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Gramática Portuguesa: Acepção de 'dar resposta', Notas de estudo de Morfologia e Sintaxe

Uma análise detalhada da acepção do verbo 'dar resposta' em português, abordando suas formas, usos e exemplos em diferentes contextos. Além disso, o texto discute as conjunções, interjeições, orações subordinadas, orações adverbiais e outros aspectos da gramática portuguesa.

Tipologia: Notas de estudo

2020

Compartilhado em 27/03/2024

matheus-ribeiro-5wv
matheus-ribeiro-5wv 🇧🇷

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530 NOVA GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
Neste caso, a conjunção conserva pleno o seu valor comparativo; e o segundo
termo vem enunciado entre pausas, que se marcam, na escrita, por vírgulas,
b) Com os dois sujeitos englobadamente (isto é: o verbo irá para o plural), se os
considerarmos termos que se adicionam, que se reforçam, interpretação que
normalmente damos, por exemplo, a estruturas correlativas do tipo tanto...
como:
É inútil acrescentar que tanto ele como eu esperamos que vonos
dê sempre notícias.
(Ribeiro Couto, C, 2 0 2 .)
Tanto um como outro se ocupavam em mercadejar.
(A. Ribeiro, PSP, 265.)
É um homem excelente, e tanto Emília como Francisquinha o esti
mam muito, a seu modo.
(C. dos Anjos, DR, 128.)
Entre os sujeitos não há pausa; logo, não devem ser separados, na escrita,
por vírgula.
De modo semelhante se comportam os sujeitos ligados por série aditiva
enfática (não só... mas [senão ou como] também):
Qualquer se persuadirá de que não só a nação mas também o príncipe
estariam pobres.
(A. Herculano, HP, III, 303.)
REGÊNCIA VERBAL
REGÊNCIA
Em geral, as palavras de uma oração o interdependentes, isto é, relacionam-
se entre si para formar um todo significativo.
Essa relação necessária que se estabelece entre duas palavras, uma das quais
serve de complemento a outra, é o que se chama regência. A palavra dependente
denomina-se regida, e o termo a que ela se subordina, regente.
As relações de regência podem ser indicadas:
a) pela ordem por que se dispõem os termos na oração;
b) pelas preposições, cuja função é justamente a de ligar palavras estabelecendo
entre elas um nexo de dependência;
c) pelas conjunções subordinativas, quando se trata de um período composto.
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530 NOV A G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

Neste caso, a conjunção conserva pleno o seu valor comparativo; e o segundo termo vem enunciado entre pausas, que se marcam, na escrita, por vírgulas,

b) Com os dois sujeitos englobadamente (isto é: o verbo irá para o plural), se os

considerarmos termos que se adicionam, que se reforçam, interpretação que

normalmente damos, por exemplo, a estruturas correlativas do tipo tanto ...

como:

É inútil acrescentar que tanto ele como eu esperamos que você nos dê sempre notícias. (Ribeiro Couto, C, 2 0 2 .)

Tanto um como outro se ocupavam em mercadejar. (A. Ribeiro, PSP, 265.)

É um homem excelente, e tanto Emília como Francisquinha o esti mam muito, a seu modo.

(C. dos Anjos, DR , 128.)

Entre os sujeitos não há pausa; logo, não devem ser separados, na escrita, por vírgula. De modo semelhante se comportam os sujeitos ligados por série aditiva

enfática (não só... mas [senão ou como ] também ):

Qualquer se persuadirá de que não só a nação mas também o príncipe estariam pobres.

(A. Herculano, HP, III, 303.)

REGÊNCIA VERBAL

REGÊNCIA

Em geral, as palavras de uma oração são interdependentes, isto é, relacionam- se entre si para formar um todo significativo. Essa relação necessária que se estabelece entre duas palavras, uma das quais serve de complemento a outra, é o que se chama regência. A palavra dependente denomina-se regida, e o termo a que ela se subordina, regente. As relações de regência podem ser indicadas: a) pela ordem por que se dispõem os termos na oração; b) pelas preposições, cuja função é justamente a de ligar palavras estabelecendo entre elas um nexo de dependência; c) pelas conjunções subordinativas, quando se trata de um período composto.

