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Comportamento baseado na dor: abordagem para trabalhar com crianças traumatizadas, Manuais, Projetos, Pesquisas de Crescimento

Este documento discute o comportamento difícil de crianças traumatizadas, utilizando o termo 'comportamento baseado na dor' para descrever o 'passar ao ato' e os processos internos como depressão. Apresenta as centrais de uma resposta útil ao comportamento da criança: acreditar e validar a experiência da criança, tolerar o efeito dela em nós, e gerir nossas próprias emoções. Além disso, discute as implicações de punições e recompensas, e a importância de modelar qualidades pro-sociais. O documento também aborda as consequências positivas e negativas do comportamento e a importância de ensinar, criar um clima de respeito mútuo, planejar preventivamente, e usar consequências naturais/lógicas.

O que você vai aprender

  • Qual é a importância de modelar qualidades pro-sociais para crianças traumatizadas?
  • Quais são as implicações de punições e recompensas para crianças traumatizadas?
  • Qual é a importância de acreditar e validar a experiência de uma criança traumatizada?

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Barros32
Barros32 🇧🇷

4.4

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PUNIÇÕES & RECOMPENSAS - CONSEQUÊNCIAS & DISCIPLINA
PATRICK TOMLINSON (2021)
(Traduzido por Maria João Braga da Cruz)
Introdução
Este breve artigo visa fornecer algum alimento (não necessariamente uma cenoura!) para
reflexão sobre este assunto interessante e complexo, de tamanha importância e continuamente
desafiante. É um dos temas em que é útil refletir regularmente, por muitos anos que tenhamos
estado a trabalhar nele.
Comportamento baseado na dor
O comportamento difícil das crianças traumatizadas é frequentemente referido como "acting
out" em português "partir para a ação" ou "passar ao ato". A ideia de "passar ao ato" implica a
pergunta - o que está a ser atuado? Anglin (2002) utiliza o termo 'comportamento baseado na
dor' para descrever o comportamento de "passar ao ato" e os processos internalizantes como a
depressão, que são frequentemente o resultado de desencadear esta dor internalizada. Isto
ajuda a deslocar o nosso foco para o significado subjacente ao comportamento.
O trabalho com crianças traumatizadas pode ser extremamente desafiante. Pode repercutir-se
na nossa história de uma forma que pode conduzir a sentimentos poderosos e, por vezes, a
emoções avassaladoras.
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PUNIÇÕES & RECOMPENSAS - CONSEQUÊNCIAS & DISCIPLINA

PATRICK TOMLINSON (2021)

(Traduzido por Maria João Braga da Cruz) Introdução Este breve artigo visa fornecer algum alimento (não necessariamente uma cenoura!) para reflexão sobre este assunto interessante e complexo, de tamanha importância e continuamente desafiante. É um dos temas em que é útil refletir regularmente, por muitos anos que tenhamos estado a trabalhar nele. Comportamento baseado na dor O comportamento difícil das crianças traumatizadas é frequentemente referido como "acting out" em português "partir para a ação" ou "passar ao ato". A ideia de "passar ao ato" implica a pergunta - o que está a ser atuado? Anglin (2002) utiliza o termo 'comportamento baseado na dor' para descrever o comportamento de "passar ao ato" e os processos internalizantes como a depressão, que são frequentemente o resultado de desencadear esta dor internalizada. Isto ajuda a deslocar o nosso foco para o significado subjacente ao comportamento. O trabalho com crianças traumatizadas pode ser extremamente desafiante. Pode repercutir-se na nossa história de uma forma que pode conduzir a sentimentos poderosos e, por vezes, a emoções avassaladoras.

Por conseguinte, deve haver um elevado nível de formação e apoio disponível para aqueles que realizam este trabalho qualificado e sensível. Os elementos centrais de uma resposta útil ao comportamento da criança são,

  • Acreditar e validar a experiência da criança
  • Tolerar o efeito da criança em nós
  • Gerir as nossas próprias emoções Punição e Recompensas As crianças traumatizadas estão frequentemente habituadas a ser castigadas e por razões que não conseguem compreender. Muitas vezes terão sido punidas e tratadas com dureza, de forma arbitrária, com base no estado de espírito do adulto e não no comportamento da criança. Para crianças traumatizadas e que têm sistemas hipersensível de resposta ao stress, as punições são muitas vezes suscetíveis de piorar a situação, aumentando os níveis de stress e reforçando uma visão negativa do mundo como um lugar hostil e impiedoso. Precisamos de modelar qualidades que contestem a visão negativa da criança sobre o mundo, ou, como John Bowlby (1969, 1973) descreveu, o modelo de funcionamento interno da criança. Perry e Szalavitz (2010, p.243) salientam, A punição não cria nem modela essas qualidades. Embora precisemos de estabelecer limites, se queremos que os nossos filhos se comportem bem, temos de os tratar bem. Uma criança criada com amor quer fazer felizes aqueles que a rodeiam porque vê que a sua felicidade também os faz felizes; não se limita a cumprir para evitar castigos. A abordagem da "cenoura e do pau" não tende a resultar com jovens que sofreram traumas infantis complexos (Perry e Szalavitz, 2010). Da mesma forma que o castigo é ineficaz, também um sistema baseado em recompensas o é. Ambos são uma tentativa de manipular a criança para que seja cumpridora e se comporte 'bem'. A questão chave aqui é a manipulação. Existe o risco de reforçar ainda mais as defesas da criança e de não se preocupar com os outros, pondo o foco na obtenção de uma recompensa ou evitando a dor do castigo. Uma criança cujo desenvolvimento tenha sido perturbado por um trauma ou experiências adversas e sinta pouca preocupação com os outros será melhor ajudada se, em primeiro lugar, sentir os cuidados e o amor dos outros. Depois, através do desenvolvimento de uma relação significativa, a criança começa a preocupar-se em não ferir um 'outro' valorizado. Donald Winnicott (1963) referiu-se

