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Redes de Informação e Poder: The Family e Privacidade Hackeada, Manuais, Projetos, Pesquisas de Comunicação

Neste documento, analisamos os documentários 'the family' e 'privacidade hackeada', que abordam diferentes momentos socioculturais relacionados às redes de informação e o poder que elas desempenham. O primeiro documentário investiga as relações sociais tradicionais de um grupo cristão conservador e sua influência na política americana. Juntos, eles apontam para a importância dos gigantes do poder na indústria e na tecnologia na disseminação de informação e ideias, e o papel fundamental que a comunicação e a informação desempenham na produção global.

O que você vai aprender

  • Qual é a importância da comunicação e da informação na produção global?
  • Quais são as relações sociais e políticas investigadas no documentário 'The Family'?
  • Como a Cambridge Analytica utilizou dados de usuários de redes sociais para influenciar eleições políticas?
  • Como a indústria e a tecnologia influenciam a disseminação de informação e ideias?
  • Quais são as implicações da globalização das sociedades e da divisão do mundo na disseminação de informação?

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Vasco_da_Gama
Vasco_da_Gama 🇧🇷

4.7

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IntercomSociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação VIRTUAL a 10/12/2020
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REDES DE MANIPULAÇÃO: A invisibilidade de algoritmos e intangibilidade da fé
nos documentários The Family e Privacidade Hackeada
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Roberta Scórcio Maia TAFNER
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Escola Superior de Propaganda e Marketing, São Paulo, SP
RESUMO
Há muito o capitalismo utiliza formas para explorar e manipular os movimentos sociais
e culturais de cada época. Os documentários The Family e Privacidade Hackeada têm
momentos socioculturais diferentes: o primeiro apresenta e investiga as relações sociais
tradicionais de um grupo cristão conservador e sua influência na política americana; o
segundo, apresenta o caso Cambridge Analytica e a utilização de dados de usuários de
redes sociais para a disseminação de mensagens políticas nas eleições dos EUA de 2018.
Esses documentários são base para refletir a legitimação do poder por meio da
intangibilidade da fé e da invisibilidade dos algoritmos sob a ótica do Capitalismo. Dos
autores: Bakhtin, Canclini, Carrascoza, Hardt e Negri Marx, Lotman, Morozov, Ortiz,
Peres-Neto, Sennett e Srnicek, Toffler, Van Dijck e Weber.
PALAVRAS-CHAVE: comunicação e consumo; capitalismo; produção e tecnologia
O CENÁRIO
As estruturas de poder do mercado mundial estão em constante movimento no que
diz respeito a informação e a comunicação e desempenham um papel fundamental no
processo de produção global em diferentes frentes de negócios que envolvem não a
cultura do consumo, mas também a política. Não pretendemos embarcar no viés político
e partidário, mas sim, nas questões dos gigantes do poder da indústria e da tecnologia às
redes de informação. Contudo, não devemos esquecer, “que o marketing passa a ser a
essência da política”, como afirma Sennett (2008), em “que truques sedutores da
publicidade são usados para comercializar ideias e personalidades: da mesma forma que
a publicidade não torna difícil as coisas para o consumidor, o político trata de facilitar o
ato de sua própria compra” (SENNETT, 2008, p. 126).
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Trabalho apresentado no GP Comunicação e Cultura Digital, XX Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação,
evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
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Doutoranda em Comunicação e Práticas de Consumo do PPGCOM. Professora no Curso de Graduação em
Publicidade e Propaganda da ESPM-SP. E-mail: rscorcio@espm.br.
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43 º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10 / 12 /20 20 REDES DE MANIPULAÇÃO: A invisibilidade de algoritmos e intangibilidade da fé nos documentários The Family e Privacidade Hackeada^1 Roberta Scórcio Maia TAFNER^2 Escola Superior de Propaganda e Marketing, São Paulo, SP RESUMO Há muito o capitalismo utiliza formas para explorar e manipular os movimentos sociais e culturais de cada época. Os documentários The Family e Privacidade Hackeada têm momentos socioculturais diferentes: o primeiro apresenta e investiga as relações sociais tradicionais de um grupo cristão conservador e sua influência na política americana; o segundo, apresenta o caso Cambridge Analytica e a utilização de dados de usuários de redes sociais para a disseminação de mensagens políticas nas eleições dos EUA de 2018. Esses documentários são base para refletir a legitimação do poder por meio da intangibilidade da fé e da invisibilidade dos algoritmos sob a ótica do Capitalismo. Dos autores: Bakhtin, Canclini, Carrascoza, Hardt e Negri Marx, Lotman, Morozov, Ortiz, Peres-Neto, Sennett e Srnicek, Toffler, Van Dijck e Weber. PALAVRAS-CHAVE: comunicação e consumo; capitalismo; produção e tecnologia O CENÁRIO As estruturas de poder do mercado mundial estão em constante movimento no que diz respeito a informação e a comunicação e desempenham um papel fundamental no processo de produção global em diferentes frentes de negócios que envolvem não só a cultura do consumo, mas também a política. Não pretendemos embarcar no viés político e partidário, mas sim, nas questões dos gigantes do poder da indústria e da tecnologia às redes de informação. Contudo, não devemos esquecer, “que o marketing passa a ser a essência da política”, como afirma Sennett (2008), em “que truques sedutores da publicidade são usados para comercializar ideias e personalidades: da mesma forma que a publicidade não torna difícil as coisas para o consumidor, o político trata de facilitar o ato de sua própria compra” (SENNETT, 2008, p. 126). (^1) Trabalho apresentado no GP Comunicação e Cultura Digital, XX Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do 4 3 º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. (^2) Doutoranda em Comunicação e Práticas de Consumo do PPGCOM. Professora no Curso de Graduação em Publicidade e Propaganda da ESPM-SP. E-mail: rscorcio@espm.br.