V E R B O 531

Em outros capítulos deste livro, estudamos parceladamente tais relações: complementos pedidos por substantivos, por adjetivos, por verbos, por advér bios e, mesmo, por orações. Procuraremos, agora, precisar melhor as formas que assume a regência v er ba l.

O bservação: A r e g ê n c ia é o movimento lógico irreversível de um termo regente a um regido. Reconhece-se o termo regido por ser aquele que é necessariamente exigido pelo outro. Por exemplo: a conjunção embora pede o verbo no subjuntivo, mas o verbo no subjuntivo não exige obrigatoriamente a conjunção embora ; logo a conjunção é o termo regente, e a forma verbal o termo regido. Sobre o conceito de r e g ê n c ia e suas relações com o de c o n c o r d â n c ia , veja-se Louis Hjelmslev. La notion de rection. Acta Linguística, 1: 10-23, 1939.

REGÊNCIA VERBAL

Vimos que, quanto à predicação, os verbos nocionais se dividem em in transitivos e transitivos. Os intransitivos expressam uma ideia completa:

A criança dormiu. Pedro viajou.

Os transitivos, mais numerosos, exigem sempre o acompanhamento de uma palavra de valor substantivo ( objeto direto o u in d ir eto ) para integrar- -lhes o sentido:

O menino comprou um livro. O velho carecia de roupa. Pedro deu um presente ao amigo.

A lig a ç ã o d o v e r b o c o m o s e u c o m p le m e n to , is to é, a regência verbal, p o d e , c o m o n o s m o s tr a m o s e x e m p lo s a c im a , fa z e r-se :

a) diretamente , sem uma preposição intermédia, quando o complemento é

objeto direto ;

b ) indiretamente , m e d ia n te o e m p r e g o d e u m a p r e p o s iç ã o , q u a n d o o c o m p le

m e n t o é OBJETO INDIRETO.

D iv e rs id a d e e ig u a ld a d e d e re g ê n c ia

Verbos há que admitem mais de uma regência. Em geral, a diversidade de regência corresponde a uma variação significativa do verbo. Assim:

V E R B O 533

R e g ê n c ia d e a lg u n s v e rb o s

A s p ir a r

  1. °) É transitivo direto q u a n d o sig n ific a “s o r v e r ”, “ r e s p ir a r ”:

Aspirando o frescor do seu vestido... (C. Pessanha, C, 82.)

Destampava as panelas, especulava o que se ia comer, aspirava com gosto o perfume do refogado — da salsa, do alho, da cebolinha.

(O. Lara Resende, RG, 36.)

Arregaçou o focinho, aspirou o ar lentamente, com vontade de subir a ladeira e perseguir os preás, que pulavam e corriam em liberdade. (G. Ramos, V5,130-131.)

  1. °) É transitivo indireto na acepção de “pretender”, “desejar”. Neste caso,

o OBiETO indireto vem introduzido pela preposição a (ou por), não admitindo

a substituição pela forma pronominal lhe (ou lhes), mas somente por a ele(s)

ou a ela(s):

Sua vigilância exasperava-me, no íntimo, fazendo-me aspirar, com ânsia, à libertação.

(C. dos Anjos, DR, 407.)

Aspiramos a tuna terra pacífica. (C. Drummond de Andrade, OC, 830.)

E a mim, que aspiro a ele, a mim, que o amo, Que anseio por mais vida e maior brilho, Há de negar-me o termo deste anseio?

(A. de Quental, SC, 10.)

Advirta-se, porém, que, embora invariavelmente condenado pelos gramá ticos, o regime direto se insinua, vez por outra, na pena de escritores brasileiros modernos e contemporâneos:

Ele sente, ele aspira, ele deseja A grande zona da imortal bonança. (Cruz e Sousa, OC, 212.)

534 NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

Oh! o que eu não aspirava, no titanismo das minhas ânsias de moço, para o meu país!

(G. Amado, PP, 49.)

A s s is tir

  1. °) Uma longa tradição gramatical ensina que este verbo é transitivo ind ireto no sentido de “estar presente”, “presenciar”. Com tal significado, deve

o obieto in d ireto ser encabeçado pela preposição a, e, se for expresso por

pronome de 3.“ pessoa, exigirá a forma a ele(s) ou a ela(s), e não lhe(s). Assim:

Assisti a algumas touradas. (A. F. Schmidt, AP, 175.)

