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PEDAGOGIA AFETIVA NA PERSPECTIVA DE HENRI WALLON, Teses (TCC) de Pedagogia

Este artigo busca, através das concepções do pensador Henry Wallon (1879-1962), uma pesquisa bibliográfica com enfoque no tema da afetividade destacando a importância do afeto nas relações interpessoais em salas de aula. Assunto pouco valorizado na educação escolar, o afeto se mostra fundamental na construção da pessoa e do conhecimento. A afetividade está presente na relação professor-aluno e depende do contexto sociocultural como demonstram pesquisas de alguns estudiosos sobre o tema. Tal temática se mostra relevante uma vez que a mesma se faz necessária na formação inicial e continuada de professores. Palavras-chave: Afeto, Relação Professor-Aluno, Afetividade, Ambiente Escolar

Tipologia: Teses (TCC)

2023

Compartilhado em 17/07/2023

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FACULDADE CAMPOS ELÍSIOS - FCE
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
GENILSON MATHIAS DOS SANTOS
PEDAGOGIA AFETIVA NA PERSPECTIVA DE HENRI WALLON
JUARA-MT
2023
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FACULDADE CAMPOS ELÍSIOS - FCE

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

GENILSON MATHIAS DOS SANTOS

PEDAGOGIA AFETIVA NA PERSPECTIVA DE HENRI WALLON

JUARA-MT

GENILSON MATHIAS DOS SANTOS

PEDAGOGIA AFETIVA NA PERSPECTIVA DE HENRI WALLON

Monografia apresentada à Faculdade Campos Elíseos - FCE como exigência parcial à obtenção do título de Especialista em Pedagogia Orientadora: Prof.ª Marcia Leite JUARA-MT 2023

RESUMO

Este artigo busca, através das concepções do pensador Henry Wallon (1879-1962), uma pesquisa bibliográfica com enfoque no tema da afetividade destacando a importância do afeto nas relações interpessoais em salas de aula. Assunto pouco valorizado na educação escolar, o afeto se mostra fundamental na construção da pessoa e do conhecimento. A afetividade está presente na relação professor-aluno e depende do contexto sociocultural como demonstram pesquisas de alguns estudiosos sobre o tema. Tal temática se mostra relevante uma vez que a mesma se faz necessária na formação inicial e continuada de professores. Palavras-chave: Afeto, Relação Professor-Aluno, Afetividade, Ambiente Escolar

ABSTRACT

This article seeks, through the conceptions of the thinker Henry Wallon (1879-1962), a bibliographic research focusing on the theme of affectivity highlighting the importance of affection in interpersonal relationships in classrooms. A subject that is undervalued in school education, affection is fundamental in the construction of the person and knowledge. Affectivity is present in the teacher-student relationship and depends on the sociocultural context, as demonstrated by research by some scholars on the subject. This theme is relevant since it is necessary in the initial and continuous training of teachers. Keywords: Affection, Teacher-Student Relationship, Affectivity, School Environment

