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Filosofia: O Mito e o Logos na Grécia Antiga - Material e Exercícios, Notas de aula de Filosofia

Este material didático explora a transição do pensamento mítico para o filosófico na grécia antiga, analisando a importância do logos como princípio de ordem e razão. Aborda conceitos como physis, arqué e a crítica à cosmovisão mítica, além de apresentar exercícios para aprofundar o estudo.

Tipologia: Notas de aula

2025

Compartilhado em 31/03/2025

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MATERIAL E EXERCÍCIOS PAPIRO SIRIUS
PROFESSOR: LEANDER BARROS- FILOSOFIA E SOCIOLOGIA
_____________________________________________________________________________________________
MÓDULO O2: Da consciência mítica à consciência filosófica (esquemas de
aula).
O mito caracteriza-se sobretudo pelo modo como estas explicações são dadas,
ou seja, pelo tipo de discurso que constitui. O próprio grego mytos (μῦθος)
significa um tipo bastante especial de discurso, o discurso ficcional ou imaginário,
sendo por vezes até mesmo sinônimo de “mentira”. (MARCONDES, 2015, p.20).
Segundo John Burnet, Early Greeek Philosophy, Londres: Macmillan, 1981: “Os
gregos não começaram a sentir a necessidade de uma filosofia da natureza e da
ética, a não ser após o fracasso de suas primitivas cosmovisões e de suas regras
tradicionais de vida.”
O pensamento mítico e o filosófico não se separam na Grécia antiga do modo
como hoje queremos crer, e a discussão sobre o tema é longa e controversa.
Muitas interpretações atuais apontam para tal fato e quebram parte da
hegemonia das leituras que dividem, acentuadamente, a palavra mítica da
palavra exposta em argumentos. Assim, é possível e interessante uma
investigação levar em conta o pensar sobre o agir humano. (GAZOLLA, 2011,
p.135)
O mito opõe-se aoFlogos, como a fantasia opõe-se à razão e a palavra que relata
à que demonstra.FLogos eFmythossão as duas metades da linguagem, duas
funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos, sendo um
raciocínio, pretende convencer; ele provoca em quem ouve a necessidade de
fazer um julgamento. OFlogosé verdadeiro se for correto e conforme à “lógica”; é
falso se dissimular algum embuste secreto (um “sofisma”). Mas o “mito” não tem
outro fim senão ele mesmo. Quer se acredite nele ou não, ao bel-prazer, por um
ato de fé, quer seja considerado “belo” ou verossímil, ou simplesmente porque se
deseja acreditar nele. O mito se vê, assim, atraindo a sua volta toda a parte
irracional do pensamento humano: ele é, pela própria natureza, aparentado da
arte em todas as suas criações.
GRIMAL, Pierre. Mitologia Grega. Trad. Rejane Janowitzer. Porto Alegre, RS:
L&PM, 2013, p. 8.
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PROFESSOR: LEANDER BARROS- FILOSOFIA E SOCIOLOGIA

_____________________________________________________________________________________________ MÓDULO O2: Da consciência mítica à consciência filosófica (esquemas de aula). O mito caracteriza-se sobretudo pelo modo como estas explicações são dadas, ou seja, pelo tipo de discurso que constitui. O próprio grego mytos (μῦθος) significa um tipo bastante especial de discurso, o discurso ficcional ou imaginário, sendo por vezes até mesmo sinônimo de “mentira”. (MARCONDES, 2015, p.20). Segundo John Burnet, Early Greeek Philosophy , Londres: Macmillan, 1981: “Os gregos não começaram a sentir a necessidade de uma filosofia da natureza e da ética, a não ser após o fracasso de suas primitivas cosmovisões e de suas regras tradicionais de vida.” O pensamento mítico e o filosófico não se separam na Grécia antiga do modo como hoje queremos crer, e a discussão sobre o tema é longa e controversa. Muitas interpretações atuais já apontam para tal fato e quebram parte da hegemonia das leituras que dividem, acentuadamente, a palavra mítica da palavra exposta em argumentos. Assim, é possível e interessante uma investigação levar em conta o pensar sobre o agir humano. (GAZOLLA, 2011, p.135) O mito opõe-se ao logos , como a fantasia opõe-se à razão e a palavra que relata à que demonstra. Logos e mythos são as duas metades da linguagem, duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos, sendo um raciocínio, pretende convencer; ele provoca em quem ouve a necessidade de fazer um julgamento. O logos é verdadeiro se for correto e conforme à “lógica”; é falso se dissimular algum embuste secreto (um “sofisma”). Mas o “mito” não tem outro fim senão ele mesmo. Quer se acredite nele ou não, ao bel-prazer, por um ato de fé, quer seja considerado “belo” ou verossímil, ou simplesmente porque se deseja acreditar nele. O mito se vê, assim, atraindo a sua volta toda a parte irracional do pensamento humano: ele é, pela própria natureza, aparentado da arte em todas as suas criações. GRIMAL, Pierre. Mitologia Grega. Trad. Rejane Janowitzer. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013, p. 8.

