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preconceito linguístico presente na sociedade e nas escolas e sobre as causas e consequências que tal comportamento tem trazido à civilização.
Tipologia: Notas de aula
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Não perca as partes importantes!
Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo do curso de Letras, sob orientação do Prof. Ms. Joubert Castro Perez.
Dedicamos este trabalho a todos os linguistas e sociolinguistas que se dedicam a seu trabalho e através de sua produção acadêmica têm contribuído com a conscientização da sociedade em relação ao preconceito linguístico.
Primeiramente queremos agradecer a Deus, o Mantenedor de nossa vida, e Criador da língua. Agradecemos a nossas famílias, que desde o começo dessa jornada nos deram apoio e incentivo para chegarmos até aqui. Não podemos deixar de agradecer ao Prof. Joubert que nos ajudou muito para a conclusão deste trabalho, e também ao Prof. Edley que também deu a sua contribuição neste projeto. Queremos agradecer a nossos professores que dedicam sua vida ao aprendizado e formação de educadores, obrigada por acrescentar conhecimentos e experiências em nossa vida. Agradecemos também aos nossos colegas de classe que nos acompanhou durante esses anos, e nos deram o privilégio de sua preciosa amizade. Agradecemos ao Centro Universitário de São Paulo, por proporcionar a tantas pessoas a oportunidade de ter uma formação acadêmica. Que Deus continue usando vocês para abençoar a vida de muitos que ainda procuram por essa oportunidade.
Este trabalho tem o objetivo de compreender o que pesquisadores da língua têm discutido sobre o preconceito linguístico. Procuramos lançar um olhar investigativo sobre o preconceito linguístico presente na sociedade e nas escolas e sobre as causas e consequências que tal comportamento tem trazido à civilização. O fio norteador do trabalho é o estudo da língua em diversos contextos, como ela é abordada nas escolas, na sociedade e na mídia. Fundamentamos-nos em trabalhos do sociolinguista Marcos Bagno, e de linguistas como Sírio Possenti, Maria Scherre etc. autores, linguistas e sociolinguistas que têm tratado desse problema a partir de uma ideia libertária da língua, não descartando, porém, a importância da norma culta. A problemática que incentivou esta pesquisa foi a nossa percepção despertada pelas pesquisas e leituras realizadas, da falta de compreensão das pessoas por não saberem distinguir a diferença entre a língua e a norma culta. É essa falta de compreensão que tem contribuído para a desconstrução da cultura e do patrimônio linguístico de diversos grupos sociais que têm na língua sua identidade. É também o que tem prejudicado a inclusão social dessas pessoas em outras sociedades ou comunidades. Logo, a hipótese levantada foi a de que o preconceito em relação à “língua viva” se deve à intolerância das pessoas com relação às variações da língua e também devido à generalização e imposição da norma culta como uma regra tanto para a linguagem escrita quanto para linguagem falada.
Palavras Chave: Preconceito linguístico; Norma culta; Variações; Intolerância.
This work aims to understand what researchers of the language have discussed about the linguistic prejudice and to investigate. Language prejudice in society and in schools, and about the causes and consequences that such a prejudice such has brought to civilization. The guiding theme of the research is the study of language in several contexts, and how it is discussed as it is discussed in schools, in society and in media.We based our research on the work sociolinguist Marcos Bagno, and linguists as Sírio Possenti, Maria Scherre etc; authors, linguists and sociolinguists who have dealt with the problem from a libertarian idea of language, but rejecting the standard norms. The problem that encouraged this research was our perception from the researches and readings, of the lack of understanding about how to differentiate between language and standard norms. And we believe that it is this lack of understanding that has contributed to the destruction of culture and linguistic heritage of several social groups who have in the language their identity. It's also these facts which have damaged the social inclusion of people in other societies or communities. Therefore, our hypothesis was that the prejudice against the "living language" is due to people's intolerance regarding to the language and also because of the generalization and imposition of the standard norms as a rule both for written language as for spoken language.
Key words: Linguistic prejudice; Standard norms; Variations; Intolerance.
