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Psicologia Social e trabalho: perspecivas críicas
Tipologia: Provas
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Organizadores
Maria Chalfin Coutinho Odair Furtado Tânia Regina Raitz
Coordenação Ana Lídia Campos Brizola Andrea Vieira Zanella
Psicologia Social e trabalho: perspecivas críicas
Organização Maria Chalin Couinho Odair Furtado Tânia Regina Raitz
UFSC/CFH/NUPPE
Florianópolis
Diretoria Nacional da ABRAPSO 2014- Presidente: Aluísio Ferreira de Lima Primeiro Secretário: Marcelo Gustavo Aguilar Calegare Segundo Secretário: Leandro Roberto Neves Primeira Tesoureira: Deborah Chrisina Antunes Segunda Tesoureira: Renata Monteiro Garcia Suplente: Carlos Eduardo Ramos Primeira Presidenta : Silvia Taiana Maurer Lane (gestão 1980-1983)
ABRAPSO Editora Ana Lídia Campos Brizola Cleci Maraschin Neuza Maria de Faima Guareschi
Conselho Editorial Ana Maria Jacó-Vilela – UERJ Andrea Vieira Zanella - UFSC Benedito Medrado-Dantas - UFPE Conceição Nogueira – Universidade do Minho - Portugal Francisco Portugal – UFRJ Lupicinio Íñiguez-Rueda – UAB - Espanha Maria Lívia do Nascimento - UFF Pedrinho Guareschi – UFRGS Peter Spink – FGV
Edições do Bosque Gestão 2012- Ana Lídia Campos Brizola Paulo Pinheiro Machado
Conselho Editorial Arno Wehling - UERJ e UNIRIO Edgardo Castro - Universidad Nacional de San Marín, Argenina Fernando dos Santos Sampaio - UNIOESTE, PR José Luis Alonso Santos - Universidad de Salamanca, Espanha Jose Murilo de Carvalho - UFRJ Leonor Maria Cantera Espinosa - Universidad Autonoma de Barcelona, Espanha Marco Aurélio Máximo Prado - UFMG
II
Psicologia social e trabalho: perspecivas críicas
Assédio moral no trabalho: compreendendo algumas consequências
Suzana da Rosa Tolfo, João Cesar Fonseca e Thiago Soares Nunes Psicologia Social do Trabalho e Educação: uma discussão a parir da literatura espanhola recente (^) 172 Moacir Fernando Viegas
Autogestão e “Gestão de Pessoas”: desaios e possibilidades para desenvolvimento de um sistema a parir dos princípios da economia solidária (^) 194 Maria das Graças de Lima Psicologia e formação dos/as trabalhadores/as de empreendimentos econômicos solidários (^) 215 Marilene Zazula Beatriz e Maria Luisa Carvalho A consciência social dos trabalhadores metalúrgicos das empresas de inovação tecnológica do Grande ABC (^) 231 Antônio Fernando Gomes Alves e Salvador Antonio Mireles Sandoval Impasses da relação entre trabalho e gestão na contemporaneidade e suas formas de sofrimento capazes de conduzir à morte voluntária (^) 254 Fernando Gastal de Castro
Contribuições da Psicologia Organizacional e do Trabalho para a implantação de uma políica pública de atenção à saúde do trabalhador (^) 270 João César de Freitas Fonseca, Suzana da Rosa Tollfo, Thales de Bessa Marques dos Santos e Greice Viana Marins
Sobre os autores, organizadores e coordenadoras 288
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
A coleção
Práicas Sociais, Políicas Públicas e Direitos Humanos reúne tra- balhos oriundos do XVII Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social - ABRAPSO, realizado na Universidade Federal de Santa Catarina em outubro de 2013. Comemorando 30 anos, ao realizar esse evento que aliou ensino, pesquisa e atuação proissional em Psicologia Social implicada com o debate atual sobre problemas sociais e políicos do nosso país e sobre o coidiano da nossa sociedade, a ABRAPSO reairmou sua resistência políica à cristalização das insituições humanas.
