Baixe Docente negra em Salvador: saúde, corpo e transtornos alimentares. e outras Notas de estudo em PDF para Cultura, somente na Docsity!
Universidade Federal da Bahia
Instituto de Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
PADRÕES DE BELEZA E TRANSTORNOS DO
COMPORTAMENTO ALIMENTAR EM MULHERES NEGRAS
DE SALVADOR / BAHIA
Liliane de Jesus Bittencourt
Salvador, 2013
Liliane de Jesus Bittencourt
PADRÕES DE BELEZA E TRANSTORNOS DO
COMPORTAMENTO ALIMENTAR EM MULHERES NEGRAS
DE SALVADOR / BAHIA
Tese defendida e aprovada pelo Programa de Pós-
Graduação do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da
Universidade Federal da Bahia, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Doutora em Saúde Coletiva.
Orientadora: Profa. Mônica de Oliveira Nunes de
Torrenté
Salvador, 2013
Ofereço esse trabalho a todas as pessoas que,
conscientemente ou não, primam pelo respeito ao
ser humano, no que ele possui de mais rico e belo,
a diversidade.
SUMÁRIO
Pág.
LISTA DE TABELAS E QUADROS vii
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS viii
LISTA DE APÊNDICES E ANEXO ix
APRESENTAÇÃO x
I. INTRODUÇÃO 1
II. OBJETIVOS 3
2.1. Objetivo Geral 3
2.2. Objetivos Específicos 3
III. O CAMINHO PERCORRIDO 4
3.1. Fase Quantitativa da Investigação 4
3.2. Utilização da Internet como Fonte de Informação 7
3.3. Revisão Bibliográfica 8
3.4. A análise Qualitativa 9
3.5. Aspectos Éticos 15
PARTE 1 – REVISITANDO A PROBLEMÁTICA E TEMAS RELACIONADOS 16
IV. O RACIALISMO INFLUENCIANDO A IDENTIDADE DA MULHER NEGRA NO BRASIL 16
V. CONCEPÇÕES SOCIAIS SOBRE O CORPO: REPERCUSSÕES NO CORPO DA MULHER
NEGRA
5.1 Os Padrões de Beleza Influenciando as Concepções de Corpo entre as
Mulheres
5.2. Imagem Corporal e Autoimagem na Contemporaneidade 28
VI. TRANSTORNOS DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR: UMA REVISÃO 34
6.1. Corpo, Espaço Social e Transtornos do Comportamento Alimentar 38
6.2. Transtornos do Comportamento Alimentar em Grupos Diversos
Etnicamente: uma Revisão
VII. TRANSTORNOS ALIMENTARES: PATOLOGIA OU ESTILO DE VIDA? 60
PARTE 2 - COMO SE CONFIGURAM OS TRANSTORNOS DO COMPORTAMENTO
ALIMENTAR EM SALVADOR?
8.1. Risco para Transtornos Alimentares entre Estudantes de Salvador/Bahia, considerando a dimensão raça/cor
8.2. Satisfação com as Características Fenotípicas e Transtornos do comportamento Alimentar em Estudantes de Salvador/Bahia
8.3. Ideais de Beleza e Imagem Corporal entre Estudantes Negras de Salvador 94
8.4. Transtornos do Comportamento Alimentar em Estudantes Negras de Salvador: a relação com a imagem corporal
8.5. A Influência de Alguns Fatores no Desenvolvimento dos Transtornos do Comportamento Alimentar
IX. CONSIDERAÇÕES FINAIS 149
X. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 153
APÊNDICES 168
Liliane de Jesus Bittencourt Transtornos Alimentares em Mulheres Negras de Salvador/BA viii
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS
AF Autoflagelo AM Automutilação AN Anorexia Nervosa APA Associação Psiquiátrica Americana ASPERS Assessoria de Promoção da Equidade Racial em Saúde BA Estado da Bahia BDI Beck Depression Inventory BED Binge-eating Disorders BLOG site cuja estrutura permite a atualização rápida BN Bulimia Nervosa BSQ Body Shape Questionnaire CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CHATS Neologismo para designar aplicações de conversação em tempo real CID Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados com a Saúde CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNS Conselho Nacional de Saúde DSM-IV Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders EAT- 26 Eating Attitude Test – versão resumida com 26 questões EDI Eating Disorders Inventory EDNOS Eating Disorders not otherwise specified GOOGLE Empresa multinacional de serviços online e software dos Estados Unidos IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística I.C. Intervalo de Confiança IES Instituição de Ensino Superior