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Uma pesquisa realizada sobre as imagens e sons produzidos e circulados em filmes, e suas influências sobre as práticas e conhecimentos de professores. O texto aborda as concepções de infância e diferença, questionando como elas são construídas e problematizadas. Além disso, o documento discute a importância de filmes em nos ajudar a pensar e desconstruir as ideias de currículo e educação.
O que você vai aprender
Tipologia: Provas
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Não perca as partes importantes!
Dimas Santana Neves^1 João de Deus dos Santos^2 Maritza Maciel Castrillon Maldonado^3
O bom de assistir esse filme é ver a realidade. Há poucos dias nós começamos as aulas e eu vi a realidade de uma aluna minha que os pais não procuraram falar. Eu vi essa aluna faltando, faltando. Ela foi passear um final de semana na casa da avó e estava simplesmente esperando a avó receber a aposentadoria para poder retornar. Faltou praticamente o mês todo de aula. Não foi fazer o reforço. Agora vou ter que tirar do meu recreio para poder ajudar. Então, às vezes o professor faz ficha, ficha, ficha e não vai na família ver o porque ela tem dificuldade (Professora Japuíra^4 )
(^1) Professor Adjunto da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, curso de pedagogia e pesquisador do AIE. 2 Professor Adjunto da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, curso de pedagogia e pesquisador do AIE. 3 Professora Adjunta da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, curso de pedagogia e Programa de Pós-Graduação em Educação e pesquisadora do AIE. 4 Objetivando garantir o anonimato dos professores e professoras, praticantespensantes da pesquisa, optamos por nomeá-los com nomes de pássaros, mesmo tendo, todos, assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 5 De acordo com Alves, a junção das palavras foi a melhor forma que encontrou “depois de usar outras, para dizer da unidade indissociável de seus dois componentes, que na verdade precisam ser entendidos como um só, na tentativa de superar a visão dicotomizada que herdamos da modernidade” (Alves, 2000).
A multiplicidade é ativa, é um fluxo, é produtiva. A multiplicidade é uma máquina de produzir diferenças – diferenças que são irredutíveis à identidade. A diversidade limita-se ao existente. A multiplicidade estende e multiplica, prolifera, dissemina. (SILVA, 2000, p. 100)
O filme, intercessor que força^8 pensar.
(^8) Em contraposição a filosofia clássica, Deleuze nos diz que o que funda o pensamento é o encontro com algo violento que força a pensar. Para ele, “o que é primeiro no pensamento é o arrombamento, a violência, é o inimigo, e nada supõe Filosofia” (DELEUZE, 1988, p. 230).
O essencial são os intercessores. A criação são os intercessores. Sem eles não há obra. Podem ser pessoas – para um filósofo, artistas ou cientistas; para um cientista, filósofos ou artistas – mas também coisas, plantas, até animais, como em Castañeda. Fictícios ou reais, animados ou inanimados, é preciso fabricar seus próprios intercessores. É uma série. Se não formamos uma série, mesmo que completamente imaginária, estamos perdidos. Eu preciso de meus intercessores para me exprimir, e eles jamais se exprimiriam sem mim: sempre se trabalha em vários, mesmo quando isso não se vê. E mais ainda quando é visível: Félix Guattari e eu somos intercessores um do outro. (DELEUZE, 1992, p 156)
É nessa direção que afirmo que para as pesquisas nos/dos/com os cotidianos , as narrativas e as imagens de professoras e de outros praticantes dos espaçostempos cotidianos não podem ser somente entendidas, exclusivamente, como ‘fontes’ ou como ‘recursos metodológicos’. Elas ganham o estatuto, e nisso está sua necessidade, de personagens conceituais. Sem narrativas (sons de todo tipo) e imagens não existe a possibilidade dessas pesquisas. Assim, ao contrário de vê-las como um resto rejeitável, dispensável do que buscamos, é preciso tê-las, respectivamente, como personagens conceituais necessários aos processos que realizamos. (ALVES, 2010 p. 1203).
O filme, intercessor que força a pensar. Pensar o que? Infâncias...
Os professores, os coordenadores, o diretor da escola... Às vezes a gente não sabe o que está se passando prá criança estar ali. Às vezes vai sem uniforme, chega atrasado, falta muito e a gente não sabe, né? Então, assim, nós não vemos porque esta chegando atrasado. Então, assim, outra questão é que ele, o menino, estava sendo resiliente mesmo nessa situação de estar sem o tênis, ele estava procurando resolver, sem os pais. (Professora Bem-te-vi). Eis um comentário provocado por um modo possível de recepção do filme Filhos do Paraíso. Esse filme, dirigido por Majidi Majidi, narra o cotidiano de uma família humilde do Irã, composta por Ali (Amir Farrokh Hashemian), o protagonista-menino de 9 anos, sua irmã Zahra (Bahare Seddiqi), um irmão-bebê, sua mãe doente e seu pai trabalhador pouco escolarizado. Trata-se de um enredo composto de inúmeras facetas, com possibilidade de múltiplos olhares interpretativos. Neste texto puxamos apenas um fio que se desenrola dos muitos que atravessam a trama. Fio esse que rondou as narrativas dos praticantespensantes que movimentaram o primeiro cineclube organizado pelo Projeto. Existe um dentro e um fora da escola?
