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A Neo-Ortodoxia de Karl Barth: O Conceito de Palavra de Deus, Esquemas de Teologia

Este artigo apresenta o contexto em que surgiu a neo-ortodoxia, seu conceito e como karl barth passou por essa transição em sua teologia, chegando finalmente ao conceito de palavra de deus. Barth, desiludido com a teologia liberal, encontrou uma nova fonte na bíblia, levando-o a uma teologia de analogia da fé.

Tipologia: Esquemas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Havaianas81
Havaianas81 🇧🇷

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Revista de CultuRa teológiCa
-
v. 18 - n. 70 - aBR/Jun 2010
pAlAvrA De DeuS, nA neo-ortoDoxiA,
SegunDo KArl bArth
José Elenito Teixeira Morais, Luiz Carlos Ferreira
e Renata Ferreira Gomes*
RESUMO
O liberalismo teológico tentou
conciliar o cristianismo com as as-
pirações humanas. Neste contexto
surge a neo-ortodoxia barthiana, na
qual Karl Barth busca fazer um es-
tudo da Bíblia através da Bíblia, mas
descobre que isso não é possível
e, mesmo questionando o método
histórico crítico, ele o utiliza e chega
a seu conceito de Palavra de Deus.
Palavras-chave: Karl Barth,
neo-ortodoxia, liberalismo, Palavra
de Deus.
ABSTRACT
The theological liberalism has
tried to reconcile Christianity with
human aspirations. In this context
the neo-orthodoxy Barthian, in which
Karl Barth seeks to do a Bible study
through the Bible, but discovers it
is not possible and even question-
ing the historical critical method, he
uses it and gets to his concept of
God’s Word.
Key-words: Karl Barth, neo-
orthodoxy, liberalism, Word of God.
INTRODuçãO
Este artigo apresenta o contexto em que surgiu a neo-ortodoxia, seu
conceito e como, dentro deste período, Karl Barth passou por essa transi-
ção de sua teologia, chegando finalmente ao conceito de Palavra de Deus.
Barth (1886-1968) foi um dos grandes nomes da Teologia Cristã Pro-
testante. Educado na Teologia Liberal, tendo como principal orientador Adolf
Von Harnack, ele decepcionou-se com esta teologia e inclusive com seu
mentor, por apoiarem publicamente a política de guerra do Kaiser Wilhelm
II, da Alemanha, em 1914.
* Os autores são Bacharéis em Teologia pelo C entro Universitário Metodista Izabela Hendrix,
FATE-BH. Belo Horizonte, MG.
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R evista de CultuRa teológiCa - v. 18 - n. 70 - aBR/Jun 2010^69

pAlAvrA De DeuS, nA neo-ortoDoxiA,

SegunDo KArl bArth

José Elenito Teixeira Morais, Luiz Carlos Ferreira

e Renata Ferreira Gomes*

RESUMO

O liberalismo teológico tentou conciliar o cristianismo com as as- pirações humanas. Neste contexto surge a neo-ortodoxia barthiana, na qual Karl Barth busca fazer um es- tudo da Bíblia através da Bíblia, mas descobre que isso não é possível e, mesmo questionando o método histórico crítico, ele o utiliza e chega a seu conceito de Palavra de Deus.

Palavras-chave: Karl Barth, neo-ortodoxia, liberalismo, Palavra de Deus.

ABSTRACT

The theological liberalism has tried to reconcile Christianity with human aspirations. In this context the neo-orthodoxy Barthian, in which Karl Barth seeks to do a Bible study through the Bible, but discovers it is not possible and even question- ing the historical critical method, he uses it and gets to his concept of God’s Word. Key-words: Karl Barth, neo- orthodoxy, liberalism, Word of God.

INTRODuçãO

Este artigo apresenta o contexto em que surgiu a neo-ortodoxia, seu conceito e como, dentro deste período, Karl Barth passou por essa transi- ção de sua teologia, chegando finalmente ao conceito de Palavra de Deus.

Barth (1886-1968) foi um dos grandes nomes da Teologia Cristã Pro- testante. Educado na Teologia Liberal, tendo como principal orientador Adolf Von Harnack, ele decepcionou-se com esta teologia e inclusive com seu mentor, por apoiarem publicamente a política de guerra do Kaiser Wilhelm II, da Alemanha, em 1914.

  • Os autores são Bacharéis em Teologia pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, FATE-BH. Belo Horizonte, MG.