IMC Índice de Massa Corporal ISC Instituto de Saúde Coletiva LILACS Índice da literatura científica e técnica da América Latina e Caribe LF Low food MEDLINE Medical Literature Analysis and Retrieval System Online NF No food NISAM Núcleo Integrado de Saúde Mental OR Odds Ratio (Razão de Chance) ORKUT Site de rede social e discussão operado pelo Google PVC Cloreto de Polivinila SciELO Scientific Eletronic Library Online SISVAN Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional SPSS Statistical Package for the Social Sciences STATA Data Analysis and Statistical Software TA Transtorno Alimentar UFBA Universidade Federal da Bahia UFRB Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
X^2 Qui-quadrado
Liliane de Jesus Bittencourt Transtornos Alimentares em Mulheres Negras de Salvador/BA ix
LISTA DE APÊNDICES E ANEXO
Pág.
Equipe de Pesquisa do projeto “O Padrão de Beleza Socialmente Construído na Gênese de Transtornos do Comportamento Alimentar em Mulheres Negras de Salvador / Bahia”
Lista de sites, blogs e comunidades de Orkut visitados 170
Relação de Instituições de Ensino Elegíveis para Coleta de Dados 171
Bloco de Questionários Fase I 173
Convite para o grupo focal 182
Roteiro Grupo Focal 183
Roteiro entrevista com história de vida 185
Liliane de Jesus Bittencourt Transtornos Alimentares em Mulheres Negras de Salvador/BA xi
iniciada muito antes do processo de doutoramento. Alguns desses produtos já são artigos aceitos para publicação e há um texto em fase de avaliação. Segue, abaixo, um resumo sucinto das respostas obtidas nesta investigação.
O capítulo Transtornos do Comportamento Alimentar em Grupos Diversos Etnicamente: uma Revisão proporcionou o entendimento de que estes transtornos estão presentes entre asiáticos, negros e latinos, mas a diversidade de valores e costumes entre esses grupos interfere no seu desenvolvimento e prevalência. A identidade étnica e o processo de integração sociocultural têm um papel importante nos fatores de risco e forma de manifestação dessas desordens. A busca e acesso por tratamento são influenciados por características sociais, culturais e raciais.
No artigo Transtornos Alimentares: patologia ou estilo de vida?^1 compreendeu-se que os transtornos são considerados estilos de vida, nos quais busca-se fugir ao sofrimento através do controle dos corpos e dos desejos. Há uma trama entre controle, poder e dominação , no qual as jovens pleiteiam autonomia e independência, a sociedade define e normatiza seus corpos, e dessa forma, impõem uma dominação, e os profissionais, baseados nos discursos da saúde, intentam ensiná-las como controlá-los, buscando exercer de certa forma um poder sobre o outro. As comunidades virtuais aparecem como redes sociais significativas na sociabilidade das jovens estudadas.
No artigo Risco para Transtornos Alimentares entre Estudantes de Salvador/Bahia, considerando a dimensão raça/cor^2 encontrou-se que as estudantes que se identificaram como amarelas ou indígenas têm 3,6 vezes mais chances de comportamentos alimentares desordenados e 4,8 vezes mais possibilidade de estarem insatisfeitas com sua imagem corporal. As mulheres pardas possuem 2,5 vezes mais risco de apresentarem esta insatisfação. A depressão é uma comorbidade que deve ser considerada, apesar de não estar associada significativamente com a raça/cor.
No texto Satisfação com as Características Fenotípicas e Transtornos Alimentares em Estudantes de Salvador/Bahia^3 percebeu-se que as estudantes pardas, de um modo geral, apesar de afirmarem uma satisfação com a sua aparência, expressam um conflito em relação aos traços que a identificam com uma parcela da população que é considerada socialmente menos valorizada. No entanto, não eram mais propensas a desenvolverem transtornos do comportamento alimentar, o que pode ser explicado por possuírem um referencial de beleza diferente do propagado pela mídia e valorizado socialmente.