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Esta pesquisa pretende abordar um assunto considerado polêmico nos dias de hoje, pois se trata de um tema ainda pouco discutido com a sociedade, o que acaba favorecendo, consequentemente, a circulação opiniões relacionadas ao senso comum, desprovidas de rigor e fundamento teórico. Existem diversos motivos para se discutir o preconceito linguístico, porém o nosso foco estará na forma como ele se manifesta socialmente, por meio de ideias muitas vezes distorcidas transmitidas aos cidadãos e pelos cidadãos que fazem o uso diário da língua. Entre as consequências da propagação de tais distorções, podem ser mencionados o preconceito contra a fala do outro e a banalização da “língua viva”. Para a discussão do assunto usaremos como base teórica principalmente os trabalhos de Marcos Bagno (2005; 2007), Sírio Possenti (1996; 2009) e Maria Scherre (2005), sobre os motivos dessa polêmica gerada no meio linguístico. Podemos inicialmente indagar se existem formas menos repressoras de abordar o preconceito linguístico sem que se gere mais preconceito ou se defenda a ideia de que a língua culta não é importante e não deve ser ensinada nas escolas. Diante desta problemática, levantamos a hipótese de que essa falta de compreensão acerca da verdadeira língua é que provoca a intolerância da sociedade quanto às variações linguísticas e a imposição da norma culta, tanto na escrita quanto na fala. Deixemos que a opinião do linguista Possenti esclareça este fato:
Eu acuso os intelectuais brasileiros de [...] serem absolutamente incapazes de compreender e de aceitar que haja variação linguística, dialetos regionais, sociais, profissionais etc., por mais que esta variação seja mais evidente do que todas as outras, e detectável em todos os lugares do mundo, em todas as línguas do mundo (POSSENTI, 2009, p. 13).
Para tentarmos mostrar a veracidade desta hipótese discorreremos durante esta pesquisa sobre os problemas sociais causados com o uso da variedade popular em diversos contextos. Abordaremos o tema a partir dos acontecimentos sociais, discorrendo sobre como a sociedade tem tratado essa temática, como tem reagido mesmo com o surgimento de conceitos que refutam as variações linguísticas. O próximo passo será analisar os fatos expostos na mídia sobre o preconceito linguístico, levando em
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consideração todos os privilégios que a mídia tem, devido ao aumento da tecnologia, dos meios de comunicação e do uso frequente que as pessoas fazem deles hoje. Concluiremos o assunto abordando o que essas concepções midiáticas e sociais tem refletido no ensino-aprendizagem, visto que é um ambiente privilegiado onde as mudanças desejáveis podem acontecer. Dentre os objetivos específicos, tentaremos discutir a autoridade que o preconceito tem sobre os sujeitos de linguagem e à linguagem, discorrer sobre as variações linguísticas como resultado das relações que os sujeitos têm com o meio em que vivem, sua condição social, seu grau de escolaridade, e analisar também dentro desses parâmetros o papel da mídia, dos meios de comunicação de massa, como produtores e reprodutores do preconceito linguístico. Este aspecto nos chamou atenção, pois reparamos que de todos os preconceitos combatidos, o preconceito linguístico nem sequer é reconhecido como tal. A população ignora o problema que, ao invés de ser reprovado, cresce disfarçadamente no meio social. Se o problema sequer é reconhecido não admira que os sujeitos de linguagem não saibam lidar com o preconceito linguístico. Quando reproduzem consciente ou inconscientemente o preconceito, todos os que estão fora dos padrões da norma culta são qualificados como indivíduos sem prestígio, motivando a exclusão social. Em situações nas quais lutam para reprovar esse preconceito não têm recursos ou argumentos suficientes para contestar tais atos preconceituosos. Assim, o assunto acaba sendo tratado quase sempre superficialmente. No próximo capitulo veremos como o preconceito linguístico se manifesta no meio social; como a sociedade tem reagido com o surgimento das variações linguísticas; quais são as consequências que a má compreensão da língua tem causado em alguns contextos.
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O preconceito linguístico fica bastante claro numa série de afirmações que já fazem parte da imagem (negativa) que o brasileiro tem de si mesmo e da língua falada por aqui. Outras afirmações são bem intencionadas, mas mesmo assim compõem uma espécie de “preconceito positivo”, que também se afasta da realidade (BAGNO, 2007, p.13).