O enredo do filme se passa a partir da cena em que Ali vai buscar o sapato de sua irmã que levou para consertar. No caminho de volta para casa, passa em uma venda para comprar, a crédito de sua mãe, algumas batatas. Deixa o sapato em uma sacola plástica na porta da venda e esse destacado equipamento escolar é recolhido, indevidamente, pelo coletor de lixo. O sapato perdido passa a ser um segredo dos dois irmãos que, para não inculcarem mais essa preocupação aos pais, passam a compartilhar, diariamente, o tênis de Ali em incansáveis idas e voltas da
escola. Esse acontecimento interconecta, também, toda uma história de vida que se transforma em obra de arte, tramada a partir da necessidade de um par de tênis, as exigências de uma instituição educativa e as múltiplas dimensões da construção de experiências de vida.
Zahra vai para a escola logo cedo e volta correndo para entregar o tênis a Ali, que, ansioso a espera. O caminho até a escola é longo e Ali, mesmo correndo, sempre, chega atrasado. Os atrasos constantes levam o diretor da escola a repreender Ali, sem se dar conta das condições que impossibilitam o cumprimento do horário.
A escola iraniana apresentada no filme foge pouco ao modelo de escolarização e aos interesses da sociedade apontados por Kant em sua Réflexion Sur I’Éducation. Para esse filósofo, “enviam-se em primeiro lugar as crianças à escola não com a intenção de que elas lá aprendam algo, mas com o fim de que elas se habituem a permanecer tranquilamente sentadas e a observar pontualmente o que se lhes ordena” (1962, p. 71). Nesses aspectos, o filme apresenta Ali como o aluno idealizado e a concepção de escola moderna como um dos conjuntos de máquinas eficazes, capazes de executar a relação de saber e poder, para que Ali possa se tornar cidadão. Nesse sentido, o filme representa papéis definidos de professor e aluno, espaços delimitados e tempos entrecortados e definidores de ações no contexto escolar. Horários, filas, obediência, silêncio, provas, disciplina de corpos e mentes, regulam, ordenam e controlam o cotidiano da escola. Tudo se passa como se existisse um lá e um cá. Um fora e um dentro da escola.
Na conversa após a exibição do filme um professor diz: Então, agora eu fico pensando nas salas de aula e na realidade da nossa escola. Tem alunos que faltam aula para cuidar de irmão. Tem muita carência também. Financeira sim, mas, além disso, não estou vendo mais empolgação para estudar e nem para crescer no amanhã. Você pergunta o que quer ser quando crescer e eles ainda não sabem e tão tudo ali... Eu acredito que nós temos de tentar botar uma sementinha de continuação no coração das crianças, não é só ficar trabalhando, mas motivar o seu amanhã e não ficar só esperando o avanço. (Professor Sabiá)
Eu acho que a questão é bem social, não é? Eu estava olhando o filme e parecia que aquela realidade era só ali onde aquela família mora, mas não. Aquele momento em que o pai foi em busca de emprego, já mostra uma realidade aqui do Brasil. Então, a questão é social. É uma questão de nós estarmos olhando o todo, não é? Porque nós somos professores. (Professora Beija-flor)
Será que nós, professores, a partir de hoje, saindo daqui e assistindo esse filme, vamos refletir e pensar num amanhã melhor? Será que vai haver uma indagação para nós mesmos enquanto professores e que isso vai refletir em nosso trabalho, no nosso meio, no nosso dia-a-dia?
O filme, intercessor que força pensar. Pensar o que? Currículo...
Gostaria de dizer dessa concepção de infancia [...] porque, às vezes, a criança vai para a escola e o professor só quer passar conteúdo, conteúdo, e esquece de ter esses momentos, que poderia tirar vinte minutinhos de sua aula para fazer uma atividade lúdica. Não importa se é sexto ano, sétimo ano, oitavo ano, porque tá se perdendo esse negócio do brincar [...]. Pelo que estou vendo, a infância está se acabando. A gente vê o menino do filme, em casa ele só trabalha, e na escola também. E nós? A gente só quer passar atividade, conteúdo e ficar cobrando [...]. (Professora Garça Branca)
se tece em cada escola com a carga que seus “praticantes”, como aprendemos com o historiador Michel de Certeau, trazem para cada ação pedagógica de sua cultura e de sua memória de outras escolas e de outros cotidianos nos quais vive (ALVES, 2011).
Essa cultura de massa produz, exatamente, indivíduos: indivíduos normalizados, articulados uns aos outros segundo sistemas hierárquicos, sistemas de valores, sistemas de submissão – não sistemas de submissão visíveis e explícitos, como na etologia animal, ou como nas sociedades arcaicas ou pré-capitalistas, mas sistemas de submissão muito mais dissimulados [...]. O que há é simplesmente uma produção de subjetividade. Não somente uma produção de subjetividade individuada – subjetividade de indivíduos – mas uma produção de subjetividade social, uma produção de subjetividade que se pode encontrar em todos os níveis da produção e do consumo. E mais ainda: uma produção de subjetividade inconsciente. A meu ver, essa grande fábrica, essa grande máquina capitalística produz inclusive aquilo que acontece quando sonhamos, quando devaneamos, quando fantasiamos, quando nos apaixonamos e assim por diante. Em todo caso, ela pretende garantir uma função hegemônica em todos esses campos. (GUATTARI e ROLNIK, 1986, p. 16).
o currículo é o território constituído no qual os processos de subjetivação podem se materializar. É também o conjunto dos agenciamentos coletivos de enunciação, o conjunto das ações dos vários professores e demais membros da comunidade escolar, operando coletiva e concertadamente na produção das subjetividades dos estudantes”. (GALLO, 2012, p. 215-6).
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