Não é propósito nosso descrevermos uma corrida de touros. Todos têm assistido a elas e sabem de memória o que o espetáculo oferece de notável. (Rebelo da Silva, CL, 177.)

Na linguagem coloquial brasileira, o verbo constrói-se, em tal acepção, de

preferência com obieto direto (cf.: assistir o jogo, um filme), e escritores mo

dernos têm dado acolhida à regência gramaticalmente condenada. Sirvam de exemplo estes dois passos:

Trata-se de um filme que eu assistia.

(C. Lispector, AV, 32.)

Dava dinheiro e corrompia para fazer passar de novo e sempre as fitas que não assistira.

(Autran Dourado, IP, 38.)

  1. °) É transitiv o in d ireto n a a c e p ç ã o d e “ f a v o r e c e r ”, “c a b e r ( d ir e ito o u ra z ã o , a a lg u é m ) ”, m a s , n e s te caso , p o d e c o n s tr u ir - s e c o m a f o r m a p r o n o m i n a l

lhe{s):

A o dono da loja assiste razão de gabar-se, como o fez, por sua ini ciativa.

(C. Drummond de Andrade, CB, 94.)

Que direito lhe assistia de julgar Jacinto?

(U. Tavares Rodrigues, NR, 31.)

536 NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

É claro que chamei o sacristão e lhe pedi silêncio. (C. de Oliveira, AC, 29.)

  1. °) Na acepção de “invocar”, pede objeto in d ireto encabeçado pela pre

posição por.

As tias chamavam por Santa Bárbara e por São Jerônimo.

(O. Lara Resende, PM, 97.)

Tanto valeu tanger a campainha da ordem como chamar pelo mira culoso padre Antônio. (A. Ribeiro, V, 421.)

O Negrinho chamou pela Virgem sua madrinha e Senhora Nossa.

(Simões Lopes Neto, CGLS , 333.)

  1. °) No sentido de “qualificar”, “apelidar”, “dar nome”, constrói-se: a) com objeto direto + predicativo:

O povo chamava-o maluco.

(J. Lins do Rego, U, 127.)

b ) c o m objeto direto + predicativo, p r e c e d id o d a p r e p o s iç ã o de'4':

Chamaram-no de mentiroso, de ingrato e de vítima.

(C. Drummond de Andrade, CB, 71.)

c) com objeto in direto + pred icativo :

Chama-lhe amizade, se preferires.

(R Namora, RT, 173.)

d ) c o m objeto indireto + predicativo ( p r e c e d id o d a p r e p o s iç ã o de):

Chamava-lhe sempre de miúdo.

(Luandino Vieira, L , 22.)

1 4 Esta construção, desusada em Portugal e condenada pelos puristas, é a predominante na linguagem coloquial brasileira e tende a sê-lo também na expressão literária modernista.

V E R B O 537

4.°) Pode ser intransitivo, quando equivale a “dar ou fazer sinal com a voz ou o gesto, para que alguém venha”:

Chamasse, gritando, José Balbino invadiria o quarto.

(Adonias Filho, LBB, 53.)

— Chamou? pergunta-me o guarda. — Não chamei.

(V. Ferreira, NN, 78.)

Neste sentido também se usa com objeto indireto precedido da preposição

por {per):

Sampaio correu a porta e chamou pelos sipaios.

(Castro Soromenho, TM, 215.)

— Ela chamou por mim, Barbaças!

(F. Namora, TJ, 45.)

E n s in a r

  1. °) Na língua atual, constrói-se preferentemente com obieto direto de “coisa” e ind ireto de “pessoa”:

Vou dizer que o Antoninho andou pelas portas a ensinar-vos a lição e a prometer-vos peitas. (A. Ribeiro, V, 410.)

E eu lhe ensinei a pura alegria.

(Luandino Vieira, NANV, 200.)

Se lhe ensinassem um ofício, podia fazer um pedaço.

(J. Lins do Rego, MR, 13.)