Alfie Kohn (1993) no seu livro apropriadamente intitulado "Punido por Recompensas": O Problema das Estrelas de Ouro, Planos de Incentivo, A's, Elogios, e Outros Subornos" , referiu-se a numerosos estudos em que os sistemas de punição e recompensa, ou mesmo a justa recompensa reduziram a motivação e o desempenho. Por exemplo, crianças a quem foi dado um doce como recompensa por se ter saído bem num teste pioraram no teste seguinte, em comparação com aqueles a quem não foi dado um doce. A mera sugestão de que a criança tem um motivo extrínseco que não o valor intrínseco no tema pode reduzir o seu interesse. Resumindo a mensagem chave do seu diz o livro Kohn (1994), "Nunca poderemos atingir os nossos objetivos a longo prazo fazendo coisas pelos estudantes, apenas trabalhando com eles. Recompensas, como punições, são formas de fazer as coisas pelas pessoas. E nessa medida nunca poderão ajudá-las a assumir a responsabilidade pelo seu próprio comportamento, a desenvolver um sentido de si próprias como pessoas atenciosas, a trabalhar o mais criativamente possível ou a tornarem-se aprendizes entusiasmados para o resto das suas vidas. As recompensas, tal como as punições, minam ativamente esses objetivos". Isto não significa que os adultos não devam ser claros e firmes sobre as suas expectativas em relação ao comportamento da criança, mas dentro disso, a criança precisa de espaço para resolver as coisas por si própria. Cuidadores e outros adultos que são calorosos e proporcionam expectativas claras e consistentes sobre o comportamento das crianças, também encorajam o desenvolvimento da consciência precoce (Eisenberg e Murphy, 1995; Kochanska,1991, 1993, 1995). A modelação de papéis pró-sociais desempenha um papel crucial para mostrar à criança um comportamento moralmente responsável. Reparação Como já foi dito, é útil ter expectativas claras sobre o que é um comportamento aceitável e o que não é. Quando uma criança ultrapassa uma linha, podemos ajudá-los a pensar sobre isso e encontrar formas de corrigir as coisas. Fazer reparações por algo doloroso ou nocivo que tenham feito, proporciona-lhes a experiência vital para o desenvolvimento de contribuir e corrigir (Dockar-Drysdale, 1953, Winnicott, 1963). Muitas crianças acreditam que os erros que cometem, ou o seu comportamento negativo, têm consequências catastróficas e duradouras. Aprenderam isto através da experiência. Uma

pequena transgressão pode ter resultado numa resposta severamente punitiva ou abusiva por parte de um cuidador. Em alguns casos, um comportamento difícil pode ter sido seguido por uma mudança importante, como por exemplo, ser retirado à família. A criança acredita frequentemente que é 'má' e responsável por tudo o que acontece. A capacidade de fazer reparações em vez de ser punida também exige que a criança tenha algum grau de empatia e preocupação pelos outros. Para as crianças que são tão emocionalmente subdesenvolvidas, pode levar bastante tempo até que o possam fazer. Para mostrar preocupação e cuidar dos outros, em primeiro lugar, precisam de ter a experiência de serem cuidados. Podemos também encorajar o desenvolvimento da empatia discutindo com a criança, o seu comportamento e como este pode fazer sentir os outros. Perry e Szalavitz (2010, p.313) sugerem, Encorajar a empatia, a disciplina pelo raciocínio, a tomada de perspetiva, a consistência das consequências apropriadas e, acima de tudo, o amor. Continuam (p.314), Se ensinar as crianças a comportarem-se usando a razão, será mais provável que estas se tornem razoáveis. Dockar-Drysdale (1953, p.7) argumentou no seu artigo, "Alguns Aspetos do Dano e Restituição", que uma abordagem punitiva pode mesmo prejudicar o potencial da criança para desenvolver uma capacidade de preocupação para com os outros, Sugiro que a punição não só antecipa como dificulta e provavelmente bloqueia o processo natural de reparação, impedindo assim o processo posterior pelo qual a criança pode dirigir para canais construtivos os sentimentos hostis que levaram à culpa e à necessidade de fazer a reposição. As crianças traumatizadas estão familiarizadas com serem castigadas, humilhadas e magoadas. Castigar uma criança destas, é suscetível de desencadear na sua memória estas experiências, causando-lhe raiva e ressentimento para com quem quer que seja que o esteja a castigar. Um adulto competente precisa de adotar uma abordagem sem juízos de valor. Esta abordagem é mais centrada no trabalho de modificação do comportamento pró-social, em vez de culpar a pessoa. A isto tem-se chamado, "desafiar o comportamento, não a pessoa" (Barton, Gonzalez e Tomlinson, 2011). Ajuda mais transmitir a mensagem de que é o comportamento que consideramos inaceitável, e não a pessoa.

