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Questões de gênero no Becco do Cotovelo, Resumos de Antropologia

dos frequentadores do Becco do Cotovelo na cidade de Sobral/CE. ... No Brasil há algumas músicas que têm a pedofilia como temática central: Baba baby,.

Tipologia: Resumos

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Revista de
@ntropologia
da UFSCar
Questões de gênero no Becco do Cotovelo:
desafios metodológicos
Antonia Maria Rodrigues Laureano Carneiro
Mestra em Sociologia/Universidade Estadual do Ceará (UECE)
Resumo
No presente estudo desenvolvo reflexões sobre o trabalho etnográfico a partir das
relações entre a pesquisadora e seus(as) interlocutores(as). Discuto as dificuldades de
imersão da pesquisadora em um espaço, evidenciando as relações de gênero. Proponho
tecer algumas considerações sobre minhas escolhas metodológicas no estudo empírico
dos frequentadores do Becco do Cotovelo na cidade de Sobral/CE.
Palavras-chaves: Becco do Cotovelo; Gênero; Etnografia; Subjetividade.
Abstract
In this study I develop reflections about the ethnographic study from the relationship
between the researcher and the interlocutors. I discuss the difficulties of immersion of
the female researcher in a space highlighting gender relations. I propose to make some
considerations on my methodological choices in the empirical study of goers in Becco do
Cotovelo in the city of Sobral/Ceará.
Keywords: Elbow Street; Gender; Ethnography; Subjectivity.
Introdução
Neste trabalho proponho tecer algumas reflexões sobre minhas escolhas metodoló-
gicas no estudo empírico dos frequentadores do Becco do Cotovelo na cidade de Sobral/
CE. Deixando-me ser conduzida pelos achados empíricos fui direcionada a compreender
como são as formas e vivências entre os beccianos e as beccianas, questões estas susci-
tadas em minha dissertação de mestrado Gênero e política: etnografia visual no Becco do
Cotovelo.1
1 Dissertação de Mestrado em Sociologia na Universidade Estadual do Ceará, defendida em 29 de abril de
2016.
R@U, 8 (1), jan./jun. 2016: 113-130.
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Revista de

@ntropologia

da UFSCar

Questões de gênero no Becco do Cotovelo:

desafios metodológicos

Antonia Maria Rodrigues Laureano Carneiro Mestra em Sociologia/Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Resumo

No presente estudo desenvolvo reflexões sobre o trabalho etnográfico a partir das relações entre a pesquisadora e seus(as) interlocutores(as). Discuto as dificuldades de imersão da pesquisadora em um espaço, evidenciando as relações de gênero. Proponho tecer algumas considerações sobre minhas escolhas metodológicas no estudo empírico dos frequentadores do Becco do Cotovelo na cidade de Sobral/CE.

Palavras-chaves : Becco do Cotovelo; Gênero; Etnografia; Subjetividade.

Abstract

In this study I develop reflections about the ethnographic study from the relationship between the researcher and the interlocutors. I discuss the difficulties of immersion of the female researcher in a space highlighting gender relations. I propose to make some considerations on my methodological choices in the empirical study of goers in Becco do Cotovelo in the city of Sobral/Ceará.

Keywords : Elbow Street; Gender; Ethnography; Subjectivity.

Introdução

Neste trabalho proponho tecer algumas reflexões sobre minhas escolhas metodoló- gicas no estudo empírico dos frequentadores do Becco do Cotovelo na cidade de Sobral/ CE. Deixando-me ser conduzida pelos achados empíricos fui direcionada a compreender como são as formas e vivências entre os beccianos e as beccianas, questões estas susci- tadas em minha dissertação de mestrado Gênero e política: etnografia visual no Becco do Cotovelo.^1

1 Dissertação de Mestrado em Sociologia na Universidade Estadual do Ceará, defendida em 29 de abril de

R@U, 8 (1), jan./jun. 2016: 113-130.