No capítulo Ideais de Beleza e Imagem Corporal entre Estudantes Negras de Salvador , a análise dos grupos focais e entrevistas possibilitou entender que tanto para as estudantes negras quanto para as não negras a magreza extrema e o excesso de peso não se refletem muito nos desejos das jovens de Salvador. Parece que, apesar de também existir uma perseguição de um corpo perfeito, ideal, este corpo, necessariamente teria o equilíbrio
(^1) Artigo a ser publicado na revista Psicologia e Sociedade. (^2) Artigo a ser publicado na Revista de Nutrição da PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS. (^3) Artigo enviado para integrar o livro: Tranças e Redes: tessituras sobre África, Brasil e Relações Étnico-raciais , a ser publicado pela editora da UFRB.
Liliane de Jesus Bittencourt Transtornos Alimentares em Mulheres Negras de Salvador/BA xii
como tônica importante. A insatisfação corporal esteve presente nos dois grupos, independente de apresentarem ou não preocupação com o formato e tamanho corporal.
Ao avaliar as narrativas, no capítulo Transtornos do Comportamento Alimentar em Estudantes Negras de Salvador: a relação com a imagem corporal percebeu-se que sinais e sintomas dos transtornos alimentares estiveram presentes na vida de sete jovens negras, mesmo o resultado do EAT-26 tendo sido negativo, levando-se em consideração o ponto de corte de risco para tais comportamentos. Entre essas, quatro possuíam insatisfação em relação aos seus corpos.
Os fatores que podem ser considerados protetores ou fragilizadores em relação à manifestação desordenada de comportamentos alimentares foram relacionais, estruturais e os próprios da personalidade e estão discutidos no capítulo A Influência de Alguns Fatores no Desenvolvimento dos Transtornos do Comportamento Alimentar.
Liliane de Jesus Bittencourt Transtornos Alimentares em Mulheres Negras de Salvador/BA^2
adolescentes e adultas. No final dos anos 1980, a anorexia nervosa chega a aparecer como
uma culture bound syndrome , tamanha a particularidade e extensão da sua presença na
sociedade norte-americana. Nos Estados Unidos é a terceira doença crônica mais comum
entre adolescentes. A crença tradicional de que os transtornos do comportamento alimentar
eram próprios de um grupo de mulheres jovens, brancas, pertencentes à elite e residentes
em países ricos, no entanto, vem sendo contestada pelo aumento desses comportamentos
em países em desenvolvimento e em diferentes etnias. Esse crescimento reforça a ideia do
papel da mídia e da urbanização na mudança de hábitos, principalmente os alimentares, o
que predispõe a esses transtornos (DUNKER, 2003; MORGAN et al, 2002).
Além da mídia e da globalização proporcionando a mudança de hábitos, o racismo, que
parte do pressuposto de superioridade de uma raça em relação à outra, estabelece também
construções sociais de ser/estar no mundo, particularmente inscritos em experiências de
corporeidade, que sustentam esta ideia de superioridade e também interferem no
comportamento dos indivíduos, determinando suas formas de relacionamento consigo, com
o outro e com a sociedade de modo geral.
As mulheres negras são uma parcela da população para a qual as determinações sociais se
impõem de forma mais agressiva, dificultando a autoestima, as relações, e fomentando a
ideia de que são seres hierarquicamente de menor valor social, estando atrás do homem,
branco ou negro, e da mulher branca. Essa classificação está presente não só no imaginário
das pessoas, mas também nos indicadores sociais de desenvolvimento humano (NOGUEIRA,
Renegar as características das mulheres negras e fazer com que o modelo de beleza
preferido seja o das loiras, magras, sem quadris, com seios pequenos, “lábios e narizes
finos”, foi um dos grandes ganhos do racismo vigente. Em se tratando dos vários tipos de
mulheres negras, a gorda certamente fica num dos patamares mais baixos de valorização
social. Este tipo de percepção foi imposto por uma cultura que gera exclusão social
(NOGUEIRA, 2000).