  1. °) Quando a “coisa” ensinada vem expressa por um infinitivo precedido da

preposição a , a língua atual oferece-nos dois tipos de construção:

a ) ensinar-lhe a + in fin itiv o ;

b ) ensiná-lo a + in fin itiv o.

Comparem-se estes exemplos:

Em vão ensinara-lhe a proteger os animais das pragas e dos vendavais. (N. Pinõn, CC, 52.)

V E R B O 5 3 9

c) c o m o intransitivo:

Na vossa terra não há quem ensine? (F. Namora, 27, 294.)

Como mestra, a vida ensina mal. (Ó. Soares, DF, I, XIII.)

E sq u e c e r

l.°) Na acepção própria de “olvidar”, “sair da lembrança”, este verbo cons- trói-se, tradicionalmente: a ) se ja c o m obieto direto:

Esqueci um ramo de flores no sobretudo.

(C. Drummond de Andrade, R , 9.)

— Pois é, não deve deixar que o esqueçam. (J. Paço d ’Arcos, CVT, 722.)

Eu não esqueço o bem que ele me fez.

(Castro Soromenho, TM, 244-245.)

b ) s e ja c o m objeto indireto in t r o d u z id o p e la p r e p o s iç ã o de, q u a n d o p r o n o

m in a l:

Tendo de lutar para obter melhoria de situação, foi-se esquecendo dos deveres religiosos. (C. Drummond de Andrade, CA, 123.)

Diabo: o Barbaças esquecia-se de deixar as rações na manjedoura.

(F. Namora, TJ, 325.)

2.°) Do cruzamento destas duas construções resultou uma terceira, sem o

pronome reflexivo, mas com o objeto introduzido por de:

Esqueceu os deveres religiosos Esqueceu-se dos deveres religiosos

Esqueceu dos deveres religiosos

Tal construção, considerada viciosa pelos gramáticos, mas muito frequente no colóquio diário dos brasileiros, já se vem insinuando na linguagem literária,

540 NOV A G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

principalmente quando o complemento de esquecer é um infinitivo. Sirvam de

exemplo estes passos:

Guma esquece de tudo, e se deixa ir no doce acalanto dessa toada tâo bela. (J. Amado, MM, 55.)

Ah, sim, esqueci de confessar quando a vi.

(N. Pinon, SA , 155.)

3. °) Também não é raro na língua atual o tipo sintático esquecer-se que , com

elipse da preposição:

— Toma esta chave, e não te esqueças que o seu poder é sobrenatural.

(G. Amado, TL, 5.)

— Um homem acostuma-se a tudo, sim, a tudo, até a esquecer-se que é um homem... (Castro Soromenho, C, 66.)

— Esquece-se que não tenho outra companhia...

(Alves Redol, BC, 296.)

4. °) À semelhança de lembrar-se, o verbo esquecer-se admite uma construção

de estrutura diversa das que até agora examinamos. Os elementos que nestas fun cionam como objeto ( direto o u in d ireto ) vão figurar nela como sujeito:

E o pior é que me esqueceu tudo, valha-me Deus!

(J. Régio, SM, 303.)

Esqueceram-me todas as mágoas, e comecei a gostar desse Belmiro que olhava para o salão como se estivesse contemplando o mar.

(C. dos Anjos, DR, 116.)

  1. °) Finalmente, do cruzamento das construções

Esqueci-me de tudo

e

Esqueceu-me tudo,

(^542) NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

As histórias de Zefinha não o interessavam.

(J. Lins do Rego, MVA, 318.)

b) “alcançar”, “ofender”, “ferir”:

O ferimento interessou a aorta.

(A. Nascentes, PR, 231.)

A facada interessou o pulmão direito.

(Caldas Aulete, DCLP, 986.)

3. °) Emprega-se com objeto indireto introduzido pela preposição em nos

sentidos de “ter interesse”, “tirar utilidade, lucro ou proveito”:

O rei interessava em que os concelhos fossem poderosos e livres. (A. Herculano, MC, II, 78-79.)

É lícito supor que desejava prolongar a luta, porque interessava em residir na corte de Roma.

(A. Herculano, OEIP, II, 50.)

  1. °) É transitivo direto e indireto q u a n d o sig n ific a : a) “dar a alguém parte num negócio ou nos lucros”:

Interessei-o nesta empresa.

