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CAPÍTULO 2
OS FUNDAMENTOS DA OFERTA
E DA DEMANDA
ESTE CAPÍTULO DESTACA
2.1 Oferta e demanda
2.2 O mecanismo de mercado
2.3 Mudanças no equilíbrio^ do^ mercado
2.4 Elasticidades da oferta e da demanda
2.5 Elasticidades de curto prazo versus elasticidades de longo prazo
*2.6 Compreendendo e prevendo os efeitos das modificações nas condições de mercado 2.7 Efeitos da intervenção governamental
LISTA DE EXEMPLOS
2.1 O preço dos ovos e o custo do ensino
universitário analisados novamente
2.2 A desigualdade salarial nos Estados
Unidos
2.3 O comportamento de longo prazo dos preços dos recursos naturais 2.4 Os efeitos do 11 de setembro na oferta e na demanda de imóveis
comerciais em Nova York
2.5 O mercado de trigo 2.6 A demanda por gasolina e automóveis 2.7 O clima no Brasil e o preço^ do^ café em Nova York
2.8 A demanda declinante e a evolução
do preço do cobre 2.9 A alta forçada no mercado^ mundial
de petróleo
2.10 Controle de preços e escassez de gás
natural
ma das melhores maneiras de perceber a relevância da ciência
da. A análise da oferta e da demanda é uma ferramenta essen-
cial e poderosa que pode ser aplicada a uma ampla variedade de ques-
tões interessantes e importantes. Dentre elas podemos citar:
Π
A compreensão e a previsão de como as variações nas condi-
ções econômicas mundiais podem afetar o preço de^ mercado
e a produção.
A avaliação do impacto dos controles governamentais de pre-
ços, do salário mínimo, de suporte dos preços e dos incenti-
vos à produção.
A determinação do modo como os impostos, os subsídios, as
tarifas e as cotas de importação afetam consumidores e pro-
dutores.
Começaremos com uma revisão da maneira como as curvas da
oferta e da demanda são utilizadas para descrever o mecanismo de merca-
do. Não havendo intervenção governamental (por exemplo, por meio da
imposição de controles de preços ou qualquer outra política de regula-
mentação), a oferta e a demanda de uma mercadoria entrarão em equi- líbrio, determinando seu preço de mercado, bem como a quantidade
produzida. Tal preço e tal quantidade dependerão das características es-
pecíficas da oferta e da demanda. As variações do preço e da quantidade
ao longo do tempo dependem de como a oferta e a demanda reagem a
outras variáveis econômicas, como a atividade econômica agregada e os
custos da mão-de-obra, que também podem estar sofrendo alterações.
Discutiremos, portanto, as características da oferta e da demanda
e como elas podem diferir de um mercado para outro. Poderemos, en-
tão, dar início ao uso das curvas de oferta e demanda para compreender
diversos fenômenos - por exemplo, a causa da contínua queda no preço
de algumas commodities básicas durante longos períodos, enquanto os
preços de outras mercadorias sofreram grandes flutuações; por que
ocorre escassez de mercadorias em determinados mercados; e a razão
pela qual o anúncio de planos para políticas governamentais futuras ou
as previsões a respeito de condições econômicas podem afetar mercados
muito antes de tais políticas ou condições se tornarem realidade. Além de compreender qualitativamente como a quantidade e o pre-
ço de mercado são determinados e como variam ao longo do tempo, é
também importante saber como eles podem ser analisados quantitativa-
mente. Veremos como cálculos simples podem ser utilizados para ana-
lisar e prever o desenrolar das condições de mercado. Além disso, mostra-
remos a reação dos mercados às flutuações macroeconômicas domésticas
18 PARTE^ I INTRODUÇÃO: MERCADOS E PREÇOS
e internacionais e aos efeitos das intervenções governamentais. Procuraremos reforçar essa compreensão
com exemplos simples e recomendando que você faça alguns exercícios ao final de cada capítulo.
curva da oferta Rela-
ção entre as quantidades
de um bem que os produ- tores desejam vender e o preço desse bem.