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Sendo pesquisadora e mulher, pontuarei algumas questões observadas em um espaço predominante masculino. Esses achados empíricos nortearam o direcionamento da pes- quisa e me fizeram refletir sobre questões de gênero, questões de subjetividade e afetivi- dade, sentimento estes que me chamaram atenção por serem contrários à ideia de objeti- vidade científica (Weber 2003). Para a pesquisa de mestrado foram feitas entrevistas estruturadas e semiestruturadas com 10 homens de idade entre 50 e 90 anos e 5 mulheres entre 20 e 60 anos. Além das entrevistas foi feita pesquisa empírica de julho de 2014 a setembro de 2015. Os espaços que se destacam pelo maior fluxo de movimentação, principalmente masculina, são o Café Jaibaras e o Café Flora. Ambientes estes marcados por intensa aglomeração de homens (no Café Jaibaras a maior movimentação é pela manhã, e no Café Flora, pela tarde). Para compreendermos melhor as relações representadas no Becco do Cotovelo vamos mergu- lhar um pouco no contexto citadino em questão.

“Beccianos e “beccianas”: caminhos que se cruzam

Descendo pela rua Cel. José Sabóia, que se inicia na Praça de Cuba, em direção à parte sul da Cidade, passa-se pela Igreja do Rosário em direção ao Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Banco Itaú e Caixa Econômica. Encontra-se, portanto, entre essas instituições bancárias o Becco do Cotovelo. Ao parar entre o Banco do Brasil e o Banco do Nordeste, vê-se à esquerda o Becco do Cotovelo. Constitui, portanto, um calçadão que se entende por toda a sua extensão. Uma rua estrei- ta, com postes de iluminação centrais e bancos de madeira no contorno das bases elétricas, oferecendo um pouco de descanso aos pedestres e visitantes menos apressados. As pessoas transitam nesse espaço a pé, sendo proibido o tráfego de quaisquer transportes, inclusive, os ciclistas têm que atravessar o Becco do Cotovelo empurrando suas respectivas bicicletas. Paralelamente às lojas laterais no calçadão há vendedores ambulantes, dentre os quais dois vendedores de livros usados e revistas eróticas se encontram diariamente no Becco: Felizardo Figueiredo, que chegou ao Becco há 30 anos, e Jorge Albuquerque Silva, há mais de 40 anos no Becco. Gabriel, pintor de quadros e tatuador também se faz presente no espaço citadino do Becco do Cotovelo. Este vende quadros e tem o chão como seu assento diário. Passa as manhãs pintando um e outro quadro, representando nestes a natureza. Os quadros se caracterizam por casas, plantas, sol, nuvens e o mar. No Becco do Cotovelo, o Café Jaibaras e o Café Flora são considerados pontos de en- contro para os sobralenses se informarem sobre os últimos acontecimentos da cidade. No Café Flora, os assuntos mais eminentes são referentes a jogos e campeonatos, pois o proprietário do estabelecimento, Luis Torquato, foi técnico do Guarany Sporting Club de Sobral. Conquanto, no outro extremo do Becco, no Café Jaibaras, sob a chefia do radialista Expedito Vasconcelos e sua esposa Lourdinha Vasconcelos, o assunto que reina naquele espaço é a política, seja local, regional, nacional ou até internacional. O Becco, situado no centro da cidade de Sobral, perto dos Bancos e dos principais comér- cios, carrega consigo uma importância histórica, cultural e social para a cidade de Sobral.

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O Becco do Cotovelo surgiu no século XVIII a partir da construção de casas não plane- jadas no Largo do Rosário, onde atualmente está situada a Igreja de Nossa Senhora do Ro- sário. A formação de duas ruas laterais constitui o quarteirão de forma triangular, sendo o ápice, portanto, iniciado na Praça do Rosário e sua hipotenusa encontra-se na Avenida Dom José. Em 1824, na cidade de Sobral, foi nomeado o advogado português Antonio Joaquim de Moura para alinhar as ruas que poderiam surgir a partir daquela data, com o intuito de que a “Villa” se tornasse mais alinhada e organizada, para que se cumpra “huma perfeita regula- ridade e simetria no alinhamento e divizões das ruas, se torne nossa Villa mais formosa e offereça mais agradável perspectiva” (Frota 1995: 446). Sobral, àquela época, apresentava certos desníveis em relação à regulamentação das ruas. Apesar da tentativa de tornar os trechos mais nivelados, ainda hoje há exemplos de vias disformes. O Becco do Cotovelo é um destes exemplos, pois apresenta uma simetria não linear. Foi exatamente na sessão da Câmara de Sobral em 20 de abril de 1830 que o Coronel José Sabóia solicitou que a Câmara nominasse todas as ruas, como também todas as casas. A partir do pedido do Cel. José Sabóia foi denominada, em 1842, a rua Becco do Cotovelo. A denominação Becco com dois “cês” é oriunda da influência portuguesa na cidade que, por- tanto, preserva a tradição até os dias atuais.

