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Paulo freire aborda o conceito de práxis no contexto educacional, como a capacidade do sujeito de agir e refletir, transformando a realidade de acordo com as finalidades definidas pelo próprio ser humano. Freire se posiciona em favor da atualidade histórica e afirma que a transcendência e a comunhão encontram seu respaldo e sentido no existir humano. Neste estudo, exploraremos as obras de freire que ampliam seu pensamento, divididos em dois momentos: um, onde examinamos obras que se referem à concepção freiriana do ser humano no brasil; e outro, onde analisamos obras que se ocupam mais diretamente da relação entre a prática educativa e a escola formal e compromisso político-partidário. Freire retoma o tema da conscientização como elemento fundante do processo de humanização e libertação do ser humano.
Tipologia: Notas de estudo
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Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Educação como exigência parcial para obtenção do título de mestre em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco.
RECIFE, 25 de fevereiro de 2010.
Prof. Dr. Ferdinand Röhr 1º Examinador/Presidente
Prof. Dr. André Gustavo Ferreira da Silva 2º Examinador
Prof. Dra. Maria Eliete Santiago 3º Examinador
Às três mulheres mais especiais da minha vida: D. Antônia , minha avó, nos seus 90 anos de existência; D. Odete , minha mãe, eterna educadora e mestra da vida. Meu exemplo de fé; Suzy Karina , minha esposa, companheira de sonhos, educadora de três jóias preciosas: Gaby, Carol e Lucas.
Ao meu pai, José Maria, cuja esperança nunca lhe faltou.
Ao Dr. Oswaldo Carvalho Roza , médico, cujo exercício da medicina não o fez distante da sua humanidade, comemorando os seus 70 anos de existência e 40 anos de serviço à profissão, e a D. Suely, sua companheira e amiga, a minha admiração.
À memória de João Francisco de Souza , meu primeiro orientador. Humano pela simplicidade, simples pela humanidade, ser humanizado pela arte humana de educar os simples e eternizar os sonhos. A minha eterna gratidão.
À memória do povo do Haiti , para quem a dor não se sobrepõe à esperança.
“Vejo as paisagens sonhadas com a mesma clareza com que fito as reais. Se me debruço sobre meus sonhos é sobre qualquer coisa que me debruço. Cada vida, a dos sonhos e a do mundo, tem uma realidade próxima, mas diferente, como as coisas próximas e coisas remotas. As figuras do sonho estão mais bem próximas de mim (...). Só o que sonhamos, é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pertence ao mundo e a toda gente”
Fernando Pessoa
A práxis é um modo de compreender a existência a partir da relação entre subjetividade e objetividade, entre ação e reflexão. Desenvolver um pensamento pedagógico baseado na práxis é possibilitar o élan relacional entre humanização e educação. Enquanto parte do processo educacional, o ato pedagógico requer uma atenção direta aos sujeitos nele envolvidos e aos fins próprios da ação desses sujeitos. Paulo Freire aprofunda o conceito de práxis no universo pedagógico, como sendo a capacidade do sujeito de atuar e refletir, isto é, de transformar a realidade de acordo com as finalidades delineadas pelo próprio ser humano. Concebe uma teoria pedagógica a partir da práxis, da dialética consideração entre a vivência das condições identitárias do ser humano e a sua disposição à educabilidade. A reflexão acerca dos conceitos do humano e da educação no pensamento de Paulo Freire compreende ação fundamental no processo de compreensão da sua teoria pedagógico-libertadora. Este estudo busca compreender de que maneira os conceitos do humano e da educação são apresentados no processo desenvolvido pelo autor, levando-o a referenciar a educação problematizadora como elemento norteador do processo educativo enquanto processo de humanização. Por se tratar de um trabalho de caráter exclusivamente teórico, os procedimentos metodológicos compreendem a pesquisa bibliográfica, incluindo a leitura, fichamento e discussões de textos previamente selecionados. Do ponto de vista teórico, optamos pelo procedimento metodológico-hermenêutico de interpretação textual, mais especificamente a interpretação dos conceitos do humano e da educação no pensamento de Paulo Freire. A partir da sua produção teórico-fundante e da sua produção teórico-ampliadora, pudemos acompanhar o desenvolvimento do conceito do humano a partir da ligação direta com as concepções de inacabamento, curiosidade epistemológica e conectividade com o mundo. Há algo de peculiar no ser humano: a sua vocação ontológica em ser mais. O embate entre o ser mais e o ser menos configura o pensamento freiriano. A educação, para Freire, por sua vez, está ligada às concepções de consciência e conscientização, criticidade, prática da liberdade, dialogicidade, politicidade e cognoscibilidade. A partir destas considerações, vimos que os conceitos do humano e da educação trilharam um caminho de desenvolvimento e reformulações. Algumas com mudanças radicais, outras apenas no que toca às formulações. Daí, a nossa conclusão de que o pensamento freiriano se constituiu a partir de trajetos ligados à historicidade própria do autor, afirmando sobretudo o caráter político e filosófico que nortearam os seus horizontes reflexivos, assim como a sua insistência na educação enquanto crença no homem e num mundo melhor. Confirma-se, com isso, a ideia de que os dois conceitos em questão compreendem o conjunto de categorias essenciais que, a partir do seu desenvolvimento histórico-filósofico-político, constituem o que denominamos pedagogia crítico-libertadora.