INTRODUÇÃO

A pedagogia afetiva se apresenta como uma solução a um dos maiores problemas na da educação no Brasil que é a falta de vínculo entre o professor e o aluno no processo de aprendizagem. Teóricos da psicologia do desenvolvimento, como Piaget, Vigotski e Wallon afirmam o afeto ocupa um espaço tão importante na construção do conhecimento quanto às metodologias de ensino no cotidiano escolar. O psicólogo Jean Piaget liga construções afetivas e cognitivas geradoras dos sentimentos de carinho, ternura, obediência e reações. A afetividade e inteligência caminham juntas para definir as interações, afetam o “eu” e como esse eu entende os outros. As emoções dos pequenos nascem do contato com a mãe, centradas no corpo do indivíduo, e isso ocorre até os 2 anos. Nesta fase a criança ainda está aprendendo a entender o mundo e se assusta com tantas mensagens. A vida afetiva se descentraliza englobando outras pessoas à medida em que o lar a protege e seu corpo ganha crescimento. A forma como o pequeno encara as frustrações, o amor, as mudanças, o respeito e a sociedade serão influenciadas pela intensidade do carinho recebido, isto é, pela sua inteligência emocional. Foi compreendendo a importância da afetividade e da inteligência que surgiu o termo pedagogia afetiva. A afetividade e inteligência constituem para Wallon (1979) duas funções básicas onde a afetividade está relacionada às sensibilidades internas e se orienta em direção ao mundo social e para a construção da pessoa enquanto a inteligência vincula-se às sensibilidades externas e está voltada para o mundo físico, para a construção do objeto. É na relação sujeito e objeto do conhecimento que a afetividade se faz presente como mediação sutil incentivando a empatia, a curiosidade fazendo com que a criança avance em suas hipóteses no processo de desenvolvimento e aprendizagem. Neste processo, razão e emoção não se dissociam, pois uma não acontece sem a outra. Esta ideia de educação mais humana tratando a criança como pessoa completa possibilitando que o momento de aprendizado não se desvincule do ser criança, isto é, dos seus interesses e necessidades ocorrem de forma sensível e predominante nos momentos de mediações cotidianas. As atitudes humanas são permeadas pelo afeto que, por sua vez, influencia nas decisões a serem tomadas. No contexto escolar, especificamente, o professor não se limita a atuar na esfera cognitiva desconsiderando as relações afetivas no aprendizado e desenvolvimento cognitivo. Este dilema leva a crer que o afeto não faz parte das atitudes

humanas. Desta forma se faz necessário a problematização do papel da afetividade no desenvolvimento e aprendizagem na formação do corpo docente: “Na sala de aula, é possível ser profissionalmente afetivo ao lidar com situações de aprendizagem?” Falar do afeto como fator do fazer pedagógico é dar sentido às formas de propor atividades e na realização das mesmas. A afetividade vem como compromisso do professor em interagir com seu aluno criando meios para que aconteça um aprendizado efetivo e significativo nos momentos de aprendizagem. Tal comprometimento é um ato afetivo com o aluno ou em respeito à opção profissional ou, ainda, com ambos. Apesar de todos os desafios, deve-se encontrar brechas para desenvolver, na prática, aquilo que se acredita, pois, as práticas dos professores e sua dedicação aos alunos revelam, além de comprometimento, afeto. Durante décadas professores atuaram em salas de aula sem talvez não se atentarem para os aspectos afetivos. E essa invisibilidade do afeto ainda se manifesta nas relações educador/educando e entendemos que considerando o afeto é possível ver que o mesmo contribui favoravelmente na aprendizagem dos alunos. Houve grandes contribuições na psicogênese do desenvolvimento infantil com Piaget que nos trouxe à consciência que o sujeito aprende interagindo com o objeto do conhecimento, pois questiona sobre este; bem como com Vigotski que ampliou o conceito anterior ao afirmar que os sujeitos interagem com os objetos do conhecimento mediados pelo outro. O sujeito é também o que o outro diz sobre ele ao internalizar a imagem criada pelo outro. Não tem como negar que esta forma de interação seja carregada de afetividade. A questão da afetividade que relaciona o ser com o meio, a inteligência, a emoção e o movimento ganham destaque com a abordagem dialética do desenvolvimento de Wallon. Conforme destacam Mahoney e Almeida (2000, p. 17), a teoria walloniana apresenta “conjuntos funcionais que atuam como uma unidade organizadora do processo de desenvolvimento.” Estes aspectos se relacionam entre si desencadeando a formação da pessoa única, singular. Segundo Wallon (GALVÃO,1995), a afetividade envolve as emoções, de natureza biológica, dos sentimentos, das vivências humanas, do desenvolvimento da fala, que possibilita transmitir ao outro o que sentimos. Nortearemos este trabalho bibliográfico com base nas concepções de Henri Wallon, cujo foco se encontra no afeto que educa, na afetividade como contribuição para o desenvolvimento e a aprendizagem.