Sobral e a “sobralidade”

A cidade de Sobral situa-se na zona Noroeste do estado do Ceará, a 235 km de Fortale- za, localiza-se entre o rio Acaraú e a Serra da Meruoca. Foi instituída como município em 1841 e hoje é considerada uma das cidades mais importantes no Estado. Abriga várias empresas de porte médio, como a empresa Grendene e a Fábrica de Ci- mentos, a Moageira Serra Grande, dentre outras. É a quarta economia do Estado, antece- dida apenas por Fortaleza, Maracanaú e Caucaia. Os pontos turísticos desta cidade são o Arco do Triunfo, o Pelourinho de Sobral, o Museu do Eclipse, o Museu Dom José Tupinambá da Frota, a Casa da Cultura de Sobral, o Colégio Santana de Sobral e o Becco do Cotovelo. Este último é considerado o coração da cidade, por se encontrar no centro da cidade como também pela sua importância para os sobralenses. O Becco do Cotovelo tem uma importância singular para os sobralenses, pois é conside- rado o “Corredor Cultural”, ponto de difusão e enaltecimento da “sobralidade” por parte de seus frequentadores assíduos. A cidade de Sobral tem uma identidade formada pela elite sobralense que se expressa em um sentimento de glória e mérito por ter sido uma cidade habitada por portugueses e hoje ser considerada uma das maiores economias do Estado. Essa identidade baseia-se a partir da construção da “sobralidade”, pensamento coletivo com base em recordações his- tóricas sobre a cidade, bem como a projeção atual e futura do desenvolvimento econômico e cultural. O termo “sobralidade”, segundo Freitas: Baseia-se em um processo elaborado pela elite da Cidade, direcionado para a construção de uma autoconsciência coletiva expressa em um dis-

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curso ufanista, no qual a memória se reúne numa mobilização de desejo pelo futuro promissor, tentando construir uma unidade ou constância no tempo vivido, projetando esta unidade como necessidade para gerações futuras (Freitas 2000: 102). Esta cidade é conhecida por sua “opulência e tradição”. A identidade sobralense é res- saltada pela elite local que se envaidece da “memória do triunfo e riqueza do passado” (Freitas 2000: 30) e se utiliza do termo “sobralidade” com o intuito de ressaltar a impor- tância desta cidade e de sua história a partir da construção de uma identidade de perten- cimento e reconhecimento dos sobralenses como pessoas de relevante importância que têm consigo o símbolo de nobreza (Paula 2012).

Aos sábados, acontece no Becco do Cotovelo o programa “Show do Ivan Frota: a voz do Becco”. Esse evento foi organizado pela Associação Amigos do Becco (AABC) liderada por Expedito Vasconcelos (prefeito do Becco), Chico Prado e Ivan Frota, integrantes da Asso- ciação. O programa se realiza neste espaço há dez anos, sendo transmitido ao vivo pelos programas de rádio local, Rádio Regional e Rádio Tupinambá.

Figura 3 Programa do Ivan Frota aos sábados. Neste outdoor há a referência sugestiva do Becco do Cotovelo como o Corredor Nacional da Democracia.

Fonte: arquivo pessoal.

O “Show do Ivan Frota” se realiza ao lado do Café Jaibaras, na parede lateral do Banco do Nordeste. Tendo início às nove horas da manhã e término às onze horas, é presidido pelo radialista Ivan Frota, acompanhado e direcionado pela população que queira falar, opinar sobre alguma obra pública, violência, política, entre outros enfoques que fazem parte da vida citadina de Sobral. Alguns homens têm fala garantida no programa: o prefeito do Becco, Expedito Vasconcelos, o advogado da prefeitura e membro da AABC, Chico Prado.

Eventualmente, artistas alegravam o lugar e o programa com músicas ao vivo. Artis- tas locais, convidados para tocar e cantar, como o saxofonista Benedito Ferreira Linhares, conhecido como “O Koreano do Sax”. Doravante, há ainda, ocasionalmente, no período de execução do Programa, sorteios de brindes e cestas básicas, rifas para aqueles que assistem ao programa do início ao fim.

