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Uma análise filosófica sobre o conceito de propósito no trabalho e na vida, feita por mario sergio cortella. A obra discute a importância de se compreender o motivo para se fazer o que se está a fazer, evitando o stress e o cansaço. Além disso, aborda a ideia de vida com propósito, que é aquela em que se entendem as razões pelas quais se faz o que se faz e se deixam de fazer o que não se faz. O documento também discute a relação entre trabalho e realização, e a noção de alienação no trabalho.
Tipologia: Notas de estudo
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VIDA COM PROPÓSITO!
DA MORTE Um dia… pronto!.., me acabo. Pois seja o que tem de ser. Morrer: que me importa?… O diabo É deixar de viver! Mário Quintana Segunda‑feira, seis da manhã. «Triiiiiimmmm, triiiiiim‑ ‑mmm…» O despertador do telemóvel toca, mas o lei‑ tor não quer sair da cama. Isso pode indicar dois estados de ânimo. Gostaria de dormir mais um pouco. O que é sinal de cansaço. Provavelmente, o fim‑de‑se mana foi movimentado, com festas, actividades físicas, viagens, e precisa de mais algumas horas até o corpo se recupe‑ rar de um esforço intenso. Se a vontade, no entanto, é de não sair da cama, isso é sinal de stress. Já não vê razão para fazer o que faz. Há uma diferença marcante
1 A IMPORTÂNCIA DO PROPÓSITO
Uma vida pequena é aquela que nega a vibração da própria existência. O que é uma vida banal, uma vida venal? É quando se vive de maneira automática, robótica, sem uma reflexão sobre o facto de existir‑ mos e sem consciência das razões pelas quais fazemos o que fazemos. Algumas religiões, entre as quais a judaico‑cristã, falam‑nos sobre o Juízo Final, o momento em que uma divindade virá fazer as grandes perguntas para julgar a nossa vida, se foi uma vida que valeu ou não valeu a pena. As perguntas da divindade supostamente seriam: «O que fez, fez porquê?» «O que não fez, não fez porquê?» «O que fez e não deveria ter feito, por que o fez?» «O que não fez e deveria ter feito, por que não o fez?»
Por que fazemos o que fazemos? Isto é, obter recursos para criar uma família e ter um património que se pudesse deixar em herança. Como a sociedade hoje é mais focada no indivíduo, a ideia de propósito está marcada por um conceito que já existiu e voltou cheio de força: o da realização. E a palavra «realizar» nas suas leituras em latim e inglês indica, res‑ pectivamente, realizar no sentido de «tornar real», mos‑ trar a mim mesmo o que sou a partir daquilo que faço, e to realise , na acepção de «dar‑me conta». Isto significa a minha consciência. Tanto que muita gente se recusa hoje a trabalhar em algumas actividades que sejam prejudiciais à vida colectiva. A dinâmica da relação muda: não é só um emprego onde faço o que me mandam. Preciso saber para que serve o que estou a fazer. Não quero ser ape‑ nas um inocente útil. Desejo que a minha actividade seja consciente. A ideia de vida com propósito retoma um princípio do pensador alemão Karl Marx, do século xix: a recusa da alienação. Alienado é aquele que não pertence a si mesmo. Em latim eram usadas duas expressões para falar do não‑eu. O eu é ego. E o não‑eu pode ser alter , que é «o outro», ou alius , que é «o estranho», de onde vêm «alienígena», «alheio» e «alienação». O conceito de alienação – elaborado originalmente na Modernidade pelo filósofo alemão Hegel – refere‑se a tudo aquilo que eu produzo, mas não compreendo
Mario Sergio Cortella a razão. Isto é, sou apenas uma ferramenta para que as coisas aconteçam, mas não decido sobre o destino das minhas acções. Este é um conceito forte, uma vez que o trabalho alienado provoca uma série de descon‑ fortos nas pessoas. Eu, trabalhador, colaborador, fun‑ cionário, quero perceber aquilo que faço, porque isso me dá mais sentido. Reconhecimento é uma questão‑chave nesta pro‑ cura por sentido. Eu preciso reconhecer‑me nas activi‑ dades que exerço, usando um termo de Hegel, isto é, devo objectivar a minha subjectividade. Hegel dizia que fazíamos as coisas para nos objectivarmos. Eu sou uma subjectividade, mas eu não sei o que sou a não ser naquilo que faço. Porque, quando faço algo, eu «re‑conheço‑me», isto é, eu conheço a mim mesmo outra vez. Aceito o facto de que sou uma subjectividade enclausurada dentro de mim, mas, como isso é absoluta‑ mente abstracto, só sei o que sou quando me vejo fora de mim. E eu vejo‑me de fora quando tenho a minha obra feita. Então, realizo‑me. Sou o que faço. Se sou o que faço, e não o que penso de mim, aquilo que faço tem uma necessidade. Desse ponto de vista, Hegel pode ser considerado um filósofo idealista, uma vez que, para ele, o ponto de partida do mundo é a ideia. A cultura, obra humana, surge porque eu preciso realizar‑me. Marx inverte isso. «Não, o que faz que eu faça é a necessidade.» Ambos
Mario Sergio Cortella Mas, no momento em que passa a guardar o resultado da colecta com a intenção de a utilizar no futuro, esta passa a ser uma acção transformadora consciente. Por exemplo: quando começámos a trazer água, em vez de nos deslocarmos até à fonte sempre que sentíamos sede. Isso é uma acção transformadora consciente, por‑ tanto, trabalho. Somos seres que têm de construir a própria reali‑ dade. E a noção de trabalho é tão forte entre nós que perpassa outras esferas da nossa vida. Até a noção que temos de saúde está ligada à ideia de trabalho. Só nos consideramos saudáveis quando podemos voltar a tra‑ balhar, não quando somos capazes de passear, fazer amor, cantar, dançar. O propósito original do trabalho é que não nos dei‑ xemos morrer. Afinal de contas, somos seres de carência, de necessidade. Ou construímos o nosso mun do ou não há como existir. Em relação a isto, foi feito um cálculo curioso. Somos hoje mais de 7 mil milhões de humanos, mas, se fôs‑ semos um animal que não trabalhasse, que não tivesse uma acção transformadora consciente e vivesse como os outros animais, apenas da natureza, stricto sensu , sería‑ mos no máximo 10 milhões na nossa espécie. A come‑ çar pelo facto de que só poderíamos viver em regiões muito delimitadas do planeta. A região dos pólos e a área temperada estariam excluídas, viveríamos numa
Por que fazemos o que fazemos? faixa sub saariana onde seríamos capazes de encontrar um clima propício para a existência da recolecção, sem predadores e com uma natureza que não fosse rarefeita. Nós só ultrapassámos os 7 mil milhões porque, em vez de vivermos na natureza, vivemos com ela e dela. Por incrível que pareça, a nossa acção no mundo é antinatural, é um confronto com a natureza, e, apesar de isso não implicar um carácter destrutivo, é uma luta contra. Basta pensar, por exemplo, qual seria o caminho natural de uma inflamação aguda do apêndice ou de uma ferida infectada. A septicemia, seguida de morte. Enfrentamos isso e lutamos contra isso através de uma cirurgia «antinatural» ou de medica mentos sintéticos, pois não são frutos da natureza. A natureza é algo que se opõe a nós e, ao opor‑se, nós transformamo‑la. Essa transformação, do ponto de vista teórico, chama‑se trabalho. Temos de trabalhar! Podemos fazê‑lo para mera obtenção da sobrevivência ou como uma forma de mar‑ car a nossa presença no mundo!