2.1 OFERTA E DEMANDA
O modelo básico da oferta e da demanda é o instrumento-chave da microeconomia. Ele ajuda a
compreender por que e como os preços mudam e o que acontece quando o governo intervém em um
mercado. O modelo da oferta e da demanda combina dois conceitos importantes: a curva da oferta e a cur-
va da demanda. É importante entender precisamente o que essas duas curvas representam.
A CURVA DA OFERTA
A curva da oferta informa-nos a quantidade de mercadoria que os produtores estão dispostos a
vender a determinado preço, mantendo-se constantes quaisquer fatores que possam afetar a quantidade
ofertada. A curva S da Figura 2.1 ilustra isso. O eixo vertical do gráfico mostra o preço da mercadoria, P, medido em dólares por unidade. Esse é o preço que os vendedores recebem por determinada quantidade ofertada. O eixo horizontal mostra a quantidade total ofertada, Q, medida em unidades por período.
A curva da oferta é, assim, uma relação entre quantidade ofertada e preço. Podemos escrever es-
sa relação por meio de uma equação:
Q= Q(P)
ou podemos desenhá-la graficamente, como na Figura 2.1.
Observe que, na Figura 2.1, a curva da oferta é ascendente porque, quanto mais alto for o preço,
maior será a capacidade e o desejo das empresas de produzir e vender. Por exemplo, um preço mais alto pode per-
mitir que as empresas existentes aumentem sua produção no curto prazo, por meio da contratação de
trabalhadores adicionais, ou então por meio de horas extras trabalhadas pelos funcionários atuais (a
um custo mais alto para a empresa); podem também aumentar a produção no longo prazo, por meio da
expansão de suas fábricas. O preço mais alto também pode atrair para o mercado novas empresas, que
se defrontam com custos mais altos, em virtude de sua inexperiência, e que, portanto, teriam conside-
rado não vantajosa sua entrada no mercado a preços mais baixos.
OUTRAS VARIÁVEIS QUE AFETAM A OFERTA A quantidade ofertada pode depender de outras variáveis além
do preço. Por exemplo, a quantidade que os produtores desejam vender depende não apenas do preço
que recebem, mas também de seus custos de produção, incluindo-se aí salários, taxa de juros e o custo
Preco
P
P
Q1^ Q2^ Quantidade
Figura 2.1^ A^ curva^ da^ oferta A curva da oferta, denominada S na figura, mostra^ como^ a^ quantidade^ ofertada^ de^ um^ bem^ muda^ conforme
o preço desse bem sofre alterações. A curva da oferta é ascendente: quanto mais altos os preços, maior a ca-
pacidade e o desejo das empresas de produzir e vender. Se o custo de produção cai, as empresas podem pro-
duzir a mesma quantidade com um preço menor ou uma quantidade maior com o mesmo preço. A curva da
oferta desloca-se, então, para a direita (de S para S').
20 PARTE I
substitutos Dois bens são substitutos quando um aumento no preço de um deles provoca um au- mento na quantidade de- mandada do outro.
complementares^ Dois bens são^ complementa- res quando^ um^ aumento no preço de um deles provoca uma queda^ na quantidade demandada do outro.
preço de equilíbrio (ou de balanceamento do mercado) Preço que iguala a quantidade ofer-
tada com a quantidade
demandada.
mecanismo de mercado Tendência dos preços a se modificarem num merca- do livre até que haja ba- lanceamento do mercado.
INTRODUÇÃO: MERCADOS E PREÇOS
tros consumidores que anteriormente não dispunham de poder aquisitivo para comprar tal mercadoria comecem a adquiri-la.
Obviamente, , a a quantidade de um bem que os consumidores estão dispostos a comprar pode de
pender de outras variáveis, além de seu próprio preço. A renda é especialmente importante. Com renda
maior, os consumidores podem gastar mais em qualquer dos bens disponíveis, e alguns consumidores farão isso com muitos bens.