43 º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10 / 12 /20 20 Marx (1993) entende que a organização da sociedade capitalista e sua estrutura social, é dividida em infraestrutura e superestrutura, no processo de acumulação capitalista. Assim, se refere à superestrutura como fruto de estratégias dos grupos dominantes para a consolidação e perpetuação de seu domínio. Para isso, demandam ora o uso da força, ora a da ideologia, estabelecendo nela uma forma de legitimar o uso da força, na tática de tornar certas ideias como verdadeiras e aceitas pela sociedade, sendo elas, criada pela classe dominante de acordo com seus interesses. Enquanto Canclini (2020) destaca “o papel dos processos culturais como cenas de persuasão e negociação entre dominantes e dominados”. (CANCLINI, 2020, p. 82, tradução nossa)^3. Neste sentido, grupos dominantes da superestrutura, imbuídos de ideologia, estão vinculados a uma produção espiritual que na compreensão de Weber (2004) trata-se de um capitalismo em termos estritamente econômicos e materiais, “o espírito do capitalismo”, ou seja, o capitalismo enquanto espírito é cultura - a cultura capitalista moderna. Eric Sandin (2018) já denomina como “tecnocapitalismo”, a respeito das questões que estão reformulando processos socioeconômicos e culturais. Em sintonia, fatores atuais nos levam à reflexão, já que devido ao crescimento das novas Tecnologias da Informação e da Comunicação - TICs, a força produtiva das redes e a sua capacidade de pulverização, nos apresenta antigos questionamentos sobre quem determina o que será consumido, quem será dominado e quem será dominante numa esfera global. Assim, a desterritorialização deixa de ser uma tendência defendida para ser uma realidade, principalmente pelo fato de que a “produção é ainda mais pronunciada nos processos de trabalho imaterial, que envolvem o manuseio de conhecimento e informação” (HARDT E NEGRI, 2004, p, 316). Sendo possível incorporar aqui o significado do Bilinguismo Cultural que envolve a capacidade de absorção entre fronteiras apresentada por Lotman ( 1996 ), como o ambiente em que vivenciamos na atualidade, pois se misturam a uma ordem social, ou seja, o tecido social que apresenta o fato sócio-ideológico como uma visão de mundo (BAKHTIN, 2009). Ao mesmo tempo, nesta ordem social e ideológica que Lotman (1996) afirma haver um “jogo” de transmissão de informação, marcado pelo “intercambio de informação”, numa reciprocidade mútua, Assim, a desterritorialização somada ao (^3) No original: destaca el papel de los procesos culturales como escenas de persuasión y negociación entre dominadores y dominados.