PROFESSOR: LEANDER BARROS- FILOSOFIA E SOCIOLOGIA

_____________________________________________________________________________________________ MITO FILOSOFIA Cosmogonias (origem divina do mundo e dos fenômenos) Cosmologias (explicação conceitual, lógico-argumentativa) Narrativa poética e sagrada Discurso lógico-conceitual Autoridade mágico-sacerdotal Validade lógico-argumentativa Tempo longínquo (imemorial) Totalidade do tempo Transmissão oral, tradicional (ancestral) Questionamento teórico problematizador da realidade Oralidade, tradição cultural. Diálogo, escrita e reflexão sistematizada (ordenada).  A passagem do pensamento mito-poético ao pensamento filosófico (científico), pode ser representada pelo surgimento da filosofia na Grécia antiga do séc VI a. C.  Há gradual abandono, por parte dos gregos antigos, no pensamento clássico emergente entre as duas formas de saber (mito e filosofia) como resultante de múltiplas transformações no contexto sociocultural grego, que além de secularizar-se, a Grécia se torna um grande centro cultural e comercial no período clássico.  O surgimento do pensamento filosófico nas colônias^1 gregas da Jônia se deu de forma significativa, dado o maior contato desses povos com outras cultural, o que ocasionou maior relativização dos mitos e dos rituais (práticas religiosas).

 O mito, enquanto explicação mágico-religiosa da realidade,

progressivamente irá mostrar sua ineficácia para a compreensão do mundo em sua integralidade. De tal maneira, os primeiros filósofos ou “físicos” da jônia irão propor o esforço compreensivo da realidade, mediante as theoría (estudo teórico/contemplativo) centrado na investigação da natureza ( physis ). Por isso, esses primeiros estudiosos são chamados de “naturalistas”. Quanto ao que cada uma delas implica do ponto de vista nível ontológico, subscrevo a delimitação proposta por Mardones (2005, p. 65). Se o mythos encerra a realidade tomada como horizonte de compreensão do mundo, o logos corresponde a cada uma das compreensões, reflexões e interpretações que possamos extrair desse horizonte. O primeiro procura uma totalidade apenas representável , ao passo que o segundo se dirige à realidade singular e disponível (^1) As colônias gregas da Jônia e do sul da Itália, diferem das colônias africanas ou americanas do século XVI em diante. Eram, cidades fundadas por navegadores oriundos das cidades gregas, porém, com autonomia política e econômica em relação às cidades de onde se originaram seus fundadores. A convivência era relativamente pacífica no, então, reino da Lídia, naquela época. O que não irá acontecer, com a devastação da Jônia pelos persas no séc. V a.C.

ORIGEM

  • Temporalidade – ( 1 ) Gênese ( 2 ) Princípio ( 1 a ) Fontes ( 1 b ) Primórdios ( 2 a ) Causa ( 2 b ) Norma