DESLOCANDO A CURVA DA DEMANDA Vejamos o que acontece com a curva da demanda se o nível da ren-
da aumenta. Como você pode ver na Figura 2.2, se o preço de mercado fosse constante em P, seria de
esperar um aumento da quantidade demandada - digamos, de Q, para Q₂, como resultado da renda
mais alta dos consumidores. Como esse aumento ocorreria qualquer que fosse o preço de mercado, о
resultado seria um deslocamento para a direita de toda a curva da demanda. Na figura, isso é mostrado со-
mo um deslocamento de D para D'. Alternativamente, podemos perguntar que preço os consumidores
pagariam para adquirir dada quantidade Q. Com uma renda maior, eles poderiam estar dispostos a pа-
gar um preço mais alto - digamos, P, em vez de P, na Figura 2.2. Novamente, a curva da demanda é des-
locada para a direita. Tal como mencionamos no caso da oferta, empregaremos a expressão mudança nа
demanda para nos referirmos aos deslocamentos da curva da demanda, e a expressão mudanças nas
quantidades demandadas para a situação em que ocorrem movimentos ao longo da curva da demanda.
BENS SUBSTITUTOS E COMPLEMENTARES Mudanças nos preços de bens relacionados também afetam a de- manda. Os bens são substitutos quando um aumento no preço de um deles produz um aumento na quantidade demandada do outro. Por exemplo, o cobre e o alumínio são bens substitutos. Pelo fato de ca-
da um deles poder ser substituído pelo outro em muitos usos industriais, a quantidade demandada de cobre
aumentará se o preço do alumínio subir. De igual modo, a carne de vaca e a carne de frango são bens substi-
tutos, uma vez que muitos consumidores decidem substituir uma pela outra quando seus preços mudam.
Os bens são complementares quando um aumento no preço de um deles leva a um decrésci-
mo na quantidade demandada do outro. Por exemplo, automóveis e gasolina são bens complementa-
res. Como tendem a ser usados em conjunto, um decréscimo no preço da gasolina aumenta a quanti-
dade demandada de automóveis. De igual modo, computadores e programas de computadores são
bens complementares. O preço dos computadores caiu drasticamente na última década, propiciando
um aumento não apenas das compras dos próprios computadores, mas também das compras de paасо-
tes de programas para computadores.
Atribuímos o deslocamento para a direita da curva da demanda na Figura 2.2 a um aumento da
renda. No entanto, esse deslocamento poderia ser resultado tanto de um aumento no preço de um bem
substituto quanto do decréscimo no preço de um bem complementar. Ou, ainda, poderia ser resultado
da alteração de alguma outra variável, tal como o clima. Por exemplo, as curvas da demanda por esquis
para neve e pranchas de snowboard se deslocarão para a direita sempre que houver grandes nevascas.
2.2 0 MECANISMO DE MERCADO
O próximo passo consiste em colocar a a c curva da oferta e a curva da demanda juntas. Isso é feito
na Figura 2.3. O eixo vertical mostra o preço de um bem, P, novamente medido em dólares por unida-
de. Esse é agora o preço que os vendedores recebem por dada quantidade ofertada e o preço que os com-
pradores pagam por dada quantidade demandada. O eixo horizontal mostra a quantidade total deman-
dada e ofertada, Q, medida por meio do número de unidades por período.
EQUILÍBRIO No ponto em que as duas curvas se cruzam, dizemos que foram atingidos a quantidade eо
preço de equilíbrio ou de balanceamento do mercado. Nesse preço (P, na Figura 2.3), a quantida-
de ofertada e a quantidade demandada são exatamente iguais (a Q). Denomina-se mecanismo de
mercado a tendência, em mercados livres, de que o preço se modifique até que o mercado se torne ba-
lanceado - ou seja, até que a quantidade ofertada e a quantidade demandada sejam iguais. Nesse ponto,
não há escassez nem excesso de oferta, de tal forma que não existe pressão para que o preço continue
se modificando. A oferta e a demanda podem não estar sempre em equilíbrio, e em alguns mercados o
balanceamento pode demorar quando as condições são modificadas repentinamente. A tendência, po-
rém, é de que os mercados se tornem balanceados.
Matematicamente, podemos escrever a curva da demanda como
Q = D(P,I)
onde I é a renda disponível. Ao desenharmos a curva da demanda, estamos mantendo I fixo.
Preço
(dólares por unidade)
Excesso P
Po
P Escassez
CAPÍTULO 2 Os FUNDAMENTOS DA OFERTA E DA DEMANDA 21
Qo^ Quantidade
Figura 2.3^ Oferta^ e^ demanda
No preço Po e na quantidade Qo, o mercado torna-se balanceado. A um preço maior, P, há um excesso de ofer- ta, e, portanto, o preço cai. A um preço mais baixo, P,, há um excesso de demanda, e então o preço sobe.