A ABRAPSO nasceu compromeida com processos de democraiza- ção do país, a parir de uma análise críica sobre a produção de conheci- mento e atuação proissional em Psicologia Social e áreas ains. O hori- zonte de seus ailiados é a construção de uma sociedade fundamentada em princípios de jusiça social e de solidariedade, compromeida com a ampliação da democracia, a luta por direitos e o acolhimento à diferença. Nossas pesquisas e ações proissionais visam a críica à produção e repro- dução de desigualdades, sejam elas econômica, racial, étnica, de gênero, por orientação sexual, por localização geográica ou qualquer outro as- pecto que sirva para oprimir indivíduos e grupos. Os princípios que orien- tam as práicas sociais dos ailiados à ABRAPSO são, portanto, o respeito à vida e à diversidade, o acolhimento à liberdade de expressão democráica, bem como o repúdio a toda e qualquer forma de violência e discrimina- ção. A ABRAPSO, como parte da sociedade civil, tem buscado contribuir para que possamos de fato avançar na explicitação e resolução de violên- cias de diversas ordens que atentam contra a dignidade das pessoas.
Os Encontros Nacionais de Psicologia Social promovidos pela ABRAP- SO consistem em uma das estratégias para esse im. Foi um dos primeiros eventos nacionais realizados na área de Psicologia (em 1980) e se caracte- riza atualmente como o 3º maior encontro brasileiro de Psicologia, em nu- mero de paricipantes: nos úlimos encontros congregou em média 3. paricipantes e viabilizou a apresentação de mais de 1.500 trabalhos.
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Psicologia Social do Trabalho em dois tempos
Maria Chalin Couinho
De que modo a Psicologia Social tem dialogado com trabalho? Gos- taria de releir sobre essa questão desde o ponto de vista laino-ameri- cano e, para tanto, situo esse diálogo em dois tempos: origens e pensa- mento contemporâneo. Na impossibilidade de fazer um resgate histórico exausivo elegi como representaivo do pensamento de uma Psicologia Social Laino-americana ainda nascente o texto de Ignácio Marin-Baró “Psicología Políica del Trabajo en America Laina”. Para o segundo tempo retomo outros dois textos sobre a temáica do trabalho presentes na co- letânea comemoraiva de 30 anos da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO): Stecher (2011) e Sato (2011).
O texto de Marin-Baró (1989), originalmente uma conferência pro- ferida em Porto Alegre^1 a qual eu ive o privilégio de assisir, quesiona a tradicional imagem de indolente do trabalhador laino-americano. Para compreender a construção histórica dessa imagem estereoipada, o autor caracteriza a situação laboral laino-americana em três eixos: divisão dis- criminante do trabalho; marginalização e desemprego maciço e dinâmica de exploração e repressão. A releitura desse quadro elaborado há tanto por Marin-Baró, mas ainda tão atual, mostra a importância de olhar para as peculiaridades dos modos de trabalhar com os quais lidamos em nos- sos fazeres como psicólogos sociais.
(^1) A conferência de Marin-Baró “Psicología Políica del Trabajo en América Laina” foi proferida durante o 1º Encontro Nacional de Psicologia do Trabalho organizado pelo Conselho Federal de Psicologia em junho de 1988 e, posteriormente, publicada na Revista de Psicología de El Salvador.
Psicologia social e trabalho: perspecivas críicas
A parir de sua compreensão sobre a situação laboral laino-ameri- cana, Marin-Baró (1989) discute dois enfoques psicológicos do trabalho: individualista e sistêmico. Esses enfoques foram tradicionalmente condi- cionados por: secundarização do âmbito do trabalho (análises centradas na dinâmica familiar); adesão à perspeciva dos setores no poder (patrão, proprietário etc.) e adoção do modelo médico (saúde laboral concebida como saúde mental, enquanto estado individual e quase orgânico). O au- tor analisa como os dois enfoques lidam com a situação laboral laino- -americana, considerando os três eixos acima mencionados. Assim, o enfoque individualista explica os problemas que caracterizam nossas situ- ações de trabalho como decorrentes de diiculdades pessoais. Já o enfo- que sistêmico, centrado nas organizações sem considerar suas conexões com a sociedade na qual se inerem, compreende as diiculdades de nosso coidiano de trabalho como consequências do atraso tecnológico ou mes- mo de problemas culturais.