nos como é fácil para a utilização das consequências deslizar para uma forma disfarçada de castigo, Algumas pessoas parecem pensar que se lhes chamarmos "consequências" ou se inserirmos o modificador "lógico", então está tudo bem. "Consequências lógicas" é um exemplo do que eu chamo de "castigo light", uma forma mais amável e gentil de fazer coisas às crianças em vez de trabalhar com elas. No entanto, usadas de forma útil, as consequências em vez do castigo, podem ser vistas como uma forma de disciplina, mostrando e ensinando as crianças a comportarem-se, proporcionando um clima de respeito mútuo, onde os problemas são vistos como oportunidades de aprendizagem e crescimento. As crianças são apoiadas para aprenderem com os seus erros através de consequências naturais e lógicas. A autodisciplina tem mais possibilidade de crescer a partir daí. Redshaw et al. (2012, p.44) descrevem as diferenças entre disciplina e punição, Qualidades da Disciplina

  • Ensinar
  • Um clima de respeito mútuo
  • Os problemas são oportunidades
  • Planeamento preventivo – uma atenção e um enfoque proactivo na prevenção de problemas
  • Consequências naturais/lógicas, discutidas com as crianças
  • Razões para os standards
  • Exige responsabilidade
  • Ensina valores de cuidado, controlo por valores interiores
  • Adultos como orientadores e mentores De acordo com Laursen (2003), um dos principais objetivos da disciplina é o de ... proporcionar um ambiente seguro e consistente onde as crianças possam aprender regras razoáveis, limites e consequências, bem como as razões para os mesmos. Qualidades de Punição
  • Infligir dor, penalizar, causar perda, sofrimento, tratar de uma forma áspera e severa
  • Deve respeitar os que estão no poder
  • Os problemas requerem punição
  • Resposta reativa
  • Consequências arbitrárias, inconsistentes
  • Fá-lo porque eu o disse
  • Exige obediência
  • Ensina o cumprimento das regras
  • Adultos como governantes
  • Controlado por execução externa A Necessidade de nos Gerirmos a Nós Próprios No trabalho com crianças traumatizadas (como na parentalidade) pode, por vezes, haver uma sensação de se estar sem saber o que fazer. Quando isto se mistura com emoções fortes, tais como zanga, raiva, ansiedade, medo, pode haver uma reação para se fazer algo e sentir-se em controlo. Por muitas razões, incluindo a experiência da nossa própria infância, podemos sentir- nos legitimados em castigar a criança. Podemos sentir que temos tem de fazer algo para criar uma mudança positiva. O conceito de castigo e recompensa pode ser sedutor nestes momentos. Uma ação punitiva pode proporcionar algum alívio para o adulto e dar uma impressão de fazer a diferença, por mais curto que seja o seu tempo de vida. Para além de considerarmos os assuntos discutidos neste artigo centrados na criança, precisamos também de assegurar que existem formas de os adultos envolvidos processarem os seus sentimentos, de se sentirem apoiados, e de serem capazes de dar um passo atrás. Tal como nas histórias das crianças, é provável que as respostas mais punitivas e inúteis ocorram quando os adultos estão "no limite da tensão da sua corda". References Anglin, J. (2002) Pain, Normality, and the Struggle for Congruence: Reinterpreting Residential Care for Children and Youth, New York: The Haworth Press Inc. Barton, S., Gonzalez, R. and Tomlinson, P. (2011) Therapeutic Residential Care for Children and Young People: An Attachment and Trauma-informed Model for Practice, Jessica Kingsley Publishers Bowlby, J. (1969) Attachment, Attachment and Loss Series. vol. 1. Harmonsworth: Penguin

Kochanska, G. (1995) Children’s Temperament, Mothers’ Discipline, and Security of Attachment: Multiple Pathways to Emerging Internalization, in Child Development 66:597- 615 Laursen, E. (2003) Principle-centered Discipline, in Reclaiming Children and Youth 12(2): 78- 82 Perry, B.D. and Szalavitz, M. (2006) The Boy who was Raised as a Dog: And Other Stories from a Child Psychiatrist’s Notebook, New York: Basic Books Perry, B.D. and Szalavitz, M. (2010) Born for Love: Why Empathy is Essential and Endangered, New York: HarperCollins Perry, B. (2016) Child Trauma and Neglect, Conference, Tralee, Ireland, 30th September Redshaw, S. et al. (2012) The Therapeutic Residential Care Program: Practice Paper, Mercy Family Services: Queensland, Australia Winnicott, D.W. (1963) The Development of the Capacity for Concern, in, The Maturational Processes and the Facilitating Environment, London and New York: Karnac Books (1990)