2. UM MUNDO EM CRISE

Instabilidades políticas e crises sociais foram fundamentais para o francês Henri Wallon construir sua teoria pedagógica. As guerras pela libertação das colônias africanas na primeira metade do século XX, a revolução comunista na Rússia, o avanço dos regimes fascista e nazista na Europa e as duas grandes guerras mundiais serviram de estímulo para que ele organizasse suas ideias. A valorização da afetividade, ou seja, emoções, como elemento essencial no desenvolvimento da pessoa trouxe um novo alento à filosofia da Educação. Este contexto histórico explica, em parte, a visão marxista que deu à sua obra e porque aderiu aos movimentos de esquerda e ao Partido Socialista Francês no período anterior à Primeira Guerra. Para Wallon, ditadura e educação são inimigos eternos. Segundo Wallon, é por meio das emoções que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. Neste processo as emoções passam a ter um papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. São manifestações que, em geral, manifestações que expressam um universo importante e perceptível, mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino.

3. POSIÇÕES TEÓRICAS O pensamento de Henri Wallon é perpassado pela ideia de que o processo de aprendizagem é dialético, isto é, não é adequado postular verdades absolutas, mas, sim, revitalizar direções e possibilidades. A crítica às concepções reducionistas surge em consequência desta postura de Wallon que irá propor o estudo da pessoa completa, tanto em relação a seu caráter cognitivo quanto ao caráter afetivo e motor. A cognição para Wallon é importante, mas não mais importante que a afetividade ou a motricidade. 3.1. A influência do fator orgânico e a ênfase no fator social Wallon reconhece que o fator orgânico é a primeira condição para o desenvolvimento do pensamento, porém ressalta a importância das influências do meio. Para o autor, o estudo do psiquismo não pode desconsiderar as influências sociais e fisiológicas porque o homem seria um resultado de ambos. Sendo assim, as potencialidades psicológicas dependem

especialmente do contexto sociocultural e o desenvolvimento do sistema nervoso não seria suficiente para o pleno desenvolvimento das habilidades cognitivas. 3.2. Desenvolvimento do pensamento Segundo Wallon, o desenvolvimento é o processo pelo qual o indivíduo emerge de um estado de completa imersão social em que não se distingue do meio para um estado em que pode distinguir seus próprios motivos dos motivos oriundos do ambiente. Neste processo, desenvolver-se torna-se sinônimo de identificar-se em oposição ao mundo exterior. Como na teoria de Piaget, o desenvolvimento, para Wallon, ocorre por uma sucessão de estágios, mas através de um processo assistemático e contínuo, em que a criança oscila entre a afetividade e a inteligência. Em analogia à combinação de acomodação, assimilação e equilíbrio na teoria piagetiana, dialeticamente, o desenvolvimento é movido por conflitos. Porém, diferentemente de Piaget, Wallon acreditava que o processo é constante, podendo haver, inclusive, regressão onde o indivíduo pode retornar a atividades anteriores ao estágio mesmo que as aquisições de um estágio seja irreversível. Um estágio integra os comportamentos anteriores resultando em um comportamento que é a acumulação das partes. Neste ponto, a teoria de Wallon confronta-se com o Behaviorismo. Enquanto o behaviorismo acredita que a aprendizagem é um processo de modelagem onde vários comportamentos são condicionados e posteriormente extintos o wallonismo afirma que o comportamento aprendido e integrado ao posterior não o extingui. Durante a aprendizagem da escrita, por exemplo, a criança primeiro aprende a desenhar algo semelhante a um círculo, para posteriormente "puxar a perninha" e escrever um "a". A análise do comportamento não afirma que a criança que aprende a desenhar o círculo "desaprenda" a fazê-lo no futuro, o processo da modelagem é produzir “conduzir” novos comportamentos reforçando aquele mais próximo ao desejado como escrever a letra "a" a partir do círculo inicial (o chamado comportamento base). Wallon vai mais além afirmando que foi integrado a outros comportamentos (aprendizagens). 3.3. Campos funcionais A cognição para Wallon está alicerçada em quatro categorias de atividades cognitivas específicas que ele denomina “campos funcionais”, isto é, o movimento, a afetividade, a inteligência e a pessoa.