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espaço. Olhos curiosos me observavam a todo instante. Fofocas surgiram e entoaram as bocas dos frequentadores. “Estaria ali em busca de maridos?”, “qual seria o meu predile- to?”, “olha, ela fala com todos os homens!”. Dúvidas e questionamentos surgiram. Questio- naram sobre meu estado civil, a minha família, se já tinha filhos, se gostava de estar casada. Um indagou, quando afirmei que era casada: “muitas mulheres que fizeram o mestrado se separaram”, citando, inclusive, algumas professoras conhecidas como forma de dar mais entonação e sentido ao que havia falado.

Por fim, passado esse momento de transição e de estranhamentos recíprocos, fui aceita, pela minha insistência diária em frequentar o espaço. Certo dia, ao chegar no Becco, um dos homens que frequentava diariamente o lugar disse: “Você já tá virando uma becciana!”. O termo “becciana” é uma categoria nativa, referida a mim pelos frequentadores do Becco do Cotovelo.

Becciano... os frequentadores do Becco, os frequentadores do Becco a gen- te chama becciano. O Cid é, o pai dele era becciano, vinha todas as semanas, o Dr. José Euclides [pai do Cid] vinha três vezes por semana aqui, mesmo sendo prefeito. Então becciano é esse, aquela pessoa que passa, toma um cafezinho, bate um papo (Luís Torquato, entrevista feita em 12 set. 2015). Pode-se perceber, a partir da fala do entrevistado Luís Torquato que a palavra becciano é usada para se referir unicamente a homens. Estes que por sua vez passam algumas horas do dia trocando informações. E nesse esforço imagético de lembranças Luís Torquato faz referência a figuras masculinas que se faziam presentes no Becco do Cotovelo, como o Cid Ferreira Gomes e o conhecido Dr. José Euclides Ferreira Gomes. É importante lembrar que as lembranças são remetidas a homens de destaque para a história de Sobral; em con- traposição, os homens comuns não são lembrados nesse momento. Esquecidas também nesse processo de construção da memória e da história do Becco do Cotovelo estão as mu- lheres, estas que por muito tempo foram impedidas de se fazerem presentes neste lugar.

Quando pergunto sobre as mulheres, as “beccianas”, o entrevistado faz uma pausa e menciona a mãe do Cid Ferreira Gomes, enfatizando sua educação e seu respeito às pessoas. Segundo Luís Torquato, Maria José Ferreira Gomes era uma becciana, pois quando leciona- va na escola Sant’Ana, situada no centro da cidade de Sobral, tinha o costume de tomar um cafezinho no Becco do Cotovelo.

Tem, [becciana] com menos frequência tem, mas aqui e acolá apare- ce alguma, né. É menos frequente. [Ser becciana] seria mais ou menos a mesma coisa [ficar diariamente no Becco conversando], mas aparece, não é com muita frequência, mas aparece, não é com a mesma frequên- cia que tem os homens, mas aparece. Na verdade de momento não tô lembrando, porque tem as pessoas que trabalham, as pessoas que traba- lham eu não considero, porque trabalham, vem com o dever de oficio, né, mas tem umas pessoas que não lembro bem o nome que frequentavam, frequentam, não tô lembrando assim o nome (Amadeu Pereira, entrevis- ta feita em 25 ago. 2015). Segundo o entrevistado Amadeu Pereira, existem mulheres que são consideradas beccianas, porém, não são tão conhecidas por ele quanto os beccianos, por isso a vaga