(M. de Sousa Lima, GP, 294.)

Interessei meu irmão na charutaria.

(A. Nascentes, PR, 231.)

b) “atrair”, “provocar o interesse ou a curiosidade de”:

Foi fácil para ele interessar toda a cidade na incrível figurinha de Shirley Temple.

(Autran Dourado, IP, 38.)

A princípio tentara interessá-lo nos problemas sociais que o entu siasmavam.

(Castro Soromenho, TM, 171.)

Josefina, é verdade que nunca se aproximou de mim para me inte ressar nos seus enigmas. (A. Bessa Luís, M, 296.)

V E R B O 543

5.°) No sentido de “empenhar-se”, “tomar interesse por” tem forma reflexa e faz-se acompanhar de objeto indireto encabeçado por uma das preposições

em ou por.

Interesso-me em aspirar todos os aromas que recendem das essências angélicas. (C. Castelo Branco, OS, 1,509.)

Zazá não se interessava muito pelo futebol. (Ribeiro Couto, JVC, 46.)

Interessavam-se as três, humanamente, pelos alunos, pelos seus casos familiares, pelas inclinações que revelavam, pelas suas singularida des físicas e espirituais. (U. Tavares Rodrigues, PC, 198.)

L e m b ra r

O verbo lembrar(-se) apresenta os mesmos tipos de construção que o seu

antônimo esquecer(-se).

Assim:

  1. °) Com o sentido de “trazer à lembrança”, “evocar”, “sugerir”, “recordar-se” é transitivo direto:

O monte lembrava um lençol esburacado. (A. Ribeiro, M, 147.)

Lembrei dias de ventanias, sóis de correrias.

(Luandino Viena, NANV, 194.)

Lembro-a hoje, com os seus cabelos brancos... (A. F. Schmidt, P, 43.)

  1. °) Na acepção de “sugerir a lembrança”, “fazer recordar”, “advertir”, cons- trói-se com obieto direto e indireto:

E ali era ele quem mandava, não precisava de o lembrar à filha.

(Alves Redol, BC, 29.)

Para me lembrar ao senhor? Para lembrá-lo a mim? Nosso entendi mento se tornou tão fácil que dispensa a operação da lembrança.

(C. Drummond de Andrade, CB , 153.)

V E R B O 545

Não me lembra o motivo que alegou. (C. Drummond de Andrade, CB, 57.)

O terceiro, cruzamento dos dois esquemas anteriores, é de emprego raro na língua atual:

Voltei depois que ela entrou em casa, e só muito abaixo é que me lembrou de ver as horas. (Machado de Assis, OC, II, 648.)

me lembrou de o esperar no caminho e pendurar pelo gasnete no galho de um sobreiro. (C. Castelo Branco, OS, 1,401.)

4.°) Paralelamente à construção esquecer de (alguém ou alguma coisa), aparece

na linguagem coloquial brasileira lembrar de (alguém ou alguma coisa), regência

também tida por viciosa. Um exemplo literário:

Lembrava do negro velho Macário que fora escravo do capitão Tomás e que morrera servindo na casa.

(J. Lins do Rego, FM, 55.)1 6

O b e d e ce r (e d e so b e d e c e r)

  1. °) Na língua culta moderna, fixou-se como transitivo in d ireto :

Só os lavradores, e alguns, têm obedecido a este preceito!

(Alves Redol, BC, 48.)

Mas todos obedeciam a ele. Ah! Quem disse que não obedeciam? (G. Ramos, V5,29.)

  1. °) Admite, no entanto, voz eassiva:

Sofreste tanto que até perdeste a consciência do teu império; estás pronta a obedecer; admiras-te de seres obedecida. (Machado de Assis, OC, III, 1044.)

1 6 Cf. Luís Carlos Lessa. Obra cit., p. 192-193, onde se mencionam mais exemplos literários desta construção condenada.

546 NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

Depois de outras muitas e reiteradas ordens foi enfim obedecida.

(M. Barreto, CP, 303.)

Esta construção corresponde ao antigo regime transitivo direto do verbo, que ainda se documenta em escritores do século passado:

— Meu tio Campeio ordenou-me e eu o obedeço. (J. de Alencar, OC, III, 1243.)