As transformações no sistema neurovegetativo em uma criança, ou seja, transformações fisiológicas, revelam traços importantes de caráter e personalidade. Para Heloysa Dantas, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), estudiosa da obra de Wallon há 20 anos a emoção é altamente orgânica, altera a respiração, os batimentos cardíacos e até o tônus muscular, tem momentos de tensão e distensão que ajudam o ser humano a se conhecer. A tristeza, o medo, a alegria, a raiva e os sentimentos mais profundos ganham função relevante na relação da criança com o meio. Segundo a pedagoga Izabel Galvão, também da USP, a afetividade é um dos principais elementos do desenvolvimento humano. A emoção, continua GALVÃO, 2004, causa impacto no outro e tende a se propagar no meio social. O que quer dizer o choro de um bebê? E quando ele movimenta bruscamente braços e pernas: será que é cólica? Alegria? Sono? Fome? Os gritos, risos, os espasmos e outros comportamentos do recém-nascido são demonstrações da sua emoção e é por meio dela que o bebê comunica algo que o afeta. A emoção altera a respiração, os batimentos cardíacos e até o tônus muscular, sendo a mais visível das expressões afetivas e isso ocorre por ter como característica uma ativação orgânica (não controlada pela razão). É possível identificar o que afeta o corpo da criança ao observar como ela reage às sensações internas e ao meio externo identificando o que a afeta positivamente ou negativamente e usar essa evidência para aprimorar o processo de ensino e aprendizagem. Wallon, responsável por investigar a emoção geneticamente, diz que ela é a primeira manifestação de necessidade afetiva do bebê e o elo dele com o meio, tanto biológico como social, ou seja, quando a pessoa nasce, ela é só emoção. Essa descoberta é muito importante, senão vital, para os que trabalham com os pequenos, pois saber que eles não vão reagir de forma racional às coisas interfere na forma de lidar com as circunstâncias que os envolvem, diz Silvia Rodrigues, docente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Quando uma criança faz birra, por exemplo, e o adulto não entende que essa é uma reação normal, ele pode perder o controle da situação. Tentar argumentar racionalmente com a criança num momento de crise como esse não irá adiantar, pois ela tende a não escutar, visto que se encontra em uma turbulência emocional. Muitos pais e educadores atribuem uma intencionalidade às ações dos pequenos, como se eles quisessem chamar a atenção propositalmente. Mas não é isso o que ocorre. Essas manifestações emocionais fazem parte da construção do 'eu' da

criança, que vai se delineando pouco a pouco, diz Leny Magalhães Mrech, livre- docente pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Além da comunicação, Wallon atribui a emoção a função de mobilizar o ambiente para suprir o prolongado período de dependência, característico da espécie humana. O bebê depende dos outros, por isso utiliza a emoção como fonte de sobrevivência para garantir suas necessidades mais básicas. Podemos perceber isso quando a criança chora para manifestar a sensação de fome e, com isso, chamar a atenção da mãe para saciá-la. Com o passar do tempo este gesto sem clareza intencional passa a ganhar um sentido e a criança vai modelando suas emoções indo para a diferenciação. Nasce, assim, a razão. Depois de alguns meses, o bebê tem uma postura própria quando está alegre, com raiva ou com medo: Uma das leis do desenvolvimento é que ele vai do sincretismo para a diferenciação. Isso em todas as dimensões, inclusive na afetividade. No início, as emoções são desordenadas, confusas e depois vão ganhando sentidos próprios, afirma Laurinda Ramalho de Almeida, vice-coordenadora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Essa expressão afetiva continua durante todo o processo de desenvolvimento e não somente na fase impulsivo-emocional dos pequenos (até mais ou menos 1 ano de idade). O aprendizado da criança pode ser desenvolvido ou inibido e a emoção transparecida por ela irá evidenciar isso. Essas reações irão depender do ambiente escolar, isto é, de como o professor, o meio e os colegas afetam a criança. Um lugar em que a violência aparece de forma corriqueira ou um lugar repressor gerarão manifestações agressivas. "Uma criança que age de maneira hostil não está plenamente consciente dessa emoção. Ela reage ao meio", diz Leny. O medo pode inibir a aprendizagem, por exemplo, pois a emoção impossibilita que o racional atue de forma efetiva. Uma emoção que pode aparecer muito nas escolas é a apatia, reflexo da falta de motivação por parte dos educadores e pais ou de um ambiente educacional desestimulante. A observação feita por professores e demais adultos é a chave para entender como o meio está afetando o desenvolvimento dos pequenos e reverter este quadro. “Um bom educador é aquele que observa seus alunos e a forma como eles agem e lidam com as coisas. O corpo do sujeito está sempre revelando as sensações de bem ou mal-estar", afirma Shirley Costa Ferrari, gerente de projetos da Área de Educação Formal do Instituto Ayrton Senna e doutora na teoria de Wallon. A manifestação da afetividade é contagiante e esta é uma característica importante, a tal ponto que alguém muito alegre acaba transmitindo o sentimento para as pessoas que estão

