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No palco giratório de Peter Sloterdijk. Nosso giro começa por um voo de superfície nos estudos da vida exercitante desde a viragem antropotécnica de Peter ...
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Figura 3
Nesse desenho imaginário 1 passemos rapidamente pela quadra III para logo retornar o nosso giro antropotécnico ao paradigma identitário, étnico-religioso-moral-social (quadra I ) assentado em questões prementes como das biopolítica e das humanidades, das religiosidades e dos estudos “coloniais”, de acordo com a área de concentração ou focos em questões como as de igualdade e de gênero, racial ou de classe, das lutas de emancipação, igualdade e diversidade cultural, da dívida humanitária e ambientais, etc, etc. E fazê-lo logo adiante com uma firme passada ou pisada no mundo da política (quadrante II ) e sua inevitável fronteira com os movimentos e cinéticas - concêntricos e excêntricos - do poder, e toda essa cobertura que vai dos direitos humanos às liberdades civis, etc, etc, para, e só
então ,chegarmos ao quadrante IV (o campo simbólico) como expresso por nosso modelo.
Exatamente nesses espaços das imunidades simbólicas que Sloterdijk monta a sua barraca, separa toda a ferramentaria produzidas ao longo das suas pesquisas e críticas das críticas das teorias críticas para, munido dos recursos da própria força intelectual autoimunizante, disparar a sua artilharia nas certezas filosóficas e espirituais dos paradigmas emancipatórios de recorte comunistas ou capitalistas, identitários e/ou ascéticos dominantes, e que atuam nos acampamentos de base da formação do sujeito moderno via de regra tratados, de um lado ou outro, como superestruturas das economias globais e/ou da política “moderna”.
Sem esses movimentos giratórios e abruptos, sem a liberdade e a flexibilidade de voar ou deslocar-se de um lado a outro, de cima a baixo, de trás pra frente, do certo pelo avesso, não haveria como acompanhar seus argumentos metafóricos e filosóficos. Tão logo se entra numa cena, nosso pensador muda todo o cenário do roteiro elaborado e o faz pelas exigências que se dá como teses, seja do mais alto padrão olímpico poliatlético como da sua antropologia filosófica, tecnológica e pós-histórica. Trata-se de um filósofo que não faz “experimentos” com os conceitos, mas exercita-os exercitando-se o tempo todo no giro do
(^1) Tenta-se aqui tão-somente captar o incapturá vel para poder “definir” a empresa filosó fica de Sloterdijk. Trata-se portanto de uma das inú meras figuras ilustrativas do seu pensamento cujas dimensõ es olí mpicas escapam dessas nossas leituras, sobretudo quando se referem ao paradigma das co-imunidades esfero-planetá ria. Ver nota 37.
pensamento e das fontes balizadoras que faz uso.
O autor de “Tens de mudar a tua vida” (2009) começa seu empreendimento filosófico chamando-o de exerc í cio “a operação pela qual a qualificação do agente é estabilizada ou melhorada até a execução seguinte da mesma operação, seja ela declarada ou não como exercício” (p.16). A passagem de uma operação a outra no processo como autoformação - e vemos ai uma certa ‘malícia’ no sistema auto-operativo da produção humana em tempos modernos e hipermodernos - já estava escrita num outro grande livro, escrito em 1989, onde Sloterdijk apresenta a sua crítica cin é tica da pol í tica nos estudos da mobilidade e hipermobilidade.^2
Em resumo, será preciso um giro completo no e sobre o palco giratório, tendo como ponto de partida - e não exatamente nesta ordem - o quadrante da economia, seguido pela passagem étnica e os campos culturais da vida humanitária – das questões de gênero e religiosa, raciais e existenciais – , atravessar todo o quadrante da política, como lugar reservado para a representação democrática, dos partidos e grupos de poder, seja no sistema neoliberal ou neototalitário, até chegarmos ao quadrante do sistema imunitário simbólico.