(^70) R evista de CultuRa teológiCa - v. 18 - n. 70 - aBR/Jun 2010

Palavra de Deus, na neo-ortodoxia, segundo Karl Barth

John Landers, em seu livro Teologia Contemporânea (1986, p. 6), diz que mesmo desiludido Barth continuou a pregar e, estudando a Bíblia, en- controu uma nova fonte que revelou a superficialidade da teologia na qual havia sido criado. Nesse período, descobriu os escritos de Sören Kierke- gaard, sendo assim influenciado por eles. De uma teologia dialética, Barth parte para uma teologia de analogia da fé.^1 Tratar da transição da teologia de Barth rumo ao desenvolvimento de seu conceito de Palavra de Deus é o que este artigo propõe. Primeiramente será especificado o contexto em que surgiu a neo-ortodoxia; em seguida, seu conceito em si, e finalmente o conceito de Palavra de Deus em Karl Barth.

CONTEXTO quE ANTECEDE A NEO-ORTODOXIA

A Teologia Liberal surgiu em meados do século XIX e tentou conciliar os conceitos da Igreja Protestante com as aspirações humanas positivas, buscando uma adaptação entre religião, pensamento e cultura moderna, que são influências do Iluminismo e Racionalismo. Neste período tudo era subme- tido a uma análise racional, incluindo a Bíblia. Com isso, a fé foi rebaixada pela razão humana, que triunfou sobre ela. Para este movimento teológico, o amor a Deus é realizado basicamente no amor ao próximo, e o Reino de Deus é visto como uma realidade presente encontrada na sociedade trans- formada sob o aspecto ético. Neste mesmo período é enfatizado o método histórico-crítico de interpretação da Bíblia, que negava a inspiração divina das Escrituras e abalou a confiabilidade desta. O antropocentrismo crescia e a importância das Escrituras era diminuída a meros relatos humanos. O liberalismo teológico clássico foi uma reação contra o poder da reli- gião institucionalizada, e principalmente contra a aceitação da infalibilidade das Escrituras e inerrância da Palavra de Deus por parte da Igreja. Funda- mentado no Iluminismo do século XVIII, ele afirmava que o conhecimento tradicional sobre Deus, pensado de forma metafísica, não compactua com o conhecimento científico. Não havendo espaço para categorias como sobre- natural na história, esta seria apenas uma mera relação de causas e efeitos. Essa compreensão deu início a uma busca da Palavra de Deus den- tro das Escrituras, tornando-se mais intensa com a utilização do método

(^1) Cf. LANDERS, John. Teologia Contemporânea. Rio de Janeiro: JUERP, 1986. p. 6.

(^72) R evista de CultuRa teológiCa - v. 18 - n. 70 - aBR/Jun 2010

Palavra de Deus, na neo-ortodoxia, segundo Karl Barth

verdadeira crença. Apesar de haver outros nomes ligados à neo-ortodoxia, como Emil Brunner e Richard Niebhur, esta teologia ficou também conheci- da como barthianismo, devido à grande influência do teólogo Karl Barth. O contexto histórico em que surgiu explica o motivo da teologia de Barth vir a ser chamada de neo-ortodoxia. A neo-ortodoxia surgiu como uma reação ao liberalismo teológico. Em 1919, Karl Barth publicou o comentário sobre a carta aos Romanos, que chamou a atenção dos círculos acadêmicos. Neste comentário ele expôs os preceitos básicos da teologia neo-ortodoxa. Houve uma oposição ao pensamento liberal e fundamentalista, como afirma Roger Olson, em seu livro História da teologia cristã: 2000 anos de tradição e reformas, dizendo que os teólogos neo-ortodoxos procuravam uma forma moderna de teolo- gia protestante, condizente com o Novo Testamento e com as principais ideologias de reformadores como Lutero, Zuínglio e Calvino. Olson declara que todos os pensadores ortodoxos, exceto Niebuhr, são cristocêntricos. 3 Bengt Hägglund, em seu livro História da teologia , diz que eles também rejeitaram a teologia natural, apegando-se à Palavra de Deus como fonte e norma para a teologia cristã; também enfatizaram a diferença qualitativa infinita entre o tempo e a eternidade (herança kierkegaardiana). Foi uma volta à ortodoxia protestante, no que diz respeito à transcendência de Deus, que ele dizia ser o totalmente Outro, e uma oposição à imanência de Deus da teologia liberal. 4 Contudo, não era totalmente ortodoxa no sentido histórico do termo, pois Barth rejeita o auxílio da filosofia no fazer teológico. Em última instância, parafraseando Bengt Hägglund, a neo-ortodoxia foi um dos resultados da crise cultural que surgiram no fim da Primeira Guerra Mundial, criticando a teologia da escola da história das religiões; e também um protesto contra aquelas escolas que tinham transformado a teologia em ciência da religião e que tinham apresentado a análise do método histórico- -crítico da Bíblia como a única interpretação possível. Barth não rejeitou este método de interpretação da Bíblia em si, mas acreditou que deixava