Palavras-chave: Pedagogia da práxis. Pedagogia libertadora. Paulo Freire. Humanização.
1.1 Paulo Freire: marcas humanas de existência.......................................................... 1.2 O ser humano ante sua contextura de existência....................................................
1.3 A liberdade como prática de transcendência.......................................................... 1.4 Pedagogia do Oprimido e humanização: o ser humano enquanto ser inconcluso em busca do ser mais.................................................................................................... 1.5 O ser humano: sujeito infinito de possibilidades................................................... 1.5.1 Historicidade e inconclusão: mergulho humano no processo de humanização................................................................................................ 1.5.2 Da pedagogia da esperança à autonomia pedagógica: o humano como afirmação da transcendência do ser mais....................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................. REFERÊNCIAS......................................................................................................................
“Trata-se de ensinar a humanidade à humanidade”. (Rodrigo de Zayas)
Em cada nova etapa de nossas vidas, vamos descobrindo que não sabemos muito acerca do humano e da educação. Não sabemos o “muito” que quer ser “tudo”. Chegamos à certeza de que estamos sempre em busca de caminhos. Buscá-los implica fazer prioridades. Fazendo-as, tornam- se elas mesmas prioridades de sentido: capaz de selecionar experiências e de experienciar novos saltos de buscas constantes que compõem a existência. E foi este o caminho que percorremos no decorrer da nossa formação: o de fazer prioridades. Pudemos perceber que investigar é mais do que propriamente estar consciente das cadeias intelectivas que compõem a nossa busca de conhecimento. Investigar implica, também, confrontar o teoricamente estudado com o explicitamente vivido. Trata-se de um confronto dialético e existencial. Tal sensibilidade, no entanto, só foi possível devido à diversidade de atividades que desenvolvemos enquanto educadores e educandos nas mais diferentes frentes educacionais das quais fizemos parte. Ao desenvolver essa gama de atividades – especialmente no meio dos mais pobres – percebemos a existência de diferenças abissais entre o que pensavam os educadores e a realidade da sua prática; entre a reflexão e a ação. Incomodava-nos a educação que impunha conteúdos e aprisionava a criticidade. Essas inquietações vêm, neste momento, tomar o corpo deste trabalho. É este o momento de investigar tais inquietações. A feitura deste momento acadêmico ancora-se no intuito questionador acerca do humano. Do humano concreto que se existencia na relação com o mundo e com o semelhante. Do humano ora negado, ora afirmado. Do humano a ser descodificado, pois codificada já é a sua própria existência. Do humano, pois, que sendo o que é, transforma-se na possibilidade de ser. A que ser então queremos nos referir? Ao ser humano que gera e já é humanizado ou ao ser humano que está para ser, mas que pela sua condição concreta já lhe é negada a possibilidade de ser? Não é primícia nossa a preocupação com este ser humano. Assim como não é privilégio da educação e das teorias pedagógicas ocupar-se do humano. A Filosofia também o faz há séculos. A Antropologia com propriedade já discorre estudos sobre este mesmo objeto. A Psicologia
