



















Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
A documento aborda as crises da psicologia experimental, questionando suas fundações teóricas e metodológicas, além de suas implicações ideológicas. O texto reflete sobre a necessidade de uma análise epistemológica da psicologia positiva e a importância de estudar as experiências negativas e irracionais do homem. O autor propõe a ideia de uma 'psicologia negativa' que faz justiça a essas experiências.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
1 / 27
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
Richard BUCHER - Departamento de Psicologia, Uni¬ versidade de Brasília - 70910 Brasília/DF
Na ocasião do centenário da fundação do primei¬ ro laboratório de psicologia experimental, a psicolo¬ gia científica é questionada sob um ângulo epistemoló¬ gico, no que diz respeito a suas fundamentações teóri¬ ca e metodológica e as suas implicações ideológicas ou "míticas". As repetidas crises desta psicologia teste¬ munham um mal-estar profundo, relacionado com a sua en¬ tronização artificial, com a definição insuficiente e unilateral do seu objeto e com a discrepância entre a ciência e a experiência psicológicas. O contexto histó¬ rico da implantação da psicologia como ciência é lem¬ brado, com uma analise crítica de suas premissas posi¬ tivistas de_ abstração, objetivação e quantificação. Es¬ tas são incapazes, quando transpostas das ciências exa¬ tas ao estudo do homem concreto, de investigar as sig¬ nificações psicológicas e antropológicas das suas expe¬ riências vividas. Uma "psicologia negativa" deveria fa¬ zer justiça às experiências negativas e irracionais do ser humano, sendo que o pensamento mítico ilustra a tentativa do homem de dominar e representar esta irra¬ cionalidade e suas contradições, conjurada pelo cien¬ tista. Finalizando, é enfatizada a necessidade de uma
epistemologizaçao da psicologia positiva e de uma rela¬ tivização das suas posições e pretensões de cientifici¬ dade.
In the centennial year of the founding of the first psychological laboratory, cientific psychology is questioned from an epistemological perspective with respect to its theoretical and methodological founda¬ tions and its ideological or "mythical" implications. The repeated crises of this psychology are a testimony to its deep uneasiness which is related to artificial enthronement, its insufficient and unilateral defini¬ tions, and the discrepancy between psychological scien¬ ce and experience. The historical context of the esta¬ blishment of psychology as a science is reviewed in a critical analysis of its positivist premises of abs- traction, objectivity, and quantification. These, when transposed from the exact sciences to the study of man, are useless for investigating the psychological and an¬ thropological meanings of his experience. A "negative psychology" must explain man's negativ and irrational experiences, like mythical thought that illustrates his attempt to dominate and represent this irrationali¬ ty and its contradictions, denied by the scientist. Finally,the need for epistemologizing positivist psy¬ chology and for a reconsideration of its positions and scientific pretentions is emphasized.
A 1' occasion du centénaire de la fondation du¬ premier laboratoire de psychologie expérimentale, la psychologie scientifique est mise en question sous un¬ angle épistemologique, en ce qui concerne ses fondemen¬ ts théorique et méthodologique et ses implications
tivación y cuantificación. Cuando transferidas de las ciencias exactas al estudio del hombre concreto, ellas son incapaces de investigar las significaciones psico¬ lógicas y antropológicas de sus experiencias vividas. Una "psicologia negativa" debería hacer justicia e las experiências negativas e irracionales dei hombre, pues to que el pensamiento mítico ilustra la tentativa del hombre de dominar y representar esta irracionalidad y sus contradicciones , conjurada por el cientismo. Final¬. mente , se insiste sobre la necesidad de un análisis epistemológico de la psicologia positiva y de relativi¬ zar sus posiciones y pretenciones de cientificidad.
VOL. 1 No^ 1 - JANEIRO 1981
O título deste trabalho pode parecer polêmico, mas não o e necessariamente. Pelo menos não o é na mi¬ nha intenção, uma vez que, em meu conceito, "mito" em nada e uma noção pejorativa, mas representa, pelo con¬ trário, um fenômeno complexo e tipicamente humano, com características e funções próprias. Pretende-se anali¬ sar o "mito da cientificidade", da psicologia em parti¬ cular, aproveitando-se do transcurso centenário do pri¬ meiro laboratório de psicologia experimental. Conside¬ ro que este centenário, mais do que uma ocasião para comemorações triunfalistas, poderia e deveria ser uma oportunidade para uma reflexão de ordem epistemológica sobre as bases desta psicologia científica, sobre suas fundamentações teórica e metodológica e sobre suas im¬ plicações não-científicas, quer dizer, ideológicas.