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lembrança de nomes. Há também uma divisão entre quem é becciano e quem trabalha no Becco: as pessoas que trabalham não são consideradas beccianas pois vão por obri- gação, como ele mesmo fala “dever de ofício”. Neste sentido, quem seriam os beccianos e/ou beccianas? Os beccianos seriam aquelas pessoas aposentadas que estariam ali pelo prazer das vivências? E as mulheres? Existiriam beccianas? Se a única becciana foi Maria José Ferreira Gomes, podemos dizer que não existem beccianas no Becco do Cotovelo? Como denominaríamos as mulheres que trabalham no Becco? Quais os atributos sociais e morais necessários para alguém ser denominado de becciano(a)? Essa diferenciação estaria ancorada na posição social que as mulheres ocupam neste espaço social? Enquanto Maria José, pertencente a uma família favorecida economicamen- te, foi denominada de becciana, embora não permanecendo por muito tempo no espaço, as mulheres que ali trabalhavam, que passavam os dias no espaço, não eram lembradas enquanto pertencentes ao grupo. Por serem de uma condição social desfavorecida, de fa- mílias desconhecidas, por terem uma vida regrada pelo trabalho braçal (atendente, zela- dora, vendedora)? Enfim, seria esta a separação entre os pertencentes e os excluídos do grupo de beccianos(as)? São esses os questionamentos que faço e fiz quando me chamaram, pela primeira vez, de “becciana”. Fui considerada uma “becciana”, devido à minha frequência em comparecer no espaço, já podia ser considerada “do lugar”. Essa expressão, em me identificar com o lugar, implica a aceitação e familiarização deles para comigo. Assim, há uma diferenciação entre os transeuntes que passam e aqueles que vivenciam e fazem a vida social e cultural do Becco do Cotovelo. Ao ouvir esta afirmação, fiquei atônita, com o sentido que ela carregava e carrega. O que é se sentir do grupo? Quais significados teria que compartilhar? Quais atributos seriam a mim direcionados? Seria considerada pertencente ao grupo de “beccianos” e “beccianas”? Quem tem o poder de determinar quem é transeunte e quem é “becciano(a)? Ao falarmos em “becciana”, nos remetemos a um sentimento de pertença, de reconhe- cimento e de valorização do lugar. Ou seja, implica que os frequentadores mantêm laços de sociabilidades. Assim, ser becciano(a) é sinal de pertença a um lugar específico, comparti- lhamento de determinado tipo de linguagem e valores sociais entre algumas pessoas. Para tanto, compreende-se o espaço como forma de se atualizar das fofocas da cidade, criando e recriando signos de pertença e identificação com o ser becciano(a). No entanto, como poderia me sentir pertencente a um grupo masculino de “beccia- nos”? Seria eu a única mulher neste grupo? E onde estariam as mulheres do Becco do Cotovelo? As “beccianas”? Elas existem? Reflito sobre as relações tecidas entre a pesquisadora e seus(suas) interlocutores(as) em campo na construção do processo de desenvolvimento da pesquisa. A subjetividade da pesquisadora foi “afetada” Favret-Saada (2005) e despertada para a condição de ser mu- lher (Cioccari 2009) e estar “adentrando” e alterando um ambiente predominantemente masculino quando meus interlocutores, os “beccianos”, me interrogavam sobre minhas reais intenções de estar ali, espaço visto por muitos homens para mostrar suas garras de conquistador, seja narrando aos frequentadores os feitos amorosos ocorridos, seja bus- cando conquistas amorosas ou levando suas conquistas ao espaço para que todos vejam e se certifiquem.