Sem rechaçar os conhecimentos oriundos dos enfoques tradicio- nais, porém quesionando suas deiciências, Marin-Baró (1989) propõe o enfoque da Psicologia Políica, o qual, quando aplicada ao trabalho, “sig- niica um estudo dos comportamentos laborais enquanto ariculações da ordem social e, portanto, das forças sociais” (p. 19). Uma tal psicologia deve, de acordo com o autor, estar atenta aos aspectos críicos de nossa situação laboral, de modo a compreender os setores marginalizados, dis- criminados, explorados, entre outros, não como objetos, mas como su- jeitos sociais. Essa atenção supõe a valorização de formas alternaivas de realização laboral, tendo em vista o contexto e as caracterísicas do povo laino-americano, bem como requer a superação da visão tradicional de saúde mental, deslocando-a de um estado individual para uma concepção social, centrada nos vínculos e nas relações sociais.
A leitura de Marin-Baró (1989) se colocava como inovadora por propor uma aproximação do olhar e do fazer da psicologia com o trabalho como efeivamente acontece, sem se prender a modelos prontos, oriun- dos de outros contextos, ou mesmo tentar psicologizar a realidade social. Desse modo o autor se aproxima das peculiaridades e diversidades dos modos de trabalhar que nos são próximos. Ao tomar o trabalho como categoria de análise, Marin-Baró (1989) se situa entre aqueles para quem não é possível compreender os sujeitos e os processos de subjeivação que os consituem sem analisar seus modos de trabalhar.
Psicologia social e trabalho: perspecivas críicas
e dentro dos mundos do trabalho na América Laina” (p. 222). Assim, o autor pontua os riscos associados a extrapolar essas teses para nossos países, considerando que, em geral, foram construídas a parir de outros contextos (Europa e Estados Unidos da América) e toma como referên- cia as especiicidades e heterogeneidades laino-americanas para airmar que o trabalho ainda é central para a vida dos trabalhadores da região. Por im, Stecher (2011) considera importante releir criicamente sobre essas teses e, em vez de aceitá-las ou rechaçá-las, propõe considerá-las como hipóteses de trabalho, desde que “usadas em estudos de caso especíicos e com as indispensáveis mediações conceituais que exige o paricular tra- jeto à modernidade da América Laina” (p. 227).
Tomando como pano de fundo o trabalho nos espaços urbanos, Sato (2011) focaliza as “proissões ignoradas”, para destacar formas criaivas de trabalho associadas a esforços por sobrevivência. A autora refere-se a situações ignoradas por uma psicologia que “tem privilegiado o estudo do trabalho dos setores modernos da aividade econômica sob relação de as- salariamento na média e grande empresa, dedicando pouca atenção aos estudos sobre o trabalho criado pelos segmentos pobres da população” (Sato, 2011, p. 234).
Na direção acima apontada, Sato (2011) menciona situações de tra- balho observadas por ela na feira livre, bem como outros estudos com de- sempregados, vendedores ambulantes, no âmbito da Economia Solidária e todo um conjunto de aividades praicadas por pessoas dos segmentos pobres, que comporiam o chamado setor informal. A parir daí a auto- ra problemaiza a dicotomia formal/informal e aponta o debate sobre o tema em outras disciplinas, como a economia e a sociologia, já que a psi- cologia tradicionalmente desconhece o campo das informalidades.
Sato (2011) visita algumas concepções sobre o trabalho informal e destaca a polissemia do termo. Apesar da diversidade conceitual, situa- ções de trabalho informal são sempre associadas a formas negaivas: pre- cárias, desprotegidas, ilegais, criminosas etc. Para a autora compreender a informalidade, sem gloriicar ou fazer a apologia dessas situações labo- rais, contribui para o reconhecimento das diversas modalidades de traba- lho não regulado existentes.