designa o conjunto de relações de produção e trabalho, que constituem a estrutura social, e a ação transformadora que a revolução deve exercer sobre tais relações. Marx dizia que é preciso explicar a formação das ideias a partir da “práxis material”, e que, por conseguinte, formas e produtos da consciência só podem ser eliminados por meio da ‘inversão prática das relações sociais existentes’, e não por meio da crítica intelectual (2000, p. 786). A epistemologia própria dessa forma de pensar – a da práxis - possibilita novos rumos de compreensão no universo humano e, consequentemente, no da educação. Entender a ação enquanto práxis é possibilitar ao ser humano o reconhecimento de um campo aberto de saber. Aberto, porque o conhecimento é construído à medida que um sujeito cognoscente se aproxima de um objeto não unicamente com o intuito de apreendê-lo. A aproximação entre sujeito e objeto é consequência de um gesto aparentemente antagônico, porém, necessário: o distanciamento. Conhecer o objeto é antes de tudo um ato de afastamento do sujeito. Afastar-se sem deixar de “ad-mirá-lo”. A admiração do objeto gera uma “re-ad-miração”, capaz de olhá-lo agora não apenas como objeto estranho, mas enquanto objeto conhecido a partir de algo e para algo. É ali que se encontram a reflexão e a ação, o pensar e o agir. Ali se encontra a práxis: união dialética entre o que se reflete e o que se faz. O desejo de compreender esse processo se desenvolveu no decorrer da nossa prática. Essa prática se traduz nas mais diferentes atividades desenvolvidas no âmbito educativo e pedagógico. E ali começou também a nossa empolgação pelo pensamento de Paulo Freire. Uma empolgação que foi se formando à medida que também íamos desenvolvendo atividades de confronto pedagógico- educativo: desde a adolescência, quando começamos a participar de um processo formativo de pastoral popular, onde trabalhávamos com adolescentes e jovens a catequese de formação católica; a participação como líder de grupos jovens e, posteriormente, como agentes de pastoral junto às comunidades populares de Fortaleza e Recife; a inserção como coordenador pedagógico-pastoral das mais diferentes obras educativas salesianas no Nordeste, no período da minha formação de Filosofia e Teologia; o contato com os oratórios festivos e diários, ações desenvolvidas com os adolescentes e jovens das periferias; o contato enquanto professor e coordenador junto às escolas de classes mais abastadas; e, de forma mais direta, no espaço proporcionado pela Academia, onde pudemos visualizar melhor um possível processo de investigação acerca do pensamento freiriano. Todas essas experiências, sem excessão, foram oportunidades de confronto e de empolgação com o pensar teórico-pedagógico de Paulo Freire. É, pois, no movimento do receio, mas também da ousadia, que acreditamos desde o início na construção desta pesquisa. Acreditamos ser possível mergulhar no universo da pedagogia da práxis freiriana sem, no entanto, pretendermos a finitude das suas reflexões; ante o universo
complexo e em constante descoberta dos aspectos da práxis, propomos reflexões permitidas pelo recorte temporal que nos é disposto para o desenvolvimento de uma pesquisa acadêmica. Refletir a educação nos horizontes conceituais de Paulo Freire é um desafio inesgotável, sempre novo. Com esse intuito, delimitamos caminhos, almejamos metas e, ao mesmo tempo, alcançamos o reconhecimento de que a empreitada por nós aceita não visa à completude, mas à complexidade; não visa à certeza, mas à dúvida; não visa à chegada final, pois cada chegada é uma nova partida; é um desafio a que nos apegamos mais como quem os indaga do que propriamente como quem um dia possa ter tido a ousadia prepotente de querer abarcá-lo. Assim, pensamos em percorrer esse caminho de pesquisa a partir das exigências delineadas pelo nível acadêmico em questão. E uma das primeiras atitudes, talvez a mais óbvia de todas, seria assumir o estudo e debruçar-se sobre o universo proposto mais como quem dialoga do que propriamente como quem apreende. A apreensão é um ato posterior ao diálogo que, na sua forma genuína, acontece através da disciplina e da humildade intelectual presentes na difícil, porém apaixonante, tarefa de estudar. Com esse intuito, elegemos como Objetivo Geral : Investigar a concepção do humano e da educação no pensamento pedagógico de Paulo Freire, analisando em que medida a elaboração desse edifício conceitual pode referenciar a