(^3) Cf. OLSON, Roger. História da Teologia Cristã: 2000 anos de tradição e reformas. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida, 2001. p. 603. (^4) Cf. HÄGGLUND, Bengt. História da Teologia. Tradução de L. Rehfeldt e Gládis Knak Rehfeldt. 7. ed. Porto Alegre: Concórdia, 2003. pp. 343-344.

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José Elenito Teixeira Morais, Luiz Carlos Ferreira e Renata Ferreira Gomes

de atingir seu alvo porque se ocupava com questões periféricas e deixava de enfrentar os problemas reais nos textos estudados.

A pALAVRA DE DEuS pARA KARL bARTh

Barth pretendeu redescobrir o Evangelho sem o auxílio de um sistema filosófico. Assim, teve início a teologia da Palavra de Deus, outra designa- ção para a teologia dialética ou da crise. Seu postulado teológico é que “a possibilidade do conhecimento de Deus encontra-se na Palavra de Deus e em nenhum outro lugar”. Portanto, “O Deus eterno deve ser conhecido em Jesus Cristo e não em outro lugar”. 5

A teologia dialética não rejeita, mas questiona o método histórico-crítico como chave de interpretação da Bíblia. A interpretação do método histórico- -crítico se concentrava, em demasia, nas questões periféricas, ao passo que Barth enfatizava a proclamação como sendo o fundamental.

A autoridade da Palavra de Deus, segundo Barth, não pode ser subme- tida a critérios de pesquisa. A razão humana não pode ser o critério último para análise dos escritos bíblicos; a dimensão escatológica do ser divino deve ser preservada. “A única resposta que possui genuína transcendência, e assim pode resolver o enigma da imanência, é a Palavra de Deus – notem: a Palavra de Deus”. 6

Com muita veemência, Barth rejeita qualquer modalidade de teologia natural. Para ele, Deus não pode ser conhecido pela capacidade da razão humana, nem se revela na natureza ou na história.

Essa recusa de Barth a qualquer tipo de teologia natural levou-o a travar uma disputa com o teólogo reformado Emil Brunner, que reconhecia a existência de um ponto de contato entre o Evangelho e a natureza humana. Brunner achava que a doutrina da eleição formulada por Barth desembocava no universalismo.

(^5) Cf. BARTH, Karl. Palavra de Deus, palavra do homem. São Paulo: Novo Século, 2004. p.

(^6) Cf. BARTH, Karl. Palavra de Deus, palavra do homem. São Paulo: Novo Século, 2004. p.

R evista de CultuRa teológiCa - v. 18 - n. 70 - aBR/Jun 2010^75

José Elenito Teixeira Morais, Luiz Carlos Ferreira e Renata Ferreira Gomes

Paulo: Editora Vida, 2000. HÄGGLUND, B. História da Teologia. Tradução de L. Rehfeldt e Gládis Knak Rehfeldt. 7. ed. Porto Alegre: Concórdia, 2003. LACOSTE, J. Y. Dicionário crítico de teologia. São Paulo: Paulinas/Loyola, 2004.

LANDERS, J. Teologia Contemporânea. Rio de Janeiro: JUERP, 1986. MACHEM, J. G. Cristianismo e liberalismo. Disponível em: <http:// solascriptura-tt. org/>. Acesso em: 10/05/2008.

MONDIN, B. Os grandes teólogos do século vinte : os teólogos protestantes e ortodoxos. Tradução de José Fernandes. V. 2. São Paulo: Paulinas, 1980. OLSON, R. História da Teologia Cristã : 2000 anos de tradição e reformas. Tra- dução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida, 2001. PEREIRA, I. Dicionário grego‑português e português‑grego. Braga: Livraria Apos- tolado da Imprensa, 1990.

PIKAZA, X.; SILANES, N. Dicionário teológico : o Deus cristão. São Paulo: Pau- lus, 1988. SOTELO, D.; COSTA, D.; Karl Barth A proclamação do Evangelho. São Paulo: Novo Século, 2000.