Esse giro é meramente didático, pois nosso desenho, tanto quanto no palco giratório de Sloterdijk, prima por movimentos simultâneos e virtualidades imaginárias em que os personagens do palco são pensados como autores e atores que se revezam ao longo da peça os seus respectivos papéis, incluído-se a relação com a audiência ou público presente no teatro da antropotécnica ou seus observadores à espreita ou à distância.
Neste ponto devemos permanecer para conversar por alguns instantes, cadenciar os passos, afinar a lupa e a luz do interior, respirar vagarosamente para nos recuperar dos impactos que seu pensamento provoca ao fazer o desmanche do sistema que opera desde dentro e de fora nos palcos da história por mais de 400 anos de operação e formação do sujeito moderno e na hipermodernidade.
Por fim estar ciente de que, nessa breve parada respiratória, vem à tona alguns discursos
em favor da “educação inclusiva” e toda a falácia da educa ção continuada ,a terrível
formação permanente (TFP) como comentei alhures em concordância com Giles Deleuze, aquele ponto da “crítica” que reportei acima aflora tantos os instintos como os fantasmas do pensamento dito superior.
(^2) Peter Sloterdijk. A mobilização infinita. Para uma crítica da cinética política. Relógio D’Água, 2002.
Sloterdijk, a passagem da antropogênese à antropotécnica; ou seja, a capacidade do homem produzir-se em “uma segunda natureza” ou sistema de imunidades sociais, políticas e simbólicas, que funciona como armaduras antropotécnicas.
Observa-se que há, em Sloterdijk, duas modalidades de antropotécnicas: uma primeira empenhada na defesa da vida e na proteção sistemática da mortalidade, que se faz ao criar todos os meios para melhorar o mundo e defender a si mesmo. A estratégia dessa primeira antropotécnica, como escreve em “ Regras para o parque humano ” 6 começa pela vida letrada e alfabetizada e faz sua primeira viragem através do letramento e da educação que
salva o homem e o mundo da barbárie.
Mas há uma segunda modalidade de antropotécnica, desta vez focada na melhoria pela autossuperação do próprio homem através de técnicas sociais, individuais, ascéticas e espirituais muito próximo da vida atlética de rendimento cultivada pelo exercício, o esforço, a concentração, a alimentação, a espiritualidade, todo um estilo de vida em exercício ativado pela busca, a competição e/ ou a vontade de superação das limitações ou adversidades que possam travar o modo superior de vida a seguir.
Nesta segunda modalidade, o que pesa ou conta, já não é tanto o letramento ou grau de instrução no sistema de adestramento (educação), mas a força mental, corporal e espiritual, o exercício, a gana de vencer e vencer, não poucas mas todas as adversidades, uma antropotécnica da superação e elevação do padrão existencial e social dos seus praticantes e exercitantes. O que conta agora não é mais o curriculum escolar, nem os diplomas ou graus de ensino, mas a capacidade de agir e reagir, de resistir, de competir, o esforço, o sacrifício, o treino, o sucesso, o melhor desempenho no limite do (im)possível, em todas as áreas da vida pessoal, sexual, produtiva, sociativa e timótica da existência humana.
Há um capítulo no livro “ Tu tens de mudar a tua vida ”^7 , de Peter Sloterdijk, que precisa ser lido e relido, estudado e conversado sempre que estivermos diante de um professor, de um cientista, de um político ou empreendedor, mas, e sobretudo, diante de treinadores de atletas ou produtores de artistas, líderes ou influenciadores de ativistas, gurus de famosos e ‘melhoradores’ do mundo. Neste capítulo, de modo especial, Sloterdijk revela seu estilo
(^6) Peter Sloterdijk, Regras para o parque humano. Estação Liberdade, 2000. (^7) Na edição em que trabalho, da Editora Relógio D’Água, o título foi traduzido do original Du MuBt dei leben ündern. Über Anthopotecnik para “Tens de Mudar de Vida. Sobre Antropotécnica”. Conservo a tradução espanhola da editora Pre-Texto, “ Has de cambiar tu vida ”.
esgrimista primoroso, sem perder a perspicácia e elegância que o coloca entre os pensadores mais influentes da cena europeia e cuja produção autoral encontra-se nesta obra que marca a sua segunda grande virada antropotécnica.