É de se levar em conta que realmente existe essa “imagem negativa” dita por Bagno, do próprio usuário para com a língua, isso se deve ao comodismo e talvez à falta de orgulho de nosso patrimônio cultural. Explicaria inclusive o conceito cultural deturpado que exportamos de nós aos estrangeiros, como bem diz Lya Luft, o de que o Brasil seja um país de carnaval, futebol e índios apenas, mas não de cultura literária, acadêmica, ou seja, de valorização do trabalho intelectual sobre a linguagem. Valorizar o trabalho intelectual sobre a linguagem, contudo, não significa reduzir ao ensino do que Celso Luft chama de “esqueleto da língua”:
A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. [...] É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua, mas sozinha não diz nada, não tem futuro (LUFT, 1994, p. 22).
É justamente por isso que devemos combater os mitos aceitos socialmente em relação à língua, que frequentemente se espelham num esqueleto de língua presente até em línguas mortas. Devemos repudiar opiniões inconsistentes sobre fenômenos de linguagem, ou seja, que desconsideram que as manifestações linguísticas num país tão heterogêneo como o Brasil não podem ser julgadas por critérios que valem só para o “esqueleto” de uma língua viva, sempre sujeita a transformações. Tem relação com o que acabamos de dizer, o primeiro mito apresentado por Bagno: “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”, para logo em seguida acrescentar:
Ora, a verdade é que no Brasil, embora a língua falada pela grande maioria da população seja o português, esse português apresenta um alto grau de diversidade e de variabilidade , não só por causa da grande extensão territorial do país - que gera as diferenças regionais, bastante
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conhecidas e também vítimas, algumas delas, de muito preconceito (BAGNO, 2005, p.16).
Para o autor este é o pior dos mitos que compõe a mitologia do preconceito linguístico, e afeta a visão crítica até mesmo de intelectuais. É de nossa compreensão que a variedade da linguagem, de fato existe e nada mais é do que vários modos de se falar a mesma língua. De acordo com a definição do autor, é esse mito que gera os preconceitos no contexto regional, como o fato de a sociedade rotular os falantes de origem nordestina, por exemplo, como indivíduos atrasados, mal instruídos, sem prestigio, etc. Bagno mostra seu desconforto quanto a este ponto de vista preconceituoso e aproveita a oportunidade de desenvolver este assunto ao tratar de outro mito, a saber, o de que “As pessoas instrução falam tudo errado”:
Como se vê, do mesmo modo como existe o preconceito contra a fala de determinadas classes sociais, também existe o preconceito contra a fala característica de certas regiões. É um verdadeiro acinte aos direitos humanos, por exemplo, o modo como a fala nordestina é retratada nas novelas de televisão, principalmente da rede Globo. Todo personagem de origem nordestina é, sem exceção, um tipo grotesco, rústico, atrasado, criado para provocar o riso, o escárnio e o deboche dos demais personagens e do espectador. No plano linguístico, atores não nordestinos expressam-se num arremedo de língua que não é falada em lugar nenhum do Brasil, muito menos no Nordeste [...]. Mas nós sabemos muito bem que essa atitude representa uma forma de marginalização e exclusão (BAGNO, 2005, p.40, grifo nosso).
Não é difícil perceber que o preconceito linguístico acarreta, assim, problemas sociais como a exclusão social e marginalização, já que prevalece o senso comum de que “pessoas sem instrução falam tudo errado”. A existência desse mito fortalece a hipótese inicial de que uma concepção errada de língua, baseada na gramática escolar e no dicionário apenas, produz preconceito e, agora podemos acrescentar, depreciação, exclusão e marginalização social. Contudo, se a questão for estudada fielmente, pode-se notar que as falas consideradas “erradas” são, na verdade exemplos de fenômenos fonéticos que, de acordo com Bagno (2005), contribuem para a formação da própria norma padrão.
