmente a tentar matá-la. Paciente- mente, explicou-me que se tratava de pessoas respeitáveis de classe média. Por conseguinte, a ideia de o marido estar a ten- tar matá-la não era uma explicação credível para ela fugir de casa a berrar que o marido estava a tentar matá-la. agora, se pensássemos que era louca… até para se obter uma providência cautelar – uma ferra- menta legal relativamente recente – é preciso dar mostras de credibilidade para convencer o tribunal de que determinado indivíduo constitui uma ameaça e, depois, conseguir que a po- lícia execute a ordem na prática. Verdade seja dita, as provi- dências cautelares raramente funcionam. a violência é uma maneira de silenciar as pessoas, de lhes negar a voz e a credi- bilidade, de um indivíduo afirmar que tem o direito de con- trolar o direito de elas existirem. Nos estados unidos, cerca de
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