Focalizar os modos de trabalhar peculiares das sociedades laino- -americanas e relaivizar as análises ancoradas em modelos oriundos de
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países do norte são elementos importantes nas análises de Sato e Ste- cher, consituindo-se em uma perspeciva necessária para uma Psicologia Social do Trabalho Laino-americana. Ainda que distantes no tempo, os textos desses dois autores dialogam com Marin-Baró ao se voltarem para as realidades locais, focarem no trabalho tal como acontece e nos sujeitos que trabalham.
Também no XVII Encontro Nacional da ABRAPSO, realizado em Flo- rianópolis em outubro de 2013, o Trabalho consituiu um dos eixos temá- icos, o que abriu espaço para a proposição de Grupos de Trabalho (GT) centrados no diálogo entre a Psicologia Social e o Trabalho, entre outras aividades. O presente livro reúne textos oriundos das apresentações acolhidas por dois GTs propostos no eixo trabalho, os quais apresentam relexões e relatos de pesquisa e/ou de intervenção, sintonizados com a Psicologia Social do Trabalho apresentada aqui em dois tempos e, desse modo, evidenciam a iliação às perspecivas críicas no campo.
A proposta do GT “Psicologia Social do Trabalho: olhares críicos so- bre o trabalho e os processos organizaivos”^2 tomou como referência as transformações ocorridas nas úlimas décadas no regime de acumulação capitalista e pretendeu “abrir espaços de relexão sobre os processos de subjeivação engendrados por esses acontecimentos e sobre as contri- buições da Psicologia Social do Trabalho e de disciplinas ains para sua compreensão”^3. Nessa direção, a proposta do GT buscou dialogar com as práicas coidianas e os processos intersubjeivos presentes nos contextos de trabalho laino-americanos e convidou colegas interessados em contri- buir coleivamente para:
construção de uma psicologia do trabalho ariculada com propostas políi- cas de superação das desigualdades econômicas e sociais, com o quesio- namento de práicas assentadas em lógicas privaistas e individualizantes e com a promoção de políicas públicas voltadas para a população trabalha- dora em todas as suas diferentes face^4. (^2) A proposta desse GT foi elaborada por: Fábio de Oliveira (Universidade de São Paulo), Anto- nio Stecher (Universidade Diego Portales, Chile), Maria Chalin Couinho (Universidade Fe- deral de Santa Catarina) e Márcia Hespanhol Bernardo (Poniícia Universidade Católica de Campinas). (^3) A citação foi reirada da proposta de GT, disponível no site do evento: htp://www.encon- tro2013.abrapso.org.br/conteudo/view?ID_CONTEUDO= (^4) A citação também foi reirada da proposta de GT, disponível no site do evento: htp://www. encontro2013.abrapso.org.br/conteudo/view?ID_CONTEUDO=
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tos públicos ao lado da responsabilização dos docentes pela qualidade da educação. Diante do aumento das formas de controle e da deterioração de suas condições de trabalho, paricularmente em relação à carreira e à remuneração, os professores desenvolvem estratégias de resistência que, de acordo com Duarte e Ferreira Neto, se consituem em formas de desis- tência, reveladas no “silenciamento entristecido dos docentes”.
Jardel P. Machado apresenta em seu capítulo uma invesigação so- bre as perspecivas e os discursos subjacentes às diretrizes da Políica Na- cional de Atenção ao Servidor, implantada recentemente no serviço públi- co federal. O autor analisa historicamente os três grandes discursos sobre a relação trabalho-saúde/doença, considerados como arenas discursivas que produzem práicas: Medicina do Trabalho, Saúde Ocupacional e Saú- de do Trabalhador. A parir desses discursos e tendo em vista o modo como contexto de crises e reestruturações produivas afetam o serviço público, cada vez mais pautado na lógica gerencialista, Machado faz uma análise documental das diretrizes que orientam as práicas de vigilância e promoção da saúde do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor Público Federal (SIASS). Sua análise evidencia a presença de ele- mentos discursivos oriundos tanto da Saúde Ocupacional como da Saúde do Trabalhador, gerando a falsa impressão de práicas de saúde capazes de conciliar emancipação dos trabalhadores com gerencialismo.