A considerar os tipos acima relacionados, entre outros que buscam tocar os cumes do mundo - ouvimos o tempo todo expressões como fama, riqueza, sucesso, vencedor, superação, e todo um repertório explorado pelos marketings vendedores de “experiências” e melhores “soluções” do mercado, chama atenção a página 458 e seguintes, quando o autor destaca o que chama de “metanoia a metade do preço”. Como vimos nos catálogos de venda e promoção de produtos, cursos e serviços, também existe uma área da educação e formação vendida pela metade do preço.
Aqui será possível entender melhor a referência anterior sobre a lógica, perversa senão fosse trágica, que emoldura a maior parte dos programas de treinamento e educação continuada, as terríveis formações permanentes (chamo-as TFPs dos novos totalitarismos sejam eles populistas ou midiáticos) que grassam para além das bancas e bancadas escolares. Milhões de cursos e serviços ou “soluções baratas, acessíveis e rápidas oferecidas, sem eira nem controle, nestes tempos crepusculares da educação e de suicídio da modernidade (sobretudo naquilo que importa para cada um de nós, nos quesitos considerados imprescindíveis acerca dos destinos humanos, seja na vida de cada um e/ou das humanidades.
Aqui estão, certamente, as páginas mais importantes já escrita por um filósofo contemporâneo vivo ao colocar em cena “ o sujeito que opera e se deixa operar” pelas técnicas ascéticas e atléticas da formação do ‘homem moderno’, tal como expressa nas chamadas “curvas auto-operativas do sujeito moderno”, que atente nestes Breviário pelo sigma c-a-o-s-mo, desde onde o professor Sloterdijk expressa toda a desenvoltura e maestria.
Mas preciso pedir licença aos leitores para recitar um trecho - o mais longo que já citei em toda a minha vida autoral - e que certamente poderá gerar comentários discordantes, mas que, por razões pedagógicas não será possível, no momento, fazer uma análise mais detida sem ignorar a necessidade de retomar em nossas conversas, cursos e páginas do presente breviário.
Devem ser lidas como páginas de recitação e meditação, como exercício de atenção para ideias que não se fecham nelas mesmas mas que, sobretudo, não podem ficar restritas à mediação dos “especialistas” em Sloterdijk ou em qualquer outro filósofo, mas diretamente
compreensíveis nos respectivos contextos. Dizem respeito, por um lado, às intensas fricções entre a forma forte e a forma fraca do imperativo metanóico na Modernidade e, por outro, a relação entre as otimizações que eu próprio realizo sobre a minha pessoa e os melhoramentos da vida que utilizo como contemporâneo de invenções e prestações de serviços avançadas oriundas de terceiros. Para o primeiro modo de ação, utilizo a expressão “auto-operar-se”, o que faz da frase “deixar se operar” a escolha lógica para o segundo. Ambos designam modos concorrentes de comportamento antropotécnico. No primeiro, enquanto objeto duma automodificação direta, sou moldado por medidas que eu próprio tomo; no segundo, exponho-me aos efeitos da competência operativa de terceiros e sou moldado por eles. O jogo entre o “auto-operar-se” e o “deixar-se operar” abrange a totalidade da preocupação do sujeito consigo mesmo. As situações modernas distinguem-se pelo facto de que cada vez mais os indivíduos autocompetentes se servem da competência dos outros para os seus atos sobre si próprios. Ao retro-referimento do “deixar-se operar” ao “auto-operar-se” chamo “ curvatura auto-operativa do sujeito moderno“. Esta baseia-se numa evidência forte: quem permite a outros que façam alguma coisa diretamente sobre si faz indiretamente alguma coisa por si mesmo. Isso conduz a um modo alterado de integração do sofrimento na ação. O sujeito competente não deve somente zelar pelo alargamento do seu próprio raio de ação; tem igualmente de alargar a sua responsabilidade pelos “tratamentos” praticados por outros. A razão pela qual não pode ser doutra maneira no mundo modernizado é perfeitamente plausível. Os indivíduos não são somente incapazes de tomar sobre si próprios todo o trabalho de transformação do mundo — não podem sequer produzir por si próprios tudo o que é necessário à sua própria otimização pessoal. Na medida em que se expõe aos efeitos da capacidade de agir de terceiros, apropriam-se duma forma de passividade que implica um modo evasivo ou diferido deles próprios agirem. A competência alargada dos Modernos no que se refere à passividade exprimi-se na disponibilidade para deixarem se operar no seu próprio interesse.