  1. °) Não é raro o seu emprego como intransitivo:

Restitua o dinheiro àquela menina. Se ainda o tem. Obedeci.

(J. Rodrigues Miguéis, GTC, 135.)

A ruína vem muitas vezes dessas naturezas feitas para obedecer, (A. Bessa Luís, M, 261.)

Você é o único que não obedece!

(C. Lispector, ME, 202.)

4. °) Idêntica é a construção do antônimo desobedecer.

P e rd o a r

  1. °) Na língua culta de hoje, constrói-se, preferentemente, com objeto direto de “coisa” e objeto indireto de “pessoa”:

Crimes da terra, como perdoá-los?

(C. Drummond de Andrade, R, 78.)

Perdoai o nosso erro. (J. Régio, SM, 94.)

Ela perdoara-lhe.

(J. Paço d’Arcos, CVL, 718.)

Perdoem-lhe esse riso. (Machado de Assis, OC, 1,600.)

  1. °) Na vo z passiva pode o sujeito corresponder também ao objeto indireto da ativa:

548 NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

b ) c o m OBiETo direto p a r a e x p r im ir a re s p o s ta :

O homem comum não responderia o que ele me responde, se lhe pergunto a que hora gosta de escrever.

Nenhum escritor comum, igualmente, responderia isso. (C. Drummond de Andrade, CB, 72.)

O homem respondeu qualquer coisa de ininteligível.

(J. Rodrigues Miguéis, G T C 106.)

podendo, naturalmente, usar-se na passiva:

... um violento panfleto contra o Brasil que foi vitoriosamente res pondido por De Ângelis. (E. Prado, M, 145.)

c) c o m OBIETO DIRETO e INDIRETO:

Quando lhe perguntei por que motivo ninguém o via há um més, respondeu-me que estava passando por uma transformação. (Machado de Assis, OC, II, 83.)

Respondi-lhe que já tinha lido a receita em qualquer parte. (J. Cardoso Pires, D, 295.)

2.°) Na acepção de “replicar”, “retorquir”, usa-se, normalmente, com objeto in d ir eto :

Quase que lhe respondera com escárnio. (J. Paço d’Arcos, CVL, 706.)

À linguagem do deputado o jovem médico respondeu com igual franqueza. (Machado de Assis, OC, II, 60.)

Não é raro, porém, o emprego in tran sitivo :

Respondia sem revolta ou renúncia na voz. (M. Torga, CM, 14.)

Nascimento não respondeu logo. (H. Sales, C, 209.)

V E R B O 5 4 9

O guarda gritara duas vezes, espaçadas, e como o da Administração não respondera, calou-se.

(Castro Soromenho, TM, 251.)

Respondeu muito à vontade e com presteza. (C. dos Anjos, M, 170.)

  1. °) Na acepção de “repetir a voz, o som”, “dizer, cantar ou tocar em resposta” é in tran sitivo :

João Fanhoso cantou outra vez. O mesmo canto rachado de taquaraçu, alto e que ia longe. Mas desta vez responderam... Longe, bem longe, outro canto respondeu. E outro. E outro. (M. Palmério, VC, 102.)

Fr. José, depois de ter invocado Nossa Senhora do Salvamento, encetou o terço e as monjas responderam.

(A. Ribeiro, ES, 210.)

  1. °) No sentido, hoje pouco usual, de “corresponder”, “equivaler”, “condizer” constrói-se com obieto in d ireto :

Quis puxar as mãos de Capitu, para obrigá-la a vir atrás delas, mas ainda agora a ação não respondeu à intenção. (Machado de Assis, OC, 1,769.)

O movimento bem visível da dobadoira era regular, e respondia ao movimento quase imperceptível das mãos da velha. (Almeida Garrett, 0 ,1 ,55.)

Legítimo português é reclamo, do gênero masculino, que responde

cabalmente ao francês une réclame.

(R. Barbosa, R, 184.)

  1. °) Quando significa “ser ou ficar responsável”, “responsabilizar-se”, “fazer

as vezes (de alguém)”, exige complemento introduzido pela preposição por.

Parecia que outro personagem respondia por ele, a fim de deixá-lo à vontade.

(A. M. Machado, JT, 112.)