Rosemeire A. Scopinho discute o lugar do jovem no mundo rural tendo como referência as políicas públicas dirigidas para essa juventude, considerando paricularmente como essa questão que afeta o futuro de assentamentos rurais. As relexões da autora fazem parte de um projeto que invesigou as representações sociais de jovens assentados sobre tra- balho familiar e juventude. No capítulo, a parir de uma revisão sobre a questão da ruralidade e da agricultura familiar, são analisadas as políicas públicas focadas na juventude rural no Brasil. Scopinho constatou que a educação com caráter proissionalizante é o grande alvo dos invesimen- tos públicos para jovens e adultos, assumindo no caso do jovem rural uma natureza paliaiva, incapaz de fornecer educação de qualidade. Poucos programas oferecem oportunidades de trabalho rural aos jovens, sendo esses limitados à concessão de crédito. Assim, a autora constata os limites dos programas governamentais, os quais não garantem aos jovens assen- tados formação necessária e inserção laboral autônoma.
Psicologia social e trabalho: perspecivas críicas
Fruto de pesquisa etnográica efeivada junto a um coleivo inse- rido em um assentamento rural, o capítulo de Juliana Nóbrega analisa a experiência de um grupo de famílias que vivenciavam em seu coidiano um processo de coleivização da produção. Essas famílias, compostas por militantes de movimentos sociais agrários com uma história de lutas pela terra, formavam o grupo, entre os assentados, que havia optado por pro- duzir coleivamente, ainda que o Estado não reconhecesse a propriedade coleiva da terra. Para esse grupo a terra inha um senido coleivo de trabalho e de vida, em um processo de coleivização que aingia diferentes dimensões da vida coidiana, tornando todos uma só família. O trabalho coleivo acontecia na terra, na militância e em outros espaços, como no caso da cozinha, importante lugar de produção de sociabilidades colei- vas, embora o grupo ainda não conseguisse romper com a tradicional atri- buição dos afazeres domésicos às mulheres. Para a autora a proposta de coleivização tem o poder de se contrapor à racionalidade capitalista do Estado.
O capítulo de Karlinne de Oliveira Souza e José Eleonardo Braga Jú- nior traz os resultados de uma pesquisa cujo objeivo foi analisar o senido e o lugar ocupado pelo trabalho para trabalhadores circenses. A invesiga- ção fez uso de abordagem qualitaiva e teve como ferramentas de levan- tamento de informações a observação paricipante de reuniões de uma associação circense do Ceará e as entrevistas. Foi efeivado um estudo de caso de um arista que à época atuava como palhaço, além de gerenciar o circo, mas já havia desempenhado diversas ipos de aividades circenses. Os resultados, obidos por meio de análise de conteúdo construivo-in- terpretaiva do material levantado, apontam para o forte senimento de coleividade. Em contraparida, a vida no circo é caracterizada pela pre- cariedade no trabalho e pela falta de acesso a serviços essenciais, como saúde e educação; foi evidenciado também a forte ligação do entrevistado com o circo e seu interesse em permanecer trabalhando nesse contexto.
O propósito do texto de Suzana da Rosa Tolfo, João César Fonseca e Thiago Soares Nunes é problemaizar o assédio moral no trabalho, suas consequências para a subjeividade e a saúde do trabalhador e para as organizações, bem como as repercussões na sociedade. A parir de uma revisão da literatura e de resultados de duas pesquisas realizadas com servidores de uma universidade federal e com trabalhadores que izeram
Psicologia social e trabalho: perspecivas críicas
atribuindo senidos pessoais às signiicações coleivas. Nessa direção os proponentes consideram a psicologia social como uma “ciência que rela- ciona as condições de produção do indivíduo com suas formas sociais e históricas” e explicitam seu interesse em:
ir para além da consituição do psiquismo, como apresentado por Vigotski e pelos psicólogos russos que o seguiram, e pensar a própria consituição social como resultante da vida concreta das pessoas nas condições históri- cas determinadas. Como o trabalho se insere neste campo? É a pergunta que norteia o que estamos considerando o aporte da consigna “Trabalho na perspeciva críica”^5.