43 º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10 / 12 /20 20 O PERCURSO Para a realização deste artigo, utilizamos uma abordagem que visa entender, descrever e explicar os fenômenos sociais de modos diferentes, através da análise de experiências individuais e grupais, exame de interações e comunicações que estejam se desenvolvendo assim como da investigação de documentos (textos, imagens, filmes ou músicas) ou traços semelhantes de experiências e integrações (FLICK, 2009). Nesta investigação utilizamos materiais audiovisuais como recurso para reflexão, inclinando- nos para um estudo exploratório, como primeiro passo para nos aproximarmos de campo sobre o qual não detemos conhecimento suficiente (COLLIS; HUSSEY, 2005). Sendo assim, optamos como procedimento técnico pela pesquisa de ex-post-facto que, de acordo com Fonseca (2002), consiste na investigação a partir de fatos passados (FONSECA, 2002 , p. 32). Portanto, no presente artigo a investigação se dará por analisar dois documentários, exibidos em 2019, na plataforma líder mundial (ao menos no Ocidente) de streaming , a Netflix. Sendo eles, o primeiro no formato de série com 5 episódios, The Family – Democracia Ameaçada; e o outro, no formato de filme documentário, The Great Hack - Privacidade Hackeada, pela possibilidade de compararmos em tempo-espaço fatos relatados nestes documentários e as relações de poder no cenário capitalista em que estão inseridos. Iniciando este estudo com a representação gráfica no esquema apresentado pela Figura 01. Figura 01 - Representação gráfica do estudo Fonte: Elaboração Própria_._

43 º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10 / 12 /20 20 O PODER DA FÉ A série The Family - Democracia Ameaçada ( THE FAMILY ..., 2019), baseado nos livros A Família: O Fundamentalismo Secreto no Coração do Poder Americano e C Street: A Ameaça Fundamentalista à Democracia Americana , de Jeff Sharlet, examina a história de um grupo cristão conservador – conhecido como Família ou Irmandade (Confraria) e investiga sua influência na política americana. A Confraria, criada em 1935, por Abraham Vereide nos EUA, foi idealizada por um grupo empresarial dominante em função de circunstâncias estritamente econômicas e materiais. Composta por representantes de 19 indústrias, que se reuniam com intuito de defender suas riquezas e a erradicar os sindicatos, cuja atuação era marcada por confrontos, violência e repressão, particularmente organizando a Grande Greve da Costa Oeste de 1934, depois da paralização geral de quatro dias de São Francisco e a Terça-feira Sangrenta , todas no mesmo ano. Este grupo dominante articulava novas estratégias com a finalidade de produzir e disseminar ideias que legitimavam as ações do Estado em prol dos seus interesses. O poder e os interesses deste grupo, portanto, incidem diretamente nas relações estabelecidas na cultura do novo capitalismo defendida por Sennett (2008), já que colocam em acordo o fato de que a democracia exige mediação e discussão face a face. Assim, Vereide iniciou nos anos 1930, em Seattle (USA), um evento anual que pretendia, ao menos explicitamente, reunir a elite política, social e de negócios para orarem juntos. Esse evento ficou conhecido como National Prayer Breakfast. Em 1953, já em Washington, D.C., o evento tomou grandes proporções quando o presidente dos EUA, Dwight D. Eisenhower, compareceu a convite do então congressista, Abraham Vereide. Esses eventos, contavam com a presença de diversos participantes relevantes nas esferas política e econômica, permitindo acesso e interações com outros atores igualmente relevantes nessas esferas. Pouco depois e surgindo desta estratégia, o discípulo de Vereide, Doug Coe, assumiu a frente da Confraria tomando como base os “dogmas do calvinismo”, cunhados pela doutrina da predestinação. Neste contexto de fé e predestinação por meio da Confraria e da criação do National Prayer Breakfast, observa-se a intertextualidade na inversão de valores, que dá voz aos discursos que geram embate e confrontos, já que tomado pela fé, o sujeito se sentia uma “ferramenta” de Deus, especialmente ancorado na palavra “Jesus” operada pela verdadeira fé (WEBER, 2004). Utilizando-se de uma linguagem que atravessava

