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Guias e Dicas
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As coisas que os homens me explicam: Rebecca Solnit sobre a arrogância masculina, Notas de aula de Direito

Rebecca solnit descreve sua experiência com a arrogância masculina e a tendência dos homens de explicar coisas às mulheres, mesmo quando não são solicitadas. Ela discute como essa atitude pode ser prejudicial para as mulheres e como pode contribuir para a marginalização delas em vários contextos.

O que você vai aprender

  • Quais são as consequências da falta de escuta atenta às mulheres?
  • Por que alguns homens sentem a necessidade de explicar coisas às mulheres?
  • Como a credibilidade das mulheres pode ser impactada por essas atitudes?
  • Como a marginalização das mulheres pode ser perpetuada por atitudes arrogantes?
  • Como a arrogância masculina pode impactar as mulheres?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Havaianas81
Havaianas81 🇧🇷

4.6

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Rebecca Solnit
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Rebecca Solnit

as Coisas Que os Homens

Me explicam

Imagens de ana teresa Fernandez

tradução de tânia Ganho

Quetzal serpente emplumada | Rebecca Solnit

  • CaPítulO

Capítulo 1

as coisas que os homens me explicam

a INDa HOJe CONtINuO SeM PeRCeBeR porque a Sallie e eu nos demos ao trabalho de ir àquela festa na encosta florestada acima de aspen. as pessoas eram todas mais velhas do que nós e desinteressantes, ainda que ilustres, suficientemente ve- lhas para que nós as duas, na faixa dos quarenta, passássemos pelas jovens da festa. a casa era excelente – para quem gosta de chalés ao estilo Ralph lauren –, feita de madeira e com ar tosco, mas de luxo, a quase três mil metros de altitude, decora- da com armações de alces, montes de kilims e uma salamandra. Preparávamo-nos para ir embora, quando o nosso anfitrião dis- se: «Não vão, fiquem mais um pouco para eu conversar con- vosco.» era um homem imponente, que conquistara uma fortuna. Fez-nos esperar enquanto os outros convidados saíam e mergulhavam na noite estival e, em seguida, mandou-nos sentar a uma mesa de madeira genuinamente riscada de veios e, dirigindo-se a mim, disse:

  • então, ouvi dizer que escreveu um livro ou dois?
  • Vários, na verdade – respondi.
  • e são sobre o quê? – perguntou, no tom de quem incen- tiva a filha de sete anos de uma amiga a descrever as aulas de flauta.

Na realidade, os seis ou sete que já tinha publicado até en- tão eram sobre uma série de coisas diferentes, mas, naquele dia de verão de 2003, comecei a falar só sobre o mais recente, Ri- ver of Shadows: Eadweard Muybridge and the Technological Wild West , o meu livro sobre a destruição do tempo e do espaço e a industrialização da vida quotidiana. ele interrompeu-me assim que mencionei Muybridge.

  • Ouviu falar no livro muito importante sobre Muybridge que saiu este ano? eu estava tão imersa no papel de ingénua que me fora atribuído que aceitei sem questionar a hipótese de ter saído ou- tro livro sobre o mesmo tema, na mesma altura que o meu, e de isso me ter escapado de alguma maneira. entretanto, já ele me estava a falar sobre o tal livro muito importante, com aquele ar presunçoso que conheço tão bem nos homens quando se põem a perorar, de olhos fixos no ho- rizonte vago e distante da sua própria autoridade. Deixem-me só dizer que a minha vida está devidamente recheada de homens amorosos, que incluem uma longa suces- são de editores que, desde a minha juventude, me têm ouvido, incentivado e publicado, o meu irmão mais novo infinitamen- te generoso e amigos fantásticos de quem se poderia dizer
  • como o estudante dos Contos de Cantuária^1 , de que ainda me lembro das aulas do professor Pelen sobre Chaucer – que de bom grado querem aprender e de bom grado querem ensinar. Não obstante, também existe este outro tipo de homens. Portanto, estava o Sr. Muito Importante a discorrer presunçosamente so- bre o tal livro que eu tinha obrigação de conhecer, quando a Sallie o interrompeu:

12 ReBeCCa^ S^ OlNIt

(^1) Obra de Geoffrey Chaucer, considerado o pai da poesia inglesa, publicada pela primeira vez em 1475. (N. da T.)

o mundo não é delas. Faz-nos duvidar de nós próprias e au- toimpormo-nos limites, da mesma maneira que desenvolve a autoconfiança excessiva e injustificada dos homens. Não ficaria surpreendida se chegássemos à conclusão de que uma parte da trajetória da política norte-americana, desde 2001, foi moldada, por exemplo, pela incapacidade de dar ouvidos a Coleen Rowley, a agente do FBI que emitiu os pri- meiros avisos sobre a al-Qaeda, e foi indubitavelmente mol- dada por uma administração Bush à qual não se podia dizer nada, incluindo que o Iraque não tinha ligações à al-Qaeda nem armas de destruição maciça, ou que a guerra não ia ser «canja». (Nem os especialistas masculinos conseguiram entrar nessa fortaleza de presunção.) a arrogância poderá ter tido uma quota-parte de respon- sabilidade na guerra, mas esta síndrome é uma guerra que pra- ticamente todas as mulheres enfrentam todos os dias, uma guerra que se trava dentro delas, também, uma crença na sua superfluidade, um convite ao silêncio, uma guerra da qual uma carreira bastante simpática como escritora (com muita inves- tigação pelo meio e muitos factos corretamente alinhados) não me libertou por completo. No fim de contas, por um instante estive disposta a deixar que o Sr. Importante e a sua auto- confiança jactanciosa derrubassem as minhas certezas que eram mais trémulas. Não se esqueçam de que vi muito mais vezes confirmado o meu direito de pensar e falar do que a maior parte das mu- lheres, e aprendi que uma certa dose de autoquestionamento é uma boa ferramenta para corrigir, compreender, escutar e evoluir, embora em demasia tenha um efeito paralisador, enquanto a autoconfiança a cem por cento gera idiotas arro- gantes. existe uma solução de compromisso entre estes dois

14 ReBeCCa^ S^ OlNIt

extremos para os quais os sexos foram empurrados, uma faixa equatorial amena, onde se dá e se recebe, e onde todos nós nos deveríamos encontrar. existem versões mais extremas da nossa situação, por exemplo, naqueles países do Médio Oriente onde o depoi- mento das mulheres não tem qualquer valor jurídico, de ma- neira que uma mulher só pode declarar que foi violada se tiver uma testemunha masculina para contrapor ao violador mas- culino – o que raramente acontece. a credibilidade é uma ferramenta básica de sobrevivên- cia. Quando eu era muito jovem e começava a perceber o que era o feminismo e porque é que era necessário, tive um namo- rado cujo tio era físico nuclear. Num Natal, ele contou – como se fosse um assunto leve e divertido – que a mulher de um vizinho da sua comunidade suburbana, um fabricante de bom- bas, tinha saído de casa a correr a meio da noite, a berrar que o marido estava a tentar matá-la. Perguntei-lhe como é que sa- bia que ele não estava realmente a tentar matá-la. Paciente- mente, explicou-me que se tratava de pessoas respeitáveis de classe média. Por conseguinte, a ideia de o marido estar a ten- tar matá-la não era uma explicação credível para ela fugir de casa a berrar que o marido estava a tentar matá-la. agora, se pensássemos que era louca… até para se obter uma providência cautelar – uma ferra- menta legal relativamente recente – é preciso dar mostras de credibilidade para convencer o tribunal de que determinado indivíduo constitui uma ameaça e, depois, conseguir que a po- lícia execute a ordem na prática. Verdade seja dita, as provi- dências cautelares raramente funcionam. a violência é uma maneira de silenciar as pessoas, de lhes negar a voz e a credi- bilidade, de um indivíduo afirmar que tem o direito de con- trolar o direito de elas existirem. Nos estados unidos, cerca de

aS COISaS Q ue OS HOMeNS Me exPlICaM (^15)