Para compreendermos por que os mercados tendem a se tornar balanceados, suponhamos que o preço fosse inicialmente superior ao nível de balanceamento do mercado - digamos que fosse P₁, na Fi-
gura 2.3. Dessa maneira, os produtores procurariam produzir e vender quantidades maiores do que os
compradores estariam dispostos a adquirir. Haveria um excesso de oferta, situação na qual a quanti-
dade oferecida excede a quantidade demandada. Para que tal excedente pudesse ser vendido, ou pelo
menos pudesse parar de crescer, os produtores começariam a reduzir seus preços. Por fim, conforme o preço caísse, a quantidade demandada aumentaria e a quantidade ofertada diminuiria, até que o preço
de equilíbrio, P, fosse alcançado.
Aconteceria o oposto caso o preço inicial estivesse abaixo de P - digamos que em P,. Ocorreria,
então, uma escassez de oferta - situação na qual a quantidade demandada excede a quantidade ofer-
tada - e os consumidores não conseguiriam comprar toda a quantidade que desejariam. Isso ocasiona-
ria uma pressão ascendente sobre os preços, à medida que os compradores se mostrassem dispostos a
pagar mais pelas quantidades existentes e os produtores reagissem com aumentos de preço e de produ-
ção. E, novamente, o preço acabaria chegando a P.
QUANDO PODEMOS EMPREGAR O MODELO DA OFERTA E DA DEMANDA? Quando desenhamos e utilizamos cur- vas de oferta e demanda, estamos supondo que, em qualquer nível de preço, determinada quantidade deverá ser produzida e vendida. Isso faz sentido apenas quando o mercado é, pelo menos, quase compe- titivo. Com isso queremos dizer que tanto vendedores quanto compradores deveriam dispor de pouco po- der de mercado (isto é, pequena capacidade de afetar individualmente o preço de mercado).
Suponhamos, em vez disso, que a oferta fosse controlada por um único produtor - um monopolis-
ta. Nesse caso, não haveria mais uma correspondência de um para um entre preço e quantidade ofertada.
Isso ocorre porque o comportamento do monopolista depende da forma e da posição da curva da deman-
da. Se a curva da demanda se modificasse de determinada maneira, poderia interessar ao monopolista
manter a quantidade fixa, mas alterando o preço, ou então manter o preço fixo, modificando a quantida-
de. (No Capítulo 10 explicaremos como isso poderia ocorrer.) Sendo assim, à medida que traçamos curvas de oferta e demanda, implicitamente assumimos que estamos nos referindo a um mercado competitivo.
2.3 MUDANÇAS NO EQUILÍBRIO DO MERCADO
Vimos como as curvas da oferta e da demanda se deslocam em resposta às mudanças em variáveis
como salários, custos de capital e renda. Vimos também como o mecanismo de mercado produz um equi- líbrio em que a quantidade ofertada é igual à quantidade demandada. Veremos, agora, como esse equilí- brio se altera em face de deslocamentos nas curvas da demanda e da oferta.
Consideremos, de início, um deslocamento na curva da oferta. Na Figura 2.4, a curva da ofer-
ta se desloca de S para S' (como já aconteceu na Figura 2.1), talvez em razão de uma queda no pre-
ço das matérias-primas. Conseqüentemente, o preço de mercado cai (de P, para P,) e a quantidade total produzida aumenta (de Q, para Q,). Isto é o que devemos esperar: menores custos resultam
excesso de oferta^ Si- tuação na qual a^ quanti dade ofertada excede^ a
quantidade^ demandada.
escassez de oferta Si-
tuação na qual a quanti-
dade demandada excede a quantidade ofertada.