Portanto, avaliar o impacto de padrões de beleza construídos socialmente no
desenvolvimento de comportamentos destruidores e agressores, e que inferiorizam tipos
fenotípicos diversos, como o das mulheres negras, excluindo-as ou dificultando sua inserção
social, é uma forma de contribuir para a definição de meios e instrumentos eficazes de
melhoria da saúde desse grupamento populacional.
Liliane de Jesus Bittencourt Transtornos Alimentares em Mulheres Negras de Salvador/BA^3
II. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral - Compreender a relação entre os padrões de beleza construídos
socialmente, o desenvolvimento da imagem corporal, os comportamentos de risco para
transtornos alimentares e as experiências corporais e significados relacionados a esses
transtornos entre mulheres negras de Salvador/Bahia.
2.2. Objetivos Específicos
1. Identificar a influência dos ideais de beleza na construção da imagem corporal das
mulheres de Salvador/Bahia levando em consideração o pertencimento étnico/racial;
2. Analisar a percepção da imagem corporal das estudantes de Salvador/Bahia em função do
seu pertencimento étnico/racial;
3. Conhecer a relação entre a imagem corporal dessas mulheres e o desenvolvimento dos
transtornos alimentares;
4. Identificar e compreender os fatores protetores ou fragilizadores para o desenvolvimento
dos transtornos alimentares entre essas mulheres.
Liliane de Jesus Bittencourt Transtornos Alimentares em Mulheres Negras de Salvador/BA^5
aplicação do desenho de efeito (2,0), a fim de dar conta do possível efeito de conglomeração
em função do procedimento de amostragem aleatória em dois estágios.
A seleção das instituições ocorreu de forma aleatória, utilizando como critérios as escolas de
ensino médio, situadas no centro da cidade, devido à confluência de estudantes de diversos
bairros para estas, e todas as instituições de ensino superior que possuíssem os cursos
eleitos para o estudo. Desta forma, tentava-se garantir a diversidade étnico/racial e social,
bem como a existência de jovens com comportamento de risco para os transtornos, ou com
experiências particulares de corporeidade que, eventualmente, incluíssem as vivências de
transtornos corporais. Foram selecionadas aleatoriamente 12 escolas de ensino médio (
públicas e 8 particulares) e 8 instituições de ensino superior (2 universidades públicas e 6
faculdades particulares). Entre as escolas de ensino médio particulares, 5 não autorizaram a
realização da investigação. No segundo estágio da amostragem, se procedeu ao sorteio de
ao menos duas turmas, com média de 20 alunos, em cada uma das instituições de ensino
selecionadas no primeiro estágio.
O instrumento de investigação havia sido avaliado pelo grupo de pesquisa, antes de ser
utilizado no piloto, e foi ajustado após aplicação no mesmo.
O primeiro questionário coletou informações sobre identificação das jovens, dados sociais,
peso e altura referidos, satisfação corporal, vivência do racismo e percepção de existência de
rede de apoio social e familiar; o segundo foi um questionário validado no meio científico e
clínico para risco para os transtornos do comportamento alimentar (Eating Attitude Test –
EAT-26); o terceiro (Body Shape Questionnaire - BSQ), utilizado conjuntamente com o EAT-
26 para diagnóstico destes transtornos, visava caracterizar a imagem corporal destas
mulheres; e o último questionário (Beck Depression Inventory - BDI), avaliava possíveis graus
de depressão presentes nas mesmas.
A identificação da raça/cor ocorreu por autodeclaração, seguindo os critérios do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - branca, preta, parda, amarela e indígena - o que
favorece a comparação com outros estudos; portanto a coleta de informações se deu com todas
as estudantes que atenderam aos critérios estabelecidos para a pesquisa, independente da percepção fenotípica dos pesquisadores em relação ao pertencimento étnico/racial das mesmas.