Falar aqui de ideologia, também não é necessa¬ riamente polêmico, se entendemos por ideologia, o con¬ junto de representações sociais, politicas, econômi¬ cas, antropológicas, psicológicas e filosóficas que marcam a mentalidade de uma época e suas produções cul¬ turais. Um autor como Levi-Strauss (1958), alias, con¬ sidera as nossas ideologias (políticas) como equivalen¬ tes, ou melhor, como substitutos do pensamento mítico, chamadas a preencher um certo vazio deixado pela pro¬ fanação ou pela desmistificação das nossas representa¬ ções míticas, das nossas mitologias implícitas - atro¬ fiadas, sem dúvida, sob o impacto da nossa era tecnoló¬ gica.
Comemorações triunfalistas também não cabem, ao meu ver, porque a psicologia encontra-se numa crí¬ se, como nos foi lembrado recentemente por Ades(l978),
o que não permite, evidentemente, falar desta criação como de uma "revolução científica" no sentido que Kuhn (1970) atribuiu a este termo. No entanto, esta criação não "caiu do céu "mas situa-se num contexto específico, a saber, o contexto positivista do século passado, que teremos que examinar em suas implicações ideológicas ou ainda "mitológicas", uma vez que estas implicações têm pesado muito sobre os desenvolvimentos da psicolo¬ gia e suas repetidas crises. A concepção da ciência em vigor naquela época, determinou necessariamente a evolução da jovem disci¬ plina, impondo a ela um rumo unidirecional, pela refe¬ rência a um modelo emprestado de outros domínios do sa¬ ber. Desde o início, então, a psicologia como ciência foi construída sobre alicerces problemáticos, enviesa¬ dos e "críticos" (no sentido, precisamente, de provo¬ car facilmente crises) - e isto a partir, em primeiro lugar, da indefinição de seu objeto. Sabemos que uma das definições possíveis da atividade científica se re¬ fere à presença de um objeto específico, sobre o qual a ciência recolhe dados empíricos (experiências, des¬ crições, experimentos...), seguindo, nesta sua explora¬ ção, uma certa metodologia; a partir dos dados acumula¬ dos são elaboradas hipóteses verificadas novamente no contato empírico, no campo do objeto investigado e que, aos poucos, são articuladas em conjuntos teóricos. Acrescentamos que os conhecimentos empíricos e as teo¬ rias edificadas sobre estes podem (ou devem) ainda per¬ mitir uma prática sobre o objeto, prática esta que uti¬ lizará certas técnicas visando à transformação deste objeto. Pois bem, encontramos então sérias dificulda¬ des em definir o "objeto" da psicologia cientifica, dificuldades alias bem conhecidas. A psicologia racio¬_ nal, cartesiana, tomou como objeto a alma, oposta à ma¬ téria extensa, utilizou como método a introspecção e criou um conjunto de noções conhecidas como "mentalis¬ mo". A psicologia positiva (ou positivista) substituiu
este objeto pelo observável, pelas reações psico-fisio¬ lógicas e suas medidas e, finalmente, pelo comportamen¬ to. Este "objeto", quando referido ao homem, tem a par¬ ticularidade de não englobá-lo na sua totalidade vivida, mesmo se percebemos um certo consenso, hoje em dia-por falta de uma definição mais adequada - de não mais li¬ mitar este comportamento à "fachada" externa do ser hu¬ mano. Um experimentalista como Fraisse (1976) chega mes¬ mo a propor uma volta à psyché, como objeto da psicolo¬ gia, para que esta possa sair da crise... Mas um outro aspecto bem que poderia pesar mais ainda: o fato de o objeto "comportamento" nao ser próprio nem do ser huma¬ no, nem da psicologia, uma vez que a biologia, a fisio¬ logia, a etologia também estudam o comportamento, tanto animal quanto humano.