Preço
P P
CAPÍTULO 2 OS FUNDAMENTOS DA OFERTA E DA DEMANDA^23
Q Q2 Quantidade
D
Figura 2.6 Novo^ equilíbrio^ após^ deslocamentos^ da^ oferta^ e^ da^ demanda
As curvas da oferta e da demanda deslocam-se ao longo do tempo em resposta às mudanças das condições
de mercado. Neste exemplo, o deslocamento para a direita de ambas as curvas resulta em um preço ligeira-
mente mais alto que o anterior e em uma quantidade bem maior que a anterior. Em geral, o preço e a quan-
tidade sofrem modificações que dependem do tamanho dos deslocamentos das curvas da oferta e da deman-
da e também da inclinação delas.
mudanças nos gostos. De modo similar, os salários, custos de capital e o preço das matérias-primas tam-
bém mudam de tempos tempos em em tempos, e essas mudanças alteram a posição^ da^ curva^ da^ oferta.
As curvas da oferta e da demanda também podem ser empregadas para acompanhar os efeitos
dessas mudanças. Na Figura 2.6, por exemplo, deslocamentos para a direita, tanto da curva da oferta
quanto da curva da demanda, resultam num ligeiro aumento no preço (de P, para P₂) e num grande au-
mento na quantidade (de Q, para Q₂). Em geral, o preço e a quantidade vão se modificar em função de
quanto as curvas da oferta e da demanda vão se deslocar, assim como em função das formas dessas cur-
vas. Para prever a dimensão e a direção dessas mudanças, precisamos saber caracterizar quantitativa-
mente a dependência da oferta e da demanda em relação aos preços e a outras variáveis. Trataremos
desse assunto na próxima seção.
EXEMPLO 2.1 O preço dos ovos e o custo do ensino universitário analisados novamente
No Exemplo 1.3, vimos que, de 1970 a 2002, o preço
real da dúzia de ovos (em dólares constantes) caiu em
74%, enquanto o preço real do ensino universitário au-
mentou em 55%. O que teria causado o forte declínio no
preço dos ovos e o considerável aumento no preço do ensi- no universitário?
Para compreendermos a mudança nos preços, devemos
examinar a evolução da oferta e da demanda de cada um dos
produtos, como mostrado na Figura 2.7. A mecanização das
granjas reduziu drasticamente o custo dos ovos, mudando a curva da oferta para baixo. Ao mesmo tem-
po, a curva da demanda por ovos deslocou-se para a esquerda, devido à população ter se tornado mais
consciente dos cuidados com a saúde, mudando seus hábitos alimentares e evitando comer ovos. Como
resultado, não apenas o preço real dos ovos declinou drasticamente, mas também o consumo anual
aumentou apenas levemente (de 5,3 bilhões de dúzias para 5,9 bilhões de dúzias).
Em relação ao ensino universitário, a oferta e a demanda se deslocaram em direções opostas.
O aumento nos custos para equipar e manter as modernas salas de aula, os laboratórios e as biblio-
tecas, somado ao aumento no salário dos funcionários, deslocou a curva da oferta para cima. Ao mes-
mo tempo, a curva da demanda deslocou-se para a direita, porque um maior percentual de alunos
que se formaram no ensino médio decidiu que o ensino universitário era essencial. Portanto, a des-
peito do aumento no preço, o número de estudantes matriculados cresceu de 7,4 milhões em 1970 para mais de 13 milhões em 2002.
24 PARTE I INTRODUÇÃO: MERCADOS E PREÇOS
P (em^ dólares de 1970 por dúzia)
$0,
$0,
P
$1970^ (custo^ anual
em dólares de 1970)^2002
D1970^ D
D2002 D
5.3 5.9 Q (bilhões de dúzias)
(a)
7.4 13,2 Q (milhões de estudantes matriculados) (b)
Figura 2.7 (a) Mercado de ovos
(b) Mercado do ensino universitário
(a) A curva da oferta de ovos deslocou-se para baixo como resultado da queda nos custos de produção, e a curva da demanda deslocou-se pa-
ra a esquerda como resultado da mudança nas preferências dos consumidores. Assim, o preço real dos ovos caiu drasticamente e o consumo
aumentou ligeiramente. (b) A curva da oferta do ensino universitário deslocou-se para cima como resultado do aumento nos custos de equi-
pamentos, manutenção e pessoal. A curva da demanda deslocou-se para a direita como resultado do aumento de estudantes secundaristas
querendo cursar uma universidade. Assim, tanto o preço real quanto o número de alunos matriculados^ cresceram^ significativamente.