restringem a trabalhar o conteúdo, mas em ajudar a descobrir o eu no outro. A criança em sintonia com o meio vai se desenvolvendo por meio desta relação dialética. Estudos realizados com crianças entre 6 e 9 anos, Wallon mostra que o desenvolvimento da inteligência depende essencialmente de como cada uma faz as diferenciações com a realidade exterior. Isto acontece porque, concomitantemente, suas ideias são lineares e se misturam ocasionando um conflito permanente entre dois mundos, o interior, povoado de sonhos e fantasias, e o real, cheio de símbolos, códigos e valores sociais e culturais. A criança acaba sempre ganhando nesse conflito entre situações antagônicas e sua inteligência evolui quando soluciona os confrontos. O sincretismo, ou seja, mistura de ideias num mesmo plano, bastante comum nesta fase, segundo Wallon, é fator determinante para o desenvolvimento intelectual e disso se estabelece um ciclo constante de boas e novas descobertas. 3.3.4. Pessoa: o eu e o outro Wallon dá o nome de pessoa ao campo funcional que coordena os demais e que também é responsável pelo desenvolvimento da consciência e da identidade do eu. As relações entre os três campos (movimento, afetividade e inteligência) não são harmônicas, de modo que constantemente surgem conflitos entre eles. A pessoa não cumpre um papel absoluto, mas um papel integrador importante como campo funcional. A cognição desenvolve-se em um processo de tese, antítese entre os campos funcionais de maneira dialética. Na teoria de Wallon a construção do eu depende essencialmente do outro tanto para ser referência quanto para ser negado. Este processo é acentuado aos 3 anos de idade que é a hora de saber que eu sou. Nesta faze a criança começa a viver a chamada crise de oposição, em que a negação do outro funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si própria. Segundo professora Ângela Bretas, da Escola de Educação Física da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, a imitação do outro, sedução (fazer chantagem emocional com pais e professores) e a manipulação (agredir ou se jogar no chão para alcançar o objetivo) são características comuns nessa fase. Segundo Heloysa Dantas, até mesmo o sofrimento, o ódio e a dor são elementos estimuladores da construção do eu. Isso justifica o espírito crítico da teoria walloniana aos modelos convencionais de Educação.

4. ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO

A teoria de Wallon propõe uma série de estágios do desenvolvimento, semelhante à teoria piagetiana, porém não se limita ao aspecto cognitivo sendo bem mais flexível na análise dos estágios. Diferentemente de Piaget, Wallon não acredita que um estágio suprima o outro ou que eles formem uma sequência linear e fixa, mas que o estágio posterior amplia e reforma os anteriores. O desenvolvimento seria permeado de conflitos internos e externos e não um fenômeno suave e contínuo. Segundo Wallon, é natural que no desenvolvimento ocorram reviravoltas, retrocessos e rupturas o que para Piaget e os comportamentalistas seria algo improvável. Os conflitos são fenômenos interentemente dinamogênicos, isto é, geradores de evolução, mesmo aqueles que resultam em retorno a estágios anteriores. Os estágios se sucedem de maneira que momentos predominantemente afetivos sejam sucedidos por momentos predominantemente cognitivos. Sendo assim, corriqueiramente, períodos predominantemente afetivos ocorrem em períodos focados na construção do eu, enquanto estágios com predominância cognitiva estão mais direcionados à construção do real e compreensão do mundo físico. Este ciclo perdura pela vida toda uma vez que a emoção se sobrepõe à razão quando o indivíduo se depara com o desconhecido. Contudo, a afetividade e a cognição se revezam na dominância dos estágios não sendo estanques. 4.1. Estágio impulsivo-emocional Este estágio compreende o nascimento até aproximadamente o primeiro ano de vida. É um estágio onde as emoções são o principal instrumento de interação com o meio sendo predominantemente afetivo. A relação da criança com o ambiente desenvolve sentimentos intraceptivos e fatores afetivos. Nesta fase, o movimento ainda não está desenvolvido como campo funcional; a criança não possui perícia motora. A contínua resposta do ambiente ao movimento infantil permite que a criança passe da desordem gestual às emoções diferenciadas mesmo tendo movimentos infantis uma tanto quanto desorientados. É a fase do desenvolvimento psicomotor que possui maior participação de elementos do arco-reflexos.

afetivo em que o indivíduo passa por uma série de conflitos internos e externos. A busca de autoafirmação e o desenvolvimento da sexualidade são os grandes marcos deste estágio. A adolescência não encerra os estágios de desenvolvimento. Segundo Wallon, o processo de aprendizagem sempre implica na passagem por um novo estágio. O indivíduo sofre manifestações afetivas quando se depara e se relaciona com algo ao qual tem imperícia levando-o a um processo de descoberta e de adaptação. Tal experiência resultará na aquisição de perícia pelo indivíduo. Por conseguinte, o desenvolvimento jamais se encerra, pois é um processo dialético.

5. A PEDAGOGIA AFETIVA NA PRÁTICA Segue abaixo alguns exemplos e sugestões para colocar em prática a pedagogia afetiva em sala de aula com o intuito de buscar maior engajamento dos alunos com as tarefas ou, ainda, humanizar os ambientes escolares que estão cada vez mais digitais. Portanto, esse tipo de interação afetiva permite, por meio do relacionamento interpessoal, agregar uma nova forma de conectividade entre professores e alunos. 5.1. Ouça os alunos Realize atividades em que os alunos consigam expor suas ideias e opiniões. Como uma roda de conversa, por exemplo. Desta forma, o professor conseguirá ouvir o que os alunos têm a dizer. Para isso, trabalhe com empatia entendendo o que o aluno está sentindo, seu contexto social e familiar. Não basta saber ouvir, é necessário ir além e usar as informações recebidas no aprimoramento das estratégias de ensino de acordo com cada realidade. 5.2. Abra portas para críticas Assim como o professor possui muitas críticas positivas e negativas sobre os seus alunos, eles também podem ter impressões e feedbacks sobre o seu trabalho. Desta forma, estabeleça um canal para troca de ideias e experiências com o intuito de engajar mudanças de comportamento dentro da sala de aula. Vale lembrar que todo diálogo deve acontecer com limite e respeito. As emoções podem vir “à flor da pele”, mas saber lidar com o que o outro está pensando é fundamental para que o afeto se faça presente em um ambiente transparente.

5.3. Atenção aos detalhes Já percebeu que os laços de afetividade são marcados por detalhes? Então, isso também faz muita diferença na educação afetiva. Isso porque a relação entre estudantes e educadores pode ser ainda melhor quando um se atenta a detalhes pessoais do outro. Além disso, lembrar de algum filme, série, artista que o outro admira em uma conversa desperta a sensação de que existe uma atenção que vai além das notas. Atente-se, então, aos detalhes e assim poderá despertar a emoção dos estudantes, surpreendendo-os quando menos esperam!