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Porém, não se limita apenas à mulher, mas discute também questões masculinas, pois as mulheres não estão separadas destes, muito ao contrário, há uma interdependência entre ambos, isto é, falar em gênero nos remete tanto à mulher quanto ao homem. “Gêne- ro, como substituto de mulheres, é igualmente utilizado para sugerir que a informação a respeito das mulheres é necessariamente informação sobre os homens, que um implica no estudo do outro” (Scott 1989: 3). O estudo de gênero implica compreender como se diferenciam os papéis sociais atribuídos tanto ao homem quanto à mulher e como essas relações são construídas e permeadas no cotidiano. Cabe ressaltar as relações de gênero no Becco do Cotovelo como forma de compreender as representações dos papéis do ho- mem e da mulher. O processo de transcender o estar lá, de objetivar os dados apreendidos no campo e fazer uma “descrição densa” (Geertz 2008) do campo de pesquisa passa por muitos ritos e transformações até chegar ao produto final. Angústias, medos, incertezas, são muitas as preocupações e transtornos acometidos e causados nesta tarefa de analisar, transcrever e escrever a vida do “outro”, mas também, e talvez seja o mais difícil, perceber essa relação entre o(a) pesquisador(a) e o(a) interlocutor(a) e suas relações construídas e descons- truídas durante o processo de pesquisa. As angústias e medos são mais intensos quando o “outro” não faz parte de seu convívio rotineiro. É nesse momento de iniciação, de transição entre ser um mero transeunte ou alguém que vai mudar a configuração do espaço, seja em conversas e insinuações masculi- nas, seja em uma simples foto ou filmagem, que se percebe a profundidade da tarefa do(a) antropólogo(a), de observar e ser observado(a), interrogar e ser também questionado(a), e estes insights são mais intensos quando a pesquisadora é uma mulher que “adentra” este ambiente masculinizado (Cioccari 2009; Fonseca 2014). Iniciei minha incursão no campo entre final de julho e início de agosto de 2014, período este que antecedia o processo eleitoral para eleger os representantes políticos. Estava no “tempo da política” (Palmeira 1992) e devido a esse período fui confundida como “cabra eleitoral”, desse ou daquele partido, mas também como jornalista. A presença feminina, a minha particularmente, foi observada, questionada e estranha- da. Por ser mulher, com um caderno à mão, anotando os acontecimentos, por não fazer parte dos acontecimentos “normais” do espaço. A minha timidez se misturou à esperteza dos galanteadores e sedutores do espaço. Foram inúmeros as insinuações, convites e pro- postas para me conhecer mais intimamente até que eles se acostumassem e realmente acreditassem que estava fazendo um trabalho acadêmico (acredito que até hoje tem al- guns homens que ainda duvidam da necessidade de estar ali). Quando iniciei meu trabalho de campo fui com aliança na mão esquerda, o que sim- bolizava que era casada. Questionaram a minha naturalidade, e quando falei que era de Meruoca, cidade serrana próxima a Sobral, um senhor, Paulo Passos, disse: “Esqueça prá lá, é daqui [Sobral] pra diante, a civilização é daqui pra frente”. Quando ele falou essas palavras, comecei a refletir a importância conferida à cidade de Sobral e a consequente desvalorização em relação às demais cidades interioranas. Deu a entender que a cidade de Sobral, apesar de não ser litorânea, é o início da civilização, e, portanto, as demais cidades circunvizinhas são consideradas inferiores e de menor prestígio. Lembrou-me de diferen- tes concepções hegemônicas que construímos. Provavelmente, as pessoas de Fortaleza

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se consideram mais “civilizadas” do que as de Sobral. Entretanto, Sobral reproduz essa hegemonia perante os outros municípios, os quais considera inferiores.

Mesmo usando aliança, eram constantes os convites e galanteios. São muitas as refle- xões que fiz em meu diário de campo sobre a angústia sentida no período de adaptação (tanto meu, como pesquisadora, quanto de meus interlocutores).

O Becco do Cotovelo é um espaço predominantemente masculino e devi- do a este fato a pesquisadora, por ser mulher, tem que superar vários em- bates e obstáculos construídos nas relações com os beccianos. A mulher, vista como uma personagem que não pertence a este espaço de discussão política e busca de interesse econômico, representa uma personagem in- conveniente, avaliada apenas a partir de suas características sexuais. Re- cebi galanteios e propostas de vários homens que conversei. Tentei buscar na vestimenta uma forma de distanciamento, de ocultação do corpo (se é que é possível), para que não ficasse provocativo, incitando assim ao desejo sexual, mas mesmo com esse “jogo de cintura” os inconvenientes aconteceram (diário de campo, 03 out. 2014). Preocupei-me com as roupas, como iria me apresentar sem ser provocativo e sensual. Assim, como Fonseca (2014), compreendi que determinados tipos de roupa poderiam dimi- nuir a sensação de desconforto perante os olhares e jogos de palavras e insinuações dirigidas a mim. Ao ir ao campo vestia uma calça comprida, uma blusa quase sempre frouxa e por cima um blazer, ou seja, não deixava à mostra meu corpo. Devido à minha repetição na roupa, um “becciano” chegou a me perguntar se aquela roupa era farda, devido ao uso frequente.

Em minhas primeiras idas a campo, isto é, nos meses que antecederam o período elei- toral, os beccianos tinham medo de falar de política, do Becco, de suas vidas, eles se re- cusavam. Somente depois do período eleitoral, foi que comecei a ser notada não como uma “cabra eleitoral”, mas como alguém que está fazendo um “livro”. Eram constantes as perguntas: “ainda não terminou?”; “ainda é o mesmo trabalho?”; “quando é que vai sair o livro?”; “Você vai publicar?”; “Você vai ser professora, né?”. Certo dia estava na Caixa Econômica Federal, situada próximo ao Becco do Cotovelo, quando alguém se aproximou por trás, quase a sussurros, e disse: “está fazendo empréstimo para publicar o livro?”.