EXEMPLO 2.2 A desigualdade salarial nos Estados Unidos
Embora a economia norte-americana tenha crescido vigorosamente durante as duas últimas décadas, os ganhos decorrentes desse processo de crescimento não foram repartidos igualmente. Os
trabalhadores especializados bem remunerados viram seu salário crescer substancialmente, enquan-
to o salário dos trabalhadores não especializados, mal remunerados, reduziu-se levemente em ter-
mos reais. De modo geral, houve um aumento no grau de desigualdade da distribuição de renda,
caracterizando um fenômeno que começou por volta de 1980 e se acelerou nos últimos anos. Por
exemplo, de 1978 a 2001, os 20% no topo da distribuição de renda experimentaram um aumento em
sua renda familiar média, real e antes dos impostos (ou seja, a renda bruta ajustada pela inflação),
de 52%, enquanto os 20% na base viram sua renda bruta média subir apenas 8%.
Por que a distribuição de renda se tornou muito mais desigual durante as duas últimas décadas?
A resposta encontra-se na demanda e na oferta de trabalhadores. Enquanto a oferta de trabalhadores
não qualificados - ou seja, pessoas com pouca instrução - cresceu substancialmente, a demanda por
esse tipo de mão-de-obra subiu apenas levemente. O deslocamento da curva da oferta para a direita,
combinado com um pequeno movimento da curva da demanda, provocou a queda no salário dos tra-
balhadores não especializados. Por outro lado, enquanto a oferta de trabalhadores qualificados - por
exemplo, engenheiros, cientistas, gerentes e economistas - cresceu eu apenas levemente, a demanda por
esses profissionais cresceu drasticamente, elevando o salário deles. (Deixamos para o leitor, como um
exercício, a tarefa de desenhar as curvas da oferta e da demanda mostrando o que ocorreu, tal como
foi feito no Exemplo 2.1.)
Essas tendências são evidentes quando se observa a evolução dos salários das diferentes cate-
gorias profissionais. Por exemplo, os ganhos reais (corrigidos pela inflação) semanais dos trabalha-
dores especializados (tais como profissionais das áreas imobiliária, securitária e financeira) cresceu
Se verificarmos esses valores após os impostos, veremos que o crescimento da desigualdade é ainda maior; a renda
média real após os impostos (isto é, líquida) dos 20% mais pobres caiu nesse período. Para dados históricos sobre a desigualdade de renda nos Estados Unidos, consulte "Historical Income Inequality Tables", no site do U.S. Census
Bureau: http://www.census.gov/.
26 PARTE I INTRODUÇÃO: MERCADOS E PREÇOS
Preço $1900 $
S
Trajetória^ de^ longo^ prazo^ do
preço e do^ consumo
D 1900 D 1950 D 2000 Quantidade
Figura 2.9 Deslocamentos de longo prazo da oferta e da demanda de recursos minerais A demanda pela maioria dos recursos aumentou drasticamente no século XX, mas os preços caíram ou subi-
ram pouco em termos reais (com ajuste pela inflação), devido à considerável redução dos custos, que deslo-
cou a curva da oferta significativamente para a direita.
de 100 vezes maior que em 1880. Padrões semelhantes são válidos para outros recursos minerais,
como o ferro, o petróleo e o carvão.
A demanda por tais recursos cresceu juntamente com a economia mundial. (Os desloca-
mentos da curva da demanda encontram-se ilustrados na Figura 2.9.) No entanto, à medida que
a demanda cresceu, os custos de produção foram reduzidos. Essa redução deveu-se, em primeiro
lugar, à descoberta de reservas maiores, que apresentaram menores custos de lavra, e, em segun-
do lugar, ao progresso tecnológico e à vantagem econômica das operações de mineração e refina-
mento em larga escala. Conseqüentemente, a curva da oferta deslocou-se para a direita ao longo
do tempo. No longo prazo, os deslocamentos da curva da oferta foram maiores que os desloca-
mentos da curva da demanda, de tal forma que o preço apresentou repetidas quedas, como mos-
tra a Figura 2.9.