Finalmente, a imprescindível sequência - e apelo uma vez mais para a generosidade do leitor as ler, pois são referências fundamentais aos que estão impossibilitados de acesso imediato do livro e das fontes aqui recomendadas. Arremata o autor em sua viragem antropotécnica :
Uma passividade bem-vinda exprime-se em numerosas variantes deixar-se informar, deixar-se divertir, deixar-se servir, deixar-se prover, deixar-se excitar, deixar-se curar, deixar-se construir, deixar-se segurar, deixar-se transportar, deixar-se representar, deixar-se aconselhar, deixar-se corrigir. Há outras forma de passividade mal-vindas que podem acrescentar-se a esta série. Citarei, em primeiro lugar, o deixar-se ser chantageado — por exemplo, através da dimensão, examinada por Marx, dos contratos de trabalho desavantajosos, nos quais o teórico da mais-valia quis ver a realidade da “exploração”; donde se deduz, aliás, que a exploração, logo que se torna crônica, não continua sem um certo grau de consentimento da parte passiva. De-ver-se-á referir, por fim, ou deixar-se enganar: encontra a sua atualidade em situações em que o sujeito não
pode satisfazer pelos seus próprios meios a sua necessidade de auto-ilusão e volta-se, para não ceder no seu desejo, para um fornecedor de ilusões credenciado que põe a sua disposição aquilo que de que necessita. Mas seja o que for que o sujeito deixa que lhe façam ou que façam com ele: ele não se apropria dos “tratamentos” somente após o fato, vai de sua própria iniciativa ao encontro deles integra-o o que fazem com ele no que ele próprio faz consigo. (…).^9
Observa-se que, somente nesta longa citação, trata-se de um acervo de questões e, bem vistas as coisas, ditos e editos, ultrapassam o limite de nossa conta, razão pela qual será objeto de estudos à parte no curso desses Breviários.
Mas ela foi necessária para dimensionar os desafios que temos na formação de uma nova geração de leitores e dos públicos interessados nas experiências e estudos e que são os objetivos do “projeto de formação de formadores” - o leitor estudioso, o pesquisador inventivo, o professor pensador ou o profissional vocacionado - públicos que certamente se sentem citados, provocados ou integrantes-integrados dentro da curva auto-operativa da máquina de formação e de educação que Sloterdijk investiga. Deixamos, pois, em suspensão, nosso foco em Sloterdijk para, na cena seguinte, abrir uma janela autoral nesta breve intromissão nietzscheana que fazemos no teatro das antropotécnicas.^10
Desde Nietzsche e sua Genealogia da Moral sabemos que o cinza é a cor da ‘condi çã o’ humana - talvez o cinza espelhado na carta de cores de Goethe, não sei - em que o autor das “Considerações Intempestivas” transformou “o artista Nietzsche” no mestre das artes pl á sticas do pensamento ao pintar o seu quadro mais doloroso e dram á tico com as cores da trag é dia.
O cinza de todas as sequelas do humano demasiado mundano atravessou décadas e séculos na fiação do ressentimento – o dispêndio moderno que cravou na alma alemã e deixou as feridas abertas ao ponto de atravessar tanto a ordem moral como toda a economia europeia, por todo o século XX e nesta segunda década do século XXI.