educação problematizadora como elemento norteador do processo educativo enquanto processo de humanização. Mais especificamente, pretendemos: Investigar o conceito do humano presente no pensamento pedagógico de Paulo Freire a partir das categorias por ele apresentadas nas suas primeiras sistematizações conceituais – aqui entendidas por nós como obras fundantes -, assim como no universo das suas sistematizações posteriores – aqui entendidas por nós como obras ampliadoras - percebendo a formação de um alicerce antropológico que se anuncia como compreensão idiossincrática do seu edifício intelectual. Investigar o conceito da educação presente no pensamento pedagógico de Paulo Freire a partir das categorias por ele apresentadas nas suas obras fundantes e ampliadoras, percebendo o alcance da proposta de uma educação libertadora. Analisar como se configuram, a partir do conceito do humano e da educação presentes no pensamento freiriano, as principais implicações que afirmam a educação crítico-libertadora como um processo de humanização. Tendo em vista os objetivos acima propostos, utilizaremos a Hermenêutica como elemento metodológico. A forma de se pensar a hermenêutica está bem fundamentada nas reflexões propostas por Emerich Coreth, na obra intitulada Questões Fundamentais de Hermenêutica(1973).
compreensão sobre algum objeto passa a ser reelaborada, tornando-se já, a pré-compreensão de um outro momento. A perfeição da compreensão nunca será alcançada. No que toca à nossa pesquisa, sabemos dos limites da nossa compreensão acerca dos conceitos do humano e da educação em Freire, tornando-nos em disposição de análise e reformulações dialéticas dos nossos pré-conceitos iniciais e conceitos que em princípio continuam pré-conceitos, porém, mais aprofundados.
Assim, a compreensão se move numa dialética entre a pré-compreensão e a compreensão da coisa, em um acontecimento que progride circularmente, ou melhor, em forma de espiral, na medida em que um elemento pressupõe o outro e ao mesmo tempo faz com que ele vá adiante; um medeia o outro, mas continua a determinar-se por ele (CORETH, 1973, p. 102).
Há, portanto, uma experiência que embasa o interesse pelo objeto. A empolgação acerca do objeto vem daí. Este processo gera mais abertura para ver mais o objeto, tematizando-o de tal forma que o nosso envolvimento com a experiência freiriana não atrapalha, mas mantém uma abertura que lhe é própria. A medida que o movimento em redor do próprio tema é circular em espiral, não há um empobrecimento, mas um enriquecimento mútuo entre o sujeito pesquisador e o objeto pesquisado. Volta-se ao objeto como reaproximação, mas não no mesmo ponto de antes, sempre num estágio de olhar mais ampliado de compreensão. A estrutura de diálogo , enfim, apresentada pela compreensão, refere-se à abertura ao outro, ser humano ou outras formas de compreensão, a fim de entender as suas palavras. Como diz Coreth,
no diálogo, mantemos nossa compreensão aberta, para enriquecê-la e corrigi-la. Isso, porém, só é possível olhando-se para a coisa que se há de compreender (...) A linguagem adquire seu sentido na coisa, mas esta não é dada sem mediação lingüística. Mostrada pelo enunciado lingüístico, nele é que se abre o sentido da coisa (1973, p.102-103). No que toca à nossa pesquisa, manteremos um contato com o próprio Freire através de sua obra. Teremos um contato direto com a obra freiriana expressa na sua forma lingüística, porém, a expressão deste contato assumirá a forma lingüística do sujeito que pesquisa. Isso só será possível porque o sujeito pesquisador se propõe ao diálogo com o autor. Expressar a compreensão, neste caso, será uma experiência idiossincrática da linguagem de quem pesquisa; porém, não seria possível tal fato se não se percebesse uma linguagem anterior: a do autor com quem se dialoga. Assim, o autor da pesquisa dialoga tanto com Freire quanto com a sua obra. Com Freire, por ser o autor; com a obra, por ser a expressão lingüística do autor.