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atitude saudável diante das mudanças deveria ser a de acompanhar o processo de mudança, aceitando-o como sinal de que, assim como a vida, a língua muda porque seu uso ocorre nos eventos que fazem a história. Por isso devemos evitar ao máximo reforçar concepções que promovam o preconceito linguístico. Bagno, depois de contestar manifestações preconceituosas que encontram eco na sociedade, sugere uma mudança de paradigma em que o preconceito seja substituído pelo convívio tranquilo entre diversos modos de falar e de significar os acontecimentos da vida:
Já passou a hora de todas essas regras novas (e muitas outras que não listamos aqui) serem consideradas tão corretas, elegantes e bem estruturadas quanto as regras previstas e prescritas pela tradição gramatical [...] temos que lutar, sim, é para permitir o convívio tranquilo e tolerante entre as muitas formas de se dizer a mesma coisa , reconhecendo nelas uma riqueza da nossa língua e, por conseguinte, da nossa cultura e da nossa vida pessoal (BAGNO, 2007, p.159, grifo do autor).
Outro mito que circula socialmente e acaba gerando preconceito tem a ver com duas diferentes formas em que a comunicação pela língua acontece: a língua escrita e a língua falada. Bagno o resume assim: “O certo é falar assim porque se escreve assim”; e, a seguir, observa:
Infelizmente, existe uma tendência (mais preconceito!) muito forte no ensino da língua de querer obrigar o aluno a pronunciar “do jeito que se escreve”, como se essa fosse a única maneira “certa” de falar português. [...] Essa supervalorização da língua escrita combinada com o desprezo da língua falada é um preconceito que data de antes de Cristo (BAGNO, 2005, p.49).
A confusão entre essas duas modalidades linguísticas, tem gerado "erros" que não seriam considerados assim, caso a escrita com sua fixidez nos dicionários e gramáticas não fosse mais valorizada que a fala. Esses "erros" seriam, talvez, menos visíveis e notórios se não houvesse a imposição da norma padrão como instrumento de uniformização, tornando a escrita homogênea e estabelecendo uma forma única de grafar e pronunciar as palavras. Tornar, porém, a linguagem escrita um espelho para a linguagem falada reforça o preconceito e marginaliza todos aqueles que não dominam a
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norma padrão. Além disso, confere às manifestações linguísticas certo "artificialismo", já que consideram a língua como imune a variações. Bagno associa esse problema a um equívoco analítico dos primeiros gramáticos:
Ainda na questão da variação , os primeiros gramáticos , comparando a língua escrita dos grandes escritores do passado e a língua falada espontânea, concluíram que a língua falada era caótica, sem regras, ilógica, e que somente a língua escrita literária merecia ser estudada, analisada e servir de base para o modelo do “bom uso” do idioma. Essa separação rígida entre fala e escrita é rejeitada pelos estudos linguísticos contemporâneos, mas continua viva na mentalidade da grande maioria das pessoas (BAGNO, 2007, p.69, grifo nosso).
De acordo com Bagno (2007), esses estudos associados à Gramática Tradicional começaram a ser refutados no século XIX, junto com o inicio dos primeiros estudos linguísticos de caráter científico e foram contestadas pela ciência contemporânea. Apesar disso, porém, a visão preconceituosa de determinados comportamentos linguísticos permanece na mente dos ocidentais até hoje. Ao encerrar este capítulo, parecem muito próprias as palavra de Bagno:
Se queremos construir uma sociedade tolerante, que valorize a diversidade, uma sociedade em que as diferenças de sexo, de cor de pele, de opção religiosa, de idade, de condições físicas, de orientação sexual não sejam usadas como fator de discriminação e perseguição, temos que exigir também que as diferenças nos comportamentos linguísticos sejam respeitadas e valorizadas (BAGNO 2007, p. 159).
No próximo capitulo, veremos o que a mídia tem feito com relação ao preconceito linguístico e o que ela tem pregado aos que fazem o uso diário dos meios de comunicação.