Porém, esta falta de especificidade do objeto da psicologia tem como corolário sua unilateralidade, mesmo quando aceito no sentido mais amplo. Definir o comportamento como objeto único da psicologia represen¬ ta, de fato, uma delimitação artificial e arbitrária, decorrente de um contexto cultural e ideológico preci¬ so e que comporta nada menos do que uma mutilação da experiência psíquica de cada um - experiência que nin¬ guém gostaria de perder, se pensarmos, por exemplo, na experiência do amor, da felicidade ou na fantasia, no desejo, no sonho - ou, ainda, na satisfação que o pes¬ quisador encontra no seu laboratório. Finalmente, todo comportamento nada mais é do que o aspecto observável de um portador necessariamente subjetivo.
Podemos nos perguntar, pois, se nao é esta muti¬ lação, esta discrepância entre o objeto da ciência psi¬ cológica e o objeto da experiência psicológica, que pro¬ duz esta crise permanente, bem como as discussões tan¬ tas vezes polêmicas e apaixonadas, "subjetivas", dos psicólogos. Parafraseando Freud, podemos falar de um "mal-estar na psicologia", devido a esta exclusão da di¬ mensão vivencial, da significação existencial, do campo da psicologia científica. A evolução desta ciência, ho¬
Sabemos que o contexto cultural que presidiu à instituição da psicologia experimental era o contexto positivista, na sua forma cientista e sobretudo fisica¬ lista. Entretanto, não podemos abordar aqui a evolução do positivismo como filosofia (absolutista), apesar da influência incontestável que esta exerceu sobre a meto¬ dologia das ciências positivas. Limitar-me-ei a lembrar um pequeno fato, ligado à sistemática das ciências pro¬ posta por Auguste Comte. Nesta sua sistemática (que ele chamava de hierarquia natural, em oposição à hierarquia metafísica, reinando até ali), ele colocava em primeiro lugar a matemática, ciência a mais geral e a mais pura. Esta é seguida pelas ciências de complexidade crescente, a saber, a astronomia, a física, a química, a biologia e, finalmente, a sociologia, que teria como objeto a in¬ vestigação das regras ou leis das interações humanas. Comte, pois, não reservou lugar nenhum para a psicolo¬ gia, contestando mesmo, explicitamente, qualquer velei¬ dade que pretenda fundar a psicologia como uma ciência independente! Segundo os postulados positivistas por ele elaborados, podem ser observados e descritos (e ser objeto de uma ciência) somente os objetos percebidos co¬ mo partes do mundo físico; fatos psíquicos só se deixam examinar sob o ângulo social - dependente, pois, da so¬ ciologia - ou sob o aspecto de suas bases biológico-fi¬ siológicas. Ele nega, portanto, a possibilidade de uma pesquisa psicológica autônoma.
Esta classificação parece-me interessante no que diz respeito precisamente à criação da psicologia científica: de fato, até hoje ela não dispõe de um lu¬ gar reconhecido entre as ciências, o que certos psicólo¬ gos, inspirando-se nas mesmas premissas que Comte, ten¬ taram contornar pela limitação ao comportamento - ten¬ tando, deste modo, afastar-se das conclusões as quais ele tinha chegado com muita consequência. Mas uma psico¬ logia que assim se limita para fugir da tutela da filo¬
sofia, torna-se, necessariamente, ancila da biologia (se não das ciências exatas), uma vez que não é possí¬ vel aceitar as premissas metodológicas e filosóficas do positivismo e querer negar o que decorre logicamente de¬ las - a saber, que elas nao deixam espaço para uma psi¬_ cologia científica, ou melhor, que uma psicologia "posi¬ tiva" só será possível naquelas condições; mas surge en¬ tão a questão, legítima, de saber se uma tal ciência ainda será "psicológica", ou se Comte não tinha razão, afirmando que neste seu edifício a psicologia não cabe. Por conseguinte, ou a psicologia efetivamente não é uma ciência (positiva), ou então ela é uma ciência de um outro tipo, com outra metodologia que não a fisicalis¬ ta...
