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Este artigo de elis de almeida cardoso discute o preconceito linguístico presente na cultura brasileira, que se baseia em uma união de três elementos: a gramática tradicional, os métodos tradicionais de ensino e os livros didáticos. O autor argumenta que este círculo vicioso impede a aceitação de formas de português que se desviam das normas gramaticais estabelecidas. Além disso, ele aponta que o ensino estrito da gramática não forma necessariamente um bom usuário da língua e que o erro de português não é sempre um erro, mas sim uma variação. O artigo também explora oito mitos relacionados ao preconceito linguístico, como a ideia de que o português falado no brasil apresenta uma unidade surpreendente ou que o lugar onde melhor se fala português no brasil é o maranhão.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de estudo
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Não perca as partes importantes!
Língua e Literatura , n. 25, p. 293-296, 1999. 293
Elis de Almeida Cardoso *
Um dos preconceitos presentes na cultura brasileira é o lingüístico. Qualquer forma que fuja às normas estabelecidas pela gramática tradicional é vista pela parcela da sociedade, que acha que detém o conhecimento, como um desrespeito à língua portuguesa. O preconceito lingüístico, segundo Mar- cos Bagno, é levado adiante porque está dentro de um círculo vicioso, que se forma pela união de três elementos: “a gramá- tica tradicional, os métodos tradicionais de ensino e os livros didáticos”. A gramática inspira a prática de ensino, que faz surgir a indústria do livro didático, cujos autores recorrem à gramática. Pronto, está fechado o círculo do preconceito lingüístico. Tudo o que estiver fora da gramática, ou do livro didático, é considerado, sobretudo pelo professor de portugu- ês, erro.
Afinal de contas o que é ensinar português? Os métodos tradicionais ainda se prendem à “obsessão terminológica” e à “paranóia classificatória”. O ensino estrito da gramática normativa não forma obrigatoriamente um bom usuário da norma culta.
E o que é erro? Na grande maioria das vezes o erro de português nada mais é do que uma violação às regras orto-
(*) (^) Doutoranda em Letras e professora da Área de Filologia e Língua Portuguesa do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, FFLCH-USP.
294 BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico – O Que É, Como Se Faz, por Elis de Almeida Cardoso.
gráficas, logo, não é erro de português e sim “erro” de orto- grafia. Se a língua portuguesa é a língua materna de um falante, ela é adquirida e absorvida pela criança que, entre os três e quatro anos, já domina plenamente a gramática de sua língua. Erros de português, como os cometidos por um estrangeiro, dificilmente seriam cometidos por um falante nativo.
Vale tudo, então? Não, é claro. Para usar a língua é fun- damental encontrar o ponto de equilíbrio entre a adequabili- dade e a aceitabilidade. Depende sempre de quem diz o quê, a quem, como, quando, onde, por quê e visando que efeito...
Essas são algumas das propostas de ensino/aprendiza- gem da língua materna encontradas na obra de Bagno. Para que professores e alunos consigam enxergar o ensino de lín- gua materna desse novo jeito e, diga-se de passagem, é o que querem os Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC (1988) é necessário desconstruir todo o preconceito lingüístico.
Pensar que se vive num mundo de matutos e jecas-ta- tus e que se fala não mais português, mas caipirês , uma lín- gua de cozinheiras, é mais do que preconceito lingüístico, é preconceito étnico e social.
Continuar aceitando como únicas e corretas formas ar- caicas que há muito já foram abolidas, aceitar como verdade absoluta o que dizem alguns autores em manuais do tipo Não erre mais , sem qualquer forma de questionamento, ou criti- car Drummond pelo fato de o poeta ter preferido o verbo ter ao haver em “No meio do caminho” é fechar os olhos para a evolução lingüística e engolir, muitas vezes, “um festival de asneiras”.
Numa tentativa de acabar com muitos mitos que geram o preconceito lingüístico, Marcos Bagno, depois de suas “Pri- meiras Palavras”, apresenta, na primeira parte do livro, a mitologia do preconceito lingüístico. São oito os mitos explo- rados pelo autor, a saber:
296 BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico – O Que É, Como Se Faz, por Elis de Almeida Cardoso.
Mito no^ 6: “O certo é falar assim porque se escreve assim.” A escrita é apenas uma tentativa de representação grá- fica da língua oral. Sendo uma tentativa, jamais haverá re- produção da fala com fidelidade. Havendo variações, haverá, nas várias regiões, pronúncias distintas para a mesma pa- lavra.
Mito no^ 7: “É preciso saber gramática para falar e escre- ver bem.”
Se a gramática é instrumento fundamental para o domí- nio do padrão culto da língua, por que tantos escritores afir- mam desconhecê-la? Seriam então os gramáticos excelentes escritores?
Mito no^ 8: “O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social.”
Se o domínio da norma culta fosse realmente um ins- trumento de ascensão social, nós, professores de português, ocuparíamos, sem dúvida nenhuma o topo da pirâmide. Para desfazer esse último mito, diz Bagno: “Achar que basta ensi- nar a norma culta a uma criança pobre para que ela ‘suba na vida’ é o mesmo que achar que é preciso aumentar o número de policiais na rua e de vagas nas penitenciárias para resol- ver o problema da violência urbana”.
Preconceito Lingüístico é leitura obrigatória para todos aqueles que, sem preconceito, querem aventurar-se pelo rio caudaloso da língua, que nunca se detém em seu curso, dei- xando de lado a parcial visão de igapó da gramática tradicio- nal , um charco à beira da língua, que “só se renovará quando vier a próxima cheia”.