43 º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10 / 12 /20 20 domina tudo” (MARX, 1991, p. 122 ). No documentário em análise, a formação de “uma plataforma política, como acontece no mundo dos negócios, também centralizam cada vez mais o poder” (SENNETT, 2008, p.144). A legitimação deste poder se apresenta municiada pelo poder da arma, a palavra “Jesus”, endossada pelos gigantes do poder global e estrategicamente colocada no contexto, de forma intangível, como signo social universal. A implicação deste signo social universal e a sua representação, vinculada ao “movimento de globalização das sociedades” e também a uma “divisão de mundo” em um universo simbólico, é marcado pela cultura mundializada como um fenômeno social (ORTIZ, 2007, p. 30). Em qualquer sociedade e em qualquer período “há um sistema central de práticas, significados e valores que podemos chamar especificamente de dominante e eficaz” (WILLIAMS, 2011b, p.53). Com isso, tanto as corporações como os governos e seus líderes dependem da legitimação da sua própria dominação, através da universalização dos significados e valores de uma classe em relação ao conjunto da sociedade, como se pode observar no documentário. O PODER DO DADOS No filme documentário Privacidade Hackeada (PRIVACIDADE..., 2019), apresenta o caso da empresa britânica de consultoria especializada em análise de dados, Cambridge Analytica, que teve suas atividades encerradas em maio de 2018 após o escândalo mundialmente conhecido e divulgado pelas mídias, e aborda o quanto os processos de modernização e industrialização transformaram e redefiniram todos os elementos do plano social, em que “a sociedade tornou-se fábrica” (HARDT E NEGRI, 2004, p. 307). Tendo como chave o capitalismo de plataforma onde a cooperação coletiva e o conhecimento se tornam uma fonte de valor, na medida em que “o capitalismo avançado passou a se concentrar na extração e no uso de um tipo particular de matéria- prima: os dados” (SRNICEK, 2017, p. 23, tradução nossa)^5. No documentário, é possível observar o poder das gigantes de tecnologia envolvidas por grupos e líderes políticos espalhados pelo mundo, atuando com “novas formas de produção dentro das redes do novo mercado mundial, sob domínio da produção informatizada de serviços” (HARDT e NEGRI, 2004, p. 309); em que a maioria dos (^5) No original: century advanced capitalism came to be centred upon extracting and using a particular kind of raw material: data.

43 º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10 / 12 /20 20 serviços de fato se baseia na permuta contínua de informação e conhecimentos, como sendo trabalho imaterial. Para Nick Srnicek (2017) este “processo de trabalho é cada vez mais imaterial, orientado para o uso e manipulação de símbolos e afetos” (SRNICEK, 2017, p. 22, tradução nossa)^6 , como notaremos no decorrer desta análise. O Facebook entra nesse contexto representando a gigante da tecnologia, como ator central do escândalo, ao disponibilizar aplicativos de testes de personalidade desenvolvidos pela Cambridge Analytica , baseados nos algoritmos do Aplicativo MyPersonality , por sua vez, desenvolvido pela Universidade de Cambridge; e ao permitir que os dados fossem utilizados para fins diversos do objetivo do teste e, principalmente, compartilhados com terceiros, na medida em que a interação dos usuários permitiam a obtenção de informações e clusterização dos dados^7 por essa empresa de análise de dados, para uso de seus diversos clientes, em particular, campanhas políticas, como a de Donald Trump, nas eleições majoritárias norte americanas de 2018. Diante destes fatos o capitalismo de plataforma abrange “infraestruturas digitais”^8 (SRNICEK, 201 7) e permitem que “dois ou mais grupos interajam e se posicionem como intermediários que reúnem diferentes usuários: clientes, anunciantes, prestadores de serviços, produtores e fornecedores” (SRNICEK, 2017, p. 22, tradução nossa)^9. “O chamado escândalo da Cambridge Analytica , trata da utilização de dados massivos sobre o comportamento on-line de usuários do Facebook com fins políticos por uma empresa parceira da maior rede digital do mundo” (BARROS e PERES-NETO, 2019, p. 165). De acordo com Hardt e Negri (2004, p. 319) “no auge da produção contemporânea, a informação e a comunicação são verdadeiras mercadorias produzidas; a rede, em si, é o lugar tanto na produção quanto da circulação”. Assim, ao se pensar nos aplicativos que circulam, como a exemplo do MyPersonality, é possível compreender que por meio de nossas relações com objetos, sejam bens de consumo ou não, nos comunicamos e através dessa comunicação e de nossa percepção do mundo, compartilhamos uma cultura em comum, ou seja, o sentimento de pertencimento social (^6) No original: process is increasingly immaterial, oriented towards the use and manipulation of symbols and affects. (^7) Análise de agrupamento, ou clustering, é o nome dado para o grupo de técnicas computacionais cujo propósito consiste em separar objetos em grupos, baseando-se nas características que estes objetos possuem. (LINDEN, R. Revista de Sistemas de Informação da FSMA n. 4 (2009) p. 18-36) (^8) No original: digital infrastructures (^9) No original: two or more groups to interact and they position themselves as intermediaries that bring together different users: customers, advertisers, service providers, producers, suppliers, and even physical objects.