O fato de o positivismo - e toda a corrente me¬ todológica inspirada nele - recusar a psicologia como ciência, deve ter incomodado (e incomoda ainda) muitos psicólogos, receosos, sem dúvida, de "não serem levados a sério" pelos colegas de disciplinas "mais puras", mais objetivas - ou, ainda, menos complexas, como já indagou o próprio Comte. Reduzir a complexidade do objeto da psicologia não-restritiva (o ser humano) a alguns pou¬ cos componentes é, pois, uma tentação, se não uma pro¬ messa de reabilitação - como se fosse necessário se "reabilitar" deste modo, para readquirir a estima publi¬ ca do mundo científico, perdida por causa da não-cienti¬ ficidade do objeto e dos procedimentos da psicologia. Apresentar, em compensação, números, quantidades, cál¬ culos e estatísticas sobre este objeto poderia, neste sentido, bem ser encarado como a promessa de uma cienti¬ ficidade acima de qualquer suspeita...
O modelo o mais acessível - e o mais sedutor - era, na época (e é ainda) o modelo fisicalista, preconi¬ zado por Comte em geral e por John Stuart Mill (seu dis¬ cípulo) em particular, no que diz respeito às "ciências morais", das quais a psicologia faria parte. Assim Mill pronuncia, em 1843, a célebre frase segundo a qual "o atraso das ciências morais só pode ser superada recor¬
mantica (e mística), o mesmo entusiasmo, a mesma exalta¬ ção sentimental foram aplicados ao novo modelo, contri¬ buindo, desta maneira, mais a um novo movimento ideoló¬ gico (conhecido como cientismo) do que a uma ciência consciente de suas limitações e de seu objeto restrito. Estes pesquisadores ultrapassaram, destarte, a posição de Fechner, que já tinha professado um fisica¬ lismo (ou materialismo) metodológico, mas baseado ainda na aceitação de uma "vida interior", de uma consciência (concebida num enfoque especulativo, de dimensão quase cósmica). A este respeito, Fechner falou precisamente da "outra cena", inacessível à observação e à experimen¬ tação - termo que mais tarde foi utilizado por Freud pa¬ ra designar o inconsciente e sua "alteridade" radical.
Esta metodologia, contudo, evoluiu, sob a influ¬ encia do cientismo, para um certo absolutismo fisicalis¬ ta, do qual faz parte a negação de uma consciência ima¬ terial e não-metrificável, ou mesmo da mera possibilida¬ de de uma tal consciência existir como centro de experi¬ ência subjetivo. Sob o impacto deste fisicalismo, defi¬ niu-se progressivamente uma certa abordagem dos "fatos psíquicos", reduzidos de mais em mais a componentes ele¬ mentares, atomísticos - redução inevitável para satisfa¬ zer os critérios de exatidão e de repetição e que trou- xe, de fato, uma soma impressionante de descobertas so bre o funcionamento psíquico nos seus aspectos materi¬ ais, psicofísicos e psicofisiológicos. Não há dúvida, entretanto, de que esta investigação febril dos "fatos psíquicos" foi levada a cabo na esperança de poder, pau¬ latinamente, aumentar a "certeza" objetiva sobre este funcionamento, até finalmente alcançar a fórmula matemᬠtica pura e unívoca.
A psicofísica de Fechner e depois de Helmholtz exerceu um efeito muito grande, entre outros, sobre Wundt, que participou do mesmo entusiasmo e otimismo pa¬ ra criar a "psicologia exata". Sua ambição abertamente expressa era de fundamentar não mais a psicofisiologia, mas a psicologia como ciência exata, baseada na experi¬
mentação. Todavia, para distinguir a psicologia da físi¬ ca e da psico-fisiologia, Wundt ainda referiu-se à noção de vivência (ou de experiência), quer dizer, ainda reco¬ nheceu uma consciência subjetiva. Deste modo, quando uma estimulação sensorial atinge os nervos sensoriais, tra¬ tar-se-ia de um processo físico; mas quando esta estimu¬ lação dos nervos sensoriais produz uma sensação vivida, experimentada, estamos diante de um fenômeno psíquico.