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afirma Scherre em seu livro “ Doa-se lindos filhotes de poodle: variação linguística, mídia e preconceito ”(2005): “Então, quando um falante nativo de uma língua explicita o sentimento de que não saber falar a sua própria língua, ele de fato esta confundindo a sua língua com a gramática normativa de parte de sua língua” (SCHERRE, 2005, p.89). Considerando o fato de que a língua está em constante mutação pelas mais diversas razões, afirmar que alguém que fala “diferente” é alguém sem instrução ou sem prestigio é a mesma coisa que afirmar que ele não é um cidadão que atua e convive com a sociedade, pois somos expostos a diversos tipos de mudanças todos os dias, inclusive da língua conforme afirma o autor, “[...] acusar alguém de não saber falar a sua própria língua materna é tão absurdo quanto acusar essa pessoa de não saber ‘usar’ corretamente a visão” (BAGNO, 2005, p. 17). Ao mesmo tempo em que valoriza a norma culta, a defesa do português “puro” e “correto”, obediente à gramática tradicional, essa mídia gera o preconceito contra as variedades linguísticas populares ao apresentar tais variedades de modo pouco crítico, caricaturado, provocando a hostilidade contra os que falam tais dialetos. É o que diz Bagno (2005), ao considerar o modo como a mídia apresenta a cultura nordestina:
É um verdadeiro acinte aos direitos humanos, por exemplo, o modo como a fala nordestina é retratada nas novelas de televisão, principalmente da Rede Globo. Todo personagem de origem nordestina é, sem exceção, um tipo grotesco, rústico, atrasado, criado para provocar o riso, o escárnio e o deboche dos demais personagens e do espectador. No plano linguístico, atores não nordestinos expressam-se num arremedo de língua que não é falada em lugar nenhum no Brasil, muito menos no Nordeste (BAGNO, 2005, p.44).
Além da TV, que é um dos meios de comunicação mais populares e de vasto alcance de pessoas de qualquer nível social e intelectual, outro meio muito utilizado e que tem trazido consequências positivas e negativas, é a internet. Assim como ocorre com a TV, ela pode nos trazer muito conhecimento e informação, mas ao mesmo tempo contribuir para a propagação de opiniões preconceituosas. Com o aparecimento de diversas redes sociais que pregam a “liberdade de expressão”, tanto o preconceito linguístico quanto o racial, religioso, social, sexual, etc., têm sido reforçados, só que dessa vez por meio de um forte aliado: a comunicação em rede. Nesse espaço, a cada clique corremos o risco de sermos ou vítimas ou causadores do preconceito.
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O advento da internet como um novo suporte de diferentes gêneros textuais trouxe como consequência a velha reação do preconceito linguístico motivada por um novo alvo: o chamado “internetês”. Por internetês , devemos entender, de acordo com a Wikipedia:
[...] a linguagem utilizada no meio virtual, em que "as palavras foram abreviadas até o ponto de se transformarem em uma única expressão, duas ou no máximo cinco letras", onde há "um desmoronamento da pontuação e da acentuação", pelo uso da fonética em detrimento da etimologia, com uso restrito de caracteres e desrespeito às normas gramaticais.
Um exemplo são as abreviações: vc (você); obgda (obrigada) e kbça (cabeça), entre outras. Além, é claro, da não-exigência de escrever corretamente. Fazendo uma relação com as questões abordadas no capítulo anterior sobre a linguagem escrita e falada, podemos observar que na internet as expressões escritas são reproduções da fala. De acordo com Possenti (2009), não se deve criar um preconceito contra isso:
Talvez o que mais chame a atenção dos críticos são formas como naum por não , taum por tão e Jaum por João. Já ouvi gente (repórteres) falando [naúm], como se o /u/ fosse a vogal tônica da sílaba. Quando ouço casos como esse, tenho vontade de sacar a fórmula que costumo aplicar sempre que alguém se queixa de não conseguir ler textos de alunos que cometem erros ortográficos: se é verdade, em certo sentido que quem escreve naum não sabe escrever (o que precisa ser demonstrado), é ainda mais verdade que quem lê [naúm] não sabe ler (POSSENTI, 2009, p.61, grifos do autor).
O autor ainda defende o fato da linguagem utilizada nas redes sociais não dever ser considerada como uma linguagem e sim um “conjunto de soluções ortográficas”, e que, de fato, os jovens, na ausência de cobrança, se sentem livres para agilizar a comunicação pela diminuição do número de toques necessários para grafar um palavra. Sendo assim, não deveriam ser estigmatizados por fazerem uso deste recurso:
É verdade que essas regras não são seguidas com muito rigor (não há uma lei que as imponha, nem uma escola que cobre correção; se houvesse, logo os jovens abandonariam o sistema que inventaram). Por exemplo, as regras, para escrever kbça não são seguidas até o fim em blz (se fossem, teríamos blza) (POSSENTI, 2009, p. 61).