Nesse sentido é que visualizamos os diferentes horizontes do nosso objeto de estudo, encarando-os como elementos comunicadores de compreensões presentes nas expressões conceituais do pensamento que nos dispomos a estudar. A partir dos textos – caracteres molhados de existência -, percebemos a possibilidade do diálogo através da mediação da linguagem entre os sujeitos que se comunicam, a saber: o que pesquisa e o que é pesquisado, complementando-se em abertura dialética. Muitas pesquisas de semelhante densidade, e até de aproximação temática, já foram implementadas nesta academia, porém, com vieses metodologicamente propostos de forma diferenciada.^4 Diante da complexidade temática e da extensão do conjunto da produção bibliográfica de Paulo Freire e considerando o tempo de que dispomos para executar a pesquisa, julgamos ser conveniente restringir o número de obras estudadas. A eleição de tais obras obedece a critérios metodologicamente propostos a partir de diálogos acadêmicos que corroboraram os nossos anseios e o atendimento às expectativas que o tempo nos permitia enquanto pesquisa acadêmica. Segundo Scocuglia, “podemos afirmar a existência de vários Paulo Freire interligados e, assim, compreender a complexidade do seu pensamento” (2006, p. 25). Para ele, Freire é um pensador que se sabia incompleto, em constante progressão:
Como homem do seu tempo, “cada vez mais incerto de suas certezas”, advogado do processo de conhecimento crítico (consciente de sua incompletude), Freire não parou de “fazer história” e de “ser feito por ela”. O Freire de Educação como prática da liberdade (escrito em 1965), não é o mesmo, por exemplo, de Política e educação (escrito em 1993), pois entre eles estão três décadas de ações e
(^4) Aqui nos referimos em especial à pesquisa posteriormente transformada em livro do professor Nelino Azevedo de Mendonça intitulada: “A Humanização na pedagogia de Paulo Freire”. Por ser uma temática aproximativa ao nosso tema, toma um rumo diferenciado pelo seu enfoque mais abrangente. A pesquisa do Prof. Nelino está organizada em cinco pontos fundamentais: 1) apresentação das principais concepções filosófico-humanistas que influenciaram Paulo Freire; 2) análise e apresentação dos aspectos indicadores do humanismo radical freiriano; 3) o entendimento de categorias antinômicas à humanização, tais como: massificação, assistencialismo, invasão cultural e educação bancária; 4) o entendimento de categorias que superam a antinomia da desumanização e anunciam a humanização, tais como: conscientização, diálogo, utopia e multiculutralidade; 5) e, por fim, apresenta aspectos pedagógicos e políticos da pedagogia freiriana que podem gerar ações culturais libertadoras capazes de contribuir no processo humanizador. Assim sendo, entendemos que essa pesquisa se diferencia da nossa pelo seu encaminhamento categórico e abrangente no estudo dos conceitos em Paulo Freire. Por mais que apresente o tema da humanização e da educação, essa pesquisa se assenta de forma demorada nas influências basilares do pensamento freiriano e apresenta esse humanismo a partir da antinomia do ser menos e do ser mais, desenvolvida no decorrer da produção bibliográfica de Freire. Nós, no entanto, optamos por percorrer as diferentes obras de Freire, analisando em que medida cada uma apresenta os temas da humanização e da educação. Fomos mais modestos quando nos propomos a estudar apenas os conceitos do humano e da educação, sem, no entanto, ater-nos em categorias específicas, fato que fugiria aos objetivos acima propostos; no entanto, fomos mais além, quando investigamos demoradamente os conceitos em questão nas obras propostas. Assim sendo, percebemos que uma pesquisa complementa a outra, pois ambas se pautam no estudo da produção de Freire, analisadas a partir de uma metodologia hermenêutica que melhor direciona a interpretação ante a realidade educacional do país. São, portanto, dois direcionamentos que enriquecem sobremaneira o desenvolvimento da Academia e o pensamento pedagógico brasileiro.