A partir deste comentário sugestivo fiquei analisando o nível de cobrança e responsa- bilidade que recaía sobre mim. Estava ali, pesquisando, falando sobre eles e consequente- mente teria que dar algo em troca, não poderia simplesmente fazer meu trabalho e deixá-lo na academia sem que as pessoas que me ajudaram a escrever, sendo interlocutores(as), pudessem ler e opinar sobre ele.

Certo dia, mostrei meu trabalho de qualificação ao seu Amadeu Pereira e ao ler o título, “Becco do Cotovelo ser becciano e ser becciana: uma questão de gênero”, este me pergun- tou se o trabalho estava bom. Percebi que ele, ao ler o título, não entendeu muito bem o que significava e por isso a pergunta. Leu todas as informações da capa do trabalho em voz alta e deu bastante entonação quando leu o nome “Universidade Estadual do Ceará” e repetiu com entonação a palavra “UECE”, como se estivesse se certificando que realmente eu estava fazendo um trabalho acadêmico para uma Universidade. Essas dúvidas e incer- tezas quanto ao meu papel foram percebidas também quando este sugeriu para falar do

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O que percebemos é que os achados empíricos dependem do olhar relativizado e da subjetividade dos(as) pesquisadores(as). “O que proponho, arriscadamente, aqui, é pensar a diferença de interpretação como inerente à própria relação subjetiva que vai marcar in- delevelmente cada Trabalho de Campo, experiência marcada pela biografia individual de cada pesquisador” (Grossi 1992: 6).

Malinowski, imbuído de suas singularidades subjetivas e objetivas, descreveu o sis- tema de troca Kula em “Os Argonautas do Pacífico Ocidental”, partindo de um ambiente masculino, estando presente nas cerimônias e comemorações masculinas, local favorável e disseminador de suas descrições e análises sobre a vida dos homens Trobriandeses. Por outro lado, o Dala, sistema de troca entre as mulheres, não lhe foi percebido, deixando assim o legado a Anette Weiner em “A riqueza das mulheres”.

Desta forma, o campo empírico se mostra como lugar de construções e desconstruções de identidades e subjetividades. Segundo Grossi:

Alguns relatos de mulheres em campo mostram como elas vivenciaram e refletiram sobre o deslocamento permanente entre a própria identida- de, o eu e a identidade dos outros (homens e mulheres), redefinindo sua própria identidade de mulher, pesquisadora, engajada e não apenas de cientista neutro e assexuado (Grossi 1992: 8). Por muito tempo se buscou uma legitimidade e uma visibilidade do gênero. A mulher vista como ser invisível desvencilha esse tempo pretérito e ressignifica suas práticas e ati- tudes para a construção de um gênero visível na sociedade contemporânea. “O gênero se torna, aliás, uma maneira de indicar as construções sociais – a criação inteiramente social das ideias sobre os papéis próprios aos homens e às mulheres” (Scott 1989: 7).

E, no Becco do Cotovelo na cidade de Sobral, Ceará, Brasil, a mulher também teve sua invisibilidade assim como em muitos espaços públicos. Um lugar predominante masculino em que a mulher não era aceita. Essa não aceitabilidade não estava explícita em nenhuma lei ou norma municipal, mas estava ancorada no senso comum do povo sobralense de que o Becco era lugar de homem, da fofoca, do futrico e que, portanto, tais conversas masculinas não interessavam ao mundo feminino. Numa entrevista com um “becciano”, Amadeu Perei- ra, 58 anos, quando perguntei se há mais homens ou mais mulheres no Becco do Cotovelo, ele disse: “mais homens, bem mais homens [se encontram no Becco] devido à conversação. Aqui se fala muito sobre política, sobre futebol, muito sobre jogo, a loteria e tal, aí a mulher é mais, mais, os homens conversam mais sobre esses assuntos, mulher é mais outra coisa” (Amadeu Pereira, entrevista feita em 09 out. 2015).