Isso não significa que os preços do cobre, do ferro e do carvão devam declinar ou permanecer cons-
tantes para sempre, pois tais recursos são finitos. Contudo, à medida que os preços começarem a subir, o
consumo provavelmente mudará, pelo menos em parte, para materiais substitutos. Por exemplo, o co-
bre em muitas de suas aplicações foi substituído pelo alumínio e, mais recentemente, pela fibra ótica na
eletrônica. (Veja o Exemplo 2.7 para uma discussão mais detalhada a respeito do preço do cobre.)
EXEMPLO 2.4 Os efeitos do 11 de setembro na oferta e na demanda de imóveis
comerciais em Nova York
O ataque terrorista que atingiu o complexo do World Trade Center (WTC) em 11 de setembro
de 2001 danificou ou destruiu 21 edifícios, que totalizavam aproximadamente $31,2 milhões de pés
quadrados (2.800 quilômetros quadrados) na área comercial de Manhattan - cerca de 10% da ofer-
ta total da cidade. Pouco antes do ataque, a taxa de desocupação dos escritórios em Manhattan era
de 8%, e o aluguel médio cobrado era de $52,50 por pé quadrado ($565,10 por metro quadrado).
Após a imensa e inesperada redução na quantidade de imóveis comerciais ofertados, poderíamos es-
perar um aumento no preço de equilíbrio dos aluguéis e, com isso, uma queda na quantidade de
equilíbrio dos imóveis comerciais. Além disso, como construir novos prédios comerciais e restaurar
os danificados é um processo demorado, também poderíamos esperar por uma violenta queda na ta-
xa de desocupação.
Entre 1999 e 2000, o índice de consumo de cobre nos Estados Unidos era de aproximadamente 102, mas depois
sofreu uma queda significativa, em decorrência da crise econômica de 2001 e 2002. Os dados sobre consumo
(1880-1899) e preço (1880-1969) da Figura 2.8 foram extraídos de Robert S. Manthy, Natural resource commodities:
a century of statistics. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1978. Já os dados mais recentes sobre preço e con-
sumo (1970-2002) vieram do U.S. Geological Survey - Minerals Information, Copper Statistics and Information:
http://minerals.usgs.gov/.
Preço
(dólares/pé2) Snov
P
45, 41,
CAPÍTULO 2 OS FUNDAMENTOS DA OFERTA E DA DEMANDA
Sago
D'nov
Dag
Figura 2.
0 57,2 Q 76,4 Espaço (milhões de pés²)
Oferta e demanda de espaço comercial na cidade de Nova York
Após 11 de setembro, a curva da oferta se desviou para a esquerda, mas a curva da demanda também se des-
viou na mesma direção e, assim, o preço do aluguel caiu.
Para surpresa geral, porém, a taxa de desocupação em Manhattan cresceu: daqueles 8% em
agosto de 2001, passou para 9,3% em novembro de 2001. Além disso, o preço médio do aluguel caiu,
de $52,50 para $50,75 por pé². No centro de Manhattan, onde ficava o WTC, a mudança foi ainda
mais marcante. A taxa de desocupação cresceu de 7,5% para 10,6%, e o preço médio do aluguel caiu
aproximadamente 8%, ficando em $41,81. O que houve?^ Os^ preços^ caíram^ porque^ a^ demanda^ por imóveis comerciais diminuiu. A Figura 2.10 descreve o mercado para imóveis comerciais no centro de Manhattan. As curvas de oferta e demanda antes de 11 de setembro são representadas por S, e D. No equilíbrio, o preço e o espaço comercial eram de $45,34 por pé e 76,4 milhões de pés, respectivamente. A redução na
oferta, ocorrida de agosto a novembro, é indicada por um desvio para a esquerda na curva de oferta
(de S para S); o resultado é um preço de equilíbrio mais alto, P', e um espaço de equilíbrio mais
baixo, Q'. Esse é o resultado que muitos previram para os meses seguintes a 11 de setembro.