O ressentimento, base do sofrimento moral e da miséria humana global – e que, juntamente com a inveja,^11 mobiliza multidões de todos os lados do planeta em guerras de
(^9) Grifos meus, JP. (^10) Neste intervalo seguimos por conta própria com o intuito de marcar e fazer a passagem da perspectiva exercitante das leituras de Sloterdijk à poética da superação desde Nietzsche e autores contemporâneos na cena filosófica e literária contemporânea. (^11) Tema que tratarei no módulo final deste minicurso no encontro com María Zambrano.
letrado-numérico da alfabetização trazida pela primeira viragem antropotécnica.^14
A coragem de lutar e fazer a prova de vida no reconhecimento de si e/ou de outros se completa a cada vez na sua autoafirmação. E também a ciência de que, por tal vontade poética, podemos tocar o topo da vida e governação tanto na reparação como na superação dos poderes dominantes de sociedades cujos modelos de educação e cultura, dividem os humanos em ativos e reativos, fortes e fracos, em indivíduos livres e independentes e no homem-massa (Ortega y Gasset), e aqui pensados nas duas atualizações ou versões contemporâneas: a do homem-multidão (Gonçalo M. Tavares) e do homem-indexado, como exponho nos presentes breviários.
Por fim, a chance de condensar toda a epopeia e a tragédia juntas, toda a energia e o dinamismo oferecidos por uma poética vocacionada – a superação do ressentimento inseparável do endereçamento que se faz e se dá à própria vida – algo que se impõe àqueles que buscam a liberdade e a independência, a autonomia de ser e querer ser o que se é, sem passar por cima dos outros que almejam as mesmas condições e não pelo nivelamento identitário ou esquemas discursivos igualitários que passam a régua por cima das distinções e peculiaridades de cada um e os partícipes de uma dada coletividade de afetos ou de interesses, sejam manifestos ou “dissimulados”.
O poder dissimulador – sobretudo possibilitado pelas mídias digitais e redes ditas sociais^15 -, é avesso aos exercícios da superação. Mas com langor e tristeza temos de concordar, pois, no momento esse poder midiático forma e deforma o campo psíquico das inteligências humanas e das inteligências artificiais – importante marcar essa diferença - com consequências sociais e culturais, pedagógicas e políticas graves, pois atuam para bloquear
as capacidades de sonhar e de fazer, e é isso que a poética da superação pode reverter.
E assim Sloterdijk domina a cena e encena com as mais riquíssimas fontes, recitações e influências toda a sua obra esfero-parabólica ao possibilitar a entrada da filosofia às novas cinéticas e cenas do mundo. E o faz contrapondo a esses tempos midiáticos da filosofia mundana ou academicista o seu artistismo poliatlético, esforço do pensamento da superação
(^14) Em “Poética da superação a propósito da obra de Gonçalo M. Tavares”, Pedro Emanuel Quintino de Sousa, em sua tese de doutorado (2015), destaca Peter Sloterdijk como “representante do pensamento da superação no século XXI por seu esforço teórico em dois aspectos fundamentais de sua filosofia: a antropotécnica e a imunização” (p. 29). No Brasil, o escritor e filósofo Juliano Garcia Pessanha, também em sua tese de doutorado “Peter Sloterdijk: virada imunológica e analítica do lugar”(2017), destaca uma “virada paradigmática de Sloterdijk” em sua trilogia das Esferas (Bolha, Globo, Espuma), com consequências muito férteis e desafiadoras para a filosofia contemporânea”. As leituras que faço aproximam Sloterdijk e Nietzsche (e Deleuze), e abrem novas perspectivas na poética da superação que será desenvolvida no próximo ensaio preparatório dos Inovadores, com a entrada em cena de María Zambrano. (^15) Para mim as mídias (sociais e/ou digitais) fazem da cultura da mais-valia do ressentimento e da inveja na formação do “sujeito moderno”, seja indivíduos oriundos das massas, sejam das elites.
que faz pensar a necessária e inadiável passagem - e ultrapassagem - dos paradigmas da antropotécnica e, na situação-limite, decisiva, considerar, de um lado, a ética da razão poética e, de outro, prosseguir o caminho cego da razão iluminista e perdermos a chance de fazer da filosofia inovação da educação que aproxima as cifras da inteligência com as exigências da liberdade.