O Teste de Atitudes Alimentares (EAT-26) é uma versão em português, resumida, validada
no meio científico, que avalia a possibilidade de desenvolvimento de anorexia e bulimia. É
um questionário autoaplicável, com 26 questões, com 6 opções de respostas. Cada questão
divide-se em 3 escalas do tipo Lickert, conferindo 0 a 3 pontos, de acordo com a escolha:
nunca, raramente ou às vezes = 0; frequentemente = 1; muito frequentemente = 2; sempre
= 3. Um escore > 20 revela risco para transtornos do comportamento alimentar (FREITAS,
GORENSTEIN, APPOLINARIO, 2002; CORDÁS & NEVES, 1999; NUNES et al, 1994; MAGALHÃES
e MENDONÇA, 2005; BIGHETTI et al, 2004).
Liliane de Jesus Bittencourt Transtornos Alimentares em Mulheres Negras de Salvador/BA^6
Apesar de ser um dos instrumentos mais utilizados para revelar características que sugerem
distúrbios de ordem alimentar, apenas o EAT-26 não confere um diagnóstico preciso quanto
aos transtornos. Seriam necessários outros instrumentos e uma avaliação clínica para chegar
a tal definição. Portanto, para ter uma estimativa mais apurada das jovens em risco para
desenvolver tais desordens, foi empregado o BSQ - Body Shape Questionnaire - para avaliar
as preocupações com o formato e tamanho corporal, que configuram a insatisfação
corporal, um dos principais fatores relacionado com transtornos como bulimia e anorexia.
Na pesquisa, utilizou-se a versão em português, também autoaplicável, com 34 questões
que mensuram a preocupação com o corpo e o peso. Para cada questão eram oferecidas seis
opções de respostas (nunca = 1; raramente = 2; às vezes = 3; frequentemente = 4; muito
frequentemente = 5; sempre = 6). Um resultado menor que 80 indicava ausência de
preocupação com a imagem corporal; de 81 a 110, preocupação leve; 111 a 140,
preocupação moderada; acima de 140, grave preocupação com a imagem corporal (FREITAS
et al, 2002, CORDÁS & NEVES, 1999; DI PIETRO e SILVEIRA, 2009; CONTI, CORDÁS e
LATORRE, 2009).
Considerando a depressão como uma comorbidade importante de transtornos de
comportamento alimentar, avaliou-se a presença de sintomas depressivos através do
questionário autoaplicável BDI – Beck Depression Inventory. A versão em português consta
de 21 itens, com quatro opções de resposta cada uma, variando de 0 a 3. Cada questão
admite múltipla escolha. Caso o resultado seja menor que 11, não há presença de
depressão; se o resultado for de 12 a 19 há uma depressão de leve a moderada; de 20 a 35,
depressão moderada a grave; e de 36 a 63, depressão grave (FREITAS et al, 2002, CORDÁS &
NEVES, 1999; GORESTEIN e ANDRADE, 1998).
Os questionários foram aplicados no período de novembro/2008 a junho/2009. Estes foram
distribuídos pelos investigadores, em sala de aula, após explicação quanto aos objetivos e
forma de preenchimento. As alunas levavam em torno de 20 minutos para responder
completamente aos formulários. Foi possível obter um total de 626 questionários,
representando aproximadamente 76% do número amostral definido estatisticamente. Uma
das dificuldades em relação a esta coleta esteve relacionada com o tema da pesquisa,
levando à recusa de algumas alunas.
A avaliação antropométrica foi realizada utilizando os dados de peso e altura referidos. A
literatura corrobora esta prática quando revela que as avaliações baseadas apenas em dados
referidos correspondem aos dados aferidos e, portanto são válidas, podendo ser utilizados
quando há necessidade de oferecer maior praticidade ao estudo (BOSI et al, 2006; CACHELIN
e STRIEGEL-MOORE, 2006). Para estimativa do Índice de Massa Corporal foram seguidas as
orientações do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde (BRASIL,
2008), que recomenda a análise do IMC para adultos, de acordo com os valores de
referência (< 18,5 kg/m^2 magreza; 18,5 a 24,9 kg/m^2 eutrofia; 25 a 29,9 kg/m^2 sobrepeso; ≥
30 kg/m^2 obesidade). O IMC entre 17,0 e 18,4 kg/m^2 foi classificado como magreza grau I,