Percebemos, pois, que Wundt não defendeu uma po¬ sição absolutista, como também não defendeu a psicologia experimental como fonte única de conhecimentos psicológi¬ cos. Segundo ele, outros métodos podem alcançar um grau elevado de certeza, como por exemplo o "método históri¬ co", aplicado por ele na sua "psicologia dos povos", cu¬ ja edição ultrapassou dez volumes. Todavia, não foi com esta obra que Wundt entrou na história da psicologia,mas como fundador da corrente experimental. Mueller (1979) lembra, aliás, a este propósito, que as contribuições propriamente cientificas de Wundt não merecem o mesmo destaque que a fundação do primeiro laboratório (e da primeira revista) de psicologia, o que testemunha mais uma vez o artefato do nascimento da nova ciência.
Wundt, com certeza, não pode ser considerado co¬ mo responsável pelos abusos ou ainda pela absolutização cometidos pelos defensores da "psicologia exata", mesmo que tenha participado ativamente em sua implantação. Ten¬ tarei em seguida uma abordagem menos histórica e mais sistemática, insistindo sobre certas premissas desta psi¬ cologia exata ou positiva, bem como sobre as implicações ideológicas desta "postura".
O positivismo, disse, substitui o cartesianismo, base da psicologia racional (ou introspectiva), acabando desta maneira com a visão essencialmente dualista do ser humano - dando ênfase então a um certo monismo, à preva¬
Tanto o ritual quanto o irracional, que o pri¬ meiro tem que mascarar, podem facilmente ser relaciona, dos com a noção de mito. O próprio edifício da psicolo¬ gia científica pode, de fato, ser comparado com uma no- va mitologia, destinada a apresentar em moldes novos um desejo antigo, a saber, o desejo de poder remontar as origens e transcender as falhas da propria existência, a própria fragilidade diante do universo circundante, através de representações seguras e estáveis de si -mas eventualmente auto-tapeadoras. Neste sentido, esta mito¬ logia baseia-se em três elementos, três mitos parciais, a saber:
der os circuitos simbólicos (cf. Fraisse, 1976) e suas codificações e combinatórias transindividuais. Mas mes¬ mo esta formalização "estrutural" entra rapidamente em contradições insolúveis, quando aplicada ao homem con¬ creto; este representa um sistema essencialmente aberto
que os dados das ciências do comportamento deveriam ser examinados sob três ângulos (interdependentes):
homem - apreensível nos seus aspectos qualitativos e subjetivos, desde então, somente através de uma intera¬ ção, de um movimento dialético complexo. Um tal movimen¬ to dialético é" imprescindível na abordagem deste homem subjetivo e qualitativo, porque este representa não um sistema fechado, como já foi lembrado, nem um sistema linear ou causalista, determinado por algumas poucas va riáveis, mas um "sistema crono-holístico" (Devereux), ou seja, uma globalidade determinada pelo conjunto de sua memória, sempre presente com todas as suas ramifica¬ ções. Esta característica - intimamente ligada, aliás, ao inconsciente e à sua atuação dinâmica - impossibili¬ ta, ainda, a predição exata de comportamentos futuros, o que significa que um outro critério importante das ciências exatas não se deixa aplicar ao estudo do ho¬ mem.
Diante desta rápida análise da ciência psicoló¬ gica e das suas premissas positivistas, devemos concor¬ dar com Koch (1977) , segundo o qual a psicologia, enca¬ rada deste ângulo, se tornava uma "ciência de imita¬ ção", uma vez que muitos dos seus conceitos emprestados de outras ciências têm uma significação diferente quan- do aplicados ao estudo do homem concreto. Uma tal ciên_ cia de imitação pode, na opinião deste autor americano, reunir muitos resultados numéricos de detalhe, mas leva inevitavelmente à fuga diante do objeto específico de sua pesquisa e, finalmente, à sua "desvaliação". A his¬ tória da psicologia científica testemunha suficiente¬ mente este aspecto, se pensarmos, por exemplo, no fato de a maioria dos grandes modelos teóricos de uma época não sobreviverem à geração de seus fundadores, sendo eles prontamente substituídos na geração seguinte. De sorte que a psicologia está longe de ser uma ciência cu¬ mulativa como o são as ciências exatas (pelo menos ao nível de um paradigma dado, no sentido de Kuhn).
Todavia, me parece que não precisamos seguir Koch quando conclui que a psicologia é uma "disciplina fraudulosa", baseada mais num "rigor científico de imi¬