43 º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10 / 12 /20 20 Nesse sentido, a informação, advinda dos dados individuais dos consumidores seria ativos intangíveis, endossadas pelos gigantes da tecnologia global estrategicamente colocados de forma fortuita na rotina dos usuários, em que dialogicamente, no documentário tratam da complexidade que envolve a privacidade dos dados, para a reflexão de que a “informação-consentimento não é capaz de dar conta da infinidade de problemas que se verifica o novo contexto de vida em rede” (PERES-NETO, 2018, p. 30). Logo, a tendência deste capitalismo tecnológico dominado pelas gigantes do poder imprime o “surgimento da desconfiança pós-moderna diante de tudo o que seja remotamente consolidado – de imediato percebido como corrupto e a serviço de interesses escusos”. (MOROZOV, 2018, p.19). O INVARIÁVEL CAPITALISTA Sempre fomos, em maior ou menor grau, afetados pelo poder, seja qual for o ponto inicial de análise, tanto pela invisibilidade e intangibilidade que nos cerca, quanto pelo poder do discurso sendo utilizado como arma em nome de “Jesus”, e mais, pela atual invisibilidade dos algoritmos - “dados” também utilizados como armas. É importante destacar que os dois documentários analisados nos colocam “diante do bom e velho capitalismo, com a tendência de transformar tudo em mercadoria, mas com anabolizantes” (MOROZOV, 2018, p. 22). Como visto, a indústria, seja ela qual for (de produção de bens materiais ou da tecnologia), por meio de grupos dominantes, os chamados gigantes da indústria, exerceram seu poder ao utilizar os aparatos que tinham ao seu dispor para manipular, preferencialmente de forma invisível – e mais eficaz, as suas vontades e interesses. Neste ponto, o poder das redes de informação, potencializa a sua eficácia, na medida em que reforça a comunicação desenvolvida com esse objetivo. A tendência da desterritorialização da produção que invade o manuseio de conhecimento e informação, beneficiam as redes de informação à produção das coações territoriais, na medida em que tendem a abreviar o contato entre produtor e consumidor, independente da distância entre eles. Neste caminho, as gigantes da tecnologia - GAFA (CANCLINI, 2019) - exercem crescente influência sobre como as sociedades são organizadas através do ecossistema da plataforma. Para Van Dijck (2018) estes gigantes da tecnologia fazem parte de uma sociedade de plataforma em que:

43 º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10 / 12 /20 20 “seus serviços de infraestrutura estabelecem padrões tecnológicos, determinam modelos econômicos e orientam a atividade do usuário para o ecossistema como um todo, moldando a interação entre plataformas setoriais, instituições sociais, empresas e cidadãos-consumidores”. (VAN DIJCK, 2018, p. 46 tradução nossa)^11. Bill Gates, cofundador da Microsoft Corporation, leva esta tendência ao extremo quando prevê um futuro no qual as redes de informação vão superar inteiramente as barreiras à circulação e permitir o surgimento de um capitalismo ideal, “livre de atritos”: “A superestrada da informação ampliará o mercado eletrônico e fará dele o intermediário definitivo, o revendedor universal” (GATES, apud HARDT e NEGRI, 2004, p. 317). Se a visão de Gates se materializar, as redes tenderiam a reduzir todas as distâncias e a tornar as transações imediatas, reforçando a tendência à desterritorialização e agilidade nas negociações. Mas Srnicek (2018) alerta, que estas gigantes da tecnologia “estão longe de serem meras proprietárias de informações, essas empresas estão se tornando donas das infraestruturas da sociedade” (SRNICEK, 2018, p. 47, tradução nossa)^12. Portanto, as tendências monopolizadoras dessas plataformas devem ser levadas em consideração em qualquer análise de seus efeitos na economia em geral. Diante dos cenários que investigamos nos documentários, Canclini (2020) nos alerta, para mais reflexões, que “talvez estejamos enfrentando uma transferência de poder simulada: assim como os capitalistas a designaram a mão invisível do mercado, os dadaístas acreditam na mão invisível do fluxo de dados” (CANCLINI, 2020, p. 88, tradução nossa).^13 É possível observar que a questão central em ambos passa pelas redes de informação, contudo o meio de transmissão da mensagem ideologicamente construída, sob a ótica de Marx (1993), se diferencia em cada um deles. Isso reflete, basicamente, o contexto histórico de cada documentário e a respectiva influência das TICs na sociedade em cada um desses momentos. Em The Family, a manipulação ocorre pessoalmente, através de uma comunicação de marketing direto 1:1, em torno de uma rede de interesses subsidiados pela fé. A ideologia, portanto, está invisivelmente inserida sob a tutela da fé Cristã e exercida em (^11) No original: Their infrastructural services set technological standards, determine economic models, and steer user activity for the ecosystem as a whole, shaping the interaction between sectoral platforms, societal institutions, companies, and citizen-consumers. (^12) No original: Far from being mere owners of information, these companies are becoming owners of the infrastructures of society. (^13) No original: Quizá estemos ante una simulada transferencia del poder: así como los capitalistas lo asignaban a la mano invisible del mercado, los dataístas creen en la mano invisible del flujo de datos.

43 º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10 / 12 /20 20 CARRASCOZA, J.A. A lógica Produtiva da publicidade num conto de Primo Levi. Revista Comunicação & Inovação , PPGCOM/USCS, v.16, n.32 (27-40), set-dez, 2015. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. HARDT, Michael.; NEGRI, Antonio. Império. 6ª. ed. - Rio de Janeiro: Record, 2004. HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2011. LOTMAN, Iuri M. La Semiosfera: Semiótica de la cultura y del texto. Vol.I, Valéncia, Frónnesis Cátedra Universitat de Valéncia, Madrid: Ed. Cátedra, 1996. MARX, Karl. A ideologia alemã. 9ª ed. São Paulo: Hucitec, 1993. MARX, K. “Introdução à crítica da economia política” (p. 109-131). In: MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo: Nova Cultural, 1991 Coleção Os pensadores. METCALFE, R. Metcalfe’s law after 40 years of ethernet. Computer, IEEE , v. 46, n. 12, p. 26– 31, 2013. MOROZOV, Evgeny. Big Tech - A ascensão dos dados e a morte da política. São Paulo: Ubu Editora, 2018. ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 2007. PERES-NETO, Luiz. "Éticas comunicação e consumo: um mapa para pensar os desafios da privacidade em rede". In: PERES-NETO, Luiz. BOTELLA i CORRAL, Joan. Éticas em rede. Políticas de Privacidade e Moralidades Pública. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2018. PRIVACIDADE Hackeada (The Great Hack - orig.). Direção: Karim Amer, Jehane Noujaim. Produção: Karim Amer, Jehane Noujaim. Intérprete: Carole Cadwalladr, David Carroll, Brittany Kaiser. Roteiro: Karim Amer, Erin Barnett. USA: Netflix , 2019. Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/80117542. Acesso em: 23 set. 20 20. RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999. SENNETT, Richard. A cultura do novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2008. SRNICEK, Nick. Platform capitalism. Cambridge: Polity, 2017. THE FAMILY - Democracia Ameaçada. Direção: Jesse Moss. Produção: Alex Gibney, Stacey Offman, Richard Perello, Jeff Sharlet. Intérprete: James Cromwell,David Rysdahl,Ben Rosenfield. Roteiro: Jesse Moss. Fotografia de Thorsten Thielow. USA: Netflix , 2019. Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/80063867. Acesso em: 30 set. 20 20. TOFLER, Alvim. A terceira onda. Rio de Janeiro: Record, 2001. VAN DIJCK, José; POELL, Thomas; DE WAAL, Martijn. The platform society : public values in a connected world. Oxford: Oxford University Press, 2018 WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras,

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