O que podemos perceber é que o Becco do Cotovelo ainda é visto como lugar do homem, das conversas para homens, o que exclui a mulher, pois as conversas de mulher “é mais outra coisa”, não é política, não é futebol nem jogo, essas são conversas de homens. Mas, por outro lado, existem concepções que contradizem essa primeira fala, alegando que, atualmente, no Becco do Cotovelo está diferente; se a mulher era “totalmente discriminada” a passar no Becco, essa situação está se transformando, segundo Maria de Lourdes Vasconcelos:

Então pra mim faz grande diferença de hoje ser uma mulher que faz parte aqui do Becco, uma coisa que foi tão proibida nos anos... no início do sé- culo, até nos anos 60 que eu tinha acabado de nascer, 70, 80. A mulher era

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totalmente discriminada a passar no Becco. Na época você sabe que exis- tia um preconceito tudo sobre a mulher. Nós fomos conquistando muitas coisas que existiu esse preconceito tipo, porque o Becco hoje... eu acho até que depois que eu vim para cá ele mudou, tudo acontecia aqui, só tinha o Becco em Sobral, não tinha outro espaço de encontro para as pessoas, dos homens, principalmente, e naquela época os homens discriminavam mes- mo as coisas que as mulheres não podiam fazer, tipo, tá onde tinha muito homem, como é o caso do Becco que aqui era os corretores de imóveis, os corretores de carro, vinham vender gado, vinham fofocar mesmo, vinham cortar cabelo, então era só homem (Maria de Lourdes Vasconcelos, entre- vista feita em 12 out. 2015). No Becco do Cotovelo, nos anos 1960, 1970, “a mulher era totalmente discriminada”, portanto, era mais conveniente para elas que não passassem pelo corredor, local em que po- deria ser galanteada pelos inúmeros homens que ali se encontravam. A mulher não poderia estar em locais considerados “de homens”. “O Becco era o lugar do esculacho masculino ao sexo oposto” (Freitas 2000: 186), portanto, apenas as “garotas de programa” passavam e faziam seus trabalhos no espaço. O que aumentaria mais a resignação das mulheres consi- deradas “de família” a não frequentar o lugar. Outro fator que vem a confirmar essa ausência da mulher sobralense no Becco do Co- tovelo eram os eventos oferecidos nas quintas-feiras à noite, as chamadas “quintas sem lei” (Freitas 2000). O Bar Beth’s oferecia aos clientes consumidores cadeiras para descan- sar o corpo, uma música para relaxar e um ambiente alegre e animado com bebidas e possí- veis “garotas de programa”. Por um bom tempo, o Becco do Cotovelo manteve uma áurea assombreada sobre os habitantes que ali frequentavam, portanto, não seria aconselhável que moças e mulheres de “boa índole” passassem pelo local. Muito ao contrário, as mu- lheres que frequentavam o lugar, tanto à noite quanto pelo dia, eram pessoas que estavam interessadas em algum tipo de relação mais íntima com os homens do espaço. “Nós fomos conquistando muitas coisas”, e uma grande conquista é hoje “ser uma mu- lher que faz parte aqui do Becco”. O que se pode perceber a partir da fala da interlocutora é que, se hoje há mulheres que trabalham no espaço e sobrevivem de forma digna e “res- peitosa”, foi um conquista alcançada, segundo Maria de Lourdes Vasconcelos: a loja do Mistral, foto Mistral, a maioria lá, as meninas são mulheres que trabalham lá, eu acho que deve ter lá uns três a quatro homens, são duas lojas. Você pode ver que a maioria, a dona fica dentro, as filhas da dona e muitas funcionárias, e existem também as livrarias que têm muitas meni- nas trabalhando, já existem essas lojas, outras lojas todas têm mulheres, então eu acho que tá acabando isso, até porque eu acho que a mulher pode andar, sim, em todos os lugares, acabou essa história (Maria de Lourdes Vasconcelos, entrevista feita em 12 out. 2015). Podemos perceber, a partir da fala de Maria de Lourdes Vasconcelos, que atualmente no Becco do Cotovelo existem muitas mulheres que trabalham no espaço. Na Photo Mis- tral existem muitas mulheres, a proprietária do estabelecimento, a filha da proprietária, além de algumas funcionárias; percebe-se, portanto, que a figura feminina está ocupando

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Recebido em 02 nov. 2015. Aceito em 05 out. 2016.