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Construindo um Problema de Pesquisa: Reflexões de José Luiz Braga, Esquemas de Parasitologia

José luiz braga, doutor em comunicação pela universidade de paris 2, discute a importância de planejar cuidadosamente antes de começar um projeto de pesquisa. Em vez de começar diretamente com uma hipótese, ele enfatiza a importância de identificar e definir o problema de pesquisa. O texto oferece conselhos práticos para a geração de perguntas específicas e a sistematização delas, além de enfatizar a importância de manter uma forte coerência entre o problema de pesquisa e a realidade investigada.

O que você vai aprender

  • Como se deve construir um problema de pesquisa efetivo?
  • O que é uma hipótese de pesquisa e por que ela pode levar a equívocos em pesquisas qualitativas?
  • Qual é a importância de planejar cuidadosamente antes de começar um projeto de pesquisa?

Tipologia: Esquemas

2022

Compartilhado em 05/12/2022

vi-fagundes
vi-fagundes 🇧🇷

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Para começar um
projeto de pesquisa
José Luiz Braga
Doutor em Comunicação pela Universidade de Paris 2 (Institut Français de Presse).
Professor titular no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (mestrado e doutorado)
da Unisinos. Desenvolve pesquisa sobre os sistemas críticos da mídia e sobre a interface
Comunicação-Educação.
E-mail: jbraga@unisinos.br
Fazer pesquisa solicita uma diversidade de reflexões e gestos mais ou
menos complexos. É por isso que não vamos diretamente a campo para inves-
tigar fazemos antes um cuidadoso planejamento, o qual se expressa em um
projeto de pesquisa. Como o projeto vai se desenvolvendo ao longo do próprio
trabalho de investigação (não paramos nunca de planejar), podemos chamar
as fases iniciais de pré-projeto ou, mais inicialmente ainda, de uma proposta
de pesquisa. Assinalo que estou enfocando particularmente esse planejamento
inicial: a proposta.
Quero enfatizar a particular centralidade, nesse planejamento, do problema
de pesquisa. Só pesquisamos porque temos dúvidas a respeito de alguma questão
do mundo. É lógico portanto que as dúvidas que temos (e que serão expressas
no problema da pesquisa a realizar) devem comandar todo o trabalho de in-
vestigação desde a busca das teorias e conceitos relevantes até a observação
da realidade (coleta de dados), o tratamento desses dados e as conclusões ou
inferências –, que correspondem ao conhecimento desenvolvido a partir do
problema que nos moveu a investigar.
Geralmente os manuais de metodologia de pesquisa enfatizam como ponto
de partida para investigação uma hipótese de pesquisa. Esta se baseia na afirma-
ção (hipotética, justamente) que seria investigada a fim de confirmarmos, ou
não, se efetivamente corresponde aos fatos. Consideramos que, nas pesquisas
qualitativas, essa insistência pode levar a equívocos.
A pretendida necessidade da hipótese de pesquisa leva a um esforço do pes-
quisador para apresentar alguma coisa que seja aceita como tal. Como nós sempre
temos idéias, impressões e propostas referentes aos temas que nos interessam
(e que nos motivam a pesquisar), é fácil decidir que uma dessas proposições é
nossa hipótese. Tipicamente, entretanto, se trata de premissas ou de sacações (no
dicionário Houaiss: “idéia, invenção, lampejo”. Refere-se ao habitual anglicismo
insight). Os lampejos correspondem àquelas idéias explicativas ou interpretati-
vas que acabamos descobrindo de modo espontâneo por nos envolvermos con-
tinuadamente com um tema, por experiência prática ou por leituras.
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Para começar um