Muitos especialistas não^ o^ previram,^ porém,^ a^ a^ significativa^ diminuição^ na^ demanda^ por^ imóveis
comerciais que acompanhou a queda na oferta. Em primeiro lugar, muitas empresas, tivessem sido
desalojadas ou não, preferiram não voltar ao centro por questões relacionadas à qualidade de vida (as
ruínas do WTC, a poluição, o transporte deficiente e um conjunto arquitetônico em processo de en-
velhecimento eram fatores desestimulantes). As empresas desalojadas pelo ataque também foram
obrigadas a rever sua necessidade de espaço e, por fim, compraram de novo pouco mais de 50% de
seu espaço original em Manhattan. Outras deixaram a região, mas permaneceram na cidade de No-
va York; outras, ainda, mudaram-se para New Jersey. Além disso, no fim de 2001, a economia nor-
te-americana passava por uma crise (exacerbada pelos eventos de 11 de setembro) que reduziu ainda
mais a demanda por imóveis comerciais. Assim, a queda cumulativa na demanda (a mudança de D
para D) acabou fazendo com que o preço médio dos aluguéis comerciais no centro de Manhattan caísse, em vez de subir, nos meses posteriores ao ataque. Em novembro, embora o preço tivesse bai- xado para $41,81, ainda havia 57,2 milhões de pés desocupados.
2.4 ELASTICIDADES DA OFERTA E DA DEMANDA
Já vimos que a demanda por uma mercadoria depende de seu preço, bem como da renda do consu-
midor e dos preços de outras mercadorias. De modo semelhante, a oferta depende do preço, bem como de
Veja Jason Bram, James Orr e Carol Rapaport, "Measuring the effects of the September 11 attack on New York
City", Federal Reserve Bank of New York, Economic Policy Review, nov. 2002.
Preço
Ep=-
4 Q=8-2P
E=-
2
CAPÍTULO 2 OS FUNDAMENTOS DA OFERTA E DA DEMANDA 29
E=
(^48) Quantidade
Figura 2.11^ Curva^ da^ demanda^ linear
A elasticidade de preço da demanda depende não apenas da inclinação da curva da demanda, mas também
do preço e da quantidade. A elasticidade, então, varia ao longo da curva conforme mudam os preços e as
quantidades. A inclinação dessa curva da demanda linear é constante. Próximo ao topo, o preço é alto e a
quantidade é pequena, então a elasticidade é alta em magnitude. A elasticidade diminui à medida que nos
movemos para baixo ao longo da curva.
Como traçamos as curvas da demanda (e da oferta) com o preço representado no eixo vertical, e
a quantidade representada no eixo horizontal, AQ/AP = (1/inclinação da curva). Como resultado, para
qualquer combinação entre preço e quantidade, quanto mais acentuada for a inclinação^ da^ curva,^ me- nor será a elasticidade da demanda. A Figura 2.12 apresenta dois casos especiais. A Figura 2.12(a) apre-
senta uma curva da demanda que reflete uma demanda infinitamente elástica: os consumidores
vão adquirir a quantidade que puderem a determinado preço, P*. No caso de qualquer aumento de pre-
ço acima desse nível, mesmo que ínfimo, a quantidade demandada cai a zero; da mesma maneira, pa-
ra quaisquer reduções no preço, a quantidade demandada aumenta de forma ilimitada. A curva da de-
manda na Figura 2.12(b), por outro lado, reflete uma demanda completamente inelástica: os con-
sumidores adquirirão uma quantidade fixa Q*, qualquer que seja o preço.
demanda infinitamente
elástica Situação de mer-
cado em em que os consumi- dores vão adquirir a quan-
tidade que puderem de
certo bem a determinado preço; a qualquer preço mais alto do que esse, a demanda cai para zero; a qualquer preço mais baixo,
a demanda aumenta ilimi-
tadamente
Preço
p D
Quantidade
(a)
Preço^ D
Q^ Quantidade
(b)
Figura 2.12^ (a)^ Demanda^ infinitamente^ elástica
(b) Demanda completamente inelástica
(a) Para uma curva da demanda horizontal, AQ/AP é infinito. Como uma pequena mudança no preço leva a uma enorme variação na
quantidade demandada, a elasticidade de preço da demanda é infinita. (b) Para uma curva da demanda vertical, AQ/AP é zero. Como a
quantidade demandada é a mesma,^ não^ importa^ o^ preço,^ então^ a^ elasticidade^ de^ preço^ da^ demanda^ é^ zero.