Tendo como referência a concepção acima a proposta do GT bus- cou acolher trabalhos que ivessem “como norte a discussão críica da so- ciedade nas várias vertentes possíveis”. Entre os trabalhos apresentados nesse GT foram escolhidos cinco para comporem a presente publicação, a seguir brevemente resumidos.
Maria das Graças de Lima apresenta em seu capítulo um projeto de pesquisa-intervenção, com o objeivo de desenvolver um sistema de “gestão de pessoas” autogesionário, ancorado nos princípios, conceitos e práicas da economia solidária. A autora apresenta um histórico do desen- volvimento da Economia Solidária no Brasil e, depois, situa a compreen- são da dimensão subjeiva adotada, desde o referencial sócio-histórico. A parir da ariculação desses dois campos teóricos, Lima elencou categorias teóricas norteadoras de seu projeto, o qual têm como referência as con- tradições entre a chamada gestão de pessoas, caracterísica das empresas capitalistas, mas empregadas em empreendimentos solidários, que deve- riam estar sintonizados com os valores e princípios autogesionários. As- sim, a autora conclui apresentando como pretende efeivar sua pesquisa em dois empreendimentos, de modo a contribuir com o desenvolvimento da economia solidária como uma proposta de transformação social.
Outro texto dentro do mesmo campo temáico foi produzido por Marilene Zazula Beatriz e Maria Luisa Carvalho, que apresentam o relato de uma experiência de formação de trabalhadores/as de Empreendimen- tos Econômicos Solidários (EES). A experiência relatada fez parte de um
(^5) Citação reirada da proposta de GT, disponível no site do evento: htp://www.encontro2013. abrapso.org.br/conteudo/view?ID_CONTEUDO=
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
projeto de extensão de um curso de graduação em Psicologia, que ari- culou feiras universitárias de economia solidária com oicinas realizadas com trabalhadores/as dos empreendimentos. Após um breve resgate das ariculações entre Economia Solidária e a Psicologia, as autoras apresen- tam a metodologia empregada e, depois, analisam os resultados alcança- dos. Beatriz e Carvalho apontam as potencialidades e limites dos EES, bem como a necessidade de ampliar a formação relacional, técnica e políica sobre o movimento, apesar disso os/as trabalhadores/as sabem disinguir as diferenças fundamentais entre a Economia Solidária e o sistema eco- nômico capitalista. Também foi destacada a importância de a Psicologia, enquanto ciência e proissão, estar atenta a esse ipo de experiência e as demandas decorrentes.
O capítulo de Antônio Gomes Alves e Salvador Sandoval apresenta o recorte de uma tese de doutorado com objeivo de compreender as ino- vações na aividade e os desdobramentos psicossociais, tendo em vista o conhecimento elaborado por trabalhadores metalúrgicos sobre seu traba- lho e sobre si decorrentes da inserção em empresas de um Arranjo Produ- ivo Local (APL) focado na inovação tecnológica. A opção metodológica da pesquisa foi por uma abordagem mulimétodo, com uso de ferramentas quanitaivas, por meio de survey com aplicação de quesionários, e qua- litaiva, com o uso dos grupos focais. Os resultados foram organizados em um modelo que aricula quatro dimensões: ambiente da empresa, rela- ções de trabalho, inovação e consciência. A imagem do modelo apresen- tada evicencia a complexidade da realidade estudada, Entre os elementos analisados estão as implicações das transformações tecnológicas para o coidiano de trabalho, com a degradação da qualidade de vida dos tra- balhadores. Os discursos explicitados nos grupos focais evidenciaram um comparilhamento de valores entre os trabalhadores e a empresa. Para os autores o papel da consciência dos trabalhadores passou a ser determi- nante na práica inovaiva e se assenta na paricipação políica em movi- mentos sociais, uma vez que a relação sindical já não ocupa mais um papel signiicaivo nesse processo.
Fernando Gastal de Castro apresenta uma relexão teórica, parte de pesquisa em curso, sobre sofrimento decorrente dos modos de gerir con- temporâneos capazes de conduzir à morte voluntária. O autor destaca o crescente mal estar no trabalho, afetando toda sociedade em qualquer