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_____________________________________________________________________________________________ Lembre-se da palavra brotação, a physis remete para esta ideia. A raiz do verbo phy é raiz do brotar. Então há o movimento como a seiva, por exemplo, numa planta. É essa a ideia de physis. É uma ideia muito física, muito concreta. (MURACHCO, 1997, p. 17). 1.2 A causalidade ( aitía ), interpretada estritamente em termos “naturais” (usada posteriormente por Platão e Aristóteles). Uma origem pode ser nada mais que um ponto de partida , mas também pode ser um princípio ou uma fundação. Esses dois polos se dividem, por sua vez: o princípio ou fundamento de um dado fenômeno pode não ser nada mais que uma simples causa , ou assumir a forma particular de uma norma , enquanto, do ponto de vista genético, o ponto de partida pode residir nas fontes de onde o fenômeno provém ou das quais se alimenta, mas que lhe são externas, ou nos próprios primórdios dessa manifestação, que lhe são fundamentalmente homogêneos. É claro que essas distinções são função da maior ou menor temporalidade de que o termo é investido, numa escala entre os polos da “ génesis ” [gênese], considerada como um processo imerso no tempo, e do “ princípio ”, que tende a se afastar dele. Que pode ser esquematizado da seguinte forma (Cf. LAKS, 2010, p. 88-89): Explicar é relacionar um efeito a uma causa que o antecede e o determina. A B. Explicar é, portanto, reconstruir o nexo causal existente entre os fenômenos da natureza, é tomar um fenômeno como efeito de uma causa. É a existência desse nexo que torna a realidade inteligível e nos permite considerá-la como tal. (Cf. Marcondes, 2007, p. 24). No horizonte mítico  a causa dos fenômenos humanos e naturais é explicada por causas sobrenaturais. No horizonte filosófico  o nexo causal se dá entre causas naturais para a explicação dos fenômenos. A fim de evitar o regresso ao infinito na busca sucessiva pelas inúmeras causas de todos os fenômenos, surge a necessidade de estabelecer um

fenômeno 1 fenômeno 2 causa  efeito (causa)  (efeito) ... causa  efeito

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_____________________________________________________________________________________________ princípio, ou um conjunto de princípios, que sirva de ponto de partida para todo o processo racional (a arché ). (Cf. MARCONDES, 2007, p. 25). 1.3 A concepção de ( arqué ) ou elemento primordial (fundamental) A importância da noção de arqué está exatamente na tentativa por parte desses filósofos de apresentar uma explicação da realidade em um sentido mais profundo, estabelecendo um princípio básico que permeie toda a realidade, que de certa forma a unifique, e que ao mesmo tempo seja um elemento natural. Tal princípio, daria precisamente o caráter geral a esse tipo de explicação, permitindo considerá-la como inaugurando a ciência. (MARCONDES, 2007, p. 26).  A dupla valência semântica de arqué : (i) Origem, aquilo que está em primeiro, a frente e, por isso, é o começo ou o princípio de tudo; (ii) O que está à frente e, por isso, comanda (rege) todo o restante. 1.4 A concepção de ( cosmos ) = universo racionalmente ordenado  Surgimento da cosmologia = explicação dos processos e fenômenos naturais; como também, teoria geral sobre a natureza e o funcionamento (ordem) do universo.  O cosmos é o mundo natural, bem como o espaço celeste, enquanto realidade ordenada de acordo com certos princípios racionais. Heráclito de Éfeso (Frag. B30): “Este cosmo, o mesmo para todos, nenhum deus ou homem fez, mas foi, é, e será para sempre.” 1.5 O logos como inteligência cósmica e explicação discursiva.

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_____________________________________________________________________________________________ GAZOLLA, Rachel. Pensar Mítico e Filosófico estudos sobre a Grécia Antiga. São Paulo: Edições Loyola, 2011. GRIMAL, Pierre. Mitologia Grega. Trad. Rejane Janowitzer. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013. HERÁCLITO. Fragmentos. In: Os Pré-Socráticos. Trad. José Cavalcanti de Souza et al. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2000. LAKS, André. Introducción a la filosofía «presocrática ». Trad. Leopoldo Iribarren. Madrid: Gredos, 2010. MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia Dos Pré Socráticos a Wittgenstein. Rio de janeiro: Zahar, 2007. MARDONES, José María. El retorno del Mito. A racionalidade mito-simbolica. Madrid: Sintesis, 2000. MATTEÍ, Jean-François. Platon et le miroir du mythe. Paris. Quadrige. VERNANT, J-P. As Origens do Pensamento Grego. Trad. Ísis Borges B. da Fonseca. Rio de Janeiro: Difel, 2002.