Independentemente de como concebem os pesquisadores, todos eles têm a consciência de que se trata de um mesmo autor e de uma mesma teoria pedagógica, porém , permeados pelo tempo e revigorados pela lapidação da existência. Tomaremos aqui - sem diminuir as diferentes e singulares contribuições acerca do pensamento de Freire – a sugestão metodológica apresentada pela professora Eliete Santiago. Isto é, tomaremos a análise do pensamento freiriano a partir de dois momentos: no primeiro, analisaremos o pensamento fundante presente nas sua primeiras obras e, em seguida, analisaremos o pensamento de Freire presente nas suas obras ampliadoras. A partir de cada obra ou recorte do conjunto das reflexões que apresentaremos, serão propostos alguns elementos que nos introduzirão ao espírito contextual e conceitual de cada escrito de Paulo Freire. Dentre os mais diferentes escritos, debruçaremo-nos sobre as seguintes obras: as que consideramos serem fundantes na elaboração do seu pensamento: Educação e atualidade brasileira (1959)^6 , Educação como prática da liberdade (1967) e Pedagogia do Oprimido (1970); em seguida, consideramos as obras que contêm a ampliação do pensamento freiriano. Das obras ampliadoras, em especial no primeiro capítulo e de forma metodológica, propomos o conjunto de cinco obras de Paulo Freire, que compreendem as primeiras expressões da ampliação do seu pensamento: Ação cultural para a liberdade e outros escritos (1975), Cartas a Guiné Bissau (1977), A Importância do ato de ler (1982), Medo e Ousadia (1987) e Educação na Cidade (1991). Como momento subsequente, refletiremos sobre os escritos que correspondem ao que entendemos ser a complementaridade e o coroamento de tal processo de ampliação: Pedagogia da Esperança (1992), Professor sim, tia não (1993), Política e Educação (1993),Cartas a Cristina (1994), À Sombra desta Mangueira (1995) e Pedagogia da autonomia (1997). No que se refere às obras fundantes, é justificável o fato de ater-nos de forma mais demorada na sua análise, uma vez que ali se apresentam os fundamentos da teoria pedagógica freiriana. Em relação às obras ampliadoras, no entanto, nos debruçaremos de forma especial nas passagens que retratarão com propriedade os conceitos em questão, uma vez que em boa parte delas os conceitos se apresentam na mesma forma que em obras anteriores. O estudo está dividido em três capítulos. No primeiro capítulo, além de desenvolver uma breve explanação acerca da vida e da obra do homem e do educador Paulo Freire, debruçar-nos- emos sobre a concepção do humano presente no desenvolvimento epistemológico do seu pensamento a partir de dados biográficos relevantes e da análise das obras selecionadas. Ali
(^6) O ano que evidenciamos entre os parênteses corresponde não necessariamente à época em que foi escrita a obra, mas à data da sua publicação.
tentaremos compreender a concepção do humano a partir das obras fundantes e ampliadoras do seu pensamento. No segundo Capítulo, encontra-se uma breve exposição de como no pensamento de Paulo Freire se configura a sua concepção de educação. Essa concepção, vista a partir de dois momentos: primeiramente, vista no seu contexto de relação com a organicidade social e como prática da liberdade; e, num segundo, a educação apresentada em atos existenciais que dão sentido ao agir pedagógico. No terceiro capítulo, enfim, estarão presentes algumas reflexões que analisarão as implicações pertinentes do conceito do humano e da educação no decorrer do processo lapidador do pensamento de Paulo Freire. Trata-se de implicações que baseiam o construto de uma teoria pedagógica que não exclui a eticidade, a utopia e a esperança. Eis aqui, portanto, o nosso convite: confrontar-se com o conceito do humano e da educação presentes na teoria pedagógica de Paulo Freire. Conceitos que quase sempre se confundem com a humanidade dos simples. A humanidade dos que sem voz e sem vez mesmo assim se sentem humanos. A humanidade dos que sem esperança, ainda encontram o fio da utopia. A humanidade, enfim, daqueles que não param, que vão além, que persistem e não desistem. Mesmo que não sejam tão atraentes as palavras que se seguirão, convidamos a molhar-se de sua humanidade que aqui pode se encontrar com a nossa. E que, ao chegar aqui, uma vez mais, cada um de nós possa almejar o humano que a educação precisa e a educação que o humano vislumbra. E, então, continuar a acreditar que apesar da eticidade comprometida, dos atos que vilipendiam o humano e da educação crítica muitas vezes negada às gerações que virão, cada um - educador e educando - possa uma vez mais seguir até o fim.