projeto de pesquisa

José Luiz Braga Doutor em Comunicação pela Universidade de Paris 2 (Institut Français de Presse). Professor titular no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (mestrado e doutorado) da Unisinos. Desenvolve pesquisa sobre os sistemas críticos da mídia e sobre a interface Comunicação-Educação. E-mail: jbraga@unisinos.br Fazer pesquisa solicita uma diversidade de reflexões e gestos mais ou menos complexos. É por isso que não vamos diretamente a campo para inves- tigar – fazemos antes um cuidadoso planejamento, o qual se expressa em um projeto de pesquisa. Como o projeto vai se desenvolvendo ao longo do próprio trabalho de investigação (não paramos nunca de planejar), podemos chamar as fases iniciais de pré-projeto – ou, mais inicialmente ainda, de uma proposta de pesquisa. Assinalo que estou enfocando particularmente esse planejamento inicial: a proposta. Quero enfatizar a particular centralidade, nesse planejamento, do problema de pesquisa. Só pesquisamos porque temos dúvidas a respeito de alguma questão do mundo. É lógico portanto que as dúvidas que temos (e que serão expressas no problema da pesquisa a realizar) devem comandar todo o trabalho de in- vestigação – desde a busca das teorias e conceitos relevantes até a observação da realidade (coleta de dados), o tratamento desses dados e as conclusões ou inferências –, que correspondem ao conhecimento desenvolvido a partir do problema que nos moveu a investigar. Geralmente os manuais de metodologia de pesquisa enfatizam como ponto de partida para investigação uma hipótese de pesquisa. Esta se baseia na afirma- ção (hipotética, justamente) que seria investigada a fim de confirmarmos, ou não, se efetivamente corresponde aos fatos. Consideramos que, nas pesquisas qualitativas, essa insistência pode levar a equívocos. A pretendida necessidade da hipótese de pesquisa leva a um esforço do pes- quisador para apresentar alguma coisa que seja aceita como tal. Como nós sempre temos idéias, impressões e propostas referentes aos temas que nos interessam (e que nos motivam a pesquisar), é fácil decidir que uma dessas proposições é nossa hipótese. Tipicamente, entretanto, se trata de premissas ou de sacações (no dicionário Houaiss: “idéia, invenção, lampejo”. Refere-se ao habitual anglicismo insight ). Os lampejos correspondem àquelas idéias explicativas ou interpretati- vas que acabamos descobrindo de modo espontâneo por nos envolvermos con- tinuadamente com um tema, por experiência prática ou por leituras.

Para começar um projeto de pesquisa U José Luiz Braga O processo do insight , ou lampejo, seria o seguinte. Trabalhamos com um assunto qualquer (por exemplo, questões referentes à estética publicitária ou à violência na TV, entre outras). Observamos o que as pessoas fazem e dizem, lemos a respeito. De repente percebemos perspectivas que ninguém parece ter ainda notado – é o nosso insight. Como estamos pretendendo fazer uma pes- quisa, a forte tendência é tomar essa idéia como nossa hipótese – nos propomos a pesquisar para ver se é ou não verdadeira. Dificilmente seria uma boa hipótese. Trata-se talvez de um bom ponto de partida. Mas se o final da investigação nos levar de volta a ele, apenas fizemos um círculo para chegar ao lugar de onde saímos, confirmando o que já sabíamos. Seria possível dizer (alguns pesquisadores nessa situação efetivamente o dizem): “Mas talvez a gente acabe provando que a hipótese não é verdadeira e, portanto, há realmente alguma coisa a investigar”. Além de ser frustrante fazer uma pesquisa apenas para provar que estamos errados, isso dificilmente ocorrerá. Primeiro, porque, motivados pelo insight , trabalharemos tendencial- mente para provar essa idéia – gerando uma cegueira involuntária para todos os dados que a contrariem. Segundo, porquanto provavelmente uma idéia gerada por forte envolvimento com a situação é mesmo verdadeira (isto é, válida para o espaço e conjuntura em que foi proposta ) e se sustenta pela própria constatação ao vivo , sem precisar de pesquisa para o demonstrar. Não estou sugerindo que se jogue fora aquela idéia brilhante (seria frus- trante, não é?), mas apenas que ela não seja usada como hipótese de pesquisa. Mais adiante faremos sugestões de bom uso para os insights (se eles existirem). Contudo, desde já assinalamos que não é preciso ter idéias brilhantes iniciais, fulgurações conceituais ou propostas salvadoras. Às vezes você tem em mãos (se tiver, mas não é necessário) uma hipótese de trabalho. Esta, diferente da hipótese de pesquisa, é usada como base para or- ganizar a observação. A questão (ou problema da pesquisa) pode tomar então a seguinte forma: se esta hipótese é verdadeira (e trabalharemos como se fosse), o que poderemos descobrir sobre os processos em pauta, estando munidos de tal afirmação? Note que aqui não vamos investigar a hipótese, mas sim tomá-la de antemão como verdadeira e usá-la como modo ou instrumento para dire- cionar as observações. Para evitar, em uma proposta de pesquisa, confundir premissas, lampejos e hipóteses de trabalho com hipóteses de pesquisa , talvez a melhor tática, para o iniciante, seja a de não apresentar nenhuma hipótese pretendida como “de pesquisa”. Em vez disso, apresente diretamente seu problema de pesquisa.

A DÚVIDA E A CURIOSIDADE COMO BASE

Dissemos que ter lampejos, idéias brilhantes iniciais e hipóteses de pesquisa não é necessário. Outra coisa, entretanto, é fundamental: curiosidade. É preciso estar curioso a respeito de uma situação ou tema. Ou seja: deve-se ter dúvidas, reconhecer que não sabemos alguma coisa sobre a questão de nosso interesse.

O trabalho de aprofundar conhecimentos seria a pesquisa acadêmica. No caso de um mestrado, resultará em uma dissertação. As soluções concretas podem ser decorrentes da dissertação, mas já não fazem parte dela. Serão, se for o caso, expectativa para depois; e resultado de aplicações posteriores dos conhecimentos obtidos sobre a realidade social. Por outro lado, não precisamos partir diretamente de situações problemáticas da realidade. Podemos começar com preocupações e curiosidades mais abstratas ou conceituais, com dúvidas sobre o sentido das coisas. Neste caso, porém, não se esqueça – em algum momento na elaboração de seu projeto – de relacionar essas questões com uma realidade específica. Pois não se investigam abstrações. Salvo nas pesquisas especulativas (mais próprias do trabalho em Filosofia ou nos espaços mais rarefeitos das fronteiras epistemológicas das Ciências Humanas e Sociais, que exigem longa formação e experiência prévia em pesquisa), trabalharemos tipicamente com investigações sobre questões relacionáveis diretamente à rea- lidade social/expressional da comunicação ou da educação. Muito bem... até aqui tivemos exclusões (do tipo não faça isto ). O que não permite avançar-se muito, porque a questão não é o que não fazer , mas sim o que fazer sobre o que não sabemos , sobre nossa curiosidade, que se deve expressar em um não saber especificado , para gerar pesquisa.

PARA COMEÇAR A CONSTRUIR O PROBLEMA DA PESQUISA

Sabemos, então (aproximadamente), o tipo de problema que nos interessa para fazer pesquisa, em torno de um tema de nosso interesse. Mas ainda não temos certeza de como elaborar e expressar um problema de pesquisa. É claro que naturalmente não há receitas para isso. Constrói-se um pro- blema de pesquisa de muitas e muitas formas diferentes. Além disso, construir um problema de pesquisa não corresponde simplesmente a descobrir a questão e a escrever. É um processo de elaboração que se pode desenvolver em várias fases diferentes da própria pesquisa – evoluindo à medida que estudamos autores, fazemos pré-observações e pensamos metodologicamente sobre como abordar nosso objeto. Mas nossa questão aqui – felizmente – é bem mais simples. Trata-se apenas de prefigurar um problema de pesquisa; em dar a partida , em ter um questiona- mento inicial em que se agarrar para poder depois, já na pesquisa, dar outros passos. Façamos então o seguinte. Como primeiro passo, escreva tudo o que você já sabe sobre o tema de seu interesse. Inclua aí dados de experiência prática, observações casuais que tenha feito sobre o objeto que lhe chama a atenção, leituras recentes, leituras ad hoc (ou seja, já realizadas em decorrência de estar pretendendo elaborar uma proposta sobre o tema). Não se esqueça de incluir, é claro, aquelas idéias fulgurantes, as sacações referidas antes (se existirem, mas lembrando que não são necessárias). Para começar um projeto de pesquisa U José Luiz Braga

comunicação & educação U Ano X U Número 3 U set/dez 2005 Lembre-se também de identificar as diferentes origens do que você já sabe (leituras, experiência etc.). No caso de leituras, não se esqueça de citar os autores, livros, número das páginas. Note: esse texto não é ainda o seu projeto. É apenas um documento prepa- ratório, uma peça para ficar nos bastidores e que não irá à cena. Sinta-se livre, portanto, para escrever o que quiser, da forma que preferir. Nenhum professor vai ler isso – você estará escrevendo para si mesmo. Só o fato de ter alinhado essas proposições, se você tem sorte, já lhe terá deixado cheio de dúvidas. Supere aquelas existenciais, as referentes a sua competência para tratar do assunto e para fazer pesquisa, e selecione apenas as que dizem respeito ao próprio objeto. Passemos então ao segundo passo da elaboração – sempre nos bastidores , sempre escrevendo apenas para você. Utilize as dúvidas percebidas, mobilize sua curiosidade e comece a escrever perguntas ; tudo que você consiga perguntar. Nesse momento, não se preocupe se são relevantes ou não, se são brilhantes ou simples. É uma fase de brainstorm (se não sabe o que é, que tal ir ao dicionário?). O prêmio aqui não é para as boas questões, mas para a maior diversidade. Você poderá então passar ao terceiro passo, que é, naturalmente, a críti- ca das perguntas. Distinga as que expressam apenas falta de informação e de maiores estudos. Você desconfia que esse conhecimento já existe em algum lugar e que precisará dele para fazer avançar a pesquisa, mais tarde. Guarde cuidadosamente tais perguntas para que o ajudem a procurar informações, mas perceba que elas não comporão diretamente seu problema de pesquisa. Separe ainda as questões práticas, isto é, aquelas que pedem soluções concretas, ações, propostas diretas sobre o que fazer. Esse conjunto não tem uso central para a construção do problema de pesquisa. Mas reserve-as para uma segunda rodada de brainstorming. Verifique aí se não é possível derivar delas dúvidas de conhecimento. Além disso, se são perguntas práticas complexas e relevantes, podem servir como meta posterior à pesquisa, ou seja, a pesqui- sa buscará conhecimentos que sejam depois úteis para encaminhar soluções para os problemas de realidade (e isso deve, mais tarde, ser indicado em sua proposta). Discrimine também as perguntas para as quais você já tem resposta. É fundamental ser muito sincero com você mesmo. A resposta pode ser aquela sacação que você gostaria muito que fosse a conclusão da pesquisa – mas aí não vale, porque esta já estaria concluída antes de ser começada. Pode ser, ainda, que a resposta seja uma proposição argumentativa elegantemente direcionada pela pergunta. Nesse caso, trata-se do que chamamos de pergunta retórica , ou seja, ela não pede uma resposta, como uma questão comum, apenas encaminha um argumento. Exemplo: “Seriam os usuários de TV passivos diante da pro- gramação que recebem?” – encaminhando a resposta: “Não, pois percebemos que cada espectador reage diferentemente aos programas, gerando variadas interpretações. Logo, estão ativamente fazendo interagir seus repertórios pessoais (variados) com o que diz e mostra a programação”.

comunicação & educação U Ano X U Número 3 U set/dez 2005 vários níveis (ou seja, diferentes modos e formas de um processo ou fato). Ou, ainda, tente perguntas como: “Que diferenças podem ser percebidas [em alguma coisa que parece em geral monolítica]?”. E também: “Que semelhanças podemos encontrar [em coisas que parecem diferentes ou isoladas entre si]?”. É claro que interrogações dessa natureza dependem de que já estejamos desconfiados das diversidades (ou das similaridades, na segunda alternativa). Mas note que a questão não é “Há diferenças internas na situação dada como monolítica?” (resposta sim ou não ). Procurar diferenças e variações decorre da prévia pers- pectiva do sim – e a busca será de quais? , questão aberta à descoberta. Feitas as distinções anteriores, você deve ter agora um conjunto (mesmo pequeno) de perguntas mais ou menos específicas, mais ou menos indicadoras para o trabalho de investigação (observação, trabalho de campo, exame de textos e materiais audiovisuais – obtenção de dados). Se forem muito poucas e você sentir que estão ainda fraquinhas , tente uma segunda rodada de geração de perguntas – novas ou derivadas das perguntas amplas, das perguntas práticas e das do tipo sim/não. Ao final de um certo exercício nessa direção, tendo chegado a um conjunto de questões mais ou menos aceitas (por você mesmo, é claro), passaremos ao exercício seguinte – que será nossa quarta fase, a de sistematização das perguntas. Note que não é preciso ter um grande número de interrogações para construir um problema de pesquisa. É melhor mesmo que sejam poucas, pois o importante é a consistência do conjunto e, particularmente, sua relevância e possibilidade de efetivamente demarcar a curiosidade que você tem sobre o assunto. Como quarto passo, procure então organizar as perguntas – mais relevan- tes e secundárias; mais amplas e mais específicas; independentes entre si ou relacionadas; relacionadas em paralelo ou por subordinação; mais teóricas ou mais voltadas para a busca de dados etc. Os modos de organizar vão depender, é claro, do conjunto específico de questões que você gerou. O objetivo principal, aqui, é ultrapassar o nível de perguntas soltas e chegar a um padrão de consistência em que se perceba um conjunto integrado , internamente relacionado, de perguntas. Faça isso como um jogo de armar – tente uma alternativa, um “desenho”, e depois outro e outro, até ficar satisfeito. Não fique, porém, satisfeito cedo demais: brinque um pouco com as possibilidades. No decorrer do processo, é possível que você tenha a tendência de refor- mular algumas questões, de criar outras, de substituir alguma coisa. Sinta-se à vontade: as perguntas são suas. No quinto passo, quando tiver chegado a um conjunto mais ou menos consistente, veja se consegue escrever um pequeno texto para “explicar” o que é tal conjunto, por que ele é interessante, como efetivamente configura sua curiosidade sobre o tema. Não é preciso insistir que esses exercícios são iterativos, isto é, podem (e devem) ser reiterados, em um processo de ida e volta entre: as proposições iniciais sobre o tema; as perguntas (em sua variedade de tipos); a crítica das

perguntas; o conjunto de construção de consistência no questionamento; e o texto sobre o interesse das perguntas. Os documentos elaborados nas diferentes fases do exercício não são ainda a proposta de pesquisa , porém constituem aqueles documentos preparatórios, de bastidores. Mas ao chegar a um conjunto consistente de perguntas (para sua satisfação) e conseguir o texto explanatório sobre seu questionamento, você terá então os materiais necessários para começar a escrever a proposta. Faça, assim, um texto claro, pensando em um leitor que possa compreender seu projeto. Use o que for possível e interessante, dos documentos preparatórios, no texto da proposta. Lembre-se de que você não está escrevendo um artigo ; dessa forma, evite respostas antecipadas e um tom de terminalidade. Mantenha o texto aberto para futuros desenvolvimentos e não esconda suas dúvidas. Não se preocupe excessivamente com o atendimento desses passos, como se fossem uma receita rígida. Tome suas próprias decisões. Tais indicações são genéricas, e sua construção de problema é específica. Você pode, então, se sentir mais produtivo deixando de lado alguma coisa e inventando outras táticas.

RELAÇÕES ENTRE PROBLEMA E OBSERVAÇÃO

Em uma fase inicial, os desenvolvimentos teóricos e o planejamento da observação podem ser ainda bastante preliminares. No momento – e com rela- ção à construção do problema de pesquisa –, quero apenas chamar a atenção para duas ou três idéias básicas sobre relações entre o problema de pesquisa e o trabalho concreto de investigação. Deve haver uma forte coerência entre o problema de pesquisa e a per- cepção da realidade (investigação propriamente dita). Mesmo que a previsão detalhada das verificações a serem feitas corresponda a uma etapa posterior de planejamento, é importante pensar desde já no que você pretende observar sistematicamente. Primeiro, para prefigurar o que será seu trabalho de campo. Você vai en- trevistar pessoas? Quantas? Onde? Examinará produtos midiáticos (programas de TV, sites de internet, fotografias)? Acompanhará experiências pedagógicas? Quais, quantas, segundo que perspectivas? Irá observar diretamente pessoas em atividade no mundo real (interagindo na internet, o público de um festival de cinema, uma redação de jornal, uma escola)? Que situações específicas inte- ressam? Como vai observar (participando do grupo, apenas olhando, fazendo perguntas)? Para obter que tipos de dados? Como se vê, uma listagem seria infinda. Pensar em suas alternativas espe- cíficas é relevante, porque essa vai ser a investigação propriamente dita. Você ocupará uma boa parte do seu tempo fazendo tais coisas – e não deve ser apanhado de surpresa, na hora da investigação, sem saber direito o que fazer, nem descobrir de última hora que aquele problema exige certas observações. Mas há uma outra razão para pensar nisso desde o começo. Você deve decidir se as observações que está pensando em fazer são coerentes com o Para começar